Aonde quer que os cavalos nos levem escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 1
Um empurrãozinho


Notas iniciais do capítulo

Hey!

Se você for minha amiga secreta: Foi um prazer escrever para você! Apesar de eu amar essas personagens, foi um shipp bastante desafiador, e demorou até eu acertar a mão no açúcar, haha. Seus outros shipps da Disney eram tão legais quanto, então eu incluí eles aqui. Espero que você se divirta lendo! ♥

Se você não for minha amiga secreta: Obrigada por dar um pulinho por aqui! É minha primeira vez escrevendo um crossover, e eu espero que não tenha ficado tão estranho. xD

Boa leitura!



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— Adivinha só! — Anna se contorceu sob o cinto de segurança para encará-la no banco de trás. — Kristoff e eu escolhemos o seu castigo!

 Elsa parou de mastigar o muffin, deixando algumas migalhas choverem sobre seu colo.

— Não é, Kristoff?

— E eu estou sendo castigada exatamente por quê? — Ela franziu o cenho. — Não acha que é muito cedo para falar de adivinhas e castigos? Eu ainda nem terminei meu café da manhã.

— Dã, é seu castigo por ter perdido no Just Dance ontem. — A irmã revirou os olhos.

— Tipo, por ter perdido umas dez vezes — Kristof completou, fitando-a pelo espelho retrovisor.

— A gente concordou que quem perdesse mais vezes ia ganhar um castigo.

— Só concordei porque pensei que eu fosse ganhar. — Elsa empertigou-se no banco.

 À sua frente, Anna e Kristoff trocaram um olhar rápido. Então, no instante seguinte, estavam explodindo numa gargalhada.

— Você realmente é muito confiante.

— Ok, vossa alteza — Anna ironizou. — Mas você perdeu, e agora tem que cumprir o castigo.

 Elsa terminou o muffin devagar, tentando ignorar o sorriso radiante no rosto da irmã.

 Na noite anterior, havia bastado três rodadas de coreografias agitadas no Just Dance para que sua derrota fosse certa. Mas ela não dera o braço a torcer, e o castigo por isso havia chegado.

— E então?

— E então… — Kristoff puxou, claramente hesitando. — Então que nós… Hm, nós…

— Nós decidimos que seu castigo vai ser se declara para a Merida! — Anna praticamente pulou no banco.

 Elsa pestanejou, esperando que um deles dissesse estavam brincando. Mas a irmã continuou a fitá-la com olhos brilhantes, balançando as mãos como quem anunciava uma surpresa boa. E Kristoff, no banco do motorista, deu duas ou três olhadas pelo espelho retrovisor que deixaram claro que aquilo não era uma brincadeira. Não exatamente.

— Tá-dã..? — Anna tentou mais uma vez.

— Não… Não, definitivamente não. — Elsa correu as mãos pelo cabelo, e jogou as costas contra o banco. — Não!

— Qual é? Isso nem é um castigo de verdade — Anna argumentou, cruzando os braços. — Estamos tentando ajudar você. Não é, Kristoff? É um empurrãozinho de leve!

— É, mais ou menos…

— É isso, ou fazer um número de dança na Festa da Fogueira. — Anna ergueu o queixo numa pose autoritária.

— Mas nós já vamos cantar na Festa da Fogueira.

 Todo ano, desde que Elsa se lembrava, as duas cantavam na Festa da Fogueira de DunBroch. Era uma comemoração do aniversário do centro, em que as famílias e a comunidade próxima se reuniam para dançar e comer. Os alunos se apresentavam em números dos esportes que praticavam, e todos eram convidados a compartilhar outros talentos no sarau da grande fogueira.

— Ah, mas vocês duas cantam bem. Agora, dançar… — Kristoff assobiou, tendo que se desviar de um peteleco de Anna logo em seguida.

— Ah, não. Dançar, não. Eu tenho uma reputação a manter em DunBroch.

— Você escolhe, querida: finalmente se confessar para a Merida, ou dançar na Festa da Fogueira.

 Elsa partiu os lábios para responder, mas Anna balançou o dedo indicador, firme.

— E eu e o Kristoff vamos escolher a música.

 O carro ficou em silêncio por alguns instantes, o suficiente para que se lembrassem de que o rádio estava ligado. Elsa foi engolfada por uma centena de cenários diferentes com Merida, cada um dos que ela já havia se cansado de imaginar. Um mais desastroso e vergonhoso do que o outro. Um mais impossível do que o outro.

— Se você estiver pensando em nos matar — Kristoff começou quando pararam num sinal vermelho —, só quero saiba que tudo foi ideia da sua irmã.

— Ei!

— Tudo bem, minha reputação vai ser destruída na Festa da Fogueira. — Elsa ergueu as mãos em rendição. — Podem escolher a música, mas façam isso logo. Só tenho um mês para montar uma coreografia que preserve pelo menos um terço da minha dignidade.

