10 segredos que eu preciso compartilhar com você escrita por Line


Capítulo 4
Uma ideia e uma injustiça




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No alvorecer de um novo dia levanto-me da cama disposta e com a decisão tomada. Se Augusto vai mesmo embora, e não há nada que eu possa fazer para convencê-lo a ficar, pelo menos vou aproveitar todo o tempo que ainda nos resta juntos. Pelos próximos dez meses eu vou preencher a vida dele com a minha presença, de tal modo que, criaremos lembranças “doces” de serem recordadas. Eu só preciso pensar numa maneira de aplicar esta ideia na prática, sem que para isso, eu precise revelar os meus verdadeiros sentimentos.

Aproveito o tempo do meu banho para pensar em algumas hipóteses executáveis. Qual seria a melhor maneira de criar lembranças que fossem especiais, mas, que mais ninguém tivesse acesso a elas? Teria que ser algo parecido como um segredo exclusivo, compartilhado apenas entre nós dois.

É isto: segredos! Meu cérebro começa a raciocinar de maneira ágil e, em poucos minutos, tenho o vislumbre de um plano sendo elaborado. Eu já sei o que vou fazer: eu vou escolher alguns segredos mais leves, coisas que sejam executáveis, e compartilharei isso com ele. Assim, vamos criar novas memórias juntos, que serão como nossas recordações exclusivas. Então, mesmo que ele nunca mais venha me visitar depois que for embora para o Japão, ou, ainda que ele encontre uma nova melhor amiga (ou até mesmo uma namorada), apesar disso tudo, nós ainda teríamos essas lembranças; que seriam como o nosso laço de união secreto. Logicamente, esta lista de compartilhamento não vai incluir os meus reais sentimentos por ele, né?!

Na real, eu acho que já me conformei que Augusto vai embora para longe, e que a gente nunca será mais do que uma dupla de melhores amigos. Porque veja bem, eu não vou consegui mudar a sua imagem exterior, e, eu também não vou mudar a maneira com a qual eu enxergo o mundo. Eu acredito sim, que a beleza é fundamental, e que as pessoas precisam ser classificadas de acordo com o quão belo elas são, exteriormente falando. E, o meu amigo é uma pessoa linda em seu interior, porém, essa beleza não extravasa para fora.

Saindo do banho e já vestida com o meu uniforme, pego lápis e caderno para começar a minha listinha de segredos passíveis de serem compartilhados. Por sorte, eu tenho algum tempo sobrando para fazer isso, uma vez que, hoje (contrariando todo o meu histórico) eu levantei um pouco mais cedo do que de costume. Agora vamos ver, por onde eu começo com essa lista...

(...)

Dez segredos. A minha lista fechou com este número. O que quer dizer que eu vou ter o tempo de um mês para compartilhar cada segredo com o Augusto. Fiz a listagem na última folha do meu caderno de química, porque, sendo a única matéria que eu realmente estudo durante a semana, corro pouco risco de perdê-la, ou de esquecê-la.

Eu tenho uma dificuldade congênita com matérias da área de exatas, sobretudo química. A física eu até que dou um jeito, decoro umas fórmulas, e pronto; tiro mais de oitenta por cento na média final. Mas, quanto à química, sou um fiasco; passo sempre raspando com setenta, ou sessenta por cento na média do ano. Como em Minas Gerais a nota para aprovação em cada disciplina é sessenta, pode-se dizer que as mintas notas não são de todo ruins, exceto, pelo fato de que o meu objeto seja cursar a faculdade medicina, o que me obriga a ter um domínio no mínimo quase perfeito, do conteúdo em questão.

“Ai, Deus! Eu tenho muitos dons, mas entender química não é um deles!”—exclamo em voz alta.

— Falando sozinha uma hora dessas, “miss perfeição”? — “Senhor, eu mereço”. Penso comigo mesma.

Viro-me de costas só para confirmar que a voz que me provoca logo cedo, só poderia pertencer a ninguém mais, ninguém menos, do que a desnecessária da Alicia:

— Oi, Alicia. Faz um favor para mim, ou melhor, para nós duas: esquece que eu existo, porque hoje estou sem paciência para lidar com gentinha do seu tipo, tá?! — provoco. Ao que ela reage:

— Como seu eu me importasse com você o suficiente para notar a sua existência!

