Dinastia 1: O Sonho Real escrita por Isabelle Soares


Capítulo 2
As duas faces de Edward




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À medida que chegávamos perto da Abadia de Northanger, onde tudo começaria, o número de pessoas aumentava e a euforia também. Eu deveria estar acostumada com todos esses gritos, mas não estava e acho que nunca estarei. Eu era muito tímida e me sentia tão pequena diante de todas as expectativas que eles tinham de mim e Edward. E eu só esperava estar fazendo a coisa certa.

Olhei para o meu pai mais uma vez e sua expressão era nervosa. Ele também era muito tímido e eu meio que me sentia culpada por arrastá-lo para esse mundo também. Não existia pessoa mais simples do que Charlie Swan em toda Belgonia. Ele vivia com tão pouco e parecia feliz em ser apenas o chef de polícia Swan, sem grandes ambições. O fato de eu estar entrando para a família real deveria ser assustador pra ele e mais ainda o fato de estar, tecnicamente, me perdendo.

— Bella, eu quero que saiba que nunca estarei longe de você. Se por acaso tratarem você mal ou se cansar desse negócio de realeza... Simplesmente me procure. – disse ele na noite anterior.

— Pai, você não vai me perder. Eu sei que isso pode parecer outro mundo, mas não é. Eu sempre serei a sua Bella com coroa ou não.

Ele me abraçou e eu fiquei surpresa. Meu pai não era de expressar emoções. Ele deveria estar muito emocionado. E de repente aquela velha culpa voltou a mim. Eu nunca tinha dedicado tanto tempo ao lado dele como ele merecia. Eu morei praticamente a minha vida inteira com a minha mãe no outro lado do mundo. Vinha a Belgonia nas férias que para mim mais parecia um exílio. Só decidira voltar a morar no país onde nasci quando estava no último ano do ensino médio. Minha mãe se casara novamente com o Phil, um cara bem mais jovem, e eu achava que estava incomodando de alguma forma à vida dos dois e Charlie era minha única saída. E ele me recebera de braços abertos como uma filha pródiga.

Morar com ele era como ter a minha própria casa, ele sempre muito silencioso não me cobrava tantas palavras e eu amava isso. Sobrevivíamos apenas com o salário dele da polícia e com um pequeno dinheiro que eu ganhava como vendedora numa loja de artigos esportivos. Nossa casa era pequena, mas confortável. Era antiga e lá tinha todas as lembranças de minha vida, minhas curtas estadias nas férias e um corredor de fotos minhas em todos os estágios do meu crescimento. Mas mesmo com todas as limitações que tínhamos, eu sentia que aquele pequeno lugar era o meu pequeno refúgio e lá era onde eu encontraria uma vida tranqüila cheia de paz.

Lembro como foi difícil para mim quando fui morar na Universidade. Deveria me adaptar uma nova vida novamente e eu particularmente odiava mudanças, porém aceitei tudo sem reclamar, pois eu sempre tive a faculdade na minha lista de prioridades e tinha trabalhado bastante para arrecadar fundos para poder estar lá. Quando entrei no táxi com as minhas malas para morar no campus foi um lamurio. Eu me sentia emocionada por deixar a minha casa mais uma vez e viver oficialmente por conta própria. Sabia que tinha uma longa aventura pela frente. Até o meu pai se sentia meio triste, embora não quisesse demonstrar, mas eu sabia que ele sentiria a minha falta. Eu serei forte, pensei, já passei por mudanças piores e essa será apenas um passo para a minha sonhada independência. Engoli o choro e respirei fundo.

Logo no primeiro dia, eu tivera a sorte de conhecer Edward e ter Angela Weber como companheira de quarto. Angela era incrível, doce e esforçada. Ela era como eu no quesito timidez e só se metia onde era chamada. Então, não foi uma surpresa quando ela nada perguntou o que tinha acontecido comigo após a bendita aula de literatura regional.

