Era para ter sido apenas um jogo escrita por Crik Snape


Capítulo 1
Capítulo 1 - Desabafos


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma nova versão da fic originalmente escrita e publicada no F&B em meados do ano de 2008. Peço que tenham um pouco de paciência e não desistam da história, pois haverá pouco de Dramione neste primeiro capítulo, mas eu o considero extremamente importante para a compreensão da história.

Este capítulo foi betado por uma amiga muito querida, a Landa (LandaMS), que acompanhou toda a minha trajetória na primeira publicação desta história, e que agora dedicará seu tempo para torná-la ainda melhor. Muito obrigada!

Boa leitura!



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A medida que seguia entre as pessoas, o caminho se abria para Hermione. Naquele mar de gente, ela buscava por rostos conhecidos, por cheiros conhecidos, pelos abraços das únicas pessoas que realmente importavam para ela: seus amigos. A Estação estava apinhada de bruxos e bruxas de diversas idades. Acompanhadas ou não, eram muitas. Aquele ano letivo prometia, podia pressentir.

E pressentimentos era algo em que ela não costumava acreditar, mas não podia simplesmente ignorar o que sentia. Assim como não podia negar o tamanho da saudade que estava estufando em seu peito, após um período tão longo e conturbado de férias. Só queria rever os amigos, sentir que era especial para eles e mostrar que juntos poderiam vencer aquela guerra.

Estivera tão entusiasmada com o seu retorno ao mundo bruxo que, agora que finalmente pisava na Estação, que dava acesso ao Expresso de volta à Hogwarts, achava impossível não se sentir mais feliz. Duvidava que fosse real. Era o seu penúltimo ano letivo que estava prestes a se iniciar, e isso, por si só, já era suficiente para fazê-la refletir sobre os caminhos que trilhara para chegar até onde estava. Nunca pensou que voltar para Hogwarts poderia lhe trazer tanto alívio, visto o momento de incertezas da guerra.

— Mione, que bom vê-la!

Foi rapidamente surpreendida por uma cabeleira ruiva que lhe envolvia em um abraço mais entusiasmado que das outras vezes. Retribuiu o abraço da caçula Weasley com igual emoção. Sentia falta das conversas boas que aprendera a ter com ela no último ano, nas noites em que não conseguiam dormir devido às preocupações de sempre, ou nas tardes em que eram deixadas de lado pelos meninos que preferiam os treinos de Quadribol a estar com elas.

— Olá, Gina! – disse, soltando-se do abraço – Parece que não nos vemos há décadas, não é mesmo? – comentou, rindo – Como você está?

— Estou ótima, obrigada por perguntar. – respondeu a garota – Estávamos todos ansiosos para revê-la. Até parece que as férias duraram uma eternidade, não é mesmo?

Precisou concordar com a amiga, de fato as férias foram longas demais para Hermione, e tinha a impressão de ainda está-la carregando nas costas, o que não era de todo mentira. Ao final do quinto ano letivo, seus amigos se despediram na Estação, cada um voltando para a sua própria realidade. Rony e Gina e todos os outros irmãos Weasley voltaram para a aconchegante Toca, amontados dentro do carro meio trouxa, meio mágico, que o Sr. Weasley fazia questão de usar como transporte da família. Harry teve de se virar sozinho para voltar para a casa dos tios, onde sabia que não era bem-vindo, e mesmo assim tinha que voltar.

E quanto à Hermione, bem, ela também voltou para casa nas férias. Ao atravessar as paredes para o lado trouxa da Estação, foi recebida aos abraços e beijos pela mãe, sempre tão carinhosa e apoiadora. E ali mesmo ela soube que o seu pai não estava bem o bastante de saúde para tê-la buscado também. Seu mundo desabou ali mesmo. Seu pai, o homem saudável que conhecera a vida toda, estava doente, muito doente. E não havia mágica suficiente que o fizesse melhorar. Era câncer.

Lembrar da doença do pai, dos dias difíceis ao lado dele no hospital, a fazia se lembrar de como as coisas poderiam ter sido mais fáceis se suas cartas endereçadas aos amigos tivessem sido respondidas por eles. Naqueles pergaminhos, ela descrevia toda a sua angústia, receios e medos, e pedia conselhos. Mas nenhuma resposta chegou. Só não fora pior porque seu pai um dia teve alta do hospital e voltou para casa. No convívio do lar, ela aproveitou sua companhia o máximo que pode, até aquele dia. Ele ainda não estava bem, mas estava estável, e isso a consolava por hora.

— Hermione, você está bem? – Perguntou – De repente, parece pálida...

— Estou bem, Gina. – Limitou-se a responder, sorrindo sem jeito. – E onde estão todos?

