Meia Volta ao Mundo escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 1
Capítulo 1




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Leopoldina deu outro longo suspiro ao entrar no avião, mais profundo que o que tinha dado assim que colocou os pés para fora de casa, com a bagagem nas mãos. Agora, tudo parecia extremamente certo e em seu devido lugar, sua bagagem estava devidamente despachada e acomodada, ela já tinha entrado na fila dos passageiros e tomado seu assento, mas ainda assim, como era impossível de se evitar, seu coração estava em Viena.

Estava decidida a fazer essa viagem, ter a oportunidade de ser um dos alunos de intercâmbio nos estudos de mineralogia e botânica era um tremendo privilégio, algo com o qual ela tinha sonhado, explorando um mundo completamente diferente do que conhecia. No entanto, agora que estava a caminho do Brasil, seu coração estava apertado de deixar a família para trás.

Amava o pai com todas as forças e nutria amáveis lembranças de sua mãe, que havia falecido quando ela era criança. Para sua sorte, ela foi agraciada com uma boa madrasta, Maria Ludovica, por quem Leopoldina tinha real afeição. Teria saudades de Fernando, seu irmão que necessitava de cuidados especiais por suas condições de saúde, mas ele ficaria bem, toda a família cuidaria dele. E é claro, ela afastava os pensamentos de só imaginar que estaria longe de Maria Luísa, que não estaria com ela todos os dias, e de que ela não estaria ao seu lado. Era apavorante, mas Leopoldina tinha decidido crescer, escolher aquela aventura pela oportunidade de conhecimento e aprendizagem.

Assim, seu avião finalmente levantou voo, e o frio na barriga tomou conta dela, era isso que estar nos céus e iniciar a viagem causava.

"Seja o que Deus quiser" ela pensou, começando uma oração curta em pensamento, desejando que tudo desse certo.

—_______________________________________________________________________________

O avião levaria cerca de 6 horas para chegar ao Rio de Janeiro, e mesmo com todo esse tempo, Pedro ainda chegou atrasado ao aeroporto. Tinha seguido as recomendações do pai, por mais que estivesse relutante em fazer o que lhe foi pedido.

A família Bragança, mais especificamente seu patriarca, Dr. João Maria de Bragança e Bourbon, esperavam a chegada da jovem Leopoldina Habsburgo, uma arqueóloga recém formada, que tinha se inscrito em um dos programas da sua faculdade para um intercâmbio no Brasil, catalogando novas possíveis descobertas nas áreas de mineralogia. Sabendo disso, o Dr. João deixou seu lar disponível para receber e abrigar um aluno, e sua casa não era um lugar comum. 

Ele era o embaixador de Portugal no Brasil, e estava nesse cargo há quase dez anos fazendo o melhor na área de diplomacia e mantendo as boas relações com os dois países, seu escritório e a embaixada ficavam na mesma área de sua casa, uma grande propriedade, a Quinta da Boa Vista. Era ali que Leopoldina se hospedaria nos próximos dois anos.

Enquanto isso, por mais que Pedro estivesse preocupado com os assuntos da família, ele raramente demonstrava interesse nos assuntos diplomáticos. Por um lado, tinha aceitado estudar Relações Internacionais, esperando agradar o pai e deixá-lo mais calmo quanto ao futuro do filho. Eles precisavam de um pouco de esperança após alguns desastres terem acontecido na família.

Os pais de Pedro tinham se separado quando ele era criança, o que o deixou devastado, mas mesmo assim, sua decisão em ficar com João foi imediata. Carlota, sua mãe, sempre foi temperamental e difícil, e entre os dois, Pedro preferia o pai, diferente de seu irmão Miguel. Ele e Carlota voltaram para a Espanha, enquanto Pedro, o pai e a irmã Maria Teresa ficaram em Portugal. Ainda assim, as crianças visitavam o pai e a mãe de tempos em tempos.

Justamente por sua relutância com diplomacia era que Pedro estava um tanto distraído com as instruções do pai em buscar Leopoldina pessoalmente.

—Não entendo porque eu tenho que ir quando temos um motorista pra isso - contestava o jovem, teimoso.

