A Armada de Dumbledore escrita por AnnaGê


Capítulo 2
Capítulo 2 - De volta à Hogwarts




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     Após a discussão do jantar, Morgan evitou se dirigir ao irmão. Estava zangada com sua atitude, mas podia compreender aquilo. Apesar de Bash ser um bruxo muito inteligente e talentoso, ele também era uma pessoa facilmente influenciável. Em todos os anos da escola, e até antes, o irmão mais velho sempre seguia os passos de Corban, Lúcio Malfoy e Draco, figuras que ele tomara como referência de comportamento e pensamento. Ele não era tão cruel e exibicionista quanto o primo, mas apoiava-o em todas as vezes em que este insultava alguém, especialmente Harry Potter.

     Sebastian, por sua vez, entendeu que aborrecera a irmã, mas simplesmente deu de ombros e parou de tentar fazê-la enxergar o quanto estava sendo imprudente ao andar com a Di-Lua Lovegood. Passou o restou da refeição conversando com Corban sobre quadribol e sobre o quanto estava ansioso para estrear sua nova vassoura, uma Firebolt que o tio comprara no Beco Diagonal naquele verão, devido ao fato de sua antiga, uma Nimbus 2001 que ganhou do pai de Draco em seu segundo ano, ter se quebrado em uma das vezes que treinou com o loiro nas férias. Assim como Bash, Draco jogava pelo time da Sonserina, só que como apanhador.

     Já Corban distraía-se facilmente com os assuntos corriqueiros do sobrinho, visto que sempre acabava por dar mais atenção a ele do que à irmã gêmea do garoto.

     Antes de dormir, Morgan iniciou seu rotineiro cuidado com a pele, que fazia desde que era criança com a Sra. Malfoy. Enquanto passava um dos caríssimos cremes que a mãe de Draco lhe dera de presente em seu décimo-quinto aniversário, a garota notou que a coruja de Luna estava próxima à janela, bebericando um pouco da água que deixava de reserva para Eve, quando esta voltava de alguma viagem. Morgan retirou a carta que a coruja trazia consigo e viu o animal partir de volta para sua dona, em meio à escuridão da floresta de Hampshire.

“Prezada Morgan. Espero que esteja bem e que os pesadelos não tenham voltado. Mal posso esperar para mostrar os novos desenhos que fiz nessas férias! Nos vemos amanhã no Expresso de Hogwarts. Com carinho, Luna.”

     “Pelo menos alguém que me traz boas notícias e que realmente está feliz em me ver” pensou Morgan, fechando a carta e deitando-se em sua cama extremamente confortável, adormecendo quase instantaneamente. Amanhã estaria retornando à Hogwarts.

      Os gêmeos acordaram cedo na manhã de 1° de setembro, mais cedo do que tinham se acostumado durante as férias, para desgosto dos dois, que teriam que voltar aos antigos hábitos para a volta às aulas. Em todo o início de ano letivo, Corban fazia o desjejum com os sobrinhos e os deixava na plataforma de embarque à escola. Após verificar o malão e se certificar de não esquecera nada importante, Morgan rumou à sala-de-jantar, onde seu irmão e seu tio já estavam a sua espera.

     - Bom dia. – murmurou ela, mais por obrigação, pois estava sem a menor vontade de conversar.

     - Dia. – responderam os dois, que estavam ocupados demais com suas leituras para lhe dar atenção, fazendo-a agradecer mentalmente. Enquanto o tio lia atentamente uma espécie de artigo sobre as novas medidas do Ministro da Magia, Cornélio Fudge, seu irmão se entretinha com a coluna de quadribol do Profeta Diário daquela manhã, em que Dumbledore aparecia na capa, porém Morgan não teve o menor interesse em saber o que o jornal falava dessa vez sobre o diretor. Servindo-se de uma torrada e um copo de suco de abóbora, Morgan permaneceu em silencio por longos minutos, enquanto os dois fingiam que nada existia além de sua leitura.

     - Espero que fiquem à frente de todos nos N.O.M.s, inclusive de seus colegas. – disse, enfim, Corban, dobrando seu artigo e colocando-o de lado, servindo-se finalmente. – Não quero ver notas abaixo de “O”. – “O” ou “Ótimo” era a nota mais alta dos exames em Hogwarts. O tio era muito exigente com os sobrinhos quanto às notas e a disciplina.