Entrei no meu quarto como se entrasse num esconderijo. Pensava em Edward mais do que desejava. Isso nunca havia acontecido comigo antes e eu me perguntava se o fato de ele ser um príncipe causava todo esse efeito em mim. Mas não... Eu via em Edward algo mais... Algo como uma pessoa dotada de um espírito único. Um cara aparentemente inteligente, dedicado e lindo. De repente, era como se eu visse a minha vida inteira ao lado dele. Muitas histórias diferentes passavam na minha cabeça, todas elas eu feliz ao lado dele. Isso era errado e eu sabia disso. Como poderia ser possível? Eu apenas o tinha conhecido agora?! Joguei o travesseiro para longe com frustração e acabei chamado à atenção de Angela.

— Algum problema Bella?

— Não... quer dizer... Eu estou apenas sendo boba.

Ela parou o que estava fazendo no computador e foi até onde eu estava.

— Bella, eu sei que a gente se conhece há pouco tempo, mas quero que saiba que quero ser sua amiga mais do que companheira de quarto. Se quiser conversar comigo pode ficar a vontade.

Olhei para ela e avaliei todas as opções. Ela parecia confiável.

— Você já pensou muito numa pessoa que você mal conhecia?

—Bom... Acho que sim. Quando eu conheci o Ben foi assim... Eu ficava pensando nele o tempo todo, mas não tinha coragem de dizer para ele. Graças a Deus ele também sentia o mesmo por mim. Por quê? Conheceu alguém?

— Não... Não é ninguém.

Ela olhou bem para mim como se estivesse me avaliando. É claro que ela também havia reparado a minha tamanha “sorte” em sentar ao lado do príncipe Edward na aula hoje. Todos haviam notado, mas Angela talvez fosse discreta o suficiente para não ficar me importunando para saber mais a respeito.

— Ok... Seria loucura dizer que eu estou pensando muito numa pessoa muito inacessível?

— Desculpa a intromissão, mas você fala do Príncipe Edward?

— Mais ou menos...

— Isso não é loucura. – disse em meio a risos. – Quer dizer, todas nós já sonhamos com o Príncipe Edward um dia... Eu mesma sonhava que teria o meu primeiro beijo com ele quando eu tinha 12 anos! Isso é loucura! Imagina! Eu? Mas ele meio que já perdeu a novidade para nós por que estamos o vendo sempre na TV e o conhecemos desde que ele nasceu. Porém, para você acho que as coisas podem ser um pouco diferentes, não é?

— É. Eu cresci nos Estados Unidos e lá a nossa realeza são as celebridades. Eu nem mesmo o conhecia até hoje.

— Imagino qual deva ter sido a sua reação, mas eu lhe dou um conselho Bella, não pense muito nele. Por que como você mesma disse, ele é inacessível e você pode se machucar.

— Eu sei. É só bobagem minha.

Ela sorriu e acrescentou sorrindo mais uma vez:

— Mas ele não é uma belezura?

— Magnífico. – Eu disse sorrindo também.

Pensei em Angela, ela deve estar na Igreja agora aguardando a minha chegada como todos os outros. Sempre quando penso nela é com carinho. Ela foi uma das poucas amigas que tive no tempo da faculdade e que resistiu depois do meu relacionamento com Edward e a única que me foi fiel. Serei eternamente grata aos seus sorrisos, conselhos e apoio em todas as horas dessa grande loucura que entrei.

Olhei para fora da janela novamente. Deveríamos estar bem próximos por que o número de pessoas era inexplicavelmente grande. Senti um embrulho no estomago. Minha hora estava chegando e eu ainda me perguntava se tudo aquilo era real ou um sonho maluco. Mas as pessoas acenando e gritando lá fora me diziam que não. Eu faria parte da realeza em breve.

...

— Droga! Tenho um milhão de coisas para fazer no trabalho hoje! Não sei por que a gente tem que trabalhar? É nessas horas que eu queria ser o príncipe Edward ou qualquer um da realeza e ficar sem fazer nada usando belas roupas. – disse Jéssica zangada mais uma vez enquanto chegávamos ao refeitório.