— Todos, eu não sei. Eu tenho uma família muito grande, você sabe... – respondeu a ruiva, rindo da própria sorte – Mas Harry e Rony estão logo ali.

E apontou para o lado onde os rapazes estavam, já caminhando na direção delas, atravessando entre as pessoas. Ao longe, pareciam maiores do que se lembrava que fossem. Não era possível, só alguns meses longe e eles já haviam crescido tanto?

Aquela fase era mesmo incrível, a puberdade. Com uma olhada mais cautelosa, pôde perceber que Harry sorria para ela, os olhos fixos sobre os seus mesmo distante. Inconscientemente, sentiu seus próprios lábios repuxarem para o lado. Estava mesmo feliz em estar de volta na companhia deles. Rony, no entanto, não parecia tê-la notado ainda. Caminhava ao lado de Harry sem sequer saber para onde ou para quem es tava indo. Típico do rapaz, nem se surpreendia mais.

— Hermione? Você está me ouvindo?

— Hã?... Como? – voltou-se para a ruiva – Não, desculpa, não ouvi. Eu estava...

— Com a cabeça bem longe daqui, eu sei. – Completou – Eu estava dizendo que tenho tantas novidades para te contar, mal vejo a hora de podermos conversar.

Apenas concordou de leve com a cabeça, sem ainda prestar muita atenção ao que a menina lhe dizia. De repente, achou que devia perguntar algo.

— Você recebeu as minhas cartas, Gina?

— Suas cartas? – a ruiva repetiu a pergunta para si mesma, ganhando tempo para pensar – Ah, sim, é claro... recebi algumas. Você acha que eu deveria soltar os cabelos?

Era evidente que a garota havia tentado desconversar aquele assunto, porque mesmo que tenha recebido as cartas de Hermione, como afirmara, nenhuma resposta foi enviada. Aquilo ainda lhe deixava extremamente magoada.

— Você solta os cabelos se quiser, Gina. Por que tem que perguntar isso pra mim?

— Nossa, eu só queria sua opinião. A opinião de uma garota. – Gina parecia indignada - Eu vivo cercada por um bando de garotos insensíveis, não precisava ser tão grossa comigo.

— Desculpa, Gina. – refletiu sobre seu comportamento – Não era a minha intenção. Você fica bem com os cabelos de qualquer jeito.

Controlados, ela queria dizer. E não espalhafatosos como os seus, encaracolados.

— Você quer impressionar alguém hoje? – Hermione perguntou, achando curioso o comportamento da menina.

— Ninguém em quem eu já não tenha causado uma boa impressão. – respondeu a ruiva, soltando os cabelos em um gesto digno de apreciação.

Quando se deram conta, os rapazes já haviam chegado até elas e havia um sorriso de ponta a ponta nos lábios de cada um deles.

— Hermione, pensei que nunca mais fosse chegar... – disse Rony, abraçando-a de lado, meio sem jeito.

— Olá, Rony. Está tudo bem comigo, e com você? – disse, tentando não parecer rude demais, já que o amigo a recebera sem nem sequer uma saudação educada.

Até onde se lembrava, seus amigos tinham bons modos e nunca se esqueciam de usá-los com ela ou qualquer outra pessoa. Rony ficou envergonhado com sua falta de tato, o que refletiu no rosado de suas bochechas e orelhas. Teria sido engraçado, se a situação permitisse. Suspeitava que ele tivesse mudado seus sentimentos por ela no ano anterior, depois de ter notado as diversas vezes em que ele ficava sem jeito na companhia dela. E as brigas deixaram de ser constantes, também.

Essa linha de pensamento só a deixava ainda mais preocupada com os rumos dessa amizade, pois ela não tinha o mesmo interesse por ele e não via formas disso mudar algum dia. Seu interesse estava bem diante dela agora, e não era Rony.

— Bem-vinda de volta, Mione. – Seu interesse falava, e tinha uma voz encantadora, assim como todo o resto.  

O coração de Hermione deu um sobressalto ao som daquela voz, ao mesmo tempo em que sentiu a umidade se formar na palma de suas mãos. Tinha estado tão ansiosa por esse reencontro, mas alguma coisa parecia diferente. Talvez da sua parte, já que estava chateada com Harry também, pelas cartas não respondidas. Mas tinha a leve impressão de que a diferença estava nele mesmo, no modo como olhava para ela e como sorria.

O rapaz se aproximou com leveza e a tomou nos braços em um abraço bastante demorado e colado. Seus braços a envolveram com firmeza e, ao mesmo tempo, cuidado. Seus dedos acariciavam os ombros da morena, demonstrando toda a saudade que sentia. Seu envolvimento com Harry era segredo desde o não passado, porque havia muitas coisas em jogo. A proximidade da guerra era uma dessas coisas, afinal, parecer um casal apaixonado naquele cenário opressor não era uma ideia muito boa.

