Mundos Surreais escrita por Rayon Jackson


Capítulo 1
Prólogo - Inserção dos Mundos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789338/chapter/1

Os gemidos de dor eram acompanhados pelo som de soco, que se espalhava pela casa escura. A mulher geme mais um pouco antes de ser socada novamente. A três metros dali, uma jovem menina de quinze anos jazia no chão, enquanto seu rosto inchava à medida que o tempo passava. Seus olhos derramavam lágrimas, o embaso de sua visão a permitindo ver somente a sombra de seu pai espancando sua mãe. De novo. Já era a terceira vez naquela semana. E ela estava no chão pelo mesmo motivo: ele tinha lhes dado um soco tão forte que a derrubara, deixando-a totalmente sem forças.

Mas o que ela poderia fazer? Seu pai era um homem alto e forte, acostumado a pegar peso nos estoques na fábrica onde trabalhava. E quando sobrava alguma força, — com a ajuda de álcool — usava para bater em sua mãe. A garrafa ainda se encontrava em suas mãos, que agora era levado a sua boca, e após um generoso gole, finalmente solta a mulher.

O homem toma o restante do líquido da garrafa e se joga no sofá, pegando o controle da televisão e ligando-a. A garota permanece no chão, olhando sua mãe escorada na cômoda, chorando enquanto tenta tocar o rosto ferido e inchado. Daquela vez, o motivo tinha sido um simples ‘mas’. Isso fez entender que ela estava o contrariando, e ele odiava isso. Não era costume a garota se intrometer, mas naquela noite, ele estava batendo mais do que batia.

— Isso é pra aprender a ficar calada! — vocifera o homem no sofá — Mulher só serve pra limpar e cozinhar... E digo mais! Não preciso de vocês pra dá opinião sobre nada! NADA, ESTÃO ME OUVINDO!... Agora quero minha janta, e espero que saia do jeito que eu gosto.

A mulher se levanta com dificuldade, e sem falar nada, se dirige a cozinha, a única parte da casa com a luz acessa. A garota cria força e se ergue do chão aos poucos, seus cabelos lisos e escuros escorregando pelos ombros e escondendo seu olho roxo. A menina enxuga as lágrimas e então, vai até a cozinha, onde sua mãe ligava o fogão em meio a lágrimas. A chama azul cobre a boca metálica, a frigideira espalha o fogo por debaixo de si, a carne é jogada no óleo quente.

— Mãe...

— Agora não. Preciso fazer a janta de seu pai.

— Mãe, a gente tem que fugir.

— Não. — Cortando a cebola — Seu pai é um bom homem.

— Bom? Mãe, onde existe bondade nisso? — ela mostra o olho roxo — Ou nisso? — se referindo ao rosto inchado de sua mãe.

— Ele está doente, só isso. Talvez esteja com aquele vírus da mente.

— Mãe, me escuta — a menina pega-a pelos ombros — Ele não é uma pessoa boa. Não mais. Se ele estiver com o Vírus da Mente, então temos que denunciar pra que ele seja curado. Mas por enquanto, a gente tem que fugir.

— Eu não vou deixar seu pai aqui. E nem você. — Se livrando das mãos de sua filha e virando a carne na frigideira — agora me ajude a terminar a janta dele.

— Eu não vou fazer comida para um porco nojento!

— O que foi que você disse?

A voz grossa soa atrás da menina, fazendo-a arregalar os olhos. A garota mal tem tempo de virar quando é golpeada por uma tapa, fazendo-a rodopiar, caindo em cima de uma pia cheia de louças sujas, enquanto sangue sai de seu lábio cortado.

— Agora você vai aprender a me respeitar, sua fedelha!

Os olhos da garota encontram uma faca no meio de pratos e panelas sujas, e se apoderando da peça pelo cabo de madeira desgastado, gira rapidamente e aponta para o homem.

— Não chegue mais perto! — vocifera a menina — Nos deixe em paz!

— O que você pretende fazer com essa faca? Você vai me matar, é isso? Você não tem coragem.

