Caos e Fúria - A Batalha das Rosas escrita por Manon Blackbeak


Capítulo 3
Capítulo 3 - A Menina e o Lobo




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Correram, correram e correram, e os soldados continuaram perseguindo. Siren ofegava com dor, a flecha ainda estava cravada em suas costas. Não conseguira arrancar, o ferimento havia sido profundo demais. No entanto, não poderia deixar Sora sozinha. Não poderia abandonar a filha, não até ter certeza que a menina estaria segura.

Flechas cortaram o ar novamente, a visão periférica de Siren as viu encravar no chão, mas elas não foram atingidas, em momento algum. Talvez ainda houvesse alguma proteção da deusa naquelas terras amaldiçoadas e esquecidas. A conjuradora olhou ao redor, percebendo um caminho que se estendia a frente. Dois tuneis que atravessavam a colina, a entrada para as Montanhas da Alma. Havia duas direções para escolher.

Sem pensar duas vezes, adentrou a esquerda, de qualquer modo o grupo de soldados que as caçavam iria se dividir para dar andamento na perseguição. Entretanto, havia uma luz azulada no túnel, quebrando a escuridão a frente. Elas continuaram correndo e Siren percebeu que a claridade que irradiava da caverna eram larvas.

Larvas luminosas por toda parte, preenchendo o teto como se fosse o céu estrelado. Aquela visão deslumbrante, só poderia ser um sinal de que havia escolhido o caminho certo. Uma última oportunidade de ver o firmamento, antes de fazer o maior de seus sacrifícios. Com cuidado andando sobre as pedras, a conjuradora diminuiu os passos, cambaleando de dor, seu ferimento sangrava abundantemente. Siren observou ao redor, mas então, algo surgiu entre as sombras.

Um olho brilhante, de um tom diferente das larvas aproximou-se.

Perto o suficiente para o pelo branco cintilar na luz azulada da caverna.

Um lobo abissal.

O animal era grande, mas não tinha o tamanho de um adulto daquela espécie. O lobo aproximou-se sorrateiramente, Siren segurou a filha nos braços, abraçando-a conforme a criatura se aproximava. Um de seus olhos tinha uma cicatriz recente, e a orbe leitosa indicava cegueira de uma das vistas. Um fugitivo. Um sobrevivente. Não parecia estar prestes a atacar, mas agir com cautela diante de uma criatura abissal, nunca seria demais.

O lobo branco parou diante de Siren e Sora imóveis, então as cheirou, como se estivesse reconhecendo, ou simplesmente simpatizando. O animal deu um passo para trás e, subitamente, para o espanto da conjuradora, sentou-se no chão.

Foi então que Siren entendeu, o que aquela criatura significava.

― Por favor, proteja-a. ― Disse simplesmente, percebendo a intenção do animal. ― Leve minha filha para longe. Salve-a, deixe-a em um local seguro.

Sora estava assustada nos braços da mãe, chorava silenciosamente enquanto agarrava-se em seu vestido surrado. Siren soltou um suspiro e separou-se da filha, segurou-a pelos ombros e a observou.

Secou as lágrimas da menina e decorou cada traço de seu rosto.

Os olhos verdes ferozes, o cabelo prateado como o céu do inverno, e as orelhas... Humanas e comuns.

― Fuja com o lobo.

Sora negou.

― Não, mamãe... Quero ficar com você.

― Você não pode ficar comigo. Eu estou ferida e os soldados estão se aproximando. Fuja com o lobo e você estará segura. ― Siren beijou o topo da cabeça da filha, a abraçou com força e sussurrou: ― Eu te amo. E você me prometeu que ficaria viva.

― Eu também te amo. ― Sora respondeu, por fim.

― Prometa que ficará viva.

A menina assentiu, e Siren observou o lobo parado atrás de Sora.

― Vá com ele, você precisa ir, se quiser ficar viva. E você me prometeu que ficaria.

Um movimento positivo foi a única resposta que recebeu de Sora, então soltou a mão da menina. O lobo, como se entendesse, agachou-se e deixou Sora montar em suas costas. Levantou-se e fitou a mulher prateada por um instante.

Como se aguardasse um comando.