Depois, havia a amizade com Rony em jogo, e o suposto interesse do ruivo por Hermione, que já era notado por Harry há algum tempo. E, claro, a irmã mais nova dele, que esteve apaixonada por Harry a vida inteira e já não conseguia disfarçar isso muito bem. E não era segredo algum que Harry já havia demonstrado interesse por ela. Interesse esse que Hermione sabia que só estava adormecido por causa do lance que eles estavam vivendo naquele momento, e temia que ele pudesse ter uma recaída pela amiga ruiva.

Se isso acontecesse, Hermione ficaria arrasada. Apesar de não estarem juntos há muito tempo, sentia que já o amava. Os anos de amizade foram decisivos para o fortalecimento desse sentimento. E mesmo que nunca tivessem conversado a respeito, não precisavam de muitas palavras para saberem que estavam ambos apaixonados. Mas com as férias, talvez, algo pudesse ter mudado.   

— Senti sua falta, Hermione. – Disse o rapaz, soltando-a do abraço logo em seguida.

— Eu também senti. – Ela respondeu, sentindo ruborizar.

Teria de disfarçar melhor suas reações involuntárias, se não quisesse ser o alvo de especulações. E havia uma plateia considerável naquele momento.

— Bom, acho melhor irmos andando... – Gina quebrou o silêncio formado entre eles – Parece que teremos um Expresso mais lotado esse ano. Vamos?

A amiga tinha razão, no que se encaminharam em direção ao Expresso, seguindo o fluxo de alunos que adentravam aos vagões. Encontrar uma cabine não era tarefa muito fácil, todas pareciam lotadas. Continuaram caminhando pelo corredor em direção aos últimos vagões, por vezes se espremendo para conseguir ultrapassar alguns grupos que conversavam na porta dos vagões.

Como em um estalo repentino, Hermione se lembrou da razão pela qual ficara chateada com os amigos, e precisava saber a versão deles. Parou abruptamente de andar e sentiu o corpo de Harry indo de encontro com suas costas, não tendo notado a parada repentina da garota. Atrás dele, Rony e Gina vinham vindo e notaram a aglomeração. Alguns alunos atrás reclamavam do incidente e pediam passagem.
Com a aproximação com o moreno, Hermione precisou respirar fundo e lembrar o que pretendia dizer quando decidiu parar.

— Vocês receberam as minhas cartas? – Hermione indagou, virando-se na direção deles e deixando alguns alunos passarem por eles.

— Hermione, você não pode parar assim no meio do corredor. – Gina protestava ao fundo – Não está vendo que atrapalha a passagem?

— Só um momento, Gina. – Hermione a repreendeu – As minhas cartas, Harry. Eu escrevi várias cartas para você durante as férias. Não recebeu nenhuma?

Harry pareceu pensar por algum instante, ao tempo em que franzia a testa diante da insistência da morena. Percebendo que aquele diálogo demoraria mais do que o necessário, Gina se embrenhou entre os corpos dos amigos e os ultrapassou no corredor.

— Então fiquem aí sozinhos, vou procurar uma cabine vazia. – Disse a ruiva, ao passar por eles.

Hermione agradeceu, sentia-se mais confortável sem a ruiva por perto, afinal, eles sempre foram um trio. A presença da caçula estava tornando as coisas um pouco estranhas do que havia sido no último ano. Gina costumava ter seus próprios amigos, de seu próprio ano, e se juntava ao trio apenas em ocasiões muito específicas. No geral, ela não gostava de andar ao lado deles, porque brigava com o irmão o tempo inteiro.

— Então, Hermione... – Harry iniciou, um pouco sem jeito – Eu passei as férias na Toca com a Gina. – Percebeu que Hermione achou estranho sua informação, e completou – Com o Rony, com toda a família Weasley, quero dizer. Meus tios estavam impossíveis. A sua coruja deve ter chegado até eles, mas é claro que eles não iriam me dizer nada.

Hermione compreendeu, mas algo ainda não parecia certo.

— Não, Harry. As corujas acham seus destinatários em qualquer lugar.

— Não se for a Errol... – Rony complementou, mas foi o único que achou graça.

— Mesmo que fosse, Rony, eu também escrevi cartas para você.

— Para mim? – parecia surpreso e lisonjeado pelo gesto, meio ruborizado também. – Você escreveu mesmo?

Hermione revirou os olhos, era Rony, afinal, não podia esperar muito dele.

