Variação Benigna escrita por Lady Lobit


Capítulo 7
A leoa e as estrelas. A serpente e a gata. Ou todas elas juntas.


Notas iniciais do capítulo

Olá, tem alguém ai?
Se sim, desculpe pela demora, não vou abandonar a história, só ficou um pouco difícil de ter tempo, ou concentração pra escrever.
Não vou falar muito por aqui, nos vemos lá embaixo.



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Passei as mãos pelas penas da coruja da torre da escola e a lancei no ar com a carta bem presa a sua pata. Queria poder, assim como ela, apenas abrir minha asas e sair voando, nem que fosse por um momento. Imaginando se seria mesmo tão libertador, mesmo com  meu medo de altura, não parecia tão assustador comparado com os receios que eu tinha dentro de mim no momento.

Sai do corujal e segui rumo ao sétimo andar, lembrando a conversa que tive mais cedo com o Harry. Estava um pouco magoada, triste, receosa, com emoções demais para interferir e que não me ajudavam a pensar direito. Por isso tinha mandado aquela carta pro Rony, precisava do meu amigo. 

Me aproximei da entrada do nosso salão comunal, mas percebi que não queria companhia. Precisava de mais tempo para tentar colocar a cabeça no lugar. Continuei andando e me peguei subindo a torre de astronomia. Devia estar vazia, e era um ótimo lugar para se pensar em paz, porque diferente do corujal era improvável que aparecesse alguém por ali.

Observei o sol se pondo, e finalmente deixei que algumas lágrimas caíssem. Ali, observando o fim de mais um dia, minha mente me levou até a Austrália, onde estava minha família. Sinto meu coração se apertar ainda mais, e um nó na garganta, sabendo que não havia nada que eu pudesse fazer agora para trazê-los de volta. Eu me sentia tão sozinha.

Ouvi passos na escada, e não me importei. Harry com certeza havia me procurado no mapa do maroto por ter ficado preocupado. Sequei meu rosto, tentando prender o choro, ele não precisava me ver naquele estado, não quando eu sabia que ele também estava triste. Eu podia ser valente por mais um tempo, e mostrar meu apoio ao meu amigo, apesar de estar me sentindo minúscula por dentro.

Me virei mais recomposta, mas me surpreendi ao ver que não foi Harry quem apareceu no arco da entrada, e sim Parkinson. Ela pareceu tão surpresa quanto eu por me ver ali na torre.

Um pouco irritada por ser interrompida em meu momento sozinha e também um pouco desapontada por não ser Harry, virei as costas para ela, esperando que fosse embora. 

Minha irritação cresceu, assim como minha curiosidade, quando vi pelo canto dos olhos que ela tinha se aproximado e se encostado na amurada a um metro de mim. Ela observava as estrelas que começavam a despontar no céu, e não parecia esperar que conversássemos.

Naquela primeira semana havíamos conseguido passar sem trocar nenhum insulto, e apesar de não estar inesperadamente começando a admirar a Parkinson, ou a achá-la agradável, não podia realmente reclamar de ser sua dupla. Era diferente dividir as tarefas com alguém que realmente ajudava, e que não esperava que eu corrigisse todos os seus trabalhos. Estava sendo inesperadamente estimulante, mesmo que seu humor fosse um pouco pesado, e seus comentários muitas vezes irônicos e sarcásticos.

Ela continuava olhando para cima, como se eu não estivesse ali, e apesar de minha irritação inicial, era quase bom pensar em outra coisa que não fosse a próxima semana.

—Não sabia que gostava tanto de astronomia para vir olhar as estrelas em seu tempo vago Parkinson. - Vi o canto da sua boca tremer como se segurasse um sorriso.

—Às vezes para entendermos algo precisamos nos colocar literalmente no lugar da pessoa. - Olhei de esguelha para a garota ao meu lado, não entendendo realmente o que ela estava querendo dizer com aquilo. Parecia uma piada interna pra ela.

— Se acha que ficando aqui sozinha como uma estrela vai entender um pouco mais da construção de um mapa de constelações posso ir embora, mas não acho que vá ser muito produtivo. - Vi um sorriso surgir em seu rosto, mas não parecia zombar de mim, era quase como se concordasse comigo. Fiquei mais perdida ainda.

— Talvez a Lovegood tivesse razão, parece que às vezes nós duas analisamos as palavras muito literalmente. - Me virei completamente para ela, um pouco surpresa por ela dizer que a Luna estava certa em alguma coisa. - Mas pode ficar tranquila, tenho outros métodos para estudar astronomia, não vou pedir pra copiar seus mapas.

Me recostei novamente na amurada, sentindo um formigar na garganta, por lembrar que não teria mais ninguém pedindo para copiar meus deveres. Não querendo seguir por aquele rumo de pensamentos que poderiam me descontrolar novamente, pelo menos enquanto estivesse na frente da sonserina, procurei por algum assunto que nos tirasse do silêncio.

