Caos e Fúria - A Batalha das Rosas escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Forte da Caveira




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A Morte.
O significado da carta pode ir muito mais além do que simplesmente a morte. Está ligada ao fim definitivo de algo, e a uma transformação para outra coisa. A morte não constitui que é o fim de tudo, mas o começo de algo maior. Pode ser uma nova fase boa, ou ruim, ou apenas o descanso que precede um período de existência complexa. Também pode ser um obstáculo. Uma ideologia. A vida é um grande ciclo, as etapas são pequenos ciclos, e a morte, nada mais é do que o fim de algo.

O início de uma transformação.

Aliar-se a morte, para iniciar um novo ciclo, também é uma forma de continuar vivendo.

Sora Hill esticou os braços e observou o sol acima, era verão e ela definitivamente gostava daquela época. O calor, as ruas movimentadas, a ausência da depressão sombria do inverno. E principalmente, a distância de Temesia e as muralhas de pedra, que circundavam a cidade da Fortaleza das Feras. Observou o que se estendia ao seu redor, os telhados de cor marrom das casas do Forte da Caveira, a movimentação do Mercado Nebuloso. Todas aquelas cores, aquele movimento e os produtos esquisitos que vendiam. Sora chegara ali na noite anterior, havia encontrado uma hospedagem para passar a noite e naquela manhã, procuraria aquele que havia a contratado.

Era uma guerreira, da Fortaleza das Feras, e seria a melhor da sua geração.

Ser forte era um objetivo.

Estar viva era um privilégio em uma terra como aquela.

E aquela era a sua primeira missão sozinha, o que era simplesmente ótimo.

Mesmo que ela tivesse insistido demasiadamente para Arcádio e a administração permitir. Não que ela não tivesse conhecimento e responsabilidade o suficiente para tal coisa, mas normalmente, guerreiros recém nomeados, levavam certo tempo para poder receber uma missão sem uma equipe. E ela recebera o título de guerreira há poucos meses, mas, finalmente, não era mais uma aprendiz. E tinha uma pontuação adequada para tal feito, o que apenas comprovava o merecimento de estar sozinha.

Embora houvesse poucos guerreiros atualmente, afinal, a Fortaleza das Feras não era mais tudo aquilo que fora no passado.

Os pássaros passaram voando no céu, Sora continuou sentindo o calor beijar seu rosto do telhado da casa. Ela havia aproveitado as horas que tinha até o encontro, para apreciar a sua única e exclusiva companhia. E havia gastado um pouco do ouro, comprando aquelas comidas diferentes e temperadas que vendiam no Mercado Nebuloso. Uma esplêndida refeição, para um dia que seria abarrotado e cansativo.

Ao longe, esticava-se o Rio Shira, que desaguava no mar, e recebia os navios de mercadorias de Porto Livre, nas docas. As enormes construções onde ficavam os produtos depositados, onde enviavam e recebiam coisas de todos os locais. Era um privilégio ter o trabalho que eles tinham, poder navegar pelo continente, poder velejar para terras distantes.

Talvez, quando concluísse sua missão, poderia dar uma olhada no Mercado Nebuloso e comprar algumas armas novas. Ou quem sabe comprar uma passagem para sabe-se-lá-onde. Seria no mínimo, interessante.

A jovem guerreira cuidadosamente levantou-se, ficando de pé no telhado da casa. Ajeitou os longos cabelos prateados em um rabo de cavalo, para ficar mais confortável no calor, ainda mais com aquelas roupas pesadas de combate. Seus olhos verde esmeralda brilharam quando se lançou para o chão, e desceu agilmente do telhado para a rua de pedras, como se fosse um gato. Ela era uma figura peculiar, mas não fazia questão de esconder os traços. Embora pudesse chamar um pouco de atenção, ainda mais somada as armas que carregava juntas ao corpo.

Uma menininha, da idade dela, com a aparência dela, andando por ali? Os olhares curiosos não eram nada discretos conforme se esquivava das pessoas no Mercado Nebuloso. Ela gostara daquele local, embora fosse a primeira vez ali. Talvez, o fato de estar sozinha deixasse tudo mais brilhante e animador. Sora inspirou e suspirou, sentindo o cheiro de peixe assado adentrar as suas narinas. Aquela região do mercado, próxima ao rio, tinha aquele cheiro característico, não era tão agradável.

Mas era bem diferente de Temesia, aquilo era fato.