— Ótimo então... Já é meio caminho andado. — finalizo a nossa conversa e sigo o meu caminho, dando-a as costas novamente.

Como senão bastasse mamãe ter me trazido cedo demais para a escola (ainda são seis e quarenta da manhã), eu ainda tenho que suportar esse tipo de “gentinha”. Alicia é uma criatura invejosa e insuportável que, um dia, eu tive o desprazer de considerar minha amiga. Mas, isso são águas passadas, que devem ficar bem esquecidas no fundo do baú!

Aproveito a sala de aula vazia para planejar a execução do primeiro segredo. Então, pego o meu fone de ouvido na bolsa, coloco uma playlist aleatória no Spotify, e começo a rascunhar algumas coisas no meu caderno. Estou me sentindo igual ao Cebolinha, quando este, faz os planos infalíveis para pegar o coelhinho da Mônica.  No caso, o Augusto é a minha Mônica, e, o seu coelho, seria algo como as suas memórias, que eu quero tê-las apenas para mim.

 Sorrio sozinha dessa analogia cômica que eu criei em minha mente. Mal percebo que estou sendo espionada por um par de olhos tão negros, quanto à cor escura da casca das jabuticabas. Quando tomo ciência deste fato, resolvo provocar o meu observador:

— Augusto! Acaso você virou um stalker, agora? — Para o meu inteiro divertimento, o meu amigo adquiri instantaneamente uma coloração vermelha em sua face:

— Desculpa. É que vo-você estava tão concentrada que eu não quis te atrapalhar. — ele se explica, ainda que de maneira meio gaguejante.

— Tudo bem Guto. Eu só estava brincando mesmo. Ei, eu queria mesmo conversar com você...

— Ah, é? Pode falar...

— Então é que...

Aaaahhhhhhh!!!” Isto poderia ser facilmente confundido com o som da sirene de alguma ambulância, mas, é apenas o grito histérico de Jasmim que resolveu empatar a minha vida, logo cedo.

— Jasmim, que escândalo todo foi esse?

— Olívia, eu quebrei uma unha! Se isso não é motivo para desespero, eu não sei mais o que seria...

— É realmente, porque uma unha quebrada é um dos grandes problemas que a sociedade enfrenta atualmente...

Não, essa fala não foi proferida por mim. A sutil ironia contida nessas poucas palavras, só poderia ter saído da boca de alguém que tem pouca, ou nenhuma tolerância, para lidar com os ataques de Jasmim; ou seja, da boca de Augusto.

— Ai, eu mereço... Olívia meu bem, avisa pro seu amigo roliço aí, que digimons esquisitos como ele deveriam ficar escondidos na pokébola.

Oli, avisa para sua amiga, fazendo o favor, que quem fica na pokébola são os pokémons, não os digimons. E, julgando pelo ataque que ela teve agora a pouco, julgo que é ela quem parece um monstrinho de bolso, não eu... — Augusto debocha, causando-me um ataque de riso instantâneo.

— É o quê?! Olívia, você está rindo, o seu amigo acabou de me chamar de monstro!

— Ah... Jasmim dá um tempo, foi você quem começou também.

Eu nunca tomo partido nas discussões entre esses dois. Normalmente, é Augusto que está sempre certo, e, geralmente, é Jasmim que as começa por algum motivo desnecessário. Contudo, para manter a minha sanidade mental, reservo-me ao direito de permanecer neutra sobre esses conflitos. Prefiro ser como a Suíça, a ter que tomar partido nessa história.  Mesmo que Guto seja mais importante para mim, eu ainda preciso da companhia de Jasmim para manter a minha posição de destaque nesta escola.

(...)

 

Depois da cena de mais cedo, Jasmim passou o restante do dia ignorando solenemente a presença de Augusto na sala de aula. Para piorar a situação, ela ainda ficou emburrada quando eu o escolhi para fazer dupla no trabalho de artes, mas, quanto a isso eu jamais abriria mão, pois ele sempre foi o meu parceiro para esse tipo coisa.

Agora estamos na hora do recreio. Guto deve estar em algum canto lanchando, afastado da gente – como sempre. Desta vez, eu não vou ir até ele, porque vou aproveitar para pensar melhor no meu plano dos dez segredos.

— Olíviaaa... Você tá aí?

— Estou Jasmim, que foi?

— Mas está aérea hoje, hein!

— Impressão sua... —desconverso.

