OMNITRANIL (Ben 10 - Força Alienígena) escrita por TarryLoesinne


Capítulo 10
Coração de pedra




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Gwen não decidiu isso por impulso. Ela analisou tudo com o máximo de cuidado que o tempo lhe permitia, mas infelizmente não tinha jeito. Se havia alguma coisa além das fronteiras da ciência que poderia ajudar o Ben, essa coisa estaria na biblioteca.

― Oi, Encantriz.

Gwen aguardou alguma resposta de sua arqui-inimiga. No entanto, Encantriz se mantinha sentada de costas para Gwen, concentrada em suas anotações.

Em filmes e desenhos, é comum representar as vozes da consciência como duas figuras opostas que contra-argumentam entre si. No caso de Gwen, nesse momento as vozes de sua consciência poderiam ser representadas por uma enorme torcida organizada que gritava “Não faz isso! Vai dar problema!” e segurava uma faixa escrita “Vai dar errado e eu avisei!”

Mesmo assim, ela sentia que precisava tentar.

― Encantriz, sou eu a-

A jovem se interrompeu no exato instante em que a imagem de Encantriz começava a se desfazer numa névoa violeta. Uma ilusão! De mesma forma súbita, Gwen sentiu atrás de si uma presença prestes a atacá-la.

Gwen saltou pra frente seguida de uma cambalhota, desviando do raio violeta que passou por cima dela e atingiu a cadeira da ilusão. Ao completar o movimento, parou com um dos joelhos no chão. Virou-se para o corredor com as estantes de livros e observou a vilã se aproximar com um cajado em mãos.

― Gwendolin... Nunca te ensinaram que é falta de educação invadir a casa dos outros?

― Encantriz, eu não vim pra lutar!

― Deveria ter pensado nisso antes de ter entrado sem permissão! – Encantriz aponta o cajado em direção à Gwen e dispara outro raio.

Gwen novamente salta e desvia do projétil faltando poucos centímetros para atingir o seu ombro. A torcida organizada de sua consciência se encontrava em frenesi: Nunca estiveram tão certa sobre ela estar errada!

Encantriz tira de dentro de sua bolsa duas pequenas estatuetas esféricas e as lança no chão, em seguida, invoca:

― Petrus movidious!

As estatuetas começam a crescer de tamanho e a mudar de forma, como um tatu bola se abrindo, até se tornar dois golens de pedra de cerca de 2 metros de altura.

― Acabem com ela.

Gwen começou a correr em fuga. Os golens seguiam atrás, destruindo mesas, cadeiras, estantes, livros, tudo que havia pelo caminho.

Droga! ― pensou Gwen ― Se eu estivesse com a minha magia, agora esses monstros já teriam virado entulho de demolição! Espera um pouco...

Gwen parou de correr. Ela se vira e encara as criaturas que lhe perseguiam. Como enormes tratores, eles deixavam atrás de si um rastro de destruição. Vinham direto em sua direção. No entanto, ela não se mexia.

O chão tremia.

Os rugidos das criaturas faziam vibrar toda a estrutura da biblioteca.

Os golens batiam ombro-com-ombro competindo entre si para ver quem venceria a corrida e esmagaria a humana de uma vez por todas.

E Gwen não se mexia...

Eles estavam chegando perto.

Mais perto.

Gwen mantinha-se firme, sem demonstrar um só traço de hesitação.

Mais perto.

Mais.

Mais!

E atravessaram o corpo de Gwen sem lhe causar nenhum dano.

Faz todo o sentido Gwen não poder usar magia, quando você para pra pensar. Magia é algo físico. Uma interação entre a energia e o ambiente ao redor. Só que ela não está nos arredores. Muito menos na biblioteca. Pelo menos fisicamente.

A criaturas estranharam, esperavam mais gritos, sangue ou pelo menos alguns ossos quebrados, mas não teve nada disso. Ao contrário. Sua vítima permanecia de pé como se nada houvesse acontecido. Os golens de pedra novamente partiram para cima da jovem. Davam socos, chutes, porradas no chão que faziam abrir crateras no piso da biblioteca, mas a sensação era a de que em todo momento estavam golpeando o ar.

Gwen caminhou em direção a Encantriz calmamente, enquanto as criaturas de pedra insistiam em tentar acertá-la. Faltando alguns metros para alcançar a posição da vilã, Gwen parou e a encarou.