Confesso que mesmo com alguns dias na faculdade já sinto o peso do cansaço de ter que trabalhar e estudar. Não que eu achasse ruim, eu sempre fiz questão de batalhar para conseguir um dinheirinho meu e não ter que depender dos meus pais, para mim mais valia um trabalho duro do que uma vida de luxo vazia. Mesmo com esse peso, deveríamos dar duro se quiséssemos nos manter aqui e sempre economizando hoje para garantir o amanhã.

Olhei para Edward no outro lado do salão e pensei no que Jéssica dissera: será que era mesmo fácil viver na realeza? Será que era mesmo só glamour? Eu pensava que não. Depois de todos os escândalos e histórias que ouvimos falar ou vimos de perto em outras famílias reais que me faz não ter tanta certeza.

— Falando em príncipe Edward... – Jéssica iniciou. – Como você é sortuda, ein? Tinha que se sentar logo perto dele.

— Sorte eu nem sei. Ele me parece uma pessoa normal.

— Ai Bella! Você é muito estraga prazeres? Onde já se viu? O príncipe Edward ser uma pessoa comum?

— Você é que está fascinada demais por ele.

Jéssica riu alto chamando à atenção de todos no refeitório e começou a se abanar.

— Queridinha todo mundo é fascinada por ele. Ai como eu queria aquele homem na minha cama...

Revirei os olhos e virei à cara. Isso era um completo absurdo!

— Então, galera como vão às coisas? – Mike perguntou enquanto se unia à mesa com a gente.

Mike Newton era um calouro como a gente, talvez o mais popular do nosso grupo. Era loiro, alto e tentava ser sempre engraçado. Ele era agradável e irritante quando estava sempre perto de mim como um cachorrinho e isso sempre causou um alvoroço em Jéssica que o desejava apesar dos constantes desejos pelo Príncipe Edward. 

— Ei Mike. – falamos

— Eu estava pensando... Por que a gente não faz uma festa pra celebrar a nossa chegada a Universidade. Ai a gente poderia conhecer melhor a galera daqui.

— Eu acho ótimo! Adoro festas! – celebrou Jéssica.

Festas. Como eu odiava festas e muita gente. Olhei para a cara de animação deles e fiquei pasma com a aceitação até de Angela. Jesus! Que tortura! Quanto mais eu pudesse evitar esse tipo evento eu evitaria.

—Então, Bella, você está dentro? – perguntou Mike enquanto se aproximava de mim.

— Eu não sei Mike... Tenho um milhão de deveres pra fazer.

— Ah qual é Bella? Vai ser legal! E eu queria muito que fosse. – ele disse quase sussurrando no meu ouvido e eu senti o calor da raiva de Jéssica em mim.

— Eu sei Mike, mas acho que não vai dá mesmo.

— Eu disse, Mike, ela é estraga prazeres.

O sinal tocou e eu me levantei num rompante. Salva pelo gongo!

— Espere Bella! Eu te acompanho.

— Não precisa Mike. Bella sabe o caminho. – disse Jéssica explodindo de ciúmes.

— É Mike não precisa...

— Hum Hum.

Virei e vi Edward parado atrás de mim. Quase caio de tanto susto. Os outros pareciam perplexos demais para qualquer coisa.

— Com licença. Incomodo?

—Não... – Jéssica disse quase engolindo as palavras.

— Edwar... Quer dizer, Príncipe Edward, o que faz aqui? – perguntei sem jeito.

— Posso falar com você?

— Sim.

Caminhei na frente e ele me seguiu. Eu sabia que ficaria encrencada por isso. Jéssica não me deixaria em paz nunca mais.

— Sim?

— Eu queria saber se está livre essa tarde?

— Bom... Eu trabalho até as cinco, mas depois disso estou livre. Por que?

— Pensei em tomarmos um café juntos... Quer dizer, para podermos colocar o trabalho em dia.

