Recomeço escrita por JN Silva


Capítulo 7
Depois da batalha


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Estive um bom tempo ausente das postagens, por motivos de bloqueio criativo
No entanto, finalmente consegui trazer o capítulo 7 hoje kkk
Boa leitura a todos :D



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— Eu fui um idiota, Aslam... – disse Pedro subitamente, quando ouviu atrás de si um som abafado que se aproximava, de patas caminhando sobre a grama.

Apenas uma semana havia decorrido, após a noite da inesperada emboscada sofrida pelo destacamento narniano.

O Leão sentou-se ao lado do menino, que não se virou para olhá-lo. Os dois pares de olhos, o dourado e o azul, mantinham-se fixos em qualquer coisa muito longe, para além das árvores que cobriam a colina, ambos muito sérios. Enquanto os olhos dourados, porém, expressavam tranquilidade, os azuis estavam carregados de melancolia e certa vergonha.

— Por que diz isso, filho de Adão? – respondeu Aslam tranquilamente, depois de alguns segundos de silêncio.

O garoto mexeu-se desconfortavelmente onde estava, sentado à sombra de um abeto. Pôs-se a arrancar algumas folhas de grama, amassando-as entre os dedos, fingindo nisso uma distração. O que pretendia, na verdade, era ganhar tempo e coragem para confessar sua fraqueza. O Leão esperou pacientemente; até porque, em seu íntimo, já sabia a resposta.

— Não confiei no senhor... – começou o rapaz, com certa dificuldade. – Pensei que tivesse nos abandonado em meio à batalha. Me perdoe, Aslam...

O Leão nada respondeu por alguns minutos. Seu olhar permanecia fixo na paisagem ao longe. Bem além das colinas que margeavam o vale, numa linha quase invisível que separava o azul do céu do azulado do horizonte, era possível visualizar os picos dos montes que circundavam a Arquelândia. A cadeia de montanhas, ofuscada pela luz do sol e pela natural névoa dos ares rarefeitos, quase sumia, em sua cor esbranquiçada, na linha do horizonte, de modo que apenas um olhar atento poderia percebê-la.

— E o que mais o aflige? - indagou Aslam, com o mesmo tom de serenidade.

— Eu não agi como um bom rei...

— Por quê? – quis saber o Leão, voltando-se, finalmente, para a face do garoto.

Pedro inspirou profundamente, deixando transparecer em seu rosto uma expressão de decepção e raiva de si mesmo.

— Um rei não deixa seus homens à mercê dos inimigos, enquanto outros lutam por ele... eu deveria ter aguentado por mais tempo, deveria ter lutado com eles até o fim. Se eu tivesse sido mais forte, talvez as vidas que foram perdidas... quem sabe... talvez eu tivesse... - e parou por aí, sem saber como concluir sua fala.

Os olhos de Aslam assumiram uma expressão mais grave. No entanto, sua repreensão foi bondosa e justa.

— Não há como saber o que teria acontecido se você tivesse lutado mais ou lutado menos, filho. Lembre-se de que antes de ser rei, você é apenas um menino. Nem todas as coisas estão ao alcance de seu controle. Muitos poderosos caíram de seus tronos por causa do orgulho. Portanto, homem algum jamais poderá ser bom rei se não aprender a ser humilde.

Pedro pareceu refletir por um momento. As palavras de Aslam doeram um pouco, mas abriram seus olhos e o tornaram mais forte. Não havia percebido que aquela vergonha era, na verdade, um reflexo de sua soberba. Em vez de se alegrar por ter ao seu lado súditos fiéis, dispostos a lutar por ele se preciso fosse, entristeceu-se por mostrar-se limitado.

— Tem razão, Aslam – respondeu o rapaz, desanuviando aos poucos o olhar. - Foi um pensamento imaturo da minha parte. Daqui para frente, prometo ser melhor.

— Já começou a ser. Agora vamos, Grande Rei Pedro – disse o Leão, ao se levantar. - Não convém perder o precioso tempo de que dispomos...

...

Ao cair da noite a assembleia estava novamente reunida com Aslam, desta vez, porém, ao ar livre. Ao centro, crepitava uma pequena fogueira e, ao redor desta, todos se sentavam. Quando Aslam falara do grande perigo vindo das Terras Sombrias, a extremo oeste, um grande peso se fez sentir no ar e nos corações de todos ali presentes, instalou-se um certo temor. Naquele momento em questão, todos tinham o olhar nas chamas da fogueira, a refletir. Embora o silêncio reinasse, absoluto, as mentes estavam barulhentas.

— Quanto tempo temos, senhor? Antes que esse mal chegue? – perguntou um centauro, com relativa serenidade.

— Pouco, porém suficiente, se a preparação se iniciar já. O Grande Rei não pode continuar neste acampamento. Deve voltar o quanto antes com seus homens a Cair Paravel e reunir os mais sábios e experientes de sua corte e de seus exércitos para parlamentar.

— O senhor quer dizer... um Conselho de Guerra? – perguntou um jovem fauno.

— Precisamente. Os inimigos já ganharam muito tempo discutindo em segredo e preparando investidas próximas. Não há um único segundo a ser desperdiçado.