— Você não pode escolher a dança! — Anna exasperou-se.

— Eu disse que ela ia escolher a dança.

— Ok, a opção da dança tem uma nova condição: eu e Kristoff vamos coreografar.

— Vamos?

— Vamos, claro que vamos!

 Elsa fuzilou os dois com o olhar. Paralelamente, desejava voltar à noite anterior e esganar a si própria no momento em que decidiu aceitar o desafio de Just Dance.

— Você pode se declarar para a Merida até sexta-feira. — Anna piscou para ela.

— Até sexta?! Isso é daqui a dois dias! — Elsa inclinou-se para a irmã, desesperada e ameaçadora. — Esse tipo de coisa requer um planejamento cuidadoso! Eu ainda não tenho um plano bem estruturado, nem pesquisei na Internet as variáveis possíveis. Você quer que eu tenha um ataque do coração?! Francamente!

— Então você vai se declarar para a Merida?

— Sim, mas não em dois dias!

— Sexta-feira é um dia perfeito, ok? Vocês podem começar a namorar e já ir no jogo de sábado como um casal.

— Que tal estender o prazo até a Festa da Fogueira? — Kristoff sugeriu.

— Isso, um mês parece bom. — Elsa suspirou, voltando a recostar-se no banco. — Não, espera aí!

— Opa, já era, você escolheu — Anna cantarolou.

— Escolheu, eu sou testemunha. — Kristoff ergueu uma mão. — Pronto, chegamos ao seu destino, madame.

 Elsa bufou, vencida.

 O casal despediu-se docemente, então Anna virou-se uma última vez para ela.

— Tente fazer algum progresso hoje, sabe, preparar o terreno.

— Tchau, Anna. Boa aula.

— Tchauzinho!

 A irmã pulou para fora do carro, alegre. E continuou acenando para eles da calçada da universidade, mesmo quando o carro dobrou uma esquina.

 Elsa se manteve estática durante o resto do percurso. Sua mente nem ao menos tentava processar o que havia acabado de acontecer. Os neurônios já estavam ocupados o bastante impedindo um impulso de berrar de desespero.

— Bom, não é assim tão ruim, é? — Kristoff arriscou.

 Ela não respondeu. O carro ultrapassava os portões do Centro de Treinamento DunBroch, transformado numa zona de perigo.

— Quero dizer, você gosta da Merida há séculos. — Ele tomou a pequena estrada para o estacionamento. — Ah, e se precisar de ajuda com a declaração, pode pedir ajuda para os meus —

— Amigos especialistas em amor — Elsa o interrompeu. Impaciente para sair ao ar livre, agarrou depressa sua bolsa e o casaco. — Sim, Kristoff, isso seria ótimo. Com certeza vou marcar um horário com eles.

— Sério?

— Te vejo no jantar. — Elsa saiu assim que o freio de mão foi acionado.

 Antes que Kristoff tivesse a chance de dizer mais alguma coisa ou de segui-la, ela se colocou a caminho dos vestiários. Precisava ficar longe da memória da irmã e dele, da memória do castigo que tinha para cumprir. Isso não era exatamente possível, visto que Kristoff e Merida trabalhavam no rancho. Porém, ela tentaria com todas as forças.

 Isso se já não estivesse completamente derretida por Merida.

 Quando finalmente alcançou as pistas com Nokk, Merida já estava lá com Angus. O sol preguiçoso lambia os anéis acobreados de seus cabelos e fazia o pelo negro de Angus luzir. Elsa sentiu que o coração suspirava, mesmo que tivesse aquela mesma visão em quase todas as manhãs desde que podia se lembrar.

— Ok, tudo bem. É só se controlar — murmurou para si mesma, ao que Nokk grunhiu. — Nada mudou. Não tem uma placa de neon piscando na sua testa, Elsa.

— Ei! — Merida acenou enquanto eles se aproximavam.

— Ei! — Elsa respondeu ligeiramente alto, atraindo a atenção de duas garotas que passavam do outro lado das cercas.

 Merida arqueou as sobrancelhas para ela, segurando uma risada.

— Tomou cafeína demais antes de vir? — brincou, afagando o focinho de Angus.

— Acho que sim. — Elsa forçou-se a rir, desviando o rosto depressa.

— Bem, então vamos ter de pular o gole de café depois do treino.

 As duas trataram de montar logo para as voltas de aquecimento. Esse era o rito matinal desde que Merida entrara para a universidade. E embora esse fosse o único momento em que as duas ficavam juntas durante a semana, Elsa estava conformada. Corria com ela pela manhã, treinava na pista de obstáculos com Mulan, então passava o restante do dia na universidade, e à noite jantava com a família. Mas o dia inteiro era preenchido com pensamentos sobre Merida.

— Você tem certeza de que é só a cafeína?

— O quê? — Elsa pestanejou. Por reflexo, apertou mais as pernas nas laterais da sela.