Sora continuou caminhando pelo Mercado Nebuloso, atentando-se a não prestar atenção exagerada nas mercadorias que havia ali, era tudo muito diferente e interessante, o que fazia ter uma vontade enorme de gastar o restante de seu ouro. Perfumes, roupas, armas, comidas e... Ah, comida. De um lado, era totalmente deslumbrante aquela variedade de coisas, de pessoas, de cheiros e formas. Mas por outro, havia um lado sujo e perturbador no Forte da Caveira. Bem que Bart lhe alertara ― o colega que ainda era um aprendiz, mas já recebia missões como ela. Havia tráfico de ópio, de mercadorias roubadas e o contrabando de objetos preciosos e raros. Tudo, graças as guildas que controlavam o local.

Ao fim da rua, Sora percebeu, um homem de capuz estava parado, escorado na parede de uma das lojas. Os braços cruzados e o rosto coberto pelas sombras, ela o viu aproximar-se conforme caminhava entre as pessoas. Poderia ser o contato... Que iria encontrá-la para levar até quem solicitara a missão. Bom. A jovem guerreira manteve-se em alerta, conforme analisava a figura que caminhava até ela.

Quando removeu o capuz, revelou um rosto jovem. Talvez um ou dois anos mais velho do que ela, mais de vinte anos ele com toda a certeza do mundo não tinha. Cabelos pretos, olhos castanhos e puxados ― típicos de um odaliano ―, pele morena bronzeada de sol, ela poderia o considerar bonito. Não era ameaçador. Na verdade, era irritantemente simpático.

Eles pararam, de frente um para o outro, Sora o encarou com a expressão séria e analítica.

O rapaz, no entanto, gargalhou.

― Você é bem diferente do que imaginei. ― A jovem cruzou os braços e encarou o rapaz a sua frente, uma expressão ainda mais irritada. Ele acalmou-se, e a observou dos pés à cabeça, de forma curiosa. ― Desculpe-me, mas quando falaram que enviariam uma guerreira da Fortaleza das Feras, eu imaginei que você seria um pouco mais velha e... Pelo menos é alta.

Sora estreitou os olhos. Idiota. Nem havia tantas guerreiras assim.  

E ele não deixava de ser um idiota. Mas quase todos os homens eram, não eram? Sora era melhor, era mais esperta e superior. Então apenas o encarou de volta, segurou a respiração para não soltar palavrões. Evitaria uma confusão naquele primeiro momento, ainda mais quando estava interessada no dinheiro daquela missão.

Por fim, a jovem guerreira disparou:

― Você também não é tão velho quanto eu imaginei. Creio que não seja o meu contratante. ― Semicerrou os olhos verdes novamente, a expressão arrogante e irritada.

Se a ideia dele era desestabilizá-la, não daria certo. A jovem iria garantir.

― De fato não sou. Aliás, meu nome é Denzel, e o seu?

― Sora Hill.

― Certo, prazer, Sora. ― Ele não estendeu a mão, mas foi simpático conforme voltaram a caminhar pelo Mercado Nebuloso. Bom, muito bom então. Sem comentários estúpidos.  ― Meu superior não gosta de mostrar o rosto, ele tem pessoas que fazem isso, portanto, vou levá-la até o local de encontro. 

― Seu chefe tem medo de mostrar o rosto? ― Sora deu um sorrisinho amarelo e irônico, Denzel a observou pelo canto dos olhos enquanto caminhavam.

― O Lorde Darthurin não gosta de sair em público.

― E ainda assim, está no maior centro comercial de Sidgar. E julgando por ter contratado alguém da Fortaleza das Feras, ele também tem dinheiro para isto. 

― De fato. Parece que manter o rosto no anonimato não é tão ruim, não é mesmo? ― Ele devolveu o mesmo senso de humor sarcástico e cruel para a jovem, um desafio, então. Bom. ― Mas posso lhe adiantar, que nosso problema é bem investigativo e até que você parece apropriada para tal...

― O que quer dizer com isso? ― Sora ergueu uma sobrancelha cinzenta e quase parou de caminhar, o rapaz deu uma risada.

― Você vai entender.

A guerreira ponderou enquanto observava o jovem caminhar entre as bancas do comércio, ela definitivamente preferiria que ele não tivesse uma idade tão próxima a dela, e não fosse tão irritante, não mais do que ela. Sora torceu o nariz quando iria retrucar, mas então, um grito irrompeu no comércio.

O grito de uma mulher, ela percebeu.

Uma figura esguia passou correndo ao seu lado, levando junto a bolsa de couro que a guerreira trazia pendurada no ombro.

Ladrãozinho de merda.


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