— Ei, Oli! — Maya aparece salvando-me da inquisição de Jasmim. — Aqui, peguei um prato de tropeiro para ti, a tia da cantina deixou, toma. — Ela me entrega o prato ainda fumegante.

— Ai, céus! Maya, cê é um anjo. O tropeiro daqui é muito bom! — falo enquanto levo a primeira colher à boca.

— Pois é. Quando eu vi que hoje era dia de tropeiro, logo corri para a fila. Foi só falar que o outro prato era pra você que a tia liberou na hora, ela disse que adora sua mãe...

— Humm...Tenho que lembrar de agradecer a minha mãe, pela sua boa reputação depois. — anuo.

— Engraçado que você esqueceu-se de mim, né Maya?

— Ai, Jasmim... Porque cê sempre tá de dieta! Eu sabia que iria recusar porque você trás o seu lanche “saudável” de casa — ela diz, fazendo aspas com as mãos.

— Coisa que você devia fazer também! Na boa Maya, você deve tá vestindo dois números a mais desde as férias.

— Jasmim! Olha o seu jeito de falar com a menina. — repreendo-a.

— Qual é Olívia, amiga é para essas coisas. Se a gente não falar as verdades para ela, quem mais falará?

— Acontece que há maneiras de se dizer as coisas e, além do mais, Maya está bem do jeito que está.

— Ah, Oli... Deixa para lá, eu já me acostumei com esse jeito dela. nem aí para você Jasmim e, para sua informação, eu continuo vestindo tamanho 38, tá?! O mesmo que você.

Os comentários de Jasmim a respeito do corpo de Maya são recorrentes, e previsíveis. Sempre que ela está com alguma questão pendente ela arranja uma forma de espezinhar a outra, seja sobre o fato dela comer muito, ou por ela tirar notas ruins na maioria das disciplinas. Parece que ela usa isso como forma de desviar o foco de seus próprios problemas.

Alguns minutos depois, terminamos de comer e, eu me disponho a levar os nossos pratos – e copos –, para o balcão da cantina. Porém, no momento em que me levanto da mesa, ouço o barulho de gritos, em meio a uma confusão que se inicia; ao fundo do pátio escolar.  O evidente sinal de briga estudantil provoca uma aglomeração de adolescentes em volta do local da baderna. Movida pela curiosidade natural, também sigo até lá, acompanhada de Jasmim e Maya.

E, então, a cena que presencio causa-me asco imediatamente. Alicia está segurando uma garota pelos braços de forma extremamente rude, a ponto de ser perceptível uma marca vermelha de unhas, surgindo no local em que a pressão está sendo feita. Ela esbraveja contra a menina, como se tivesse gritando com uma criança que fizera alguma arte. São palavras horríveis, e preconceituosas. Palavras que eu me nego a repeti aqui, pois não quero ser eu, o “vetor” responsável por propagar preconceito gratuito.

Quando ela enfim, libera a garota de seu agarre, a pobre cai humilhada no chão. Negando-me a ficar calada diante da injustiça que se desenrola a minha frente, corro ao auxílio da garota; agachando-me ao seu lado, enquanto brado à sua agressora:

— Alicia, olha o que você fez! Ela poderia ter se machucado... Você é muito sem noção garota!

— Sem noção é ela que emporcalhou todo o meu uniforme! — Ela indica a blusa, outrora branca, agora manchada de vermelho. — Na boa Olívia, dá um tempo com suas ações de caridade fingidas, ok? Essa “macaquinha” aí é quem precisa aprender a como se comportar no meio de gente civilizada...

— Do quê você a chamou, Alicia? Você tem ideia do quão preconceituoso essa sua fala soou?— pergunto incrédula pelas coisas que acabo de presenciar.

— É apenas força de expressão, Olívia. Você é quem está colocando maldade nas minhas palavras. — Ela diz de jeito irônico.

— É uma expressão preconceituosa, isso sim — digo em cólera. — E você sabe disso, tanto que quando eu cheguei aqui, você estava lhe dizendo coisas piores. Eu vou te denunciar garota, racismo é crime!— ameaço, encarando-a de perto.

— Ei, Olívia... para de se meter em briga que não é sua! — Jasmim intervém.

— Co-como? — reajo incrédula — Você também ouviu as coisas intolerantes que ela disse Jasmim. Preconceito desse tipo é problema de todo mundo.