     - Sim, tio Corban. – os dois responderam.

     - Têm em mente o que querem seguir depois de Hogwarts? – perguntou o tio, claramente esperando uma resposta que o agradasse. Sebastian olhou para a irmã e Morgan entendeu que dizer a verdade estava fora de questão. Eles sabiam que o tio jamais aceitaria a carreira que gostariam de seguir. Para ele, era bobagem querer ganhar a vida se preocupando com o bem-estar e controle das Criaturas Mágicas ou com quadribol.

     - Pretendo trabalhar no Ministério, não sei ainda a área. – respondeu Bash, olhando para seu ovo cozido, sem interesse. O sonho do garoto era ser um grande jogador de quadribol, mas isso era uma coisa que somente a irmã tinha conhecimento.

    - Excelente. Você ainda terá tempo para se decidir. – disse Corban, satisfeito. – E você, Morgaine?

   - É, também...também não tenho certeza. – respondeu ela, olhando para o prato, em que só restavam os farelos da torrada que comeu.

   - Muito bom. – por fim, Corban sorriu e tomou mais um gole de seu suco de abóbora, não notando o clima tenso que provocara.

    Às dez e meia, os três se juntaram no hall de entrada. Morgaine e Sebastian seguravam seus pesados malões com uma das mãos, enquanto o tio segurava sua maleta do trabalho, para onde se dirigiria após deixar os gêmeos na estação. O homem se colocou ao meio dos sobrinhos e os dois se entrelaçaram em seus braços fortemente. Em poucos segundos estavam rodeados de vozes e lá estava o trem que os levaria para Hogwarts, à sua espera. Morgan abriu e fechou os olhos com força, enquanto cambaleava ao soltar o braço de Corban. Não era a primeira vez que aparatava, mas decididamente ainda não havia se acostumado com a sensação de ser prensada com força contra uma parede invisível. Apesar disso, já estava muito melhor, comparada à sua primeira vez no ano passado, em que o tio passou usar a aparatação como transporte com os sobrinhos em vez de um longo percurso de carro até a Estação King Cross, o que levava muitas horas.

     - Vai vomitar? – perguntou a conhecida e irritante voz debochada de Draco Malfoy.

     - Se eu for, pode deixar que farei isso com o maior prazer bem em cima de você. – respondeu Morgan, mal-humorada.

    - Eu teria mais cuidado com alguns atos e palavras, se fosse você. Agora eu sou monitor, posso muito bem te castigar por mau comportamento. – disse ele triunfante.

    - Estou ansiosa por isso. – disse Morgan, virando os olhos.

     - Bom, vocês já estão encaminhados. – disse Corban impaciente, acenando com a cabeça educadamente para Draco e desaparatando para o Ministério.

     - Isso é o que eu chamo de despedida calorosa. – debochou Draco. – E aí, preparada para os N.O.M.s este ano?

    - Não enche! – disse Morgan rispidamente, entrando no trem que em poucos minutos partiria. Já estava cansada de conversar sobre os exames e não gostaria de ouvir Draco se vangloriar de suas notas, apesar de não serem diferentes das dela. A garota só queria encontrar um vagão vazio, para ter um pouco de paz e finalmente relaxar. Passando pelo corredor estreito das cabines, Morgan observava que todas estavam cheias, para seu completo desespero. Quando se viu observando uma por mais de um segundo, sentiu algo trombar com seu corpo, fazendo-a virar rapidamente a cabeça. Seus olhos miraram um par de olhos castanhos assustados, um monte de sardas e um cabelo cor-de-fogo, ambos próximos demais, o que a fez se afastar rapidamente com o susto.

     - Opa! – riu o garoto dono dos olhos castanhos, das sardas e dos cabelos ruivos-fogo. – Desculpa! – Mas Morgan nada respondeu, aturdida demais com a aproximação, apenas encarando assustada o garoto, que tinha o irmão gêmeo de um lado e um garoto de cabelo rastafári do outro, todos olhando para ela com cara de que queriam rir. A garota conseguiu reconhece-los com facilidade: eram os gêmeos Weasley, família conhecida no mundo bruxo por ser “traidora do próprio sangue”, como consequência de seu envolvimento com trouxas, e Lino Jordan, amigo dos dois. Os três eram muito conhecidos na escola por suas brincadeiras e peças, que faziam os cabelos desgrenhados do bedel Argo Filch ficarem em pé. Morgan apenas passou por eles rapidamente, sem dizer nada, tendo a certeza de que o três deviam estar rindo do que acabara de acontecer, o que a fez dar um riso também.