— Era sobre estrelas que conversavam hoje mais cedo? - Ela me lançou um longo olhar, me avaliando.

—Entre outras coisas. Ou pelo menos era o que eu vim tentar entender. Sua amiga tem uma lógica um pouco difícil de acompanhar. - Aquilo vindo dela soava quase como um elogio.

—Luna tem maneiras bem diferentes de pensar, e isso reflete na maneira que interagi com todos. Achei que ela estivesse se tornando sua amiga também. - Não pude deixar de alfinetar, porque embora eu fosse uma das apoiadoras do nosso novo sistema de aulas, e não quisesse perpetuar qualquer que fosse os preconceitos do nosso passado, me preocupava com a Luna, e com a aproximação que vi ela tendo com os sonserinos essa semana. 

Para minha surpresa, Parkinson riu.

—Acho que amizade é uma palavra muito forte para a convivência que estamos tendo. - Sua voz ainda continha traços de riso, mas vi que ela falava sério.

—Luna não é do tipo de pessoa que faz colegas Parkinson. - Tentei alertá-la com a voz séria, de repente ainda mais preocupada com minha amiga.

—Acho que estamos mais para um estudo extra - Pansy bufou sem paciência quando ergui minha sobrancelha de modo inquisidor para ela. - É como se ela nós analisasse o tempo todo e ficasse montando teorias naquela cabeça enquanto mantém aquele sorrisinho no rosto. - Acrescentou. E aquilo sim se parecia tanto com a Luna que não resisti a sorrir.  

—As vezes me sinto da mesma maneira com ela. - afirmei, começando a me sentir um pouco à vontade na presença da outra. - É o jeito que ela tem de saber tudo sobre como a nossa cabeça funciona. 

— Se isso for mesmo verdade ela se daria muito bem na sonserina. - Ela disse, como se estivesse montando uma nova imagem da Luna.

—Não acho que ela faça isso para saber como manipular cada pessoa ao seu redor. - retruquei, imaginando qual linha de raciocínio ela estava seguindo. - É como se ela analisa-se sua forma de pensar para saber quem você é, enxergar sua dor, compreender por completo sua história, e ainda sim estar ali. - completei, me lembrando de Jorge, e de como a amizade dos dois se aprofundou depois da guerra.

—Interessante. Mas se ela tem essa habilidade tão singular, o que a impediria de usá-la quando quisesse para se aproximar de alguém?

—Ela simplesmente não é assim. - retruquei, sentindo minha mente trabalhar para encontrar uma maneira de explicar para uma sonserina a pessoa única que Luna era. Foi quando a percepção do que estava acontecendo ali me atingiu. - Você está tentando tirar informações de mim. - minha voz saiu um pouco mais alta que o normal, não sei se devido a surpresa ou a pontinha de traição que senti.

— Não achei mesmo que você entregaria alguma informação relevante antes de perceber, mas valeu a tentativa. - A voz dela estava divertida, o que, por mais singular que fosse, acalmou minhas suspeitas.

— Luna não esconde nada para que eu tenha que guardar segredos.

— Todos temos segredos, Granger. Talvez ela apenas não esteja ciente dele ainda. - Seu olhar estava voltado novamente para as estrelas, e por um momento me perguntei quais segredos a Parkinson guardava. Um sinal claro que eu não estava bem.

— Pelo menos consegui te distrair dos seus problemas. - ela afirmou, me fazendo franzir o cenho em dívida. - Quer me contar o que te fez vir desabafar com as estrelas?

— Então foi por isso que me perguntou sobre a Luna? - devolvi a pergunta, meio desconfiada.

— Gosto de pensar que meus movimentos levam a mais de um caminho. - Sorri, me lembrando que Rony já tinha dito isso sobre como jogava Xadrez Bruxo.

— E qual peça eu seria no seu tabuleiro? - Ela verdadeiramente sorriu desta vez, e percebi que nunca a tinha visto esboçar qualquer sorriso antes.

— Ainda não descobri. Talvez por que nem você mesma saiba o que realmente é. - Senti seu olhar penetrante em mim, e desviei o meu para as estrelas. 

— Acho que estou apenas me permitindo um momento de auto-piedade. - Voltei o rumo da conversa para sua pergunta anterior, não querendo deixar que mais dúvidas me invadissem. - As estrelas não costumam me interrogar muito, o que facilita o processo.

Vi uma sombra passar por seus olhos, e antes que pudesse pensar sobre isso seu rosto relaxou e um sorriso mínimo puxou o canto dos seus lábios.

—  Então eu não estou ajudando muito. Mas talvez eu saiba quem pode ser uma companhia melhor que eu. - Ainda estava me perguntando porque ela iria querer me ajudar, quando a observei fazer um barulho estranho com a boca e uma sombra começou a se aproximar de onde estávamos. 