— Sim, é claro! Como quiser. Encontro você onde?

— Não. É melhor eu lhe buscar em seu quarto. O lugar que vou levá-la não é conhecido por você.

Gelei. Onde poderia ser? Por que ele estava fazendo tantas reticências? De repente senti um frio na barriga inexplicável. Fique olhando no fundo dos olhos dele tentando decifrá-lo, mas claro que eu era ruim demais nisso. Os lindos olhos azuis dele só me diziam coisas agradáveis...

— Posso acompanhá-la até a sala de aula?

— Claro.

— Então... Parece que você não se divertia tanto com o que os seus companheiros diziam.

— Eles falavam de uma festa qualquer que eles estão querendo fazer.

— Festa? Ham! O programa favorito de todos os caloiros.

— Pode ser, mas para mim não.

— Desculpe-me a intromissão, mas... Por que não?

— Eu detesto festa. Eu nunca me sinto bem perto de muita gente, música alta e bebida. Eu nunca sei como agir. Eu meio que sou uma aberração...

— Não diga isso. Não acho você uma aberração.

— Para você deve ser fácil, afinal um príncipe deve ser convidado para vários eventos.

— Sim, é verdade, mas isso não significa que eu goste de estar em todos eles. Eu encaro como uma obrigação na maior parte do tempo.

Olhei para ele um pouco surpresa. Na minha concepção os príncipes e princesas eram sempre muito egocêntricos, mas ele parecia sincero ao me dizer isso. De alguma forma, Edward era muito diferente do estereótipo e do que as pessoas pensavam dele. Isso me intrigava muito.

Mais uma vez, a aula não conseguia chamar a minha atenção por que obviamente Edward parecia muito mais interessante para mim e toda essa curiosidade a respeito do lugar onde ele me levaria estava me matando. Não acredito que eu vou ter que esperar uma tarde inteira!

Edward parecia estar um pouco mais atento do que eu. Olhava para o professor fazia anotações, mas de vez eu quando desviava o olhar para mim e sorria e é claro que eu me desmanchava toda com isso. Como isso é possível? No máximo ele achava que eu era apenas mais uma garota ao redor dele. Eu é que estava sendo boba e alimentando sentimentos idiotas a respeito dele.

No fim da aula, ele pegou os livros dele e os meus e me acompanhou até a minha próxima aula antes mesmo que eu protestasse e eu nem iria.

— Te vejo às cinco! – ele disse enquanto se dirigia para a sua próxima aula.

Eu só consegui balançar a cabeça e entrar na sala, mas ainda anestesiada com a presença dele. Angela estava nessa disciplina comigo e quando me viu apenas sorriu sem dizer nada, ela era muito descente para isso, mas eu sabia o que ela estava pensando, não só ela, mas o que todos estavam pensando! Andar com Edward atraia uma atenção indesejada e incompreensiva pro meu lado.

Mais tarde, dei um jeito de sair mais cedo do trabalho para que eu pudesse estar mais apresentável para quando o príncipe Edward aparecesse. Olhei para as roupas que eu tinha trazido e tudo estava deplorável demais. Sentei na cama desolada. Angela olhou para mim já desconfiando do por que de eu estar assim.

— Por acaso eu posso ajudar?

— O príncipe Edward vem aqui para podermos começar o nosso trabalho de literatura regional e eu não tenho nada de adequado para vestir.

— Entendo a sua preocupação. Eu tenho algumas roupas aqui não sei se são melhores que a suas, mas acho que podem servir.

Aceitei de bom grado e me espantei com o fato de ela ter um gosto tão bom para roupas. Acabei escolhendo um vestido azul bem soltinho, afinal estava muito quente e eu não queria ficar desconfortável na frente dele. Angela me ajudou a vesti-lo e a arrumar o meu cabelo. No fim, eu estava bem mais apresentável do que eu esperava estar.