     Finalmente achara uma cabine em que havia pessoas conhecidas. Blásio Zabini, Vicente Crabbe e Gregório Goyle estavam sentados junto à janela, conversando sobre algo que Morgan não entendera quando esta chegou à cabine. Imediatamente Goyle se prontificou, oferecendo seu lugar à ela, à frente de Blásio, que sorria maliciosamente. A garota se sentou no lugar de Goyle, ao lado de Crabbe, percebendo as bochechas de Goyle corarem. No ano passado, ela e Blásio tinham ido ao Baile de Inverno juntos, mas concordaram em ceder à Goyle uma dança com Morgan, pois ele não tinha conseguido uma acompanhante. Desde então, o garoto grandalhão não conseguia agir como uma pessoa “normal” perto dela e todo mundo conseguia perceber.

     - Como foram as férias, Morgan? – perguntou Blásio sorridente. Os dois tinham se envolvido, deram seu primeiro beijo juntos, mas o relacionamento não vingou. Apesar disso, ainda eram bons amigos.

    - Nada demais. – respondeu Morgan desinteressada, olhando para a janela e deitando a cabeça no banco. Seu irmão chegou logo depois, desvencilhando-se carinhosamente dos braços de Daphne Greengrass e beijando a mão da garota, que seguiu para o seu vagão enquanto ele fechava a porta da cabine. Os dois namoravam desde o baile e não ficavam muito tempo um longe do outro desde então, sendo que a irmã tinha que aturar as constantes trocas de carinho melosas que faziam mesmo em sua companhia. Os garotos começaram a conversar e Morgan pôde tirar esse tempo para vagar em seus pensamentos, tendo como companhia a grande janela da cabine e as paisagens por onde passavam com o trem. Por algum motivo, ela não conseguia parar de pensar em seu breve encontro com os Weasley, minutos atrás.

     - Ei, Morgan. – cutucou Blásio.

     - Hein? – perguntou Morgan, que não havia notado que todos estavam olhando para ela e possivelmente esperavam que ela respondesse a uma pergunta a qual não ouvira. A essa altura, Draco já estava na cabine, acompanhado de Pansy Parkinson (que não o largava), que estavam na reunião com os outros monitores. Morgan não fazia ideia desde quando eles tinham retornado e quanto tempo fazia desde que ela mesma chegara à cabine.

     - Estávamos falando sobre o Potter. Ele foi inocentado na audiência do Ministério. – explicou Blásio, com todos os olhos ainda em Morgan, como se estivessem esperando por sua resposta há um bom tempo. A garota bufou.

     - Sim, eu sei. O que tem? – perguntou ela, impaciente. Harry Potter tinha sido inocentado em uma audiência no Ministério, convocada por ele ter usado o feitiço do Patrono na presença de um trouxa, mesmo sendo menor de idade.

    - Você acha que ele falava sério quando disse que Dementadores o atacaram? – dessa vez era Draco quem estava impaciente.

   - Te digo na próxima aula de Adivinhação, porque aqui eu não tenho bola de cristal pra saber o que de fato aconteceu. – respondeu Morgan, deixando a cabine com seu irmão e colegas boquiabertos. Ela não se importava se achassem que ela fosse uma garota marrenta, chata e mal-humorada, mas não aguentava que todos os assuntos fossem sobre N.O.M.s, Dumbledore e Potter (mesmo que fossem os assuntos mais populares do momento). Ela só queria poder conversar com Luna sobre sua vida e Criaturas Mágicas, o que realmente a deixava interessada. Passeou pelo corredor estreito mais uma vez, agora bem menos movimentado que no começo da viagem, procurando pela amiga. Quando finalmente a achou, deu um silencioso gemido de desgosto ao ver que Luna estava acompanhada por ninguém menos que Harry Potter e seus amigos. A última coisa que queria agora era voltar para a cabine em que acabara de ser imperdoavelmente rude com seu primo, mas achou pior entrar em uma em que Potter estava. Não por rivalidade de suas casas ou por sua pessoa, mas se intrometer nos assuntos particulares do rival de seus “amigos” seria uma situação bem desconfortável, sem falar da tensão de estar em um território ao qual não pertencia. Por isso, Morgan decidiu que seria melhor fingir interesse nos assuntos fúteis de suas colegas de casa do que seguir o resto da viagem sentada no corredor do trem, entrando na cabine das amigas de Pansy Parkinson.