O homem faz um movimento para arrancar a faca da garota, mas a mesma é rápida o suficiente para arquear a faca em direção da mão do homem. Após a faca ser rapidamente arqueada da esquerda para a direita, algo cai no chão à medida que o homem grita de dor e recolhe a mão. A garota ver sangue começar a pingar entre os dedos do homem, enquanto o mesmo geme de dor.

— Sua desgraçada, você decepou meu dedo! Vou te matar por isso?

O homem movimenta o corpo em direção da menina. A garota firma a faca nas mãos, fazendo um movimento como se estocasse algo. A lâmina vai em direção do peito do homem. A ponta de aço se aproxima da carne. A garota fecha os olhos.

E sente pouca resistência no cabo da faca.

A mulher grita atrás da garota. Ela não sabia onde tinha acertado, e se recusava a olhar. De repente, a palma de sua mão é banhada por algo molhado, vindo do cabo da faca, e assustada, solta a peça, que aparentemente estava presa em algo.

— O que você fez? — chora sua mãe — O QUE VOCÊ FEZ!?

A garota abre os olhos, e vê o homem tentando respirar enquanto permanece de joelhos, e sua mãe puxa-a e a empurra, derrubando-a no chão. No fogão, a carne queima.

— Por quê? Por quê?

Estava obvio. Ele precisava morrer. Tinha sido alto-defesa, e agora, as duas estavam livres dele. Então porque sua mãe chorava?

— Mãe, está tudo bem.

— Não tá não! VOCÊ O MATOU! Agora quem vai cuidar da gente? Quem vai trabalhar para trazer a comida de casa? Tudo isso é culpa sua! Tudo mudou quando você nasceu! (*) EU TE ODEIO!...

A mulher chora e continua a gritar com a menina. Mas agora, tudo o que a menina vê é em câmera lenta. Ela vê as lágrimas de sua mãe brilhar elegantemente antes de deslizar pelo seu rosto e acertar o corpo de seu pai. Ela vê pequenos mosquitos pousar na lousa suja, se alimentando dos restinhos de comida podre. Ela vê a fumaça negra subir pela carne queimando.

Sua mente fica confusa. Todos os problemas tinham sumido, então porque sua mãe chorava? Porque ela gritava que tudo estava pior depois que ela nasceu? Porque, depois de tudo, sua mãe a culpava e não culpava seu pai? A garota não entendia. Assim como não entendia porque sua mãe puxa a faca fincada, fazendo o sangue espirrar. Assim como também não entendia porque estava se levantando. Porque estava pegando a faca no chão e se dirigia pra sua mãe de costas para ela, chorosa em cima do corpo daquele homem. Porque puxara os cabelos da mulher, deixando somente alguns fios para trás, porque arqueava a faca para cima, dizendo ‘me desculpa mãe’, e depois abaixava a peça com força, atingindo-a bem no meio dos seios. E finalmente, não entendia porque estava gostando de ver sua mãe morrer enquanto sangue manchava o sutiã e a blusa branca de algodão.

Sua visão continua em câmera lenta, e agora a garota não entendia porque os policiais estavam em sua casa, com suas fardas, armas e botas, pisoteando tudo, porque um homem aproximava um aparelho e a chamava de Mental, porque a estavam levando pra fora de casa e porque não conseguia falar nada. Também não entendia porque a neve caía, se agarrando em seu cabelo e deixando sua cabeça gelada, porque os vizinhos a olhavam estranho, porque o carro da polícia estava ali com suas luzes vermelha e azul rodando.

Não entendia porque a obrigaram a entrar no carro, porque os flocos de neve grudavam na janela e se transformava em gotas, porque o carro se movimentava para longe da sua casa, e porque um policial a falava que estava tudo bem. A garota fecha os olhos.

Sua mente estava muito confusa.

Ela não entendia mais nada.