— Não é possível que não tenha chegado nenhuma carta até vocês. Até a Gina recebeu as que eu mandei para ela, embora não tenha respondido nenhuma.

— Então vamos procurar por ela e perguntar o que ela fez com as nossas cartas... porque não recebemos nenhuma. – Disse Rony, empurrando as costas de Harry para que o amigo desse continuidade no caminho.

Harry levou as mãos à cintura de Hermione e indicou que era hora de continuar. Sentindo-se um pouco contrariada e decepcionada, Hermione se virou e seguiu. Mesmo depois que já estavam andando, ainda sentia as mãos de Harry em sua cintura, guiando seu caminho. Queria poder virar-se naquele instante e abraçá-lo novamente, sentir seu corpo colado ao seu novamente, e lembrar o quão agradável era seu toque.

Por fim, encontraram uma cabine vazia, à direta do trajeto. Mas ao abri-la, enganaram-se, já estava ocupada por dois alunos. Eles estavam em pé, um de frente ao outro, muito próximos e, ao ouvirem o som da porta e das conversas, se soltaram em abrupto, no que um deles bateu as costas contra Hermione, que fora a primeira a adentrar.

Não eram apenas dois alunos quaisquer, e sim Draco Malfoy, o Sonserino que não os suportava, e a pessoa que dera de encontro com Hermione era simplesmente a Gina. A menina parecia ofegante, e o vermelho de suas bochechas demonstravam que estivera brava ou muito envergonhada. Qual das duas opções, Hermione não sabia, mas suspeitava que não se tratava de coisa boa, não vindo da presença de um sonserino tão desprezível.

— O que está acontecendo? – Harry perguntou, tendo notado o afastamento repentino dos dois.

— O que você acha? Malfoy... – respondeu a ruiva, um pouco irritada – Infernizando a minha vida, como sempre.

Harry não demorou a avançar sobre o Sonserino, sendo impedido por Rony depois que já havia puxado a gravata do uniforme do loiro. Com os rostos muito próximos, eles trocaram olhares de fúria, em um breve momento de observação. Draco não havia dito nada ainda, mas seu olhar vacilou por um momento e foi de encontro aos de Gina, e havia ainda mais fúria quando eles voltaram a encarar Harry.

— Nunca mais encoste seus dedos sujos nela, entendeu? – Harry esbravejou, sentindo o aperto de Rony tentando puxá-lo para trás.

O silêncio de Draco parecia tirá-lo do sério ainda mais. Percebendo que o rapaz não diria nada, largou-o por conta própria, dando um empurrão em seu peito no processo. Mesmo com ganas de avançar sobre Harry, o loiro se conteve.

— Vamos para outra cabine, Harry. – Gina disse, empurrando os amigos para fora, embora estivessem resistindo.

— Não, nós ficamos e ele saí. – Harry disse, estancando no mesmo lugar. – Somos muitos, ele é só um. Vá procurar sua laia, Malfoy.

— Vamos, Harry. – Gina insistiu, tentando afastá-lo com as mãos em seus ombros – Deixe esse verme aqui sozinho...

Nenhuma afronta poderia ser maior do que aquela, para Draco.

— Do que me chamou, Weasley?

— Ah, vejam só... ele fala! – Rony zombou, mas se arrependeu quando Draco lhe fitou com raiva.

A tensão entre eles era evidente, mas por alguma razão Draco estava se controlando para não tomar medidas mais incisivas. Seu comportamento não era típico, e estava cada vez mais evidente que ele lutava uma luta interna para se manter estável.

O que Hermione ainda estava tentando entender era o porquê da proximidade entre ele e Gina no momento em que adentraram a cabine, e o que todos aqueles olhares entre eles podia significar. Aquilo indicava que devia ficar esperta aos menores sinais. Não que fosse desconfiar da Gina, mas não podia mesmo era confiar no Malfoy.

Mesmo contrariado, Draco se rendeu às exigências dos Grifinórios e deixou a cabine, passando por eles com intensa grosseria, batendo os ombros com força contra eles. Antes de atravessar a porta da cabine, no entanto, se voltou para a ruiva e apontou o dedo em meio à sua face, extremamente raivoso.

— Ainda veremos quem é o verme de verdade, aqui, Weasley.

Harry se jogou em direção ao Sonserino novamente e o empurrou com força para fora da cabine, fazendo com que ele batesse as costas contra a parede oposta do corredor. Malfoy ainda fez menção de avançar sobre o rapaz, mas desistiu, atitude que intrigava ainda mais, visto que estava se segurando para não se meter na briga. A porta da cabine se fechou bem diante de sua cara, deixando-o ainda mais furioso. Ajeitou suas vestes escolares e seguiu sem rumo de volta para o início dos vagões.