—Eu sei, mas vai ser muito melhor ela conhecer alguém da família logo de cara, vai ser mais fácil pra ela já ir se acostumando conosco - explicou o Dr. João - e você pode ajudá-la a se orientar, deve ser difícil para ela entender português.

—Tá bom, só me diz o nome dela e o dia e hora que vai chegar - Pedro pediu em tom de reclamação.

Por estar mal humorado e distraído, cedendo mais à má vontade, Pedro mal compreendeu o nome da aluna, anotou "Carolina Habsburgo" e que ela chegaria por volta das 4 da tarde. Ainda assim, Pedro saiu de casa às 4:30, o que causou desespero em Leopoldina.

O avião dela tinha sido bem pontual, e agora ela vagava pelo aeroporto, tentando buscar informações sobre o embaixador de Portugal, que pelo jeito, ninguém conhecia. Por um momento, quis parar em um canto e ceder ao desespero, mas não poderia desistir, não poderia simplesmente ficar parada, tinha certeza de que o embaixador não a deixaria ali sozinha, e que uma hora ou outra, ele a buscaria.

Durante a andança de Leopoldina, Pedro buscava informações também, mas sobre o último voo que tinha chegado de Viena, confirmando o seu extremo atraso.

—Meu pai vai me matar! - ele constatou sozinho, temendo a tremenda consequência que poderia vir por ser tão desleixado.

Ele deu mais uns passos errantes, andando no meio de tantas pessoas que tinham acabado de desembarcar, e por sua falta de atenção acabou esbarrando numa moça.

—Ai! - ele a ouviu a dizer - será que o senhor não poderia prestar mais atenção por onde anda?

Pedro responderia à altura, mas o sotaque dela chamou sua atenção. Recuperando-se do susto, a moça voltou seus olhos para a placa de identificação nas mãos dele, lendo claramente "Carolina Habsburgo". Aquilo a deixou levemente irritada, tinha deixado claro o seu nome nos formulários e documentos que tinha preenchido. Mesmo assim, ela retomou sua compostura, vendo que aquele rapaz era quem tinha vindo buscá-la.

—Me desculpa por isso, é que eu tava com pressa, mas não fiz de propósito, tá? - ele tratou de deixar bem claro, também irritado.

—Acredito que o senhor está à minha procura - Leopoldina disse, olhando para o rapaz alto à sua frente.

—Você? Eu não entendo, moça, eu realmente estou procurando uma pessoa, mas não sei se você a conhece - Pedro ainda estava confuso.

—Ah então, seria a Carolina Habsburgo? - ela olhou de forma acusatória para a placa - eu sou ela, mas acho que você quis dizer Leopoldina Carolina Josefa Habsburgo.

—Ah era Leopoldina, não Carolina! - ele se frustrou com o erro - eu sou um idiota mesmo, tava todo distraído quando meu pai falou comigo, mas desculpa, eu tendo a falar demais.

—Deu pra ver - Leopoldina cruzou os braços e quase revirou os olhos.

—Então - Pedro limpou a garganta - eu sou Pedro Bragança, filho do embaixador João Bragança, ele pediu que eu buscasse a senhorita.

—Bom, depois desse esclarecimento posso dizer que é um prazer conhecê-lo, Herr Bragança - ela apertou a mão dele.

—Não, não - Pedro não pôde deixar de sorrir - não precisa de formalidades, só me chama de Pedro.

—Tá legal, Pedro - ela disse o nome tentando se acostumar com a informalidade.

Eles terminaram aquele encontro desastroso se dirigindo até a Embaixada de Portugal. Agora, a jornada de Leopoldina no Brasil começava pra valer.


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Notas finais do capítulo

Bem, bem, bem... Minhas ideias de AUs atacam novamente.

Eu vinha estudando a Imperatriz Leopoldina há um tempo atrás, porque ela faz parte de uma outra história minha, mas aí eu acabei empolgando, pesquisando mais sobre o Dom Pedro I também, e pensando como as coisas seriam diferentes no Brasil se eles tivessem uma vida mais feliz. Bom, essa é a minha tentativa de imaginar isso.

Os personagens são mais baseados no que estudei sobre eles historicamente, mas é claro que tem uma leve inspiração da novela Novo Mundo.

Espero que gostem da minha ideia maluca, não deixem de acompanhar e comentar. Até o próximo capítulo.



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