Aqueles que Uivam escrita por Avatar Wan


Capítulo 1
A Chegada


Notas iniciais do capítulo

Eu fiz no word e tá desformatando, mas espero que não estrague a experiência de leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789806/chapter/1

Clarice estava muito nervosa ao entrar pela primeira vez em sala de aula como professora. Apesar de amar a profissão de magistério, ela havia tido pouca experiência como docente em colégios das grandes cidades, pois era formada em uma faculdade do interior onde era bastante querida por todos. Por lá, as escolas eram mais humildes, com poucos alunos, pois a grande maioria desistia para ajudar seus pais em nos ofícios. Ao entrar na sala de aula, Clarice buscou um giz, mas logo se deparou com uma lousa era digital “ah...que humilhação, logo no meu primeiro dia”, pensou. Alguns alunos fingiam não reparar, no entanto, outros tentavam se esconder entre risadas e murmúrios. Uma garota de cabelos longos, cacheados e negros, com olhos cor de mel, levantou-se de sua carteira que se encontrava na primeira fileira, e dispôs-se a ensinar a professora como ligar a lousa digital, além de dar algumas dicas de como utilizá-la também. A garota era um pouco maior que Clarice, que tinha certa de 1,59 m.

—  Muito obrigada...você é?

—  Amália – Respondeu a garota de forma cortês, deixando exalar seu ar de superioridade. Então virou-se e sentou novamente em sua carteira, enquanto a professora Clarice deu início a sua apresentação.

—  Boa tarde a todos, meu nome é Clarice e... sou a nova professora de Biologia de vocês. - Alguns alunos ficaram admirados com o cabelo avermelhado até o ombro de Clarice, e como os olhos dela se fechavam quando sorria. - Como muitos aqui já sabem, o professor Moisés após ter sido atacado por algum animal, ficou gravemente ferido, e com isso teve que pedir dispensa do trabalho por um tempo. Vamos começ... ­– Antes que pudesse terminar de falar, foi interrompida por um garoto aparentemente baixo, com o cabelo castanho claro e bastante bagunçado, seus olhos verdes meio remelentos de quem parecia ter acabado de acordar.

 – Não era um animal qualquer, era um lobisomem! – Exclamou o garoto. Todos na turma deram risada, com exceção de seus dois companheiros fiéis, um alto com sardas, e outro muito bonito, porém ingênuo. Amália prontamente interrompeu o garoto.

 – Arthur, já disse milhares de vezes para não importunar nosso professor de História! Claramente você tem inveja dele porque ele é muito bonito e inteligente, e você não nem chega perto disso. –  Disse ela.

Sem palavras, e gaguejando Arthur esforçou– se para dar uma resposta adequada. Normalmente ele era muito bom com as palavras e convencia a turma a fazer diversas loucuras através de sua preciosa dialética. No entanto, quando se tratava de Amália, por mais inteligente que fosse Arthur, sempre gaguejava.

 – Você só o está defendendo porque tem uma quedinha por ele. Mas por dentro ele é uma fera selvagem pronta para devorar todos vocês! – Aparentemente a comparação de Arthur havia sofrido um efeito contrário do esperado. As meninas reviraram os olhos e suspiraram imaginando o professor como o galã de filmes que o protagonista deve resistir o desejo de se alimentar da sua amada.

Clarice fez com que os alunos voltassem a atenção para sua aula rapidamente. Ao final, não pode deixar de pensar no assunto comentado durante a aula “seria mesmo possível existir lobisomens” e, esse tal de professor de História seria um lobisomem? Mal podia esperar para encontrar esse tão falado professor. Desatenta, Clarice esbarrou-se com o que parecia ser a figura de um homem de estatura média e cabelos negros, inicialmente não reparou em seu rosto, pois estava pegando suas coisas do chão.

 — Me desculpe, vou ajudá-la. – Disse ele. Clarice finalmente virou-se e observou um belo homem com a barba por fazer. Uma figura distinta que chegava a lembrar um detetive de um dos doramas coreanos que ela tanto gostava. Mas este cara não parecia ser do tipo badass.

— Você é a nova professora de Biologia? – Perguntou o rapaz.

— Sim, muito prazer, me chamo Clarice. E você deve ser o professor de História que os alunos tanto comentam. – Surpreso com a afirmação feita, o rapaz gaguejou um pouco e ajeitou seus óculos.