Agora sozinhos na cabine, podiam respirar aliviados sem a presença sufocante do Sonserino e a atmosfera pesada que ele causava. Gina ainda parecia transtornada, especialmente depois que Malfoy lhe apontara aquele dedo. Mas de qualquer forma, ela havia sido a primeira a enfrentá-lo, era de se esperar que ele revidaria em algum momento.

Sentaram-se acomodados nas poltronas, apreensivos em como iniciar aquela conversa, porque Gina não parecia nem um pouco a fim de falar sobre o que havia acabado de acontecer, deixando claro com o olhar que era melhor falar sobre amenidades. Mas, naquele momento, só havia um assunto que Hermione colocaria em pauta, se pudesse: por que Gina estava sentada tão próxima ao Harry quando havia tanto espaço nas poltronas ao lado?

— Como foram as suas férias, Mione? – Rony iniciou uma conversa, olhando de Harry para Gina e voltando-se para a amiga ao seu lado.

— Se tivesse lido minhas cartas, saberia. Estava tudo escrito nelas. – Respondeu, evidentemente mal-humorada.

— Isso me faz lembrar, Gina, que você nos deve explicações sobre as cartas da Hermione que misteriosamente não foram entregues a nós durantes as férias. – Rony alfinetou a irmã, do outro lado dos assentos.

Gina ficou calada, disfarçando ao ajeitar a sua gravata no pescoço: estava desalinhada.

— As cartas devem estar na Toca. Vou pedir para a mamãe enviá-las pelo correio coruja amanhã. – Gina respondeu, ainda desviando o olhar.

— E porque não nos entregou antes? – Harry quis saber.

— Eu tentei, mas vocês só queriam saber de jogar Quadribol. – Gina se explicou, mas algo ali não parecia fazer sentido.

Internamente, Hermione se sentia despedaçada. Nunca havia sido tão colocada de lado como naquele momento, sentindo, pela primeira vez, que não era essencial para eles. Talvez fosse exagero, ou talvez fosse a carência que sentia naquele momento. Por hora, iria esquecer aquela história. Mas não iria poupá-los no futuro. Na verdade, tudo o que menos queria era ter que relatar as suas férias. 

— Hermione, eu lembro de ter respondido uma das suas cartas. – Harry levanta a questão, atraindo a atenção de Hermione – Eu acho que você disse que seu pai estava doente...

Sim, Hermione se recordava dessa carta, enviada naquele mesmo dia. Nela, dizia que seu pai estava muito doente e que estava assustada com tudo aquilo, mas que faria o possível para vê-lo bem novamente. Também dizia que estava com saudades de Harry e que gostaria muito de ter podido passar as férias ao lado dele.

Na resposta de Harry, ele dizia que também sentia a falta dela, e que estaria esperando ansiosamente para que seu pai se recuperasse e ela pudesse se divertir com ele durante as férias. Também havia comentado algo sobre ir para a Toca, ela se lembrava agora. E apenas isso. Uma resposta curta, mas que Hermione sabia que era sincera. O que a deixou de fato chateada, foram as demais cartas nunca terem sido respondidas. Qualquer palavra teria significado algo para ela. Qualquer coisa que fizesse com que esquecesse, temporariamente, os seus problemas.

Queria saber o quanto ele estava se divertindo na Toca, e os planos que ele tinha para o próximo ano letivo. Mas agora, vendo a proximidade que estava de Gina, ficava claro que algo novo havia acontecido entre eles. Não conseguia acreditar que fosse um romance, porque Harry não seria capaz de magoá-la daquela forma. Ele e Hermione tinham um lance juntos, que ainda não estava claro qual era, mas existia. Talvez Harry Gina tivessem fortalecido a amizade durante esse tempo, o que não lhe agradava muito, mas pelo menos não tirava dela o lugar que sabia pertencer nas prioridades do rapaz.

— Gina, achei que você iria querer viajar ao lado dos seus amigos? O Dimas, por exemplo. – Hermione perguntou, tentando esconder sua curiosidade e evitando ser rude – Onde eles estão agora, os seus amigos?

— Vocês são meus amigos, agora. – Gina respondeu – Este ano será diferente. Vamos estar mais próximas, isso não é o máximo?

— Você é bem-vinda, Gina. Mas não faça parecer como se fôssemos um quarteto inseparável. Eu realmente gosto de você, não faço objeção alguma à sua amizade. Mas nós três... – apontou para os amigos – temos mais tempo de amizade.

— Hermione, você está sendo rude. – Harry se interpôs.

Definitivamente, aquilo não podia ser só uma amizade. Nunca o vira defendendo a ruiva daquela forma antes, e ela nem se quer havia sido rude em suas palavras.