Ouvimos umas batidas na porta e eu andei devagar até ela para parecer que eu não estava tão animada quanto parecia e quando a abri, o meu coração deu um salto. Como se segurar quando você já estava completamente perdida em seus sentimentos? Eu me perguntava se isso poderia acontecer tão rápido ou estava sendo apenas boba.

— Boa tarde! – ele disse sorrindo para mim e Angela.

— Boa tarde!- respondemos juntas.

— Bella, você está pronta?

— Sim vamos.

Ele riu e pegou na minha cintura como se isso fosse algo mais natural do mundo. Seguimos até um carro preto com vidro fumê estacionado nos fundos do estacionamento. Isso realmente era impressionante! Não sabia que príncipes andavam em carros comuns. Ele abriu a porta para mim e eu entrei. Dentro havia um motorista nos esperando.

— Você parece surpresa.

— Um pouco.

— Só ando no carro do palácio em eventos especiais, ele chama muita atenção e hoje eu não quero ser um príncipe apenas um estudante saindo com uma amiga.

Sorri meio tímida. Será que ele era sempre assim?

— Eu não quis ser intrometida.

— Não está sendo. A maioria das pessoas pensa a mesma coisa. Mas eu não preciso e nem quero estar na pele real o tempo inteiro. É bom ser só o Edward de vez em quando.

— Não julgo e nem tenho o poder para isso. Eu realmente não tenho idéia do que é ser você e nada relacionado à monarquia. Eu cresci num mundo onde isso é só contos de fadas e ser príncipe é muito fácil.

— Em alguns momentos é mesmo. Mas não posso abusar.

Ele ficou pensativo por alguns instantes e eu aproveitei para olhar a paisagem lá fora. Ele parecia estar sendo tão sincero e eu me perguntava o por que disso. Eu sentia que ele precisava se libertar e ser um pouco outra pessoa que não fosse o Príncipe Edward. Mas por que comigo? O que eu tinha de tão especial para ele? Isso era uma grande incógnita para mim.

— Não se preocupe, estamos chegando.

E estávamos mesmo. Logo paramos em frente a uma casa bem charmosa e que eu não fazia idéia de quem seria e o que isso teria a ver com o nosso trabalho. Descemos do carro e Edward apertou a campainha. Um homem alto, barbudo veio nos atender com uma grande cara de surpresa.

— Sua Alteza! Que surpresa!

— Por favor Joseph sem formalidades.

— Tudo bem. Entrem por favor.

Entramos e eu fiquei encantada com o que tinha dentro. Parecia que eu estava entrando numa casa de outro século por causa do vários móveis antigos que tinham lá, mas o que mais me chamou atenção mesmo foi à porção de livros que tinha em todos os lugares. Essa casa era o paraíso!

— Permita me apresentá-lo. Essa é Isabella, minha colega de classe. Isabella, esse é Joseph Mathews.

— Joseph Mathews? O autor dos livros que estamos estudando? Sério?

Eles riram de minha total surpresa e eu não sabia o que fazer. Eu tinha começado a ler os livros dele recentemente e estava gostando bastante. Nem acreditava que aquele homem estava bem na minha frente agora.

— Desculpa. Eu simplesmente estou sem palavras. – Falei ainda nervosa. – Por que não me disse que conhecia escritores famosos?

— A minha posição me dá certos privilégios, eu lhe disse. Mas Joseph é mais do que um conhecido para mim, ele é um amigo.

— Eu conheço o príncipe desde que ele era um rapazinho.

— E depois disso virei ainda mais fã de literatura.

— Que orgulho saber que eu influenciei a isso.

Ambos riram e Joseph nos convidou a sentar. Edward parece tão à vontade com ele que nem parecia ser a mesma pessoa.

— Então a que devo a honra?

— Temos um trabalho da faculdade que precisamos fazer e você pode nos ajudar muito nisso.

— Então mãos a obra.