― Parem! ― Gritou Encantriz. Era perda de tempo tentar golpear um corpo astral.

As criaturas pararam seus esforços inúteis e se posicionaram atrás de sua dona.

― O que você quer, Gwen?

― Preciso de sua ajuda.

― Não. ― E bateu o cajado no chão. Uma luz violeta cobriu o ambiente.

Gwen levou as mãos aos olhos devido a luminosidade excessiva. Não dava pra enxergar nada além de violeta. Quando sua visão voltou ao normal, percebeu estar de volta à Ala Médica do quartel dos Encanadores.

― Argh, como eu detesto ela!

Gwen arrumou sua postura novamente para meditação, disciplinou sua respiração e voltou a se concentrar.

Sua mente voltou para a Biblioteca de Encantriz.

A feiticeira utilizava de magia para reverter a destruição na biblioteca causada pelas suas criaturas. Um golem levantava uma estante, o outro carregava uma pilha de livros de um lado para o outro.

― Encantriz! – disse Gwen.

― Você de novo, garota!?

― Sim! Não estou feliz com isso também, mas eu preciso de sua ajuda!

― Eu já disse que não.

― Você nem ouviu qual é o meu pedido!

― Tem razão. Diga.

― Obrigada. ― Gwen esboçou um leve sorriso. Havia esperança então! ― Há dois di-

Encantriz bate o cajado no chão. Luz violeta. Gwen está de volta à Ala Médica.

― Aaaah, que vontade de quebrar a cara dela! ― Gwen caminhava pelo quarto de um lado para o outro. ― Fazer ela engolir aquele cajado!

― Mocinha, com licença ― Uma enfermeira surge na porta do quarto ― Estamos em uma área médica, vou pedir que, por gentileza, controle a altura da voz.

― Me desculpe... ― disse envergonhada.

A enfermeira acenou com a cabeça e fechou a porta do quarto.

Olha o tipo de humilhação que Encantriz me faz passar! – pensou.

Com o silêncio, Gwen voltou a ouvir os bipes dos aparelhos médicos e olhou para o primo. Era preciso calma. Há coisas mais importantes em jogo neste momento.

Gwen volta a se sentar na cadeira de acompanhante e a recomeçar sua magia de projeção astral. Posição. Olhos fechados. Mente concentrada. Espaço. Tempo. Dimensões...

***

― Anda, criatura, levanta essa estante! ― Encantriz coordenava os trabalhos de reparação. ― Não, eu já disse, livros de magia Terka naquela estante!

Com seu cajado, ela reparava as crateras no chão, movia objetos de volta a posição inicial, fazia vasos estilhaçados voltarem no tempo e se “des-estilhaçarem”. Em questão de alguns minutos, a biblioteca voltou ao seu estado natural.

― Perfeito! ― Ela observava os frutos de seu trabalho com orgulho ― Pronto, minhas crianças, agora voltem.

Os golens começaram a reduzir de tamanho e a torcer sua própria forma, adquirindo um aspecto de esfera de pedra, de tamanho suficiente para caber numa mão. Encantriz pegou as duas esferas do chão e as colocou em sua bolsa. Enquanto fechava o zíper, disse:

― Você não desiste mesmo, hein, garota?

Atrás dela, Gwen mantinha-se de pé a observando.

Encantriz encara a jovem. Seu olhar passeia pelo rosto de Gwen, analisando cada centímetro de musculatura: a boca fechada e tensa, a gota de suor que escorria pela têmpora, os olhos... Ela conhecia esses olhos.

A vilã revisitou suas memórias. Por alguns instantes, ao olhar para Gwen era como se estivesse olhando para uma versão mais nova de si. Ela conhecia aquela expressão. Aquele olhar. Aquela dor.

― Tá, que seja ― disse, virando o olhar e balançando uma mão como quem espanta pensamentos. ― Pode usar os livros. Basta apontar para algum que a biblioteca vai te ajudar a lê-los.

Gwen sorriu.

― Obrigada.

Encantriz não respondeu. Apenas seguiu pelos corredores da biblioteca para continuar seus estudos.

Deveria desistir, Gwendolin ― pensou ― Acredite em mim, é menos doloroso...


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