— Pelo o que estou vendo, eles estão mais organizados e preparados do que poderíamos imaginar... – comentou um homem de barba longa e dourada. – E esse tempo todo acreditávamos que eles estavam desorientados sem a liderança da Feiticeira Branca...

 - Penso que nada indica que estejam sem um líder... – comentou Snape, que estivera calado até aquele momento, deixando transparecer em sua voz um ar de mistério.

— O que quer dizer? – respondeu o homem, se aprumando em seu acento.

— Aquele ataque me pareceu muito bem coordenado. Eles não atacaram aleatoriamente, mas claramente seguiam um plano de ação. A começar pela disposição dos corpos pelo campo, assim que nos retiramos da tenda real: espalhados, primeiramente, mais pelos contornos da área acampada do que nas proximidades das tendas, onde o embate foi travado. Isso sugere que a emboscada se iniciou de forma periférica e silenciosa. Eliminando a barreira da guarda, adentrar em nosso meio ficaria muito mais fácil.

— Isso não faz muito sentido para mim... – disse um outro homem.  – Logo que uma parte da guarda fosse desfalcada, os outros homens rapidamente perceberiam e iriam intervir.

— É por essa razão que quero crer que eles não chegaram reunidos em um único batalhão, mas divididos em grupos vindos de várias direções diferentes, reunindo seu contingente aqui, no acampamento – explicou Snape. - Além disso, é bem possível que cada um já tivesse seu alvo escolhido e marcado, a fim de que todos pudessem agir ao mesmo tempo. Dessa forma, eliminariam todos os homens da guarda de uma vez.

— E para isso, precisariam do comando de alguém, que faria com que agissem no momento certo... – disse um anão com olhar reflexivo, completando o raciocínio de Snape.

— Exatamente.

— Mas isso exigiria conhecimento prévio da área do acampamento e das posições da guarda – ponderou um homem. - E para isso, precisariam de um espião. Creio que alguém ou algo suspeito não passaria batido pelos nossos homens. Eles são exímios observadores; qualquer coisa estranha já teria sido percebida nas incursões feitas.

— Isso é bem verdade, nenhum trapaceiro inimigo passaria despercebido por esses olhos de anão – disse o pequeno, com olhar ameaçador e ligeiro ar de superioridade.

— Por favor, senhores, deixem que nosso aliado conclua sua hipótese – pediu Pedro, que nesse momento tinha uma expressão mais interessada no olhar.

— Naquela noite, em meio ao fogo e às cortinas de fumaça – prosseguiu Snape - tive a impressão de ter visto algo próximo à orla do bosque. Confesso que não tenho certeza do que vi, uma vez que com a mente atordoada e com as condições nas quais acontecia o ataque, qualquer sombra projetada pelas chamas poderia parecer-se com um vulto. Foi por essa razão que omiti essa informação até o momento presente; não podia causar alarde sem ter certeza dos fatos.

— Mas? – voltou a falar o primeiro homem, com certo ar de ceticismo.

— Estive investigando os arredores nos últimos dias, sem nada encontrar. No entanto, naquela noite em que eu ajudava a apagar o incêndio, tive a impressão de que aquele não era um fogo natural. Parecia não só ter sido provocado por magia, como também ter sido controlado por ela. Se havia mesmo alguém às margens da floresta naquela noite, tenho a impressão de que este alguém favorecia para os invasores as condições do combate.

— E com base nisso você sugere que a tal coisa que viu liderava a ação do grupo invasor?

— É possível que sim, considerando a soma dos fatos observados...

O homem abanou a cabeça e limitou-se a dar um leve sorriso de incredulidade, como se o que tivesse ouvido até o momento fosse a bobagem das bobagens.

— E que é que você sabe a respeito de guerras e batalhas? – perguntou, com ligeiro ar de arrogância.

Uma pequena onda de raiva começou a surgir no interior de Snape. Tudo o que havia exposto ao grupo havia sido fruto de atentas observações e atividade intelectual intensa nos últimos dias, procurando ligar os fatos e interpretá-los da forma mais coerente. Ele não era um leigo; fora ele mesmo, durante vários anos, exímio espião. Tinha pleno conhecimento a respeito de estratégias e táticas de guerra. Aquele homem, no entanto, queria fazê-lo passar por tolo ou ridículo frente aos demais. Mas ele não perderia seu controle interno diante da situação. Conservando a resiliência e a dignidade perante a afronta, apenas respondeu:

— Reconheço que ainda há lacunas no raciocínio que acabei de expor, mas se essas hipóteses se confirmam, creio que temos um ponto de partida por onde começar a investigar tudo isso e nos preparar melhor.

— Sua hipótese é muito interessante, senhor Snape – disse o rei Pedro, com expressão determinada. – No entanto, creio que conversaremos melhor em Cair Paravel. Como Aslam bem falou, não podemos mais continuar aqui.

— Levantem-se e preparem tudo para a viagem – disse Aslam, com voz imponente. – Vocês devem deixar o acampamento ainda esta noite. Levem apenas o necessário e não percam tempo pelo caminho. O futuro de Nárnia depende do tempo que ainda dispomos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado
Até a próxima :)



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