Foi realmente um prazer poder conversar com um autor de livros de verdade e ainda mais com um autor pelo a qual gosto muito. Ele nos contou com tanta vivacidade suas experiências como escritor, suas inspirações, vivencias e truques. Foi simplesmente fascinante! Anotei tudo de mais importante e percebi que Edward parecia estar pouco preocupado com isso. Joseph parece ser bastante conhecido dele mesmo, pois ele o deixa bem mais a vontade e falante.

Quando já estávamos quase prontos para ir embora, tive a chance de ficar a sós com Joseph e não consegui conter a minha curiosidade.

— O príncipe Edward parece gostar muito de você.

— Sim, nos conhecemos há muito tempo.

— Ele parece ficar muito a vontade quando está ao seu lado. Pelo pouco que eu o conheço, nunca o vi falando e nem sorrindo tanto.

— Eu conheci Edward quando ele tinha uns 14 anos. Ele sempre foi um menino tímido e nessa época ele estava um pouco abalado com toda essa agitação que foi quando o pai dele virou o rei. Acho que eu o ajudei um pouco a ser mais confiante e mais sociável.

Tentei imaginar a cena e não era difícil de acreditar que o príncipe fosse tudo isso. Ele me parecia ainda está meio perdido no meio de toda essa loucura e louco para poder quebrar um pouco a casca.

— Ele também fica muito a vontade com você. Sinceramente, eu nunca vi Edward se preocupar tanto em agradar uma mulher antes.

Corei e fiquei imaginando se aquilo era mesmo verdade. Edward deveria ter tido um milhão de namoradas.

— Nós somos apenas colegas de classe. – adiantei. – Acho que ele está apenas curioso a meu respeito e também está sendo bastante gentil me apresentando as coisas boas de Belgonia.

Antes que ele pudesse responder, Edward surgiu na sala ainda sorridente.

— Alguma coisa importante? – Joseph perguntou a ele.

— Não. Era apenas a minha mãe me dizendo que Alice não me perdoará se eu não presenteá-la no seu aniversário e olha que ainda falta um pouco mais de um mês. Ela vai me matar se eu esquecer.

Ambos riram e eu me perguntei quem era essa Alice. Edward olhou para mim com um sorriso que o deixava ainda mais lindo.

— Vamos Bella. Acredito que já tomamos bastante tempo de Joseph.

— Não diga isso! Você sabe que eu adoro visitas.

— Vou lembrar disso.

Eles deram um abraço e Joseph beijou a minha mão como um cavalheiro. Deixamos a residência e entramos no carro. Edward pôs um boné e uns óculos escuros. Eu fiquei me perguntando o porquê disso já que já estava quase escurecendo.

— Por favor John, nos deixe no Bistrô.

— Prometi que iríamos tomar um café e iremos.

Quando chegamos, ele fez questão de escolher o lugar mais discreto de todos no pequeno lugar. Ele deveria estar rezando para não ser reconhecido. Eu sei que mesmo não sendo paparazzis, as pessoas comuns podem ser bem cruéis também.

— Então, o que achou de Joseph?

— Eu achei maravilhoso. Ele é um escritor muito bom e parece ser bem gentil também. Fiz algumas anotações que poderão ser úteis para o nosso trabalho.

— Ótimo!

A Garçonete chegou e perguntou o que queríamos. Não pude deixar de notar que mesmo ele estando disfarçado, ela pode notar a beleza dele.

— Bella? Alguma coisa em especial? – ele perguntou chamando a minha atenção.

Dei uma olhada rápida no cardápio e pedi o primeiro que vi.

— Um cappuccino e um brownie.

— O mesmo.

A garçonete saiu hiperventilando e eu até senti pena da pobrezinha. Não era fácil estar perto de um homem como Edward sem se desmanchar toda. Eu mesma não estava conseguindo manter o controle. Em alguma hora eu iria falar alguma besteira, por que eu realmente não sabia o que fazer.

— Por que não disse que tinha um amigo escritor? Isso facilitaria muito as coisas, principalmente para você.