— Oh meu Deus! Não, não. Você deve estar se referindo ao professor Calebe, não sei porque as crianças cismaram com ele, mas tenho certeza que apesar de tudo ele é uma boa pessoa. – Disse ele. Clarice então sorriu, mas ficou com uma certa frase na mente “apesar de tudo”. “Será que esse professor é do tipo encrenqueiro?”  Pensou consigo. Quando estava para sair, notou que o rapaz não havia dito o nome para ela, então virou-se e levemente o tocou nos ombros.

— Com licença, você não disse seu nome...

— Éden, meu nome é Éden.

— Éden... – “É um nome bonito..., controle-se Clarice, só porque faz tempo que você não vê um homem que deve se atirar no primeiro cara bonito que for gentil com você”, pensou. Então ela o cumprimentou e saiu andando rapidamente para a sala dos professores com o rosto totalmente corado.

Ao chegar na frente da sala dos professores, parou e olhou pela janela, a sala parecia estar vazia, então entrou e fechou a porta, se apoiando na mesma para escorregar enquanto suspirava. Quando deu por si e olhou para frente tomou um susto ao ver um homem de pele morena, alto, dono de cabelos brancos como a própria neve, o mesmo possuía alguns adornos dourados que pareciam ter pertencido a algum faraó. Então homem a sua frente tomou um gole do que parecia ser café, enquanto a encarava com aqueles olhos dourados e desafiadores que pareciam julgá-la e reprova-la intensamente. Então, como que quase obrigatoriamente ele disse:

—  Bem vinda ao colégio Garra de Lobo, café? – Levantou a xicara como cortesia.

—  Quero sim, obrigada! – Clarice sorriu esperando que ele fosse por uma xícara para a mesma, mas o homem apenas colocou mais açúcar na sua própria xícara e sentou-se no sofá mexendo o próprio café. Clarice bufou de raiva, e pensou “achei que ele ia colocar para mim também, que absurdo, e quem coloca tanto açúcar assim no próprio café?”. Então ela colocou seu próprio café do jeito que gostava, bastante forte, e sentou do lado dele.

O homem olhou sorrateiramente para a xícara de Clarice e disse:

— Que tipo de monstro não coloca açúcar no café? – Com a cara emburrada Clarice retrucou.

—  Que tipo de monstro coloca um caminhão de açúcar no café?

—  Dizem que apenas psicopatas tomam café sem açúcar. – Sugeriu ele, enquanto degustava de mais um gole.

—  É, o tipo de psicopata que suspira na porta e se arrasta até o chão. – Disse ela em voz baixa, tentando esconder o sorriso.

Logo são interrompidos pela entrada uma bela mulher alta e loira de cabelos longos, corpo definido, e com um batom tão vermelho que daria para notar a quilômetros de distância.

—  Clarice é você? O diretor está te chamando.

—  Ah sim! Muito obrigada! – Clarice saiu apressadamente em direção a sala do diretor, mas conseguiu ouvir ao fundo a mulher sensual iniciando uma conversa com o homem que estava na sala dos professores. Algo do tipo, “você não estava implicando com a notava, não estava?”, pareciam bem íntimos.

—  Pode sentar-se. – Disse o diretor.

Clarice sentou-se educadamente, parecia calma.

— O que achou do colégio? – Disse ele.

— Muito bonito, espaçoso também. Notei que apesar de possuir vários andares os alunos só circulam pelos dois primeiros. – Respondeu Clarice.

— Isso é porque o terceiro andar é reservado para a turma noturna. – Disse o diretor.

— Ah sim, tudo bem. – Disse Clarice, olhando para os lados.

— Aqui estão os documentos, preciso que assine aqui e aqui, por favor. – O diretor apontou para os locais onde Clarice deveria assinar.

Enquanto ela estava assinando os papéis surgiu uma pergunta a sua mente. Então resolveu tocar no assunto.

— Sobre o tal do professor Calebe...existem alguns rumores sobre ele na escola, alguns alunos criando teorias.

O diretor soltou uma risada.

— Sobre isso, não se preocupe, essas crianças de hoje em dia possuem uma imaginação muito fértil. – Se aproximou dela e falou em voz baixa.

— Você acredita que até disseram que viram uma garota de manhã cedo em cima do relógio da escola, vê se pode. – Seguiu em gargalhadas, mas logo se interrompeu com uma tosse para disfarçar.