— Até que enfim, alguém sensato para dizer à Gina cair fora daqui. – Rony divagou.

— Eu não estou tentando roubar sua posição, Hermione, se é esse o seu medo. – Gina disse - Rony é meu irmão e nada muda quanto a isso. E quanto à Harry, somos muito amigos agora.

Então era isso que estava estranho, afinal. A forma com que ela se referia a Harry, e o modo como ele a defendia, como se ela fosse frágil e precisasse dele o tempo todo. A diferença de idade entre os três e Gina nunca os impediu de serem amigos dela. A richa de irmãos entre ela e Rony é que sempre foi um caso sério.

O problema é que Gina sempre nutriu sentimentos por Harry, desde seus primeiros anos em Hogwarts. Então, ser considerada amiga dele era um tanto duvidoso, já que podia ter sentidos mais amplos. Até mesmo Rony se mostrava desconfortável com essa situação.

— Sobre as férias, Hermione. – Harry iniciou - Fiz algumas descobertas bastante significativas sobre... Bom, você sabe, sobre aquilo que estávamos pesquisando antes das férias. Precisamos conversar sobre isso.

Harry estava se referindo às horcruxes. Era uma boa notícia, afinal, precisam muito desvendar aquele mistério. Concordou, curiosa pelas descobertas feitas por ele.

— Harry me mostrou alguns truques no Quadribol durante as férias. – disse Rony, empolgado com sua própria novidade – Agora me sinto pronto para os testes do time esse ano.

O amigo ruivo estava radiante, provavelmente já havia feito todos os planos em sua cabeça. Concordou também, menos entusiasmada agora. Quadribol era um assunto que não lhe interessava, realmente. Pensando sobre isso, se lembrou de que Gina também jogava no time, e isso era algo em comum que ela tinha com os meninos, especialmente com Harry.  

— E você, Gina? – perguntou à ruiva – O que fez de interessante?
Gina limitou-se apenas em sorrir e dizer:

— Teremos muito tempo para falar sobre as minhas novidades. Só o que quero que saiba, agora, é que passarei o máximo de tempo possível com vocês. Eu realmente quero que sejamos grandes amigas, Hermione. – Trazia um sorriso de ponta a ponta – E você, o que fez de interessante?

— A maior parte do tempo? Fiquei com meu pai no hospital.

O objetivo fora, enfim, alcançado. Todos agora prestavam atenção nela, com certa melancolia e aquele olhar de pena que não lhe agradava nem um pouco. Mas pelo menos a notavam com a sensibilidade que gostaria. Não estava sendo fácil. Sem eles, seria ainda mais difícil. Uma fina lágrima escorreu pelo canto de suas bochechas, mas conteve a vontade de chorar, não queria reviver aquele sentimento desolador.

Foi surpreendida por um abraço repentino, carregado de afeto, podia sentir pela forma com que Harry a segurava entre seus braços. Como tinha desejado por aquilo desde que chegara. Afundou sua cabeça no peito do rapaz, não se preocupando em molhar sua camisa com suas lágrimas, sentindo os dedos dele deslizando sobre a pele exposta de seus braços. Pouco a pouco ia se acalmando, levando seus pensamentos para longe dali.

Um pouco antes do término do ano letivo anterior, Hermione se viu presa a uma série de sentimentos novos e desconhecidos por Harry. Aconteceu depois que ambos se tornaram mais próximos devido às pesquisas sobre as horcruxes. Rony era o menos inteligente dos três, o que deixava claro que a tarefa difícil de interpretar todos aqueles mistérios ficava por conta dela e do Harry, o que dava a eles horas intermináveis juntos discutindo as hipóteses.

Foi nessa época que Hermione notou a forma com que Harry a olhava. Era diferente de como ele olhava para outras garotas, como a Gina, por exemplo. Aparentemente, ele estava notando nela os traços e características de garota que até então ele nunca percebera. Sentiu vergonha no início, mas com o tempo se viu desejando por estes momentos. Quando menos se deu conta, já estava cuidando da própria aparência, de modo a incentivá-lo a observá-la um pouco mais.

Em uma tarde qualquer, aconteceu. Harry a beijou. Um beijo terno e discreto, sem nenhuma pretensão. Não demorou para que Hermione retribuísse e dali começasse um sentimento novo. No começo foi estranho, mas ainda assim interessante. Harry tinha sido seu primeiro amor. E o mais interessante naquilo era o fato de que nunca havia imaginado ser possível. Não com Harry parecendo levemente interessado por Gina, e Rony claramente se interessando por Hermione.  