     Tirando os assuntos entediantes das garotas da sonserina, o resto da viagem foi tranquilo. Na saída do trem quando chegaram, Morgan avistou os gêmeos Weasley e o amigo Lino Jordan aos risos, mas virou rapidamente o rosto, quando eles iriam virar em sua direção. Seu irmão e seus colegas passaram por ela, fingindo que ela não existia. Por essa Morgan já esperava, mas não sentiu um pingo de culpa. Apenas seguiu seu rumo e sentou-se em uma das carruagens que os esperavam. Essas carruagens eram puxadas por testrálios, mas compreensivelmente todos imaginavam que elas andavam sozinhas e não seria Morgan que contaria aos outros que na verdade não era bem assim.

       Morgan não via a hora da seleção dos primeiranistas terminar, estava faminta! Justo aquele dia o Chapéu Seletor decidiu que mudaria sua usual canção de boas-vindas aos novos alunos e a tornaria muito maior do que era. A garota agradeceu mentalmente quando tudo terminou e Dumbledore não iniciou mais um de seus costumeiros discursos, pedindo para todos se servirem. A comida, como sempre, estava maravilhosa. Morgan mastigava lentamente, saboreando seu pudim de carne, quando avistou Luna acenando para ela. Foi quando ela acenou de volta que sua tortura recomeçou.

     - Acho que sei por que você tem agido desta forma, é claro que está andando com a maluca da Di-Lua. – disse Draco rispidamente. – Daqui a pouco já poderá conversar com o Potter de igual pra igual.

    - Cala a boca, Draco. Sério, você não cansa de falar mal das pessoas nem um segundo? E para de me encher, eu ando com que eu quiser e você não tem nada a ver com isso! – respondeu a garota, friamente.

    - Sabe, Morgaine, você precisa começar a dar mais valor ao nome de sua família. Você age como se não se importasse com nada disso. – disse Draco, sério.

   - Acho que não. – respondeu ela, baixinho, fazendo o loiro a olhar com incredulidade.

     Quando Dumbledore voltou a falar, findando o banquete, Morgan ficou pensativa. Não estava começando o ano da maneira correta. Geralmente ela ficava feliz por estar de volta à Hogwarts, tinha uma boa relação com seu irmão e até mesmo Draco. Estava acostumada a estar sozinha, mas não podia negar que seu relacionamento com os dois estava esfriando de maneira exponencial e isso deixava um desconforto pairar sobre seu estômago. Procurou o rosto de Luna, que olhava atentamente para uma mulher baixa e com cara de sapo, que não conseguia terminar uma frase direito sem soltar um irritante pigarro. Precisava conversar com alguém, tirar toda aquela camada de raiva e irritação que pesava sobre seus ombros. Quando o discurso da mulher terminou e as desanimadas palmas findaram, todos começaram a se levantar de seus assentos, indicando que era hora para todos irem para seus dormitórios. A hora perfeita para ir falar com Luna, mas alguém agarrou seu braço, impedindo-a.

   - Quando disse que Hogwarts ficaria livre da ralé, me referia a isso. – disse Draco, dirigindo seus olhos frios à mulher com cara de sapo.

   - Como assim? – perguntou Morgan, tentando assimilar a informação com o que acabara de ouvir da mulher.

   - O Ministério vai começar a intervir em Hogwarts. Quero ver acabarem com essa droga de ensino de segunda. – disse o primo, soltando o braço da garota, se dirigindo aos primeiranistas assustados. Morgan percebeu que Luna já havia saído do Salão, decidindo então conversar com a amiga no dia seguinte, ao tomar rumo para o seu dormitório nas masmorras.


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