Recomeço escrita por JN Silva


Capítulo 4
Entre os narnianos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!
Depois de alguns dias, trago o capítulo 4
Agradeço os comentários e os favoritos que a história tem recebido :D
Boa leitura!



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O retorno de Aslam foi, entre os narnianos, motivo de grande surpresa. Desde a coroação dos irmãos Pevensie em Cair Paravel, cerca de três primaveras atrás, nunca mais fora visto por aquelas terras. Pois, como se sabe, é um leão selvagem, de espírito livre, que não admite ser domesticado; e depois, havia outros países que o preocupavam e necessitavam de sua ajuda.

Como da última vez sua ausência perdurara por longos cem anos, – tempo em que a Feiticeira Branca constituiu seu império – os narnianos imaginaram que o Leão não apareceria por ali por um bom tempo, ou até mesmo, que jamais voltariam a vê-lo. Assim, não foi sem grande admiração que o viram descer a encosta a caminho do vale, tendo decorrido tão pouco tempo.

O motivo da ilustre visita ninguém sabia. Pois os tempos eram de paz, desde que os quatro Pevensie ocuparam os tronos em Cair Paravel, conforme determinava a profecia. Nenhuma grande calamidade se abatera sobre o país desde então e muitos arriscavam dizer que se iniciava agora uma Era de Ouro. Houvera sim pequenas batalhas empreendidas em eliminar de Nárnia o que restara da raça imunda convocada pela Feiticeira Branca, mas não era nada que os narnianos não conseguissem resolver por si próprios. Deste modo, a visita do Leão era mesmo um evento inesperado, já que até os mais jovens entre os narnianos sabiam que ele só costumava aparecer em tempos de perigo significativo.

Ao sair da tenda real, Pedro deparou-se com todo o destacamento de soldados prostrado, em reverência. Ao dirigir seus olhos para mais além, para onde um fauno apontava, viu um grande animal dourado que vinha caminhando pelo vale e se aproximava do acampamento. O rosto do garoto se iluminou, numa efusão de alegria e espanto.

— Mas é Aslam!

   Meio sem saber o que fazer, o garoto hesitou por um momento. Sua vontade de menino era correr para ele e lançar-se em direção à juba dourada, num abraço caloroso, como talvez, Lúcia faria. Mas agora que era rei, sentia que devia comportar-se de maneira mais discreta e solene. Por isso, limitou-se a caminhar calmamente mais à frente, onde pudesse ser visto, e a ajoelhar-se respeitosamente, esperando que o Leão viesse ao seu encontro.

— Saudações, meus filhos... – dissera o Leão, ao se aproximar – Que seus corações estejam repletos de paz, mas também de coragem. Levantem-se, pois o tempo de agora é de vigília e combate.

À voz grave do Leão todos se levantaram, olhando uns para os outros, pensando no que Aslam estava querendo dizer.

...

Quando Snape ouviu falar em “Grande Rei Pedro” imaginou que se tratasse de um homem robusto, grandalhão, forte, com muita experiência de governo, de relações políticas e de guerra. Lembrou-se de poderosos reis e imperadores dos quais já ouvira falar, imaginando que o Grande Rei Pedro se assemelharia a algum deles. No entanto, o que viu sair da tenda vermelha foi um garoto de uns dezesseis ou dezessete anos, que apesar de alto para alguém de sua idade, possuía composição física ligeiramente franzina. Essa quebra de expectativas, como é de se imaginar, deixou Snape bastante chocado, mas o homem resolveu guardar para si suas impressões. Entretanto, não podia deixar de imaginar o quanto era estranho entregar o governo de um reino nas mãos de um adolescente, já que aqueles dos quais se lembrava – seus alunos e os antigos colegas dos tempos de escola – costumavam ser completos cabeças-ocas nessa idade.

A postura do garoto, porém, se mostrou bem diferente do que Snape imaginara. Expressava força, espírito de liderança, autoridade e sabedoria, além do semblante régio e solene que se podia notar em sua face. Mesmo que fosse muito jovem ainda, era possível notar nele um ar de cansaço e sacrifício, como se já tivesse participado de grandes lutas e combates. O garoto, no entanto, parecia não permitir que estes aspectos turvassem seu rosto, o qual buscava manter altivo, com um olhar esperançoso e um sorriso sereno, como que para não deixar esmorecer a coragem de seus soldados. Todos estes aspectos faziam-no parecer alguém muito mais velho do que demonstrava sua idade.

Quando Aslam se aproximou dele, o menino abraçou-o de forma saudosa. O Leão retribuíra com uma lambida carinhosa na testa, bagunçando de brincadeira os cabelos loiros com a pata.

— Que surpresa agradável, Aslam! – disse Pedro, sorrindo alegremente.

