Quando vou dormir escrita por Rodrigo Salter


Capítulo 7
Sexta carta




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Escrito em 09/11/2018

Uma segunda carta na mesma noite. Meu Deus! Acho que hoje alcancei o fundo deste poço.

Sentei-me nesta cadeira cedo da noite, levantei-me apenas para mijar, e ainda continuo aqui. A perna esquerda está meio dormente, assim como eu, assim como meus pensamentos.

Eu costumo sentar-me no meu quarto, deixo acesa apenas a luminária de mesa, e fico no silêncio. Hoje, por milagre, quis ouvir uma música para encher a cara. Com sorte desmaiarei na cama e não enfrentarei problemas para dormir.

Por mais que eu já tenha lhe dito para não pensar que sou um old-fashioned man, hoje estou me sentindo um. Você lembra de quando estávamos no seu quarto, acho que recém havíamos completado um mês juntos, e eu puxei você para dançar lento “Squeeze Me”, da Diana Krall? Pois bem, garota, é o título que estou escutando agora e estou mergulhado em memórias. Incrível como uma música pode nos levar ao passado, não é? Neste instante, enquanto trago o meu terceiro cigarro e bebo a... quinta (?) dose de conhaque, eu sinto as suas mãos apoiadas em meus ombros, sinto a sua cabeça encostada no meu peito, recordo do perfume dos seus cabelos e recordo dos seus passos atrapalhados que esbarravam vez e outra nos meus pés.

Quando a música acabou, trocamos um papo e você me mostrou o seu violão esquecido no fundo do roupeiro. Eis, então, quando a surpreendi: eu afinei as cordas, as dedilhei e nós nos sentamos no chão, frente a frente. Eu toquei e cantei para você “Can’t Help Falling in Love”, do Elvis Presley. Você chorou emocionada, me encheu de beijos que eu amei e pediu por mais músicas.

A verdade, garota, é que eu cantaria quantas vezes você quisesse apenas para ser o causador do seu sorriso.

Caralho, como eu sinto falta do seu riso.

Se eu ligar agora, você irá me atender?

Eu vou ligar!

        

 

Pessoas bêbadas tem as piores ideias possíveis, juro.

Liguei para você por chamada de vídeo. Porra, garota, por que você aceitou a ligação?

Agora estou aqui, sozinho no meu quarto, (ilegível)... você.

Bebida alguma irá me apagar esta noite porque você sempre possuiu o poder de me manter desperto.

O meu acompanhante agora é o fantasma do seu sorriso.

Estou com saudades, garota.

Estou com saudades da nossa conversa fácil, das nossas gargalhadas, dos seus beijos desjeitosos e apurados, estou com saudade do nosso... namoro?

Deus do céu! Eu recém percebi que nunca a pedi em namoro!

Logo você, uma garota sonhadora.

Mas eu nunca fui um homem dos sonhos, nós dois sabíamos disso. Era apenas uma questão de tempo até eu foder com tudo.

Eu me prendo em nossos detalhes. 

Eu sinto a sua falta.

Você sente a minha?

Espero que não.

Eu sequer mereço ainda poder conversar com você, como acabamos de fazer por vídeo-chamada.

Sei que você não gostou de me ver bêbado e, ainda por cima, fumando.

Mas eu sou assim, garota.

E eu não presto.

Hoje estou me sentindo arrependido e, merda, o arrependimento é um comprimido amargo de engolir. Eu queria ter feito diferente, mas não posso voltar. Eu quero fazer diferente, quero ir bater na porta da sua casa novamente, quero despejar todos os meus sentimentos em você, quero beijá-la... Puta merda, garota, como eu quero beijá-la. Desejo tocá-la, passar as mãos pelo seu corpo tão único perante minha concepção, quero mergulhar de cabeça em você.

Mas... não. Você sempre mereceu alguém melhor que eu.

Portanto, tenha em mente uma única coisa, garota: tudo é apenas uma breve questão de tempo.


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