Amor Perfeito XIV - Versão Arthur escrita por Lola


Capítulo 75
Alcance impossível


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada quero dizer que essa temporada está no fim! Sim. Eu disse outro dia que estava acabando né? E mesmo que AP tenha sido prolongada por taaanto tempo, ela ainda não foi finalizada. O próximo capítulo é o fim dessa temporada (ou talvez eu quebre ele por ter ficado muito grande, ainda não sei). O trailer da próxima temporada já está pronto e já estou ansiosa para começar a posta-la (grande novidade)
Espero que gostem, tenham uma maravilhosa leitura! :)



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Kevin Narrando

Minha mente rodava em um eterno looping recordando as vezes em que eu e Arthur dissemos o quanto nos importávamos um com o outro. E eu revivia cada atitude de salvação, gesto de carinho e a forma com que mesmo que eu tenha infernizado quase dezoito anos de sua vida ainda consegui merecer seu perdão e o seu amor. Um amor de irmão que eu jamais conheceria se não fosse Murilo. E novamente tudo me levava a ele.

Tinha que ser honesto comigo. Pensei por algumas vezes em pegar um voo e parar em Paris. E pedir pelo amor de Deus para a única pessoa capaz de tirar essa dor de mim. Mas um par de olhos azuis não me deixava sair do lugar. E a memória de Arthur também não. Ele iria desejar que eu respeitasse o amigo. E era isso que eu iria fazer.

— Não consigo mais te ver assim. – Rafael disse acho que pela vigésima vez naquele mesmo dia. Virei o rosto e o olhei. – Pelo menos você se moveu.

— Desculpa. – sua expressão assustada me fez ficar ainda mais triste. – Não queria que estivesse preocupado comigo.

— Não sou só eu. Todos estão Kevin. Mas ninguém se atreve a chegar perto de você. Sabem que está no modo... Explosivo, sem sabermos o que esperar. Todos têm medo. Menos eu. – pegou em minha mão e viu que ela estava gelada. – Por que sua temperatura corporal está tão baixa?

— Pressão alta.

— E você diz isso na maior calma? Kevin você tem que consultar.

— Estou torcendo para que aumente a ponto de... – parei de falar ao ver sua expressão mudando. – Eu não quero viver em um mundo que Arthur não exista Rafael.

— Heroico da sua parte. Mas isso não muda nada.

— Que seja. Eu não tenho motivações para continuar. – ele abaixou o rosto e depois levantou novamente me encarando. Seu olhar continha dor e sofrimento.

— É? E eu sou o que? Não passo de um monte de nada né?

— Eu te amo, mas... – ele me interrompeu começando a ficar nervoso.

— Ama muito mais o seu irmão. Eu sei disso. Não estou aqui para disputar o seu amor com ele. Mas eu quero que agora você foque somente no que sente por mim. – desviei o olhar. – Não vou mais perder o meu tempo. – se levantou, foi até a porta do quarto e parou. – Sabe o que é pior? – se virou e me olhou. – O pior é que foi a única pessoa que te tiraria disso foi a mesma que me falou o que eu deveria saber... Ele me avisou. Você vai me magoar. Vai me machucar. E eu não posso desistir. Ele tem o que? Sangue de barata? – ri de uma forma nada boa. – Não seja sarcástico agora!

— Ele tem persistência. É difícil mesmo para algumas pessoas. – ele veio e se deitou em minha cama.

— Agora eu não saio mais daqui. Pode dizer o que quiser. Diz que não me ama tanto assim, que eu não faço nenhuma diferença, que não me quer por perto, pode dizer o que quiser... Não me importa. Eu não vou desistir Kevin. Vou te mostrar que posso ser tão bom quanto Murilo. – fiquei olhando pra ele de braços cruzados e expressão fechada. O jeito que ele havia falado... Não era com raiva e nem despeito. Ele realmente queria provar algo a mim e a si mesmo. E isso o tornava ainda mais especial. Agarrei sua cintura e encostei minha cabeça em seu peito. Ele se livrou da armadura e começou a fazer carinho em meu cabelo.