— Eu não queria estragar a surpresa. Sua cara diante dele foi impagável.

— Engraçadinho! Imagino que cara você faria se estivesse no meu lugar.

— Não melhor do que a sua.

Rimos e ele pegou o meu caderno de anotações para dar uma olhada. De repente a vergonha dos meus rabiscos me bateu como um soco, mas ele parecia não se importar, ou era educado o bastante para disfarçar.

— Você é muito observadora Bella. Suas anotações são muito profundas. Está na carreira certa. Me sinto um derrotado diante de você nesse trabalho.

— Você mente bem.

— Não estou mentindo. Você tem talento para escrever, embora isso seja apenas algumas observações dá para perceber a sua habilidade.

— Você é muito gentil.

Ele sorriu e pegou a minha mão. Corei até a alma com esse gesto. Ele deve ter observado por que deu um sorriso e olhou bem nos meus olhos.

— O que pensa quando me vê? Quer dizer... Sem o óbvio. Como você me avalia?

— Que? – me fiz de estúpida.

— Quero que use suas habilidades em mim.

Olhei bem para ele e quase vi sua alma. Aliais, há muito tempo eu vinha percebendo. As pessoas não o viam da maneira correta, apenas como um príncipe bonito, mas havia mais, muito mais.

— As pessoas não te vêem da maneira correta sabia? Por fora temos um príncipe que embora esteja disfarçado agora não consegue deixar de fazer as garçonetes hiperventilarem. Mas há outro disfarce. Outro que você se esforça muito para manter e até tem sucesso com muitos. Por trás desse título há um homem inteligente, extremamente curioso, porém muito tímido e que se esforça muito para parecer mais sociável. Isso deve ter haver com o seu pai, ou sua posição, não sei bem... Tenho que conhecê-lo melhor para saber.

Ele engoliu em seco e ficou um pouco desconfortável. Mas o que eu podia fazer? Foi ele quem me pediu para fazer isso. Fui apenas sincera como sempre.

— Você é boa. Absurdamente boa.

— Isso não é nada. Qualquer pessoa que te observasse um pouco mais atentamente poderia chegar a essa conclusão.

— É engraçado. Você observa muito bem as pessoas, mas é terrível para observar a si mesma.

— Talvez por que não há nada interessante para se notar. Eu convivo comigo mesma o tempo o suficiente para saber disso.

— Não diga absurdos Bella. Você é muito mais do que isso.

A garçonete chegou com os nossos pedidos e mesmo ela quase se esfregando nele, ele parecia estar muito alheio. Quando ela saiu, ele olhou atentamente para mim de novo e eu corei mais uma vez. Aquilo estava ficando constrangedor demais.

— Eu custo muito a confiar nas pessoas. Eu sempre penso que elas podem me enganar e isso me reprime muito. Mas com você Bella parece ser diferente. Eu sempre falo muito quando estou com você.

— Isso é bom. Saiba que não está errado, você pode confiar em mim. Acho que poderemos ser bons amigos.

Ele olhou pra baixo por alguns instantes como se estivesse decepcionado. Será? Mas por que?

— Claro Bella. É bom saber que temos amigos.

Ele ficou em silencio e se concentrou na comida. Será que eu tinha dito alguma coisa errada? Nenhuma novidade nisso, eu sempre estragava tudo. Mas eu realmente não sabia o que tinha dito de mais. Eu sentia a decepção pairando no ar, mas eu realmente não compreendia o porquê. Me concentrei na comida também e ficamos em silêncio até quase estarmos acabando.

— Desculpe Edward, há alguma coisa errada?

— Errada? Não. Eu estava pensando em uma coisa que o Emmett costuma sempre me dizer.

— Emmett?

— Meu irmão. Meu irmão mais velho.

De repente fiquei confusa. Como então ele era herdeiro do trono se ele tinha um irmão mais velho? Eu realmente não sabia absolutamente nada sobre a estrutura da monarquia aqui.

