End of the Earth escrita por Mandalay


Capítulo 1
End of the Earth — capítulo único




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O tempo voa quando se está no espaço - ao menos é o que alguém deve ter dito em algum momento da história - não é possível quantificá-lo, sequer mensurá-lo, quando não há astros para definir o começo de um dia e o fim de outro. Não há um grande e esplendoroso sol no espaço, muito menos uma lua para ornar junto das muitas estrelas nascendo e morrendo em uma vastidão imensa demais para se mensurar. Há só o breu, há só estrelas, e meteoros correndo livremente pela imensa paisagem escura. Não existe tempo no espaço, há apenas a essência da criação, o motivo do mundo, o cerne da vida. Quando se está no espaço existe o nada e existe o tudo.

Ao menos era assim que Lars costumava enxergar o desconhecido muito acima de sua cabeça, através da ótica de corações romancistas retratadas em filmes. Onde a realidade se contorcia numa completamente diferente daquela em que ele vivia. Isso até ele conhecer o espaço de verdade e compreender o quão equivocada sua imaginação estava. Ele se perguntava se conseguiria levar um filme mal feito a sério novamente ou se seus olhos chegariam a brilhar mais com eles do que quando se viu pilotando uma nave espacial pela primeira vez.

A resposta era uma negativa.

Seu coração vibrou, a adrenalina foi para lugares antes desconhecidos por seu corpo, quando ele esteve no espaço pela primeira vez. Quando ele teve de lutar pela sua vida e a vida de outros seres, aquilo nunca se compararia as maravilhas do cinema. De forma alguma ou nenhuma.

Afinal ele conseguira sentir que finalmente encontrara o seu lugar e ele era dentre as estrelas, quem diria? Ali ele não era o mesmo Lars que já fora na Terra, não. Ali ele era um pirata espacial, um saqueador, o capitão de uma nave, alguém que era levado a sério. No espaço ele pudera fazer de si alguém completamente novo ou apenas ser o que ele sempre quis ser mas tinha medo de ser. Entretanto mesmo tendo se encontrado finalmente, seu coração ansiava pela Terra - ele tinha que voltar para casa - lá ainda haviam assuntos a serem resolvidos.

O tempo muda as pessoas e as pessoas mudam com o tempo, essa foi uma noção que ele conseguira estando no espaço.

Quando o cenário que ele via pouco mudava com o passar dos dias, suas angústias pareciam ser do tamanho do mundo, mas passado algum tempo sem existir nele, tudo pareceu mudar bruscamente e ele se sentia deslocado naquele lugar, só que diferente de antes, Lars não tinha algo consumindo seus pensamentos de forma quase insana, ele apenas estava diferente de antes, assim como as pessoas naquele em sua terra natal, assim como Sadie. Estar longe dela fez com que ele entendesse o que era realmente sentir falta de uma pessoa - de valorizar alguém importante - de compreender aquilo que sentia mas pouco dava importância pelo simples medo disso - de simplesmente aceitar - estragar sua imagem.

Vê-la novamente não fez com que ele pensasse no passado, como imaginou que aconteceria. Reencontrar Sadie, agora como vocalista de uma banda o fez contemplar algo desconhecido, um sentimento novo florescer em meio aquele que já sentia por ela. Mais tarde ele descobrira que sentia admiração por ela, uma difícil de engolir. Por aquilo que ela conquistara enquanto ele não estava por perto.

Sadie conseguira algo que ele desejou alcançar no passado, ela era amiga dos caras mais legais da cidade, e era impressionante ver isso com outros olhos.

Vê-la com outros olhos, que eram os dele, mas não eram realmente os dele.

Pois aquele velho Lars que ela conhecia não estava mais ali, assim como a velha Sadie também não estava mais ali.

Mudanças eram dolorosas de uma forma que ele estava tentando se acostumar a sentir, a se habituar a não sentir a surpresa se espalhar por seu rosto, mesmo quando isso parecia inevitável, mesmo quando ele sentia uma distância imensurável afastá-los.

Ele estava acostumado a se afastar das pessoas, não o oposto.

A lembrança dos dias em que eles tentaram algo em prol de seus sentimentos era menos dolorida quando Lars estava no espaço - não que ele a visse com muita frequência em Beach City, devido aos shows que fazia fora da cidade - estar distante o fazia querer apreciá-las de uma maneira mais alegre e menos amarga.

— O capitão Lars parece estar triste.

— Eu não estou triste Padparacha.

— Está triste sim, é só olhar para essa sua cara de quem vai chorar a qualquer momento.

O tempo que passaram na Terra fez com que as off-colors ficassem ainda mais afiadas em se tratando do estado emocional dele - e pensar nisso fez com que ele revirasse os olhos - era óbvio que elas saberiam quando algo não estava bem com ele francamente, elas o conheciam melhor que seus próprios pais!

— Até vocês, Rutilo? Onde fica o meu prestígio como capitão?

Por mais que ele desejasse que seu tom fosse mais brincalhão o efeito que conseguiu foi o completo oposto, o centro de comando da nave ficou completamente silencioso por um breve momento, como se as gems estivessem se dando tempo para dizer algo.

Até que uma visão atrasada fez com que Padparacha juntasse as mãos em contentamento, para depois separá-las.

— É por causa da Sadie.

E assim como havia dado início a conversa, Padparacha a encerrara.

"Nós mudamos muito, não acha?"

— Me desculpe Lars.

— Não tem problema, 'tá tudo bem Paddy.