— Rafa... – comecei a falar entre lágrimas. – Por favor, me tira dessa e me dê esperança que o meu irmão um dia vai voltar. – implorei de um jeito doloroso e angustiante.

— Arthur é forte e inteligente. Seja o que for que aconteceu ele vai conseguir escapar. – afirmou e beijou minha testa. – Fica tranquilo amor. Agora você precisa manter a sanidade para recebe-lo bem quando isso acontecer.

— E se isso nunca acontecer? – levantei os olhos e encarei aquelas íris azuis, tão fortes e impactantes que davam vida ao seu rosto e sempre me alegravam.

— O tempo vai nos preparar para aceitar. Mas agora não temos que pensar nisso. – ele encerrou aquele assunto e tentou me animar com outra coisa. No fim daquele dia prometi que ele nunca mais me veria sombrio daquele jeito. E eu teria que cumprir essa promessa, por mais difícil que ela parecesse.

O tempo estava passando, mesmo que lento e cheio de dor. Alice enchia a minha cabeça com a ideia de irmos para a capital. Ela já havia comprado o material escolar dela e contava todos os detalhes. Já eu contei a ela que desisti de continuar estudando.

— Você não pode fazer isso. - meu namorado discordou imediatamente.  – É o seu futuro!

— Eu não tenho cabeça Rafael.

— Kevin é a forma de você se livrar do seu pai. E o Arthur iria querer que você continuasse se dedicando. – ficamos nos olhando por um tempo. Sabia que ele tinha razão. E pensar em meu pai realmente pesava muito.

— Tá bom. Mas eu sei que o meu rendimento não vai ser o mesmo. E eu não sei se vou conseguir cuidar de Alice.

— É ela que vai cuidar de você agora. – ele sorriu e selou nossos lábios.

— Você não percebe que ela tá estranha? – ele pensou um pouco.

— Um pouco triste ou desanimada como ela me disse outro dia. Mas é normal. Você a atacou por um bom tempo e ela deu aquela crise sem explicação... Só que vai ficar tudo bem.

— Não tenho tanta certeza. Alice não tem emoções. Tristeza é uma emoção. Ela tá sentindo algumas coisas.

— Ela iria consultar essa semana. Vamos ver o que a médica dela diz. Mas de qualquer forma acho que não terá trabalho com ela Kevin.

— Sei lá. – dei de ombros.

Era difícil demais pra mim conseguir voltar ao normal. Ainda evitava as pessoas, ficava em silêncio e queria me fechar. Mas Rafael não deixava. Ele e Alice. Ela era tão chata e falava tanto. Eu quase não conseguia prestar atenção em tantas palavras juntas. Otávia veio aqui em casa hoje. Avisou que o velório simbólico seria daqui dois dias e que eu tinha que ir, caso contrário ela não me perdoaria. Como eu iria em algo que eu simplesmente não acreditava? Algo que eu não queria acreditar? Na verdade, eu sabia desde o início que ele estava morto, já aceitar isso e finalizar esse ciclo, era outra coisa totalmente diferente.

— Seu namoradinho vai deixar a cobertura né? – meu pai perguntou ao chegar em casa. Eu juro que eu quebraria um copo na cabeça dele se não fosse preso por isso. – Está no nome do Arthur e acabou de ser feita uma certidão de óbito no nome dele... Acho que ele deve deixar o lugar.

— Vou passar para o meu nome e ele continua lá. – ele riu me fazendo travar o maxilar.

— Você se acha muito poderoso né?

— Poderoso não. Esperto sim. Você me criou para ser seu sucessor e dono daquele hotel. Eu sou seu herdeiro legítimo, esqueceu? Porque eu não. – dei um sorrisinho o provocando. – Bom... Existe um documento que prova isso. Você sempre quis deixar Arthur e Yuri fora de tudo. E se não fosse por Mark isso aconteceria. A cobertura inclusive só está no nome do meu irmão por causa de Gustavo e Vinicius.