— Olívia, por favor. Deixa isso pra lá... —A garota que Alicia ofendera, suplica-me num fio de voz. — Eu não quero criar mais confusão.

Incredulidade.  É isso que eu sinto ao entender a posição condescendente com a qual a menina se encontra, neste momento. Ela evita encarar a sua agressora, e age como se ela própria fosse a culpada pela situação e, não mais a vítima de tudo.

“Mas o que está acontecendo aqui?! Que balbúrdia é essa no pátio?” — A inspetora, uma senhora de meia-idade de nome Luísa, chega de repente, atraindo a atenção de todos os alunos presentes. Alicia me encara de maneira atônita, ela sabe que, se eu resolver abrir a minha boca, ela estará perdida; pois, todos nesta escola conhecem a fama de encrenqueira que ela carrega. Contudo, observando a face triste que a outra menina carrega e, mais ainda, vendo a forma indiferente com o qual os meus colegas reagem à situação, escolho me abster de manifestar qualquer opinião, a cerca da confusão ocorrida agora há pouco.

— Não foi nada Tia Luísa. Alicia que estava aqui implicando comigo, como sempre. Mas a gente já se resolveu. — A senhora me encara de maneira desconfiada, e indaga à outra:

— É isso mesmo, Alicia? Procede a informação da sua colega?

— Sim. Foi só isso mesmo, Tia Luísa.

— Está bem. Se foi só isso, então eu quero todo mundo circulando agora. Acabou o show pessoal, todo mundo para as salas de aula! — A senhora ordena aos espectadores. Depois, encarando entre Alicia, e eu, ela diz: — Quanto às senhoritas aqui, saibam que eu estou de olho em vocês, pois essa explicaçãozinha não me convenceu. — E retira-se em seguida.

Alicia segue o seu caminho como se nada tivesse acontecido. Neste momento, procuro pela garota e não a encontro mais. Mal notei em que instante ela havia se levantado e saído de fininho.

Com a dispersão dos outros alunos, Jasmim e Maya vêm ao meu encontro; no que a primeira, aproveita a oportunidade para me repreender:

— Tá vendo, Olívia. De que adiantou você se envolver em briga “dos outros”, se a pessoa no fim, nem te agradeceu.

— Só que a causa em questão não era só minha, Jasmim! Alicia estava sendo preconceituosa com a garota. Você tem ideia que isso é crime?

— Ai, Olívia! Para de querer abraçar todas as dores do mundo. E daí que ela foi racista com a outra, isso não era sobre você... Você nem é negra! Ai, amiga... Não vale a pena se doer por uma causa que nem é sua.

— E precisa ser negra para se sentir incomodada? — indago de forma exaltada. — Jasmim, a minha irmã mais nova é negra, você se esqueceu?

— Mas não era a sua irmã que estava sendo ofendida. — Jasmim contrapõe.

— E isso faz diferença? — inquiro. — Faz Jasmim? Maya?

— Oli... Também não é para tanto, né?! — Maya tenta amenizar.

A forma tolerante com a qual elas encaram a situação de claro preconceito, que presenciamos há poucos minutos, me deprime consideravelmente. Mas, desisto de contra argumentar. Eu só preciso aguentar esse colégio por mais dez meses e, então, estarei livre das amarras sociais que sou forçada a manter, para sustentar a minha posição no topo da pirâmide escolar.

Admito que eu não seja o melhor exemplo de pessoa no mundo. Tenho vários defeitos, sou meio fútil, e um tanto quanto alienada no que tange as questões humanitárias. Só que preconceito racial é uma coisa que eu abomino de todas as formas. Quando eu presenciei aquela cena e ouvi os xingamentos que eram ditos, eu imediatamente passei a imaginar a minha irmã no lugar daquela garota e, então; eu a defendi assim como eu gostaria que alguém defendesse Amábile, caso essa situação acontecesse com ela.

— Está bem. Acho que exagerei um pouco mesmo... — Assumo uma confissão parcial de culpa, com a intenção de para colocar fim a discussão.  O que parece ter surtido efeito, pois, Jasmim logo muda o assunto:

— Já passou Oli... A gente tá indo para a sala, você vem também?

— Ah, agora não Jasmim... Eu vou à biblioteca, quero aproveitar que o sinal ainda não bateu para pegar um livro.

— Você quem sabe, só toma cuidado com o horário. Vamos Maya.