— O que você tem hoje? — Merida riu-se. — Parece que está em outro mundo.

 Estavam na segunda volta. Os cavalos diminuíram o passo para o trote, enquanto faziam a curva mais aberta da pista. O cabelo de Merida ondulava no sol, circundando-a com uma aura alaranjada. Elsa permitiu que a respiração falhasse por um mero instante perdido em admiração. Então, depressa, recuperou a compostura.

— Sim, só muita cafeína — mentiu, pensando no suco de laranja que tomara mais cedo.

— Sei… Bom, então espero que a cafeína te ajude a me alcançar.

 Elsa não teve tempo de questioná-la. Num piscar de olhos, Merida tocou o lombo de Angus e o cavalo saiu em disparada.

— Ah, ela pensa que vão ganhar hoje, Nokk. — Elsa sorriu, escorregando os dedos pela crina prateada do cavalo.

 Paciente, ela segurou o trote e aguardou até que Merida e Angus desaparecessem atrás do pavilhão de arquearia. Deixou que pensassem ter ganho vantagem na largada. E só então, num processo tranquilo, instigou Nokk a galopar.

 O vento gélido da manhã bateu em seu rosto com força, e a sensação foi de sair de um transe. Não demorou para que DunBroch virasse um borrão multicolorido ao seu redor. Elsa mal percebeu quando as patas velozes de Nokk deixaram o pavilhão de atletismo para trás. Mas percebeu quando foi a vez de ultrapassar o galope de Angus.

 Normalmente, ela e Merida levavam o aquecimento a sério, alternando entre trotes, galopes moderados e pequenas corridas. No entanto, naquela manhã, parecia haver uma urgência para correr e correr. Elsa se deu conta disso no início da terceira volta.

 Não queria a calma das passadas coordenadas. Se ficasse quieta, a mente a levaria de volta ao carro de Kristoff, ou a um de seus muitos cenários de comédia romântica.

 Tinha de se manter em movimento.

 Mas também tinha de ser responsável. Por isso, quando Nokk apresentou o primeiro sinal de cansaço, levou-o de volta ao trote e o fez parar na pista. Demorou pelo menos um minuto até que o Angus os alcançasse, com uma Merida sem fôlego em seu ombro.

— Puxa… Quanta energia. — Ela dobrou-se sobre Angus até deitar o corpo sobre seu pescoço.

— Parece até que foi você que correu no lugar do Angus — Elsa caçoou, afagando a crina de Nokk.

— Foi só o aquecimento. — Merida mostrou-lhe a língua. — E a gente ainda aguenta mais cinco voltas. Certo, Angus?

— Não, já está bom. — Elsa meneou a cabeça negativamente.

 As duas desmontaram para caminhar ao lado dos cavalos. Elsa sentia a adrenalina esfriando, cedendo passagem a coisas que deveriam ficar trancadas.

— Eu reparei isso antes de montar, mas… — Merida inclinou-se para encará-la. — Você vestiu seu suéter pelo avesso?

— Ahn? — Elsa soltou as rédeas de pronto.

 Ansiosa, ergueu os braços para ver se a costura das mangas estava aparente. Fez e refez a inspeção até estar segura de que havia se vestido corretamente. Ainda estava com a cabeça no lugar.

— Claro que não — bufou. Enquanto Merida gargalhava, ela ocupou-se em deitar-lhe um olhar mais cuidadoso. — Mas você talvez tenha vestido o seu pelo avesso… de novo.

 E tinha mesmo. As linhas do bordado do brasão de DunBroch estavam todas para fora.

— Ah, não, que droga!

 Elsa tomou a liberdade de devolver a gargalhada. Porém, o som morreu em sua garganta. Merida estava se contorcendo para se livrar do suéter, e um pedaço de sua barriga apareceu sob a barra.

— O quê? Tem mais alguma coisa pelo avesso? — ela perguntou, com o rosto meio coberto pelo suéter.

— Não, não. — Elsa apertou as rédeas de Nokk, voltando-se para o chão. — Acho que a Mulan já deve estar me esperando. Te vejo depois.

 Ela montou rápido e pôs Nokk no caminho para o picadeiro.

— Parece que vamos passar o dia inteiro fugindo — suspirou. — E isso com certeza não conta como “fazer um progresso” na escala da Anna. Você tem sorte de ter uma vida tão menos complicada, Nokk.

 Elsa repassou, mentalmente, a grade horária do dia. Havia coisas demais para se preocupar na faculdade – como seus experimentos no laboratório – para que pudesse se dar ao luxo de pensar em confissões.

— Não, não. Não tenho tempo para isso hoje — murmurou.

 Tinha de continuar ali, no presente, não nas semanas que ainda faltavam para a Festa da Fogueira.


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Notas finais do capítulo

Nokk é o espírito da água em Frozen II. ♥



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