— Você vai mesmo fazer isso por um cara qualquer?

— Ele não é um cara qualquer. É o meu namorado e quem eu pretendo ter uma vida. Ah papai... Antes tivesse deixado eu viver a minha história com meu primo né? Assim estaria tudo em família. – me levantei e dei um tapinha em suas costas. – Você se aborreceria bem menos. E toma cuidado que vai dar rugas, já que se preocupa tanto com a sua aparência.

Sai de casa e fui direto me encontrar com o advogado do hotel e resolver isso. Eu tinha direito a cobertura. E iria passa-la para o meu nome. Apenas para Rafael continuar morando lá. Quando estava no saguão encontrei meu sogro. Pela primeira vez desde que ele chegou à cidade. Conversamos um pouco e notei que ele não estava bem, disfarçadamente entrei em um assunto de fotos de documentos, menti que perdi o meu e iria ter que fazer de novo e não saio bem em fotos e que eu queria ver a dele. Decorei seus documentos e voltei pra dentro do hotel e me empenhei em descobrir qual era o problema com o nome dele. Só podia ser alguma irregularidade. Não foi preciso pesquisar muito para saber.

— Preciso conversar com você. – Rafael me abordou na noite daquele dia.

— Tá. Eu vou. – afirmei sem tirar os olhos do meu celular.

— Vai aonde? – o encarei.

— No velório. Não é isso que iria me pedir pra fazer?

— Não. – respirou fundo. Guardei o aparelho e me sentei direito o olhando. – Quero te avisar que vou fazer algo. Eu sei que você não vai gostar e peço que não me questione o motivo. Só preciso fazer.

— Eu não sou um cara que fica no escuro Rafael.

— Temos nossa individualidade Kevin. Só respeita isso. – soltei o ar profundamente.

— Tá bom então. Diz o que é.

— Vou vender o meu carro. – o olhei e desviei o olhar. – Não fica magoado comigo. Eu sei que no fundo foi um presente seu. Mas eu realmente preciso.

— Isso não importa. Não tem nenhum valor. Mas você sabe que foi o Arthur que... – ele me cortou.

— Eu sei. – abaixou o rosto. – Você não imagina o quanto me dói fazer isso. Se não fosse extremamente necessário eu não faria.

— O valor do carro com tudo que vem incluso, os documentos, seguro pago por anos... Passa bem a casa dos três dígitos. O que você precisa pagar que é tão caro? – o olhei nos olhos mesmo sabendo a resposta.

— Eu te pedi para não perguntar nada.

— Por que eu não posso saber? Tem algo a esconder de mim?

— Se souber você vai querer se envolver e eu não quero isso.

— Hum... E eu me envolveria como? – ele passou a mão no cabelo de forma impaciente e soltou o ar. Estava tão nervoso que achei que até iria embora.

— Kevin você tá tentando tirar de mim algo que eu não quero dizer. Por favor, não faz isso.

— Vem cá. – eu me levantei para ir até o meu quarto. Quando entrei peguei o pacote com o papel e o entreguei. – O seu pai já pode voltar pra casa se ele quiser. Está tudo certo, eu resolvi hoje cedo, mas demorou a ser autenticado. – ele abriu e leu tudo. – Eu sei que era isso que você não queria, mas eu não iria deixar o seu pai perder a casa.

— Como você soube? Ele te contou?

— Não. Mas eu não sou burro. Eu me encontrei com ele e vi que havia algo errado. Com um pouco de investigação eu descobri.

— Desfaz isso. – bateu o pacote em meu peito. – Desfaz ou eu termino com você.

— Sinto muito. Então vai ter que terminar.

— Está falando sério?

— Estou. – afirmei bastante sério. – E você jurou que nunca mais ameaçaria terminar comigo.

— Não acha mesmo o motivo justo? – se exaltou quase aumentando o tom de voz.