Despeço-me das duas com um aceno de cabeça e sigo pelas escadas até o segundo andar do colégio. Eu menti quando disse que estava indo a biblioteca a procura de um livro, na verdade, eu estou indo a procura de Augusto. Como ele não estava presente na cena da discussão no pátio eu suponho que ele ainda deva estar por lá, perdido em meio às prateleiras de livros. 

(...)

 

Oi tia, bom dia. Você viu o Augusto por aqui? —pergunto à professora Estela, que é a bibliotecária responsável pelo turno matutino.

— Bom dia, Olívia. Ele estava sentado naquela mesa de sempre, porque você não dá uma olhadinha lá? — Ela responde.

— Está bem. Obrigada.

A “mesa de sempre” é uma mesa localizada bem ao fundo da área da nossa extensa biblioteca. Ela fica escondida entre prateleiras de livros antigos de pesquisa, que quase ninguém mais usa, porque afinal de contas, para quê eu vou querer perder o meu tempo procurando algo em um livro; se eu tenho o Google para me dar as respostas?

Para minha inteira surpresa, Augusto não está sentado sozinho. Ele parece entretido em meio a uma conversa amena com nada mais, nada menos, que a garota que foi agredida por Alicia há alguns minutos.

— Ei, então foi aqui que cê se escondeu?

— Como assim Olívia? Eu te disse que ia vim para cá no recreio.

— Não é com você que estou falando Guto, é com ela... — aponto para a menina. — Ela que fugiu de mim lá embaixo.

— Ah, você está falando com a Alice?

— É... quer dizer, o nome dela é Alice ?

— Sim, Olívia. Ela é da nossa turma neste ano, é a primeira da lista de chamada, inclusive. — Ante a informação de Augusto, um Flash Black se forma em minha mente: de fato, a garota negra, de longos cabelos crespos presos em um rabo de cavalo, é a Alice que respondera a chamada no dia anterior. Como eu pude ignorar esse fato? Simples. A verdade é que eu normalmente não me interesso pela presença de mais ninguém naquela turma, exceto, pelo Augusto. Assim, na segunda-feira, eu só notei que tínhamos uma colega nova porque estava preocupada demais com o atraso do meu amigo que, dificilmente, perde uma chamada; mesmo quando é realizada nos primeiros minutos de aula.

— Ah... — começo, meio desconcertada. — Então você é a aluna nova, né... Desculpa, eu não te reconheci àquela hora.

— Tudo bem.  O importante é que você me defendeu mesmo sem sermos amigas. Obrigada Olívia e, me desculpa por ter te deixado lá sozinha, mas é que eu queria evitar mais problemas com a Alicia.

— Por nada Alice. Eu só fiz a minha obrigação. Mas você devia tê-la denunciado para a direção, o que ela fez foi muito errado. Ela poderia ter lhe machucado quando te empurrou no chão.

— Eu sei. Mas a culpa disso tudo, é minha também. Eu deixei cair o copo de suco todo na blusa dela. E, a gente sabe como Alicia é com essas coisas.

— Só que isso não justifica as injúrias que ela te falou, Alice. — aquiesço. Alice meneia a cabeça em sinal de conformismo, e diz:

— Olívia, você não entende. Eu realmente preciso evitar gerar qualquer possível conflito com Alicia.

— Meninas, como assim, de quê vocês estão falando?

— Nossa, Guto!  — exclamo. — Eu nem me  lembrava mais que você estava presente aqui...

— Ai Olívia, você é impagável! — diz Alice.

— Bom, Alice. Pelo menos a minha distração serviu para suavizar o clima, aí... Você tá até sorrindo agora.

— Meninas, vocês resolveram me ignorar mesmo, né?!  

— Ah, Guto é que a história é longa e... Veja — aponto para o relógio afixado na parede da biblioteca —, já está dando o horário da quarta aula, daqui a pouco o sinal bate. Melhor a gente ir para a sala. Vamos!— Agarro o braço dos meus dois colegas e os puxo pelo corredor a fora.

Tenho cá as minhas suspeitas sobre a relação entre Alice, e Alicia. Algo me diz que a minha nova colega omitiu alguns fatos dessa história. Porém, sobre isso, eu não posso obrigá-la a me contar nada. Afora, se a outra voltar a ofendê-la, pois de resto, eu não interferirei mais.


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