— Você cresceu bastante desde a última vez que o vi... – respondera o Leão, com uma risada sossegada - Como estão seus irmãos?

— Estão todos muito bem. Edmundo e as meninas ficaram em Cair Paravel, cuidando das outras coisas. Achei melhor que não tomassem parte nessa expedição.

— É melhor assim, ao menos por enquanto. Temos assuntos sérios a tratar, rei Pedro, mas antes quero lhe apresentar um aliado.

Foi então que o garoto notou a presença de Snape. Sua expressão inicial, Snape percebeu, foi de um discreto estranhamento, que logo depois foi substituído por um olhar cortês. Era muito compreensível essa reação. O aspecto de Snape era bem diferente de todos outros ali. Seu jeito taciturno e sisudo, suas vestes estranhas e os traços físicos diferentes destoavam das características gerais dos narnianos. Apesar disso, o menino o cumprimentara cordialmente com um aperto de mão firme, ao que Snape retribuíra.

— Rei Pedro, ao seu serviço... – apresentou-se.

— Severo Snape, igualmente ao seu, majestade... – respondeu o homem.

O rei Pedro os acolhera de forma muito hospitaleira na tenda real, onde poderiam se restabelecer pelo esforço da viagem e conversar com mais segurança a respeito dos assuntos que Aslam teria a tratar, bem como colocá-lo a par dos esforços empreendidos para manter a paz em Nárnia. Alguns dos oficiais mais confiáveis do contingente também foram convidados para participar da reunião.

— Vejo que você tem um número razoável de homens acampados aqui, filho de Adão... – disse Aslam.

— Na verdade é um destacamento até pequeno – ponderou o menino – Não tenho aqui mais do que duzentos soldados. Desde a queda de Jadis, temos nos empenhado em perseguir e abater o que sobrou dos números dela em nossas terras. A maioria já foi destruída; os poucos que restaram temos eliminado aos poucos, em nossas expedições. Recentemente soubemos que havia alguns deles ainda, rondando os pântanos do Norte. Pelo o que soubemos, estavam se encaminhando para a Mesa de Pedra, seguindo a rota a oeste, e pretendiam profaná-la com práticas obscurantistas de magia negra. Felizmente conseguimos evitar a violação a tempo. Armamos uma emboscada no meio da noite e conseguimos apanhá-los antes que cruzassem o Beruna. Os objetivos que tinham por trás disso é que não conseguimos descobrir.

— Se sua majestade me permite a palavra – disse um centauro – creio que eles já não oferecem perigo. Os números deles estão bastante desfalcados e eles já não têm mais a líder que direcionava as suas ações. Não ousarão tentar tomar Nárnia nessas condições. É sabido que alguns deles têm tentado trazer a falsa imperatriz de volta, por meio de sortilégios obscuros. Mas não passarão de tentativas frustradas... Aslam a derrotou aquele dia, nós vimos seu corpo destroçado rolar pelo campo de batalha e ir parar aos pés do exército sujo dela. Aqueles covardes rapidamente se dispersaram e nem mesmo tiveram a dignidade de sepultar sua rainha...

— É verdade... – concordou um fauno de meia-idade – os que restaram são muito poucos e a maior parte destes tem se acovardado, se escondendo nas sombras. Dentro de pouco tempo conseguiremos eliminá-los. Os tempos são de paz, não há o que temer.

Aslam os escutava bastante sério, em silêncio.

— O bom êxito de seu governo me agrada muito, rei Pedro – disse Aslam, ainda bastante sério – mas os advirto a não baixarem a guarda. A Feiticeira Branca não foi a única inimiga de Nárnia... existem e existirão inimigos maiores do que ela. O mal tem aproveitado a aparência de relativa paz para tramar seus planos obscuros em segredo. Se Nárnia não estiver bem preparada para a defesa, será dominada de uma forma pior que da última vez...

Um centauro de ar bastante sábio, que até aquele momento apenas ouvia tudo em silêncio, com bastante atenção, ficou apreensivo diante das palavras do Leão.

— Nos explique isso mais detalhadamente, Aslam. Há algum perigo iminente? – perguntou.

Antes, porém, que o Leão pudesse abrir a boca para responder, um anão entrou esbaforido pela tenda.

— Me desculpem pela intromissão, senhores, mas o caso é urgente... – e dirigindo o olhar com veemência para Pedro, completou – Majestade, precisamos do senhor lá fora imediatamente!

Quando Pedro saiu tenda, juntamente com os outros, sua visão foi tomada por um panorama caótico. No escurecer da noite, muitas das tendas ardiam em chamas, ao som do tilintar de espadas e de gritos de raiva ou dor. Havia utensílios e armas quebrados, espalhados pela relva; alguns de seus homens jaziam ao chão, feridos ou mortos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Bjão e até a próxima :D