— Eu não acho. Por que você não é orgulhoso assim com o Arthur? Ele pagou os seus estudos Rafael.

— Em troca que eu viesse pra cá. Porque ele insistiu pra caralho! Foi uma troca Kevin. Não ganhei e nem pedi nada.

— Você também não me pediu nada. Estou fazendo isso em troca de ver o seu pai bem.

— Você não entende. Eu não posso aceitar isso. É dinheiro demais.

— Que vem do bolso do sogro que você detesta. Pensa um pouquinho... É prazeroso, não?

— Ele vai saber disso e vai dar confusão! Ele vai de novo me humilhar e ter toda certeza que eu sou... – se calou e suspirou de uma forma dolorosa.

— Você realmente se preocupa com o que ele pensa? – cheguei mais perto dele e fiz carinho em seu rosto. – E... Você tá esquecendo que a casa do seu pai não é nem metade do valor dos imóveis que o meu pai já deixou pra mim. Esse dinheiro estava na minha conta. Ele não vai sentir falta dele. 

— É. – respirou fundo. – E é um dinheiro sujo.

— Não. O dinheiro das drogas está em paraísos fiscais. Esse dinheiro é limpo Rafael, do hotel. Você pode não saber, mas o Palace é um hotel de renome, que começou há mais de cem anos em Paris. E hotéis luxuosos são altamente lucrativos pelos preços exacerbados. Mas morando na cobertura você deve saber que o serviço e qualidade são diferenciais.

— Acho que o Caleb já tem quem o substitua.

— Não. Eu não estou estudando atoa. Fui criado para estar aqui fazendo isso, mas mudei os planos.

— Como você sabe das contas?

— Eu sei de tudo. Eu sempre o ajudei. A receber o dinheiro aqui e a colocar lá. Na verdade eu acompanhava as transações com o braço direito dele. O meu pai me preparou pra absolutamente tudo nessa vida Rafael. Quando mais novo eu era um... Negociador no hotel. O que tem de empresário rico que usa drogas você não imagina.

— Eu já estava aqui quando essa bomba explodiu. - sorriu. - Os médicos usam muito também.

— Serei uma exceção.

— Por que você nunca foi disso?

— Passamos de eu ter pago a divida do seu pai a eu não usar drogas? – ele riu. Pelo menos já havia aceitado.

— Eu quero te entender.

— O meu pai. Ele me fez conhecer de perto o que isso faz com a pessoa.

— E mesmo assim você ficou com Murilo que usava.

— Por isso eu o admirava. Na maioria das vezes ele sabia até onde devia ir. É difícil você ver alguém que pare de beber antes de ficar pelo menos um pouco bêbado ou que fume e aproveite sua onda sem se prejudicar e sem ir além disso. Murilo nunca foi burro. O pai dele sempre conversou muito com ele. Ele só começou a ficar bêbado e muito chapado depois que começamos a namorar e discutir.

— Você realmente acredita no que tá dizendo? O seu amor por ele te deixa deslumbrado.

— Por que tá falando no presente?

— A forma como fala dele me faz falar assim.

— Não foi a casa do pai dele que eu acabei de pagar. – ele me olhou no mesmo segundo. – Não estou jogando em sua cara. Só estou te mostrando que eu não me preocupo com ele. E não o amo.

— Eu devia transar com você agora.

— Ah é, por que? – sorri. – Pelo favor que eu te fiz? Não estou acostumado a ser retribuído com sexo. – ele chegou mais perto e me abraçou muito forte. – O que foi Rafael?

— É a primeira vez que você sorri desde que o seu irmão sumiu. – nos olhamos. – Sei que isso não significa que tá feliz, mas... É bom ver você sorrindo.

— Vamos transar ou não? – mordi os lábios o encarando. Eu não queria falar daquilo. Estava evitando ao máximo pensar em Arthur, lembrar de Arthur, reviver Arthur e sentir saudades de Arthur. Era impossível. Mas eu me esforçava tanto que conseguia ao menos um pouquinho e ele não podia estragar isso.