Minha mão voou para onde minha varinha estava, enquanto minha mente me repreendia por ter baixado a guarda tão rapidamente, foi quando reconheci a gata que se aproximava. Ela pulou no parapeito ao lado da Parkinson, e ronronou enquanto recebia um carinho na orelha.

— Esta é Hécate, ela esteve ao meu lado sempre que precisei desabafar. Talvez ela aceite te fazer companhia. - Com o coração ainda disparado no peito, fiquei incerta sobre como reagir, mas ela parecia entender, e até mesmo achar graça, de como eu estava travada.

— Esta é Hermione, Hécate. - Meu nome foi dito tão naturalmente, que nem mesmo registrei esse fato inédito. - Ela está precisando de uma boa ouvinte. Eu te espero mais tarde no nosso quarto. - As duas trocaram um olhar como se travassem uma pequena guerra de opiniões, até a gata erguer a cabeça em desafio e vir se sentar ao meu lado.

Parkinson soltou uma risadinha e acenou em despedida, me deixando ainda mais confusa para trás, mas achando engraçada sua interação, me lembrando um pouco do Bichento. A olhei cautelosa, e percebi que ela me analisava.

— Não sei o que você já escutou de mim, mas não acho que foram as melhores referências. - Quase ri de mim mesma, me sentindo um pouco patética, mas Hécate pareceu aprovar, pois ela se encostou no meu braço.

Arrisquei lhe fazer um carinho atrás da orelha, e senti seu corpo vibrar quando começou a ronronar, me fazendo sentir um pouco melhor. Tudo bem, talvez desse certo contar para as estrelas e para aquela companhia singular um pouco dos meus problemas.


Autora

 

Ela estava ali nas sombras observando desde que viu Hermione subir as escadas. Queria ter coragem de ir conversar com ela, agradecê-la por tudo que fez pelo mundo bruxo, mas se encontrou travada onde estava. Viu quando a cobra surgiu e subiu as escadas atrás da grifinória, e esperou por alguns segundos que sua heroína descesse as escadas, mas não escutou nada.

Raiva começou a se acumular nela à medida que o tempo passava e ela percebia que as duas deveriam estar em um encontro. Engoliu, tentando tirar o gosto amargo que tomou sua boca. Não entendia como a Granger conseguia perdoar aqueles assassinos. 

Quando a semana começou e viu que ela estava tentando conviver com os sonserinos, pensou que era por causa das novas regras da escola, e até imaginou que ela concorda-se com o discurso da Mcgonagall. Mas o que estava presenciando ali era outra coisa. Um encontro na torre de astronomia, sozinhas, ao entardecer. 

Isso era traição.

Sua mão se fechou sobre seu pingente e ela buscou ar enquanto tentava respirar profundamente e superar a onda de sentimentos que se apoderaram dela. Devagar sentiu seu coração se acalmar, mas o calor que tinha tomado conta dela por causa da raiva não foi embora, apenas se esfriou, o que era quase tão ruim, porque conseguindo pensar calmamente ela continuaria com sua vingança, mas agora teria que incluir também alguém que antes significava algo pra ela.

Decidiu sair dali antes que uma das duas descesse as escadas. Não arriscaria ser descoberta. 

Teve sorte por não reparares nela antes, mas depois dessa descarga de energia que experimentou, temia que a sonserina pudesse percebê-la. Puros sangues e suas percepções de magia.

Decidiu ir mais cedo para o jantar, assim poderia conversar com sua prima e seu novo amiguinho da sonserina. Ele tinha se mostrado uma caixinha cheia de informações, e depois poderia enviar uma carta para convencê-los a começar com o plano. Sabia que eles diziam que estavam esperando sua resposta, mas não duvidava que eles estivessem quase felizes por esperar. 

Deveriam estar se divertindo durante todo o tempo com o “convidado” . Sorriu, sabendo que o futuro dos amigos dele não seria muito melhor. 

Eles tinham que pagar.

Segui pelo corredor, e enquanto segurava seu pingente ela se sentiu tranquila enquanto emanava todo o veneno que estava em sua cabeça.


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Notas finais do capítulo

Estou meio enferrujada com a escrita, então me perdoem por algum erro no texto.
Mudei alguns rumos da história, ia despachar o Harry de Hogwarts pra virar auror, mas ele pelo visto tinha outros planos e não quis embora não. kkkk.
Quem sou eu pra discutir com o escolhido né, ele faz o caminho dele, sou apenas a mensageira.
Espero que ainda tenha alguém por aqui, mas também deixo claro que não vou sumir, mesmo se só os fantasminhas lerem essa história.
Eu iniciei ela durante um período bem complicado da minha vida, durante a pandemia, e ela salvou meu psicológico de várias maneiras. Então mesmo que não a tenha escrito toda ela sempre esta pairando em segundo plano aqui.
Espero que gostem.



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