"Eu gosto muito de você Lars, mas não sei se esse sentimento é o mesmo agora que nos reencontramos."

Algo parecia estar entalado em sua garganta.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Você pode falar com a gente, Lars.

— Eu-

Ele não sabia o que poderia sair de sua boca se falasse, seus olhos estavam marejados demais para que conseguisse controlar que as lágrimas caíssem a um mero piscar de olhos. Ele estava bem com o desenrolar que a história que dividiam teve em seu reencontro, realmente estava e não havia nada dentro dele que lhe dissesse o contrário, exceto por seus sentimentos que insistiam em lhe dizer o oposto. Seu coração parecia ser lento quanto a deixar as pessoas irem.

"Talvez seja melhor nós deixarmos as coisas como estão.", e havia uma adoração sem igual em seu olhar conforme dizia aquelas palavras, "Não me leve a mal, eu estou muito feliz em vê-lo assim, você mudou muito Lars. Melhorou muito. Você até abriu uma doceria só sua! Quem diria que você conseguiria fazer isso antes?"

Porquê era tão difícil ver alguém que antes estava tão próximo à você se distanciar?

"Mas parece que isso só me distancia mais de você. Nós dois temos ambições muito diferentes e acho que sempre tivemos. Nós estamos muito diferentes, não concorda?"

— Eu não 'tô legal. Eu pensava que estava bem mas, parece que ainda não estou, eu-

Rodonita foi em sua direção, o abraçando fortemente.

— Se ela realmente foi o seu primeiro amor talvez leve mais tempo do que pensa, Lars.

Ele sacudiu a cabeça, seus olhos não aguentando mais segurar as lágrimas.

— Eu sei, é só que não pensei que fosse tão complicado.

Ela sorriu, por mais que ele não pudesse ver tal expressão.

— Qualquer coisa que envolva o coração é mais difícil, mas tem uma solução para isso capitão.

— E qual seria?

— Você escolhe como vai amá-la.

"Mas eu não vou deixar de te querer bem Lars, você é muito especial para mim."

— Se você se importa com ela, se quer o bem dela, então isso já é o suficiente. Não importa onde vocês estejam, o sentimento não vai mudar.

"Talvez leve mais tempo Lars, talvez nós possamos tentar outra vez, em um outro momento mas agora, eu tenho outras coisas em mente."

— Obrigada Rodonita.

Ela assentiu, afagando o topete cor de rosa dele.

— Você é um ótimo capitão, não podemos arriscar você perdendo a cabeça para sentimentos em meio a uma batalha importante.

"É, acho que você 'tá certa Sadie."

Dada as pequenas coincidências que ouvira, Lars riu, agradecendo mais uma vez as palavras da fusão entre duas gems que parecia ser mais sábia do que ele naquele momento.

Respirando fundo.

Estava tudo bem.

Ele chegara mais longe do que sequer imaginara.

Ele, o capitão de um grupo de gems deslocadas, o dono da melhor doceria de Beach City, Lars Barriga, estava bem.

De verdade.

E tempos depois desse momento afligido Steven aparecera em sua nave, como volta e meia acontecia, para terem uma aventura no espaço - para que ele não se sentisse distante do amigo - e era bom ter ele por perto, fazia com que seu coração pulsasse mais rapidamente como se estivesse agradecendo por sua presença, já que fora graças aquele garoto que ele estava ali, vivo, mesmo que com muitas diferenças. Fora difícil de se acostumar com o gosto diferente da comida ou com a ideia de que ele viveria mais que o normal para um humano. Em verdade ainda era, principalmente com ele estando a frente de uma doceria e em como esse detalhe irritante era algo que fazia total diferença quando era ele quem fazia todos os doces a venda.

A vida prolongada era algo que ainda não o incomodava tanto quanto seu paladar, ao menos por hora, e provavelmente enquanto ele tivesse aqueles que conhecia ao seu redor não seria um fator preocupante para o jovem capitão estelar. Ao menos era o que ele gostava de pensar, e enquanto Steven estivesse por perto ele poderia se manter submerso nessa ideia.

Quando o visitava não era incomum que Steven trouxesse objetos dos lugares por onde passava, desde que decidira morar sozinho ele não parava em um ponto específico por muito tempo porém, dessa vez o que ele tinha em mãos era algo diferente.

— Sadie pediu para que eu te desse isso, como eu não lembrava se você tinha onde reproduzir, trouxe um walkman também.

Era uma fita cassete.

— Você voltou para Beach City?

— Para o aniversário do meu pai, aí a encontrei e ela me deu isso. Escute, ela parecia ansiosa com o resultado.

E enquanto ele via Steven interagindo com suas amigas, conversando sobre coisas que ele não se interessava no momento, Lars colocou os fones de ouvido e deu o play no pequeno equipamento - se surpreendendo incrivelmente com o que escutara em seguida.

Sadie havia composto uma música sobre ele - sobre eles.

Uma música que falava sobre o tempo, o espaço e o sentimento que ela guardava especialmente para ele e apenas compreender aquilo já o fizera sorrir.

— Steven, se encontrá-la de novo, diga que ficou muito bom!

Ele encarou o amigo com uma malícia que o mesmo nunca imaginara que ele fosse capaz de produzir.

— Não é melhor você fazer isso?


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Notas finais do capítulo

Assistir Steven Universe Future me deixou mais emocional do que eu esperava e, com fim do cartoon decidi que esse seria meu último trabalho relacionado aos personagens da trama - principalmente em relação a esse shipp ah-haha!



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