OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 9
Daquilo que não foi dito




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Todos os presentes no quarto mantinham-se em silêncio, ouvindo o médico com atenção.

― Infelizmente ainda é cedo para se dizer o quanto a crise convulsiva pode tê-lo machucado. Sim, ele pode acabar ficando com alguma sequela, mas também pode sair ileso dessa situação.

Cada vez que o médico parava de falar, o silêncio cobria o ambiente. Os únicos sons eram os dos aparelhos ligados à Ben.

― E quando vamos saber se ele ficou com alguma sequela? ― disse Gwen. De pé ao lado da cama do primo, seus braços cruzados eram uma tentativa de conter a ansiedade e se sentir ao mesmo tempo abraçada.

― Isso só conseguiremos dizer quando ele acordar.

Sim...

Acordar.

Benjamin Tennyson se encontrava em coma.

Após o descontrole da transformação do Artrópode, Ben foi socorrido pela equipe médica e trazido à base dos Encanadores. Vô Max também recebeu os primeiros socorros, mas seus ferimentos físicos pareciam menos graves.

― Alguma ideia de quando isso pode acontecer? ― perguntou Kevin. Encostado na parede oposta à cama, ele evitava olhar para o amigo ferido.

― Não sabemos. Alguns pacientes retornam do coma em questão de horas, outros podem levar dias ― respondeu o médico. ― Infelizmente há relatos de pacientes que só retornaram depois de anos. Isso varia de paciente para paciente.

O médico se esforçava para confortar Gwen, Kevin e Vô Max. Mas também sabia que era preciso os familiares terem plena noção do atual estado de saúde do paciente, por isso, mesmo que fosse sofrido, a verdade acabava sendo muito mais necessária do que uma esperança infundada.

― Manteremos ele sob constante observação de nossa equipe. Qualquer novidade avisaremos a família.

― Obrigada, doutor Lünderg ― disse Gwen.

― Qualquer dúvida é só me chamarem. Deixarei vocês sozinhos por enquanto. Com licença ― e fechou a porta do quarto atrás de si.

Novamente, os únicos que se dispuseram a estabelecer qualquer conversa entre si eram os aparelhos médicos com seus bipes e vuuucks.

― ...

― ...

― ...

Bip ― fez o monitor cardíaco.

― ...

― ...

― ...

Bip.

― ...

― ...

― ...

Bip.

― A culpa foi minha ― começou Kevin.

― Kevin, não diga isso, ninguém de nós têm culpa... ― disse Gwen.

― O Tennyson não sabe se cuidar sem a porcaria do relógio dele, Gwen, você sabe disso!

― Isso não importa, Kevin! ― uma lágrima teimava em querer sair ― O que aconteceu, aconteceu. Agora a gente tem é que tentar descobrir uma forma de ajudá-lo.

― E como a gente faz isso!?

― A-a gente pode...

― Você sabe operar o cérebro de alguém!?

― Não, mas eu p-posso...

― Consertar neurônios!?

― N-nã-

― Como é que a gente vai ajudar ele então, Gwen, vai, me diz!

― Eu não sei!!! ― a lágrima escapou.

A lágrima de Kevin escapou também.

― ...

― ...

Sentado na poltrona do acompanhante, com uma faixa rodeando sua testa, Vô Max se mantinha em dialogando com seus pensamentos. Vez ou outra o diálogo se transformava numa enorme discussão, com direito a palavras de baixo calão e ofensas que fariam até o mais pacífico dos monges se ofender. Mas por fora, sua expressão era serena e séria.

Ele então se levantou e seguiu em direção à porta.

― Vovô, pra onde o senhor vai? ― disse Gwen.

― Vou procurar Azmuth ― respondeu sem se virar.

― Um de nós vai com o senh-

― Não.

― Mas vovô...

Max olhou para a neta. Ele não disse nada. Esperou a inteligência dela compreender todas as palavras não ditas e que ele não seria capaz de dizer.

Gwen entendeu. 

― Tome cuidado, por favor ― ela disse por fim.

― Tomarei. Cuidem do Ben e qualquer novidade... Já sabem.

― Avisaremos.

Durante a conversa do avô e a neta, foi a vez de Kevin se manter em silêncio com seus pensamentos. Assim que Max Tennyson saiu pela porta, Kevin também decidiu o que iria fazer enfim:

― Estou saindo.

― Para onde você vai?

― Atrás do Albedo.

― Não seja estúpido, Kevin!

― Relaxa, Gwen!

― Como assim, relaxa!?

― Eu não vou enfrentá-lo... Vou tentar descobrir o que ele está planejando. Assim que eu descobrir eu volto para buscar você e reforços Encanadores.     

Alguns segundos de silêncio, então Gwen retomou a fala:

― Me promete.

― ...

― Kevin, eu te conheço o suficiente pra saber que você vai partir pra cima do Albedo no primeiro instante que você o encontrar, então nã-

― Eu prometo.

― ...

― ...

― Vamos pegá-lo. Juntos ― disse Gwen.

― Por que não vamos agora?

― Preciso... Tentar uma coisa.

― Ok...

― ...

― ...

― ...

― Tome cuidado ― disse Kevin.

― Você também.

Antes de fechar a porta, Kevin arriscou olhar para o amigo. Acenou uma negativa com a cabeça e saiu do quarto, seguindo em direção à garagem da base.

Gwen ficou alguns minutos observando o primo. Ao seu redor, os aparelhos continuavam a sua sinfonia rigidamente obedecida. A jovem descruzou os braços, segurou uma das mãos do primo e disse:

― Você vai sair dessa, Ben. Eu sei disso. E eu prometo fazer de tudo pra te ajudar...

Gwen se afastou da cama e se sentou na poltrona de acompanhante. Cruzou suas pernas em posição de lótus e posicionou suas mãos em posição de meditação. Focou sua atenção em sua respiração. Fechou os olhos por alguns instantes antes de abri-los com uma luz rósea os preenchendo.

Sua mente já não se encontrava mais no quarto.

Viajava através do espaço.

Através do tempo.

De dimensões.

Percorria caminhos inimagináveis pela mente humana.

De repente, parou.

Gwen se viu num corredor feito por estantes de livros. O local possuia um teto alto, com uma bela abóbada adornada com vitrais. Caminhou pelo corredor até chegar numa área livre de estantes, elevada, bem iluminada, com apenas uma mesa e uma cadeira, já ocupada.

Então ela disse:

― Oi, Encantriz.


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