Com as férias, obviamente tiveram que interromper o que quer que estivesse acontecendo com eles. Não conversaram a respeito, era apenas algo que acontecia entre eles, em segredo. Por isso, agora não tinha mais tanta certeza se o que havia entre eles ainda era o mesmo.

— Vai ficar tudo bem, Hermione. Sinto muito não ter estado com você quando precisou. – disse, afastando uma mecha de cabelo do rosto da morena – Acredite em mim, vai ser um grande ano.

— Eu acredito em você, Harry... – retribuiu, esboçando um leve sorriso molhado por novas lágrimas – Apenas não me deixe.

As suas palavras o atingiram de um modo não esperado, não conseguindo nem mesmo disfarçar o incômodo por notar que Hermione estava depositando tanta confiança nele, na relação deles.

Pensando sobre os amigos, achava que conseguiria perdoá-los pela falha imensa de comunicação. Não podia culpá-los a vida toda, e precisava deles. Eram as únicas pessoas em quem podia confiar.

Sorriu para Rony e Gina no momento em que Harry se afastou e retornou para o seu assento. Mas seu sorriso morreu ali mesmo quando notou a expressão descontente de Gina. Agora só conseguia ver uma inimiga desejando sua morte. O que estava tão estranho, afinal?

O resto da viagem transcorreu de modo tranquilo. Sem brigas. Aproveitaram o tempo para discutir amenidades, deixando os assuntos sérios para depois do jantar daquela noite. Também descansaram o quanto puderam, e se empanturraram de doces como nos velhos tempos. Até, enfim, sentirem os freios do Expresso parando na Estação de Hogsmeade. Era hora de descer e começar um novo ano letivo, fosse ele qual fosse.

— Ei, eu vou ao banheiro antes de descer na Estação. – Hermione avisou, vestindo seu casado do uniforme. – Encontro vocês lá fora, tudo bem?

Todos assentiram e seguiram para fora dos vagões. Hermione, no entanto, permaneceu na cabine algum tempo mais. Os corredores estavam apinhados e seria difícil chegar ao banheiro indo de encontro ao fluxo. Aproveitou o momento a sós para refletir sobre como deveria se portar a partir daquele momento. Teria de aprender a lidar com isso até, de fato, entender. E precisava pensar em uma forma de não demonstrar seu interesse por Harry na frente dos demais. Suspirou, já estava ficando cansada.

De repente, a porta da cabine se abriu e um corpo esgueirou-se para dentro dela. Assustou-se, no início, e depois se surpreendeu quando percebeu que era Draco Malfoy, novamente. E ele parecia meio confuso com a presença de Hermione.

— Eu pensei que encontraria outra pessoa aqui... – Draco disse, desdenhando da morena – O que está fazendo?

— Quem esperava encontrar sozinho nessa cabine, Malfoy?

— Não é da sua conta, sangue-ruim. Perguntei o que está fazendo aqui?

— Também não é da sua conta. – respondeu, levantando-se.

Mas ele se colocou entre ela e a porta da cabine, demonstrando que não a deixaria sair. Não sem antes uma retratação pela grosseria. A cabine não era tão pequena, mas sentia que estava perto demais do rapaz e nunca antes tinha estado nessa condição. Podia ouvir sua respiração, um pouco ofegante, seu peito subindo e descendo por baixo do uniforme impecável.

O ruído lá fora agora era distante, e só conseguia prestar atenção em Draco, em como estava elegante nas vestes claramente recém compradas, os cabelos loiros bem hidratados, um pouco maiores do que no ano anterior, um resto de barba que não fora tirado, os olhos cinzas profundos.

— Vamos ficar nessa até quando, Granger?

— Do que está falando? – questionou, recompondo-se.

— Sobre o que vocês viram mais cedo, eu não estava machucando a Weasley ou qualquer coisa que possa ter parecido. Eu encontrei a cabine vazia primeiro e ela estava tentando me colocar para fora. Mas eu falei sério quando disse que iria provar a ela quem é um verme de verdade.

— Não me interessa seu planinho estúpido de infernizar a vida da Gina. É assim que você resolve os seus problemas com quem se mete no seu caminho, não é mesmo?

— Talvez, como você está fazendo agora, sangue-ruim.

— Não me chame disso!

— Chamo do que eu quiser. Você e sua laia de amigos só sabem me causar problemas. Não tem um ano sequer que vocês não me prejudiquem. – esbravejou, aproximando-se de Hermione – Esse ano não... esse ano vai ser diferente. Você preste bastante atenção e passe esse recadinho para a sua amiga cabeça de fósforo. Eu não vou cair na dela nem na de vocês, seus bandos de loucos!

— Do que está falando?