― Leve-a, deixe-a em um local seguro.

O lobo abissal assentiu e disparou, adentrando a escuridão da caverna, afastando-se das larvas luminosas e sumindo completamente do campo de vista de Siren. Ela sabia, com todas suas forças, que Sora estaria segura. Que ficaria viva, que poderia viver, que lutaria para sobreviver e ser forte.

Com dificuldade, a conjuradora tentou ficar de pé, equilibrando-se e dando batidinhas no vestido.

Suas costas doíam, mas não pararia, não hesitaria em fazer um último ato para se certificar que Sora sairia conviva.

Não demorou para que os soldados surgissem da escuridão da caverna, todos armados, os arcos apontados na direção da mulher. A rosa azul, símbolo de Edésia, gravado no peito de suas armaduras, apenas comprovavam a lealdade àquele reino maldito. Siren nunca sentira um ódio tão profundo quanto naquele momento. Mas seu amor por Sora, era maior.

Portanto, havia um último sacrífico.

Uma faísca de poder que a queda da magia não poderia anular.

Algo que ela vira outros portadores de poder fazer naqueles dias de fuga.

― Em nome do Rei Demether Rosenrot, e do Primeiro Exército de Carvell, nós a sentenciamos a morte, bruxa! ― Exclamou um dos soldados, quando vislumbraram a conjuradora.

Siren fechou os olhos, bloqueando o caminho que Sora seguira. Ela inspirou profundamente, ergueu os braços e cantarolou palavras antigas e proibidas, um idioma sombrio que poucos sabiam como proferir. Ou seriam corajosos o suficiente para o fazer.

Os soldados de Edésia se afastaram, ao perceber o que a mulher estava prestes a improvisar, e gritaram:

― Afastem-se! Ela vai fazer uma renúncia!

Era aquela palavra.

O ato final de qualquer portador de magia, o sacrifício máximo que poderia fazer. Estava disposta a improvisar aquilo, para garantir que Sora pudesse fugir. Renúncia era o nome que davam para quando os manipuladores de magia reuniam toda a força vital que tinham, todo o poder em um só lugar em seu peito. E então explodiam, em luz, força e fúria, e levavam todos ao seu redor, reduzindo tudo em poeira.

E foi o que ela fez.

Siren brilhou como a lua cheia entre as estrelas, e os soldados não conseguiram fugir.

Então explodiu em forma de luz.

E evaporou tudo o que havia ao redor, os soldados, as larvas, toda a criatura viva que estivesse naquele local.

Tudo virou nada.

Quando a luz se apagou, havia apenas a escuridão profunda.

Amanhecia quando Sora abriu os olhos, e vislumbrou o céu cinzento do inverno acima. Os picos das Montanhas das Almas eram gigantes adiante de seus olhos, e ela sentiu um pouco de temor perante aquela gigantesca criação da natureza. Neve caia fracamente, mas ela estava aquecida. O corpo peludo do lobo a mantivera quente durante a noite, e evitara que morresse de hipotermia.

Estranhamente, sentia-se segura com o animal, mas resolveu arredar-se.

Ficou de pé observando o lobo dormir e respirar lentamente, e silenciosamente afastou-se. Saia fumaça de sua boca devido o frio, e estava confusa com a noite anterior. Não entendia muito bem o que acontecia, mas sabia que precisava continuar viva.

Sobreviver.

Era isso que havia prometido.

Seria forte.

Caminhou floresta adentro, não sabia para onde ir, mas também não poderia ficar naquele local. Com cuidado ao pisar nos galhos das árvores, a menina seguiu o caminho, era como se algo a chamasse, precisava ir naquela direção.

Porém, uma mão adulta surgiu a sua frente.

Era um homem, talvez um pouco mais velho do que a sua mãe. Vestia-se como um guerreiro, de armadura sem a rosa azul desenhada, mas sem elmo. Seus olhos cinzentos e escuros não eram místicos como os de Siren, eram mais escuros e sérios, seus cabelos eram longos, castanhos e escuros. 

Tinha uma expressão acolhedora e sorriu para a menina, enquanto estendia a mão.

― O meu nome é Arcádio Thormann. E o seu?


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