Quando voltou para a sala dos professores, esperava encontrar o homem de personalidade duvidosa e a loira sensual conversando, mas eles não estavam mais presentes, na verdade, a sala estava vazia. “Deve ser o horário da aula deles” pensou. Logo chegou uma figura conhecida, era Éden, estava bem pensativo enquanto brincava sua barba por fazer.

— Éden? – Perguntou ela.

— Ah, oi! Clarice...certo?

— Isso! – Clarice respondeu com um sorriso e pulinho involuntário.

— Descansando um pouquinho antes da próxima aula, não é mesmo? – Perguntou Éden.

— Sim! Todos aqueles papéis para ler e assinar, me deixou exausta. Ainda bem que ser professora é algo que eu amo desde que eu lembre.

— Digo o mesmo, ser professor, cuidar do meu jardim, e escrever sempre que puder.

— Você é escritor?

— Nas horas vagas, mas aqui sou apenas um simples professor de redação.

— Você está sendo humilde, para com isso! – Clarice tomou a liberdade de dar um tapinha nas costas dele. – Ambos riram e conversaram por um bom tempo até que Clarice foi ministrar sua aula para próxima turma. Ao fim do dia, Clarice não chegou a ver Calebe novamente, pelo visto houve um imprevisto e o mesmo teve que sair mais cedo.

No dia seguinte, reparou que o menino barulhento não estava na sala de aula e então perguntou para a turma, mas seus amigos responderam que não sabiam do paradeiro do Arthur.

—  Ele falou que iria provar que o professor Calebe era um lobisomem de uma vez por todas, então ficou escondido na escola até o horário da aula noturna. Depois disso não tivemos mais notícias. – Disse um de seus amigos, o rapaz alto. A sala toda começou a cochichar, alguns acreditavam que Arthur não tinha conseguido achar provas ficou com vergonha de ir para a escola, outros já achavam que o professor havia devorado ele.

Clarice então deu prosseguimento a sua aula, mas ao final foi até a sala dos professores na esperança de encontrar algum professor para perguntar se o mesmo sabia de alguma coisa..., mas no caminho ouviu comentarem que professor Calebe também não havia ido para a escola. Ela então apressou os passos e foi para a sala do diretor.                     

— Um aluno meu não foi para aula hoje, o Arthur. – Disse Clarice.

— Esse garoto é problemático mesmo, amanhã ele deve estar por aí. Apesar de ser encrenqueiro, suas notas são boas, e ele não é maluco de faltar mais. Esse rapaz tem acumulado muitas faltas já. – Respondeu com um pouco de descaso o diretor.

—  Mas os meninos disseram que ele ficou até a noite no colégio. – Apontou Clarice.

—  Ele o quê!?  Retiro o que disse, esse garoto é totalmente maluco! – O diretor perdeu a compostura e no susto deixou derrubar sua garrafa de água e a placa de diretor que ficava sobre a mesa.

—  Por que? O que tem no turno da noite? – Perguntou curiosa.

— Quem frequenta é somente a elite da elite, ou pessoas muito inteligentes. É um tipo de educação especial, por isso o terceiro andar é reservado para eles. – Disse o diretor em voz baixar enxugando o suor com seu lencinho.

—  O senhor pode ligar para família dele? – Perguntou ela.

—  Ele só tem a mãe que vive alcoolizada. – Disse o diretor. Mas Clarice mesmo assim insistiu até que o diretor ligou.

Após vários minutos de espera um garoto atendeu.

—  Alô, residência dos Leais.

—  Arthur? É você?  Aqui é a professora Clarice, liguei para perguntar se está tudo bem.

—  Ah, professora Clarice... está tudo bem, porque a pergunta?

—  Bom, você não foi para o colégio hoje, e... seus amigos falaram que você foi ontem para o colégio no turno da noite. – Clarice ouviu uma voz masculina sussurrar ao fundo.

—  Ah... sobre isso, eu fui visitar, para ver como era. Recebi uma proposta para estudar no turno noturno, queria conversar com diretor da noite e o professor Calebe pediu para que eu fosse naquele horário.

—  Viu só?  Caso resolvido. – Disse o diretor. Mas Clarice ainda ficou com o pé atrás por ter ouvido uma voz suspeita ao fundo. Visto que Arthur morava apenas com a mãe. E o mais estranho nisso tudo era que a voz lembrava o homem que estava na sala dos professores tomando a xícara de café.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aqueles que Uivam" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.