Meia Volta ao Mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 19
Capítulo 19




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Leopoldina, mesmo de coração partido, não perdeu o foco do que estava fazendo ali. Seus estudos eram a coisa mais importante pra ela no momento e por isso, ela se dedicou a eles ainda mais. Ela visitava o Jardim Botânico e a Biblioteca Nacional para pesquisas todos os dias, onde passava a maior parte do seu tempo quando não estava na faculdade. Não era só esse o motivo para estar passando mais tempo fora de casa. Ela queria evitar a todo custo encontrar Pedro e Domitila.

Uma vez, quando ela estava saindo do quarto para tomar um copo d'água, deu de cara com eles se beijando no corredor, tentou não fazer nenhum barulho pelo susto que levou. Apenas engoliu em seco e seguiu seu caminho. No entanto, Pedro notou o desconforto dela, mesmo assim, não disse nada no momento. Quanto a Leopoldina, ela apenas voltou ao seu quarto, tentando não chorar, focando nos estudos mais uma vez. Mais tarde, ele a procurou, o que a deixou mais abalada ainda.

—O que você quer, Pedro? - ela disse, cansada, o que o fez estranhar seu comportamento, ela raramente agia assim.

—Me desculpa, desculpa por te atrapalhar agora e desculpa por você ter visto eu beijando a Domitila no corredor, você saiu com pressa, mas deu pra perceber que você tava super incomodada - Pedro falou, realmente arrependido.

—É, você tem razão, eu não esperava tamanha demonstração pública de afeto enquanto eu só queria matar a sede, mas me desculpa, a casa é sua e eu sou só uma visita, não foi minha intenção te deixar constrangido por minha causa - ela falou sem tentar demonstrar mágoa, afinal, Pedro não tinha noção nenhuma do que ela estava sentindo por dentro.

—Ei, não fala assim, você é mais que uma hóspede, você é praticamente da família - ele sentiu que tinha que tranquilizá-la - meu pai a trata como filha, Tes adora você e você é minha amiga, Leo.

—Bom, já que tocou no assunto, não parece que eu tô sendo muito sua amiga ultimamente - ela deixou escapar, se arrependendo logo depois de dizer, fazendo uma careta que demonstrava isso.

—O que? Por que? Como assim? - ele ficou sem entender nada.

—Quer saber? Deixa pra lá, acho que eu ando muito estressada com os estudos e a saudade da minha família, só... me dá um tempo, tá legal? Dê atenção à sua namorada, se preocupe com a sua vida que eu vou cuidar da minha - ela explicou, tentando ser o mais delicada possível.

—Se tiver alguma coisa que eu puder fazer por você... - Pedro ofereceu, numa tentativa de confortá-la.

—Não, no momento não tem nada que você possa fazer - doeu para Leopoldina dizer isso olhando diretamente nos olhos dele.

—Certo - ele percebeu sua derrota e apenas saiu.

Nos dias seguintes, era como se aquela conversa nunca tivesse existido entre os dois, ou melhor, Pedro a seguiu à risca, deu atenção à sua namorada, sem mais beijá-la no corredor, mas demonstrando seu afeto por ela de outras formas, andando de mãos dadas, cochichando ao ouvido de Domitila, a fazendo rir, fazendo passeios diários e noturnos, o que os fazia voltar para casa tarde da noite. É claro que uma rotina assim repercutiu de forma ruim na vida acadêmica de Pedro. Restou a ele contar com o último recurso que tinha. Cheio de receio, bateu à porta de Leopoldina outra vez.

—Oi, Pedro - ela foi mais calma e educada dessa vez, mas ela claramente estava de saída.

—Você tá arrumada, não que nunca esteja, se tem uma coisa que você não é, é desleixada, mas você tá prestes a sair - ele constatou.

—Você daria um ótimo detetive - ela conseguiu brincar - o que você quer falar comigo?

—Bom, eu... vou precisar de mais aulas párticulares, minhas notas caíram de novo, acha que pode me ajudar? - ele pediu, quase beirando a parecer um menininho.

—E o que a sua namorada pensa disso? - ela atirou, sem pensar direito, cruzando os braços.

—Ora, ela não vai pensar nada, ela não é ciumenta, não muito, eu acho - Pedro não se preocupou, dando de ombros.

—Tá bom, então, começamos amanhã, agora se me dá licença - ela o apressou a sair da sua frente.

—Pra onde você tá indo? - ele não foi nem um pouco delicado, direto como sempre.

—Eu fiquei de encontrar com a Maria, minha amiga da faculdade hoje - Leopoldina respondeu, impaciente.

—Quer uma carona? - ele sentia que tinha que fazer algo por ela.

—Não, eu chamo um táxi, estou acostumada, mas mesmo assim, obrigada por oferecer - ela disse por fim, se apressando a sair dali.

As últimas semanas tinham sido dolorosas para ela, mas saber que ela voltaria a passar um tempo com Pedro, como faziam antes de Domitila chegar, deixou Leopoldina feliz.

Não era só isso que mudaria na rotina da austríaca. Em Santos, os pais de Domitila começaram a ficar preocupados com o tamanho da estadia dela na casa do embaixador português e cobraram sua volta para casa. Ela se desviou aqui e ali do assunto, estava claro que não queria deixar seu pequeno conto de fadas que estava vivendo ali com Pedro.

—Então, mô, tem uma coisa que eu queria falar com você - ela disse sério, mas Pedro apenas sorriu quando ela o chamou.

—O que tá pegando, Titília? - ele respondeu, ainda em tom de brincadeira.

—Eu vou ter que voltar pra casa, meus pais tão me deixando louca, tão pedindo todo dia pra eu voltar e eu vou ter que ir - ela contou sua decisão.

—Tá bom, se você tem que ir, tá tudo certo - ele deu de ombros.

—É só isso que vai dizer? - ela esperava mais.

—O que mais você quer que eu diga? Eu não vou te impedir de voltar pra casa - ele não entendeu o que mais ela esperava.

—Pedro, como fica o nosso relacionamento? - ela foi mais clara.

—Hum... Não sei, Domitila, eu não sei - ele tentou pensar numa resposta melhor - estava perfeito a gente juntos aqui, mas agora que você vai embora...

—Você vai me largar? Se separar? - ela queria uma definição nítida.

—Não isso, olha só, você volta pra casa e a gente fica livre, se um dia a gente quiser ficar juntos de novo, é só você me ligar de volta - ele propôs.

—Até que não me é má ideia, digo, eu te conheci de repente, eu não moro na mesma cidade que você, tá bom, ficamos em aberto - ela concordou.

—Em aberto - Pedro completou, dando um sorriso e depois a beijando apaixonadamente.

Era uma das últimas vezes que a beijaria assim, por isso, ele decidiu aproveitar o momento.


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