(#)

 

 

08H00MIN. CIDADE DE NOVA SÃO PAULO. ANO DE 2108

A colher tilintava no fundo da vasilha de vidro. A massa homogênea branca era levada á boca. A mulher olhava atentamente para a TV, vendo uma noticia no jornal da manhã. Na TV, o Ancora dizia:

O M.I. está fazendo um belo trabalho ao tratar das pessoas infectadas com o Mentulus, ou popularmente conhecido, Vírus da Mente. Porém, esse mal que abalou a humanidade há 43 anos não se dá por vencido, e por mais que a M.I. se esforce, não conseguiram baixar o índice de infectados. Hoje, existem um pouco mais de 20 milhões de pessoas Mentais — aquelas cujo vírus se proliferou — e esse número continua em crescimento. As Mentalmente Curadas continuam separadas do mundo, pois ainda correm perigo de vida, já que geralmente o vírus prolifera com segmentos de assassinatos, e muitas pessoas passam a fazer justiça com as próprias mãos. O governo garante que as Mentalmente Curadas estão tendo o melhor tratamento possível nesse novo programa chamado Cidades de Refugio. As Cidades de Refugio oferecem empregos novos, casa nova e vida nova. As famílias que quiserem morar com os Curados deverão fazer alguns testes entes de entrarem, mas é possível continuarem suas vidas lá dentro...

O celular da mulher vibra, e ela pega o aparelho, soltando a colher no mingau. Na tela, uma mensagem dizia: ‘Hora de Trabalhar!’ A mulher solta o aparelho na mesa e volta sua atenção a TV. Através da tela de vidro, o Ancora do jornal tinha mudado a posição, agora mostrando uma tela ao lado de si com uma foto do atual Presidente do Brasil. Ele continua.

Hoje o Presidente da Republica, Alexander Candido, fez um pronunciamento cedo da manhã dessa segunda feira, pedindo uma ajuda aos Sem Sonhos. Vamos ouvi-lo.

“Na Guerra dos Sonhos perdemos muitos soldados. Homens, mulheres, pais de famílias, filhos e filhas... Entendemos perfeitamente o motivo para não se candidatarem á serem um Mente Inversa. Entrar no sonho de uma pessoa, lutar com coisas inimagináveis, correr risco de vida por um indivíduo que nem conhece... Porém, a humanidade está passando por situações muito difíceis. Se não fizerem algo, toda a humanidade será extinta por esse vírus... E só vocês podem nos salvar. É por isso que eu venho aqui, e peço humildemente, em nome de cada cidadão desse país: Se você é um Sem Sonho, por favor, se candidate, se qualifique para salvar milhões de vida. Só vocês podem nos salvar.

Muito inspirador Senhor Presidente, pensa Scarleth. Mas pelo menos ele tinha sido sincero. Entrar nos sonhos de outras pessoas era muito perigoso. Ela sabia disso, e cada Sem Sonho também. Ter aquela vantagem sobre as pessoas normais não era lá grande coisa. O único benefício era que o vírus não podia se proliferar em um Sem Sonho, mas fora isso, o resto era a mesma coisa. Muitos dos Sem Sonhos não queriam aquele emprego porque, dentro de um sonho, tudo podia acontecer: Sua mente poderia ficar presa, poderia morrer e sua consciência parar no Limbo, condenando totalmente seu corpo, ou mesmo não conseguir cumprir a missão e ficar preso lá para sempre... Muitas possibilidades. Muitos riscos.

Mas era um risco que Scarleth aceitou correr. E era muito boa no que fazia, diga-se de passagem. Como o seu chefe vivia dizendo, a equipe Soco Doce era a melhor de toda a M.I. do Brasil Moderno.

Scarleth termina o seu café da manhã, e deixando a vasilha ali mesmo para que as moscas se alimentassem, vai para o banheiro escovar os dentes e se preparar para o trabalho. Escova retirada do armário, pasta de dente nas cerdas, dentes esfregados... Scarleth foca em sua imagem no pequeno espelho a sua frente enquanto escova o fundo da boca. Apesar de ter trinta anos, seu rosto passava a impressão que tinha no máximo vinte. Seus cabelos negros e curtos seriam um belo destaque em si, se naquele momento não estivesse tão assanhados. Seus olhos castanhos encantavam qualquer um, as sobrancelhas finas e delicadas complementando o rosto. Sua boca era pequena, lábios um pouquinho rosados se destacando na pele branca do rosto, nariz afinado. Em suma, era uma bela mulher.

Guardando a escova de dente, Scarleth agora pega o pente com esperança de conseguir desembaraçar seus cabelos, mas por algum motivo seu braço para no caminho, acompanhado de uma pequena tremedeira. Descendo pela parte de cima do dedão e se escondendo atrás da manga longa de sua camisa, uma cicatriz há muito tempo curada ainda marcava a pele. Era sempre assim. Por mais que ela lutasse, não conseguia nem sequer pentear os cabelos, ou mesmo passar algum perfume, e nem ficar apresentável para as pessoas. Por mais que tentasse, seu passado sempre a perseguia. Soltando o pente na pia como se tivesse nojo, Scarleth sai do banheiro frustrada e se dirige para o quarto.

 

O Brasil Moderno fazia jus a seu nome. A tecnologia estava agora em todos os lugares, desde casas pequenas a prédios. Pouco se via carros, motos, ônibus ou algum meio de transporte na rua. A maioria das pessoas usavam agora suas Cabines Móveis. Eram mais seguros, rápidos e iam a todos os lugares. E não se moviam por terra: eram presas por duas hastes firmes de trilhos e ferros nas laterais que às vezes chegavam à altura dos prédios. Era uma visão que toda pessoa transeunte tinha se olhasse para cima. Os asfaltos antigos ainda existiam, porém era muito difícil vê uma pessoa usá-los. Mas Scarleth fazia bom proveito.

O vento passava pelo seu rosto através da abertura do capacete. O velocímetro da moto marcava um pouco mais de cem quilômetros por hora. O barulho do motor enchia seus ouvidos como uma música para ela. Scarleth gostava disso. Gostava de sentir a adrenalina ao puxar o acelerador. De passar a marcha com o pé no mesmo momento que pressiona a embreagem. De ver as casas e as pessoas passando rapidamente como vultos e saber que aquela velocidade era porque ela queria. Tudo isso a fazia se sentir livre; liberta. Pena que agora tudo isso acabava quando chegava a entrada do M.I., a organização onde fazia parte.

Moto estacionada, descanso acionado, capacete retirado. Scarleth anda para dentro do prédio enquanto o vento tenta balançar seus cabelos emaranhados e assanhados. Por mais que os homens fantasiassem e achasse sexy qualquer mulher que descia de uma moto toda empoderada, isso não acontecia com Scarleth, e ela fazia questão de não acontecer. Para evitar olhares, ela usava uma simples calça jeans com um Tênis Feeling Star — antigo All Star — e uma blusa um pouco frouxa de mangas compridas.

Entrando no prédio da M.I., Scarleth é recebida pelos olhares de alguns funcionários transeuntes: aqueles mesmos olhares quando se olhava pra um mendigo. Ela adorava aquilo; fazia se sentir segura. Ser desejada e cobiçada era uma coisa que definitivamente não teria interesse, era mais seguro ter aquela aparência. Apesar de que, toda aquela atitude era culpa de seu passado.

O prédio da M.I. era enorme. Com vários corredores, salas, andares e escadas, qualquer pessoa que não estivesse familiarizada com o local se perdia facilmente. Cada andar servia para uma coisa: Tinha o andar da Recepção, os dos Mentais, Refeitório, Treinamento, Observação, e por fim, o andar que ela atuava: o Andar dos Mundos. Os outros andares poderiam ter acesso pela escada, mas os de Treinamento e o dos Mundos só de elevador, e depois de uma leitura de retina, coisa que Scarleth estava fazendo naquele exato momento.

Assim que as portas do elevador abrem, a mulher de rosto jovial vê varias pessoas andando de um lado a outro, alguns com papéis em pranchetas nas mãos, outros levando suas equipes para as salas de Inserção, e mais alguns que ela definitivamente não tinha contato. Ao adentrar no grande Hall, Scarleth é recebida pelo Comandante Kenneth Crunck — de acordo com seu nome preso em seu uniforme — que já a esperava.

— Bom dia Red. Linda como sempre. — claro que era ironia.

— Não preciso vim bonita para trabalhar. Não sou modelo.

— E delicada como um coice.

— Já deveria ter se acostumado com meu jeito Comandante, trabalho aqui há anos.

— E quem disse que não me acostumei? Ou você acha que é todo Comandante que deixa um Soldado lhe responder assim sem consequências?

— Quer me deixar de castigo? Deixa! Ah é, você não pode. Sou a melhor de todos aqui.

— Olha o respeito Red. Minha tolerância tem limite.

Scarleth se cala. Okay, ela tinha passado dos limites.

— Desculpa Senhor... E então, o que temos para hoje? — tentando disfarçar a mancada logo no começo da manhã.

O Comandante entrega uma prancheta com alguns papéis e Scarleth dá uma rápida olhada.

— Essa é a primeira Mental de hoje. Faz alguns meses que foi diagnosticada.

— Tudo bem. Minha equipe já chegou?

— Sim, estão esperando na Sala de Informações.

— E o novato?

— Está junto delas.

— Okay.

Scarleth se apressa mais um pouco enquanto deixa o Comandante um pouco para trás, distraída com os papéis.

— Red.

Scarleth para e se vira.

— Sim?

— Você é a melhor que eu tenho.

— Eu sei Senhor.

Scarleth dá um sorriso de canto e volta a andar. Era bom ser reconhecida de vez em quando.

 

A porta da Sala de Informação é repentinamente aberta, e logo Scarleth entra, vendo sua equipe esperarem sentados enquanto rodeiam o novo integrante temporário. Ao verem sua Capitã, todas se calam, e sem entender mais nada, o novato fica meio perdido. No início, sua Capitã não olha para o rapaz, então não vê a empolgação estampada em seu rosto, acompanhado por seu olhar esbugalhado.

— Meu deus! — fala o rapaz — Não acredito! Estou na presença da grande Red! — ele se adianta, esticando a mão em cumprimento — Senhora, é um prazer estar na Equipe Soco Doce...

— Tá tá tá. — responde rudemente — E não me chame de Senhora. Você vai estar em uma missão com a gente, só uma, então vê se aprende algo.

— Sim Senhora, quer dizer, Capitã Red.

— Ahhh! — revirando os olhos — Sua personalidade já tem nome?

— Ah, sim. É... Galante.

— Galante? Taí uma personalidade que me interessei em conhecer.

— Na verdade não é nada...

— Muito bem... — ao ver que não iria mais ter chance de falar, o rapaz volta e se senta com os demais — antes de qualquer coisa, vamos nos apresentar para o novato.

— Não precisa Capitã. Eu já conheço o nome de todas aqui e as especialidades de cada uma.

— Ah é? Então, me apresente a minha equipe.

O rapaz não entende o que ela queria dizer. Na verdade, não sabia se era sarcasmo ou teste de conhecimento.

— O que foi? — diz Scarleth — esqueceu o nome de todos?

 — Não, é que... Achei estranha a pergunta. Então, vamos ver... — ele aponta para uma moça ao lado — Aquela é a Crystine, com a personalidade chamava Vespa. Ela é a Sniper da equipe.

Crystine era uma garota muito branca, cabelos negros pintados com mechas azuis, olhar sedutor de cor verde, tamanho mediana, corpo fino e esbelto, pouco bumbum, mas com seios grandes, marcando a camisa preta.

— Você sabe por que sou chamada assim novato? É porque meu tiro é rápido, certeiro e eficaz. É como uma picada de uma vespa. Corda puxada e poc! O inimigo mal sente a picada.

— Já li alguns relatórios sobre suas missões. Aquela que você acerta o Centurião Celeste a...

— Novato, concentração. Estamos perdendo tempo.

— Ah Red, qual é! Deixa o rapaz falar.

— Você quer é se vangloriar Vespa.

— É sempre bom ter fãs.

— Então, — continua o rapaz — Maryene é a engenheira da equipe. Sua personalidade se chama Mimi...

Maryene era uma mulher grande, com expressão não amigável o tempo todo. Cabelos curtos e loiros mostrando o pescoço, um pouco musculosa para o corpo de uma mulher, enquanto um top cobria os seios por baixo de uma camiseta cavada branca e uma calça frouxa para completar a vestimenta.

—... E ela não é de falar muito. Parando pra pensar, ela não falou nenhuma vez até agora.

— E nem vai. Ninguém ouviu a voz dela. Continue.

— Tá. Aquele é o único homem da equipe, Adrian. Personalidade: Big Bear. É o suporte da equipe.

Adrian era um rapaz pequeno e delicado. Cabelos loiros lambidos para o lado, pele da cor parda e olhos azuis eram as únicas coisas que chamavam a atenção. Seu corpo não era grande nem musculoso, mas também não era fino e magro.

— Olá! — Fala Adrian.

— Ele não é a coisa mais fofa? — fala Crystine — dá vontade de apertar ele pra sempre! Vem cá meu ursinho!

Crystine dá um abraço apertado em Adrian, sufocando-o com seus seios. De repente, dois grandes braços envolve-os e os arrancam do chão, apertando os dois ao mesmo tempo. Era Maryene.

— Mimi, ai! — Reclama Crystine — Ossos quebrando, ossos quebrando!

— Por favor, alguém me tira daqui! — fala Adrian sufocando nos peitos de Crystine.

Scarleth suspira.

— Soco Doce, atenção!

Maryene solta os dois e então todos olham para sua Líder, atentos.

— E quem é você? — se referindo ao rapaz.

— Meu nome é Dillan, e... Eu não sei a minha especialidade ainda. Na verdade, sinto como se eu pudesse ser todos. É por isso que eu quero ser um Capitão...

Só agora Scarleth presta atenção no rapaz. Ele se vestia como ela: calça jeans, blusa de mangas compridas, tênis Feeling star. Os cabelos eram crespos e negros, rosto pequeno, olhos negros atrás de um óculos quadrado. Ele era da altura dela, e seu corpo era até que bonito; seus braços e tronco marcavam um pouco a camisa.

— Ser capitão não é fácil moleque.

— Esse trabalho não é fácil. Não procuro facilidade. Estou aqui pra salvar vidas, e ser capitão é um desses meios.

Scarleth fica um pouco surpresa com a resposta, mas não demonstra.

— Já entrou em um Sonho?

— Só em simulação.

— Esqueça tudo o que aprendeu na simulação. Nada é igual em um Sonho... Tem mais alguma pergunta?

— Só mais uma: porque vocês se chamam pela personalidade? Não vi em nenhum manual que isso é obrigatório.

— Mas deve ter visto que em um Sonho não podemos nos chamar pelo nome real. Qualquer coisa que levamos daqui pode influenciar lá. Qualquer coisa pode atrapalhar a missão, seja ela qual for. Uma pessoa pode ficar com a ideia da Personalidade, mas nunca, nunca, com a nossa verdadeira referência. — Scarleth se aproxima meio que ameaçadoramente — É por isso que nos chamamos pelas nossas Personalidades, para nos acostumarmos antes de entrar. Você entendeu, Dillan?

Dillan pensa um pouco antes de responder.

— Me desculpe Capitã, mas me chamo Galante.

Scarleth dá um sorriso de canto. Ele tinha entendido.

— Bem, hoje vamos salvar a mente dessa garota. O nome dela é Kimberley. — na tela atrás dela, a imagem da menina surge — Essa garota tem quinze anos, e foi encontrada á três meses na presença do corpo do pai e da mãe.

— O que foi usado para o assassinato dessa vez? — pergunta Crystine.

— Uma faca de cozinha.

— Porque tão novos? — agora é a vez de Dillan.

— Como?

— Por que o vírus se prolifera na maioria das vezes nos mais novos? E com um ou mais assassinatos?

— Ainda não se tem a resposta para isso, e não é trabalho nosso descobrir.

— Alguma pista que pode nos ajudar? — pergunta Adrian.

— De acordo com as provas, provavelmente ela e a mãe sofriam violência doméstica pelo pai, mas não sabemos por que ela chegou a matar a mãe também. Isso só vão descobrir depois de curarmos ela. No ato da prisão, ela só repetia ‘porque estão me prendendo?’ e ‘eu quero sair’ mas agora só balbucia ‘porco nojento’.

Soco Doce se entreolham.

— O resto vamos ter que descobrir. — finaliza Scarleth — vamos, tá na hora.

A equipe se levanta e sai atrás de sua capitã, que por sua vez os guia para a Sala de Inserção. Crystine se aproxima de Dillan como que não querendo nada, mais ao mesmo tempo curiosa.

— Está nervoso? — dispara ela.

— Um pouco. Estou mais é empolgado. Meu primeiro Sonho, e com a equipe que eu mais admiro! Mal posso esperar pra ver vocês em ação! Mas...

Dillan olha para Scarleth e Crystine não consegue identificar o que é.

— O que foi?

— A Capitã Red é sempre assim?

— É só o jeito dela, mas por dentro é um amor de pessoa. Você vai ver.

Repentinamente Dillan recebe duas tapinhas no ombro, e olhando para o lado, vê um ‘beleza’ de Maryene. Isso o faz rir.

           

A Sala de Inserção era uma sala totalmente branca, com suas poltronas inclinadas confortavelmente acolchoadas ao redor de uma esfera metálica brilhosa. Alguns fios eram visíveis, ligados ao capacete que se encontrava ao alto de cada poltrona. Os capacetes pareciam de vidro, com alguns finos trilhos de ouro e algumas luzes piscantes por ele todo. Dillan olha a sala maravilhado, apesar de que já tinha ido para uma daquelas na simulação. A garota ao qual entrariam em seu Sonho já estava ali, deitada em uma poltrona, com o capacete cobrindo sua cabeça enquanto dormia tranquilamente. Após a equipe se sentar e parcialmente se acomodar, um homem de jaleco branco entra na sala com cinco copinhos em cima de uma bandeja de prata.

— Bom dia Soco Doce.

O ‘Bom Dia’ sai em uníssono.

— Ela já entrou no modo REM? — começa perguntando Scarleth.

— Sim. Já faz meia hora que está imersa. Seu mundo já foi criado.

— Okay.

Scarleth pega o copinho e vê no fundo uma pílula. Aquela pílula serviria tanto para fazê-los dormirem quanto leria toda a sinapse de seus cérebros. Com um gole, todos tomam a pílula quase que ao mesmo tempo, e então, pegam o capacete e os colocam.

            Em uma sala ao lado, o homem de jaleco se posiciona na frente de um painel holográfico enquanto vê a equipe Soco Doce através da janela de vidro. Sua própria equipe se posiciona atrás dos computadores, olhando atentamente para as telas enquanto outros digitam.

— Batimentos cardíacos? — pergunta ele.

— Okay. — responde uma mulher.

— Mentes?

— As mentes estão online Senhor. — responde outro homem.

— Música?

— Ainda em processo...

No painel, aparecia um ‘Música apropriada para a Imersão, procurando...’ mas logo as palavras mudam.

— Música pronta Senhor.

— Ótimo. Soco Doce, tenham um ótimo Sonho.

(*) A música começa a tocar pelos capacetes enquanto o homem aperta em um botão flutuante com os dizeres ‘Iniciar Imersão’.

Scarleth fecha os olhos.

 

                          E ao abri-los, ela se encontrava no Mundo dos Sonhos, enquanto o vento balança seus longos cabelos vermelhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem, acompanhem e recomendem! Isso ajuda muito!

Música 1: https://www.youtube.com/watch?v=YHl1jEppvpY

Música 2: https://www.youtube.com/watch?v=XRweCXAkJbw

Música Bônus (onde Scarleth sai em sua moto pela cidade) https://www.youtube.com/watch?v=AebsJPV2ZYM


Bom, é isso, até um futuro próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mundos Surreais" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.