— Emmett abdicou do trono em meu nome quando tinha 18 anos. – ele explicou como se lesse o meu pensamento.

Me ajeitei na cadeira dessa vez curiosa. Devia haver muito mais nessa história do que parecia.

— Por que?

Ele me olhou como se fosse uma coisa muito óbvia e lembrou que eu era muito ignorante no assunto.

— Emmett nunca gostou muito do fato de ter que ser rei um dia. Ele não gosta muito de obrigações e na primeira chance que teve abdicou.

— Você fala como se fosse um fardo.

— Muitas vezes pode ser. Quando temos muitas responsabilidades, Bella, não podemos ser nós mesmos. O dever sempre deve vir em primeiro lugar. Isso pesa demais nas costas.

Era a primeira vez que ele me falava sobre a sua posição e suas responsabilidades. Ele parecia tentar evitar ser o príncipe na minha frente ou pelo menos era o que eu achava. Ele falava sobre o seu futuro cargo de uma maneira bastante dúbia, como se fosse algo ruim, mas que trazia orgulho.

— Você seria capaz de abdicar de tudo também?

— As coisas não são bem assim Bella. Apesar de tudo, nós temos um dever com o povo. Eles esperam tudo da gente e nos acolhem muito bem, o mínimo que podemos fazer é nos dedicar para dar o melhor para eles e é uma grande honra também. – falou num tom apaixonado.

Essas palavras comprovavam a dedicação de Edward em tentar ser a pessoa que os outros queriam que ele fosse: sério, popular e responsável. Mesmo não o conhecendo muito, eu sabia que ele se dedicaria de corpo e alma para atender a todas essas expectativas.

— Vocês querem mais alguma coisa – perguntou a garçonete.

Edward olhou para mim e eu neguei.

— Não, estamos satisfeitos, obrigado. Por favor traga a conta.

— Ok. Num minuto.

Ela saiu e olhou para mim um pouco tenso. Eu sabia que todo esse assunto de monarquia e o seu futuro como rei de Belgonia o incomodava um pouco. Ele não queria misturar as coisas. Eu sabia que ele não poderia falar sobre tudo isso com uma estranha como eu era. Mas eu tinha que confessar o quanto essa história me deixou curiosa. Eu teria que me informar melhor sobre isso em breve.

A garçonete voltou com uma pasta com a conta dentro. Logo peguei a minha bolsa para pagar pelo menos a minha parte na conta, mas Edward foi mais rápido e colocou uma nota de 50 dentro da pasta e devolveu a garçonete que saiu um pouco decepcionada. Eu aposto que ela deixou o número dela dentro da pasta também e ele ignorara é claro.

— Hum... Querendo pagar a própria conta. Interessante, mas eu jamais deixaria uma dama pagar tudo sozinha.

— Você sabe que isso é meio machista, não é? – disse enquanto sorria. Eu queria quebrar o gelo de alguma maneira.

— Não me interprete mal. Eu tenho o maior respeito por todos os ideais de vocês. Eu gosto de mulheres independentes.

Ele piscou e riu. Corei até a alma com esse comentário. Ele estava me cantando era isso? Claro que não poderia ser! Edward devia estar comprometido com alguma princesa por aí. Ele me levou até o carro e seguimos até o campus. Uma noite inesquecível com certeza.

— Chegamos. – falou no momento em que chegamos à porta do meu dormitório. – Nos vemos na aula.

— Talvez antes. Precisamos terminar o trabalho.

— Sim, absolutamente.

— Pegue. Fique com o meu número. Me ligue quando pudermos nos encontrar de novo.

Ele pegou o papelzinho que eu tinha lhe dado e guardou na carteira.

— Ligarei muito em breve.

De repente, ele pegou a minha mão e a beijou no modo mais cavalheiresco possível e saiu no escuro do corredor. Entrei rapidamente no meu quarto, esperando que Ângela não me visse, pois eu estava me derretendo toda e com muitas borboletas voando no meu estomago. 


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