Rafael Narrando

Se há um ano e um mês atrás me dissessem que minha vida estaria da forma que estava hoje, eu iria rir muito. Jamais passou pela minha cabeça ter alguém como Kevin e não é por eu ter o estilo de vida que eu tinha, porque por mais que eu não admitisse, eu amava Alícia e queria me entregar a isso. O acontecimento maior em minha história é que eu tinha absoluta certeza que não existia em lugar nenhum uma pessoa que fosse capaz de fazer tudo por mim como Kevin fazia. Ele sempre se sacrificou pelo nosso relacionamento e agora ele me mostrou que não media realmente nenhum esforço para o meu bem e até mesmo do meu pai. Ele era incrível. Como ninguém mais poderia ser. Levantava todos os dias sem entender o que eu fiz para merecê-lo. O único defeito que ele tinha – e isso não era nem um pouco culpa dele – era ter o pai que tinha, só que para estar com ele eu passava por cima disso. Não me importava com aquele mau caráter.

 - No que está pensando? – meu pai questionou ao se sentar ao meu lado. – Aposto que é no que o Kevin fez. Deve ter brigado tanto com ele, se bem te conheço.

— Foi assim que você me criou. – o olhei. – Não posso fazer nada.

— Não aceitaria se não fosse o último recurso Rafael. Mas vou conseguir um empréstimo e paga-lo. Eu nunca pretendi que fosse de graça.

— Relaxa. Eu vou te ajudar. – olhei involuntariamente para a porta do quarto de Arthur.

— Acha mesmo que ele não voltará?

— Nunca achei. Quer dizer... Preciso não achar. Mas... Tudo indica que não há mais motivo para ter esperança, né?

— Você está com ele há alguns poucos anos, mas com uma convivência bem intensa. O que acha que pode ter acontecido?

— Foi coisa do pai dele. O Kevin estava certo no começo, foi uma armação. Não sei o motivo dele se convencer do contrário agora.

— O pai é manipulador. Ele o manipula desde criança não é mesmo? – fiquei pensando naquilo. Kevin estava frágil e vulnerável. Lógico que Caleb conseguiria convencê-lo.

— Até que você não é burro. – ele deu uma risada.

— Quase que a bebida come o meu cérebro, mas... Isso não aconteceu. – o encarei assustado. Foi a primeira vez que ele falou daquilo. – Você acha que vai aguentar ir ao funeral de Arthur?

— Tenho que aguentar. Kevin vai ir. Preciso estar com ele.

— Você sempre se dedica tanto a ele, é lindo de ver.

— Quem diria, você dizendo isso de dois caras juntos.

— Não me lembre do homem que eu era, me envergonho muito.

— Saiba que eu me orgulho muito do homem que se tornou. – sorri pra ele que correspondeu se emocionando.

— Acho que eu vou fazer um altar para o Kevin lá em casa, o que você acha? – brincou se levantando.

— Não é uma boa ideia. Meu namorado não faz jus a algo sagrado... – quase ri.

— Ah Rafael! Não abusa. Minha concordância e entendimento tem limites. Não o ultrapasse e me respeite. – ele ficou bravo me fazendo dar risadas.

Meu celular começou a tocar, era Ryan querendo se encontrar comigo. Fui bem rápido, porque se o chefe chama... A gente vai, não é mesmo? Eu me encontrei com ele em sua casa e fomos para o seu quarto.

— Estou muito preocupado com uma coisa e só você pode me ajudar. – ele disse me fazendo ficar quase desesperado.

— O que o Kevin tem? – me levantei e ele me empurrou me fazendo sentar de novo. A sutileza e delicadeza do Ryan era algo que não combinava nada com liderança.

— Você não consegue pensar em outra pessoa? – juntou as sobrancelhas.

— Hum... – me fingi pensativo. – Não. – ele revirou os olhos exageradamente.  – Fala logo o que é. – fechou a cara. – