Meia Volta ao Mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 6
Capítulo 6




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Ao longo do jantar, Leopoldina compartilhou suas histórias da Áustria enquanto ouvia as desventuras e boas lembranças dos Bragança no Brasil, contadas tanto por João como Maria Teresa. A conversa estava tão amigável que ajudou a austríaca a se sentir mais à vontade no ambiente novo. De repente, o clima agradável foi cortado por um Pedro esbaforido que chegou à sala de jantar, com uma expressão nada feliz no rosto.

—Boa noite, gente - ele disse num tom contrariado, colocando seu prato sem cerimônia, enchendo-o de comida, sem se importar com o que sua família ou Leopoldina achariam disso.

—Boa noite Pedro, e boa noite pros seus modos que parecem ter ficado do portão pra fora - comentou Maria Teresa com sarcasmo, indignada com a atitude do irmão.

—Não me enche, Maria Teresa, a minha noite não foi nada fácil - ele reclamou, e continuou a comer.

—Imagino que não - replicou a irmã num tom desconfiado.

—Vocês poderiam ser mais educados, meus filhos? Esqueceram a nossa visita? - João pediu encarecidamente, se importando com a presença de Leopoldina.

—Está tudo bem - respondeu ela mesma no automático, ela não queria ser um estorvo na família ou tirar a privacidade e particularidade deles.

—O que foi com o seu rosto? - o pai se voltou para o filho, já que o rapaz estava com o rosto inchado e arroxeado. 

—Nós sabemos bem o que pode ser, papai - sugeriu Maria Teresa, num tom que pedia para que aquele assunto fosse esquecido por ora.

—Certo - João respondeu, percebendo a mensagem subjetiva da filha.

Leopoldina se sentiu envergonhada por toda aquela situação, constrangida por ver uma discussão que parecia ser constante para os Bragança. Certamente Pedro era um figura e tanto, desde o jeito que se encontraram no aeroporto, até sua escapadela e agora sua aparição repentina de volta. Realmente a marca no seu rosto parecia ser um baita machucado, de forma que até a hóspede se preocupou com o que tinha acontecido com ele.

Mesmo assim, ela pediu licença e saiu, com a desculpa de começar a organizar seu cronograma de estudos. Leopoldina realmente faria isso mesmo, mas mesmo se não tivesse nada para fazer, daria um jeito de sair do cômodo que tinha ficado com um clima estranho.

Assim que ela se retirou, João e Teresa se voltaram para Pedro, esperando que ele contasse de uma vez o que tinha acontecido.

—Tá bom, eu vou falar o que aconteceu, só parem de me olhar como se eu fosse um ser de outro mundo - Pedro suspirou e cruzou os braços, ainda irritado - Noemi me deu um tapa na cara e terminou comigo.

—Eu te disse que sair com aquela menina não ia dar certo - relembrou Tez - você traiu sua namorada, Pedro, o que esperava?

—Ah não me venha com sermão, você não sabe como a Noemi era - ele reclamou mais um pouco.

—Eu sei, conheci o suficiente pra dizer como ela é - respondeu Teresa firmemente - vocês eram liberais demais um com o outro, parecia que o compromisso de vocês não tinha valor nenhum.

—Não era um compromisso, era um acordo - Pedro corrigiu - podíamos ficar com quem quiséssemos, contanto que não fosse nada tão sério, e voltássemos logo a ficar juntos.

—Você tá se ouvindo, Pedro? Isso é sujo, baixo, desonesto! - a irmã se indignou, listando ofensas a esse tipo de comportamento - uma verdadeira canalhice! Você tem orgulho de ser assim?

—Você sabe que é o meu jeito, que eu sou impulsivo, que me conecto com muita gente ao mesmo tempo, que sou popular, é o meu carma! - ele deu um sorrisinho de conquistador que só indignou Teresa ainda mais.

Ela deu um suspiro frustrado, cansando daquela discussão, comprovando mais uma vez que seu irmão não tinha jeito. Se levantou, voltando para seu quarto, deixando o pai e o irmão sozinhos.

—Vai me dizer mais alguma coisa, pai? - Pedro ficou esperando mais alguma reprimenda.

—Na verdade, gostaria de falar com você quando estivesse mais calmo - João o respondeu, de forma calma e sábia.

—Ah que bom, muito obrigado - Pedro se levantou e também foi para seu quarto.

Ele estava agradecido por seu pai conhecê-lo tão bem a ponto de deixá-lo em paz quando tudo que ele queria era um pouco de sossego e calmaria. Pedro se jogou em sua cama e sem nem sequer esperar 5 minutos, estava de volta ao Instagram dando uma olhada nas suas mais novas seguidoras. Ele tinha razão, era um rapaz extremamente popular, tanto nas redes sociais virtuais como na vida social real. No entanto, aquela mesmice e repetição de ficar olhando para a tela do celular o cansou, o fazendo se atentar para a dor no rosto.

Deixando o celular de lado, Pedro foi atrás de gelo para seu machucado e foi ali na cozinha que João o encontrou, o próprio embaixador indo fazer uma boquinha uma hora depois do jantar.

—O senhor não veio até aqui pra comer mais, né? - adivinhou o filho.

—Não, queria só um pouco de chocolate, sabe que não resisto a um doce - João sorriu bondosamente, confessando sua travessura.

—Tá bem, eu não vou brigar com o senhor por isso - o rapaz riu, divertindo-se com aquela situação inusitada.

—Eu que deveria brigar com você, Pedro, mas não vou fazer isso - seu pai se aproximou dele - como disse antes, só quero conversar.

—Claro, me fala o que quiser, estou preparado pro pior - Pedro aceitou que não estava em condições de exigir nada.

—Bom, fico triste de saber que você e a Noemi terminaram, eu gostava dela, mas como a sua irmã apontou, vocês dois tinham o mesmo defeito, serem liberais demais - João contou.

—Pai, não seja tão careta comigo... - o rapaz voltou a reclamar.

—Não, você me interpretou errado, Pedro - o pai logo negou - eu queria dizer que te entendo, você é jovem, ter suas aventuras amorosas são plausíveis pra alguém que tem 20 anos, mas cai entre nós que ser infiel, perder a confiança da sua namorada, mesmo que vocês tenham um acordo peculiar, não é nada bom.

—Eu sei - Pedro suspirou, rendendo-se à razão - só que eu tenho esse ímpeto dentro de mim, essa vontade louca de conhecer cada garota possível que me interesse, sem perder aquela oportunidade, porque nunca se sabe se eu vou encontrar aquela mesma garota depois, e aí depois que nos encontramos...

—Não é nada como você imaginou - João completou - sei como é, mas será que você nunca pensou em encontrar um amor de verdade? Alguém tão importante que o faça não querer mais ninguém?

—Ah pai, eu não sei, não sei de verdade - Pedro coçou o pescoço, desconfortável - quem sabe um dia, mas não agora, como o senhor disse, ainda estou bem jovem pra pensar nessas coisas, mas eu sei que eu errei, não devia ser assim, devia me esforçar pra ser melhor, só não sei se consigo.

—Um dia, no momento certo, você vai conseguir, tenho fé em você pra isso - João garantiu, tocando o ombro do filho.

—Tem mais fé em mim do que eu mesmo, pai - Pedro deu de ombros, voltando a ser o garoto risonho de sempre.

Pelo jeito, ele e seu pai sabiam que teria que passar por muitos mais contratempos até que deixasse essa vida de conquistador para trás.


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