— Esse ano não! Esse ano eu vou fazer do meu jeito. – continuou, forçando Hermione a recuar – Ninguém vai me dizer como fazer, e ninguém vai se meter no meu caminho, porque eu resolvo meus problemas de um jeito diferente agora. Esse recado vale para você também, sua imunda.

Não estava esperando por aquilo, não havia lhe feito nada de ruim desde que se viram. Não merecia aquele tratamento. Sentiu seu peito apertar, a garganta fechar, a respiração ficar pesada. Não podia chorar, não podia. Não na frente dele, não por causa dele. Mas que droga, uma lágrima escapou. Fungou e limpou com a palma da mão, desviando o olhar para o lado. O que tinha acontecido ali, afinal?

Ele se incomodou com o efeito que havia causado na garota, parecendo notar o descontrole em sua voz e em seus atos. Uma gota de suor escorria pelo canto de sua têmpora, e não estava nem um pouco quente naquele fim de tarde. Uma vontade extrema de gritar e extravasar sua raiva apontava em seu peito, mas não podia, e se repreendia por ter dado aquele espetáculo justo diante da Granger, a última pessoa que ele desejava que o tivesse visto tão fragilizado.

Draco limpou o suor da testa e se afastou, desviando o olhar para fora da cabine, notando que o corredor já estava vazio. Deveria ir embora o quanto antes, ou perderia o transporte para o castelo.

— Eu tenho que ir. – ele disse, como se ela tivesse perguntado – Você deveria fazer o mesmo.

Dizendo isto, deu às costas à garota e saiu deixando a porta da cabine aberta. Desdeu os degraus para a Estação e se surpreendeu ao vê-la quase vazia. Ao longe, um grupo grande de alunos rumavam para o local de transporte, então, seguiu naquela direção. No meio do caminho, olhou para trás e não viu sequer a sombra de Hermione, o que lhe fez pensar que ela tenha ficado para trás. Podia ter seguido, mas algo dizia que se ela perdesse o transporte ia ser culpa dele e de seu ataque de histeria fora de hora.

Mesmo sabendo que era errado e que não seria compreendido, decidiu voltar. Respirou fundo e disse a si mesmo que faria isso uma única vez, e que se ela não o ouvisse, iria deixá-la por conta própria. Voltou para o vagão e na metade do corredor notou a porta da cabine ainda aberta e a luz acessa. Ela ainda estava lá.

Quando se aproximou, ouviu o som do choro abafado. Estava sentada, com os cotovelos apoiados e a cabeça entre as mãos. Não tinha sido tão rude àquele ponto. Se aproximou e, mesmo fazendo barulho, ela sequer o notou. Puxou-a pelo braço e forçou-a a levantar-se, quase colidindo de encontro ao seu corpo, só não o fazendo porque Hermione fincou os pés a tempo quando notou quem estava lhe tocando.

— Eu disse que você deveria ir, Granger.

Puxou-a para fora da cabine, no que ela corria para igualar sua velocidade a dele. Fora do vagão, ele a soltou. Hermione massageou o local do aperto e limpou as lágrimas que molharam seu rosto minutos antes.

Não disseram uma palavra sequer, mas o olhar de ambos dizia muito. Nos olhos castanhos ele via uma tristeza sem fim e um pedido silencioso para que ele não lhe perguntasse o motivo. Nos olhos cinzas, por fim, ela via uma fúria sem precedentes e um apelo silencioso para que ela não tentasse descobrir a origem.

Quando o silêncio é a única forma de comunicação, é preciso aceitar. E naquela conversa silenciosa, ninguém precisava saber de nada um do outro. Então caminharam, lado a lado, em direção à multidão ao longe.

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Nota da Beta:

Olá, leitoras.

É com imenso prazer que venho anunciar que sou a nova beta dessa fic. Cris me fez extremamente feliz quando anunciou que voltou a reescrever essa obra prima, e oferecida como sou (kkkk), logo me prontifiquei a ajudá-la com a betagem. E com essa nova roupagem, temos uma fanfic cheia de emoções de volta ao nosso convívio (não que ela tivesse nos abandonado), mas é sempre muito bom lembrar algo tão nostálgico para nós, que vivemos os tempos áureos das fic's, e reviver essa história é absurdamente mágico.  Aos antigos leitores: revivam conosco essa emoção que é ter Draco e Hermione vivendo um romance louco e apaixonante. E para os novos leitores, quero desejar uma leitura empolgante para, no final, se tornar apaixonante. Bjos e nos vemos no segundo capítulo.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada se você chegou até aqui. Conto com o seu comentário e te vejo no próximo capítulo, em breve! E obrigada, Landa, minha beta querida, por dedicar-se a esta fic mais uma vez, com todo o seu amor e paciência (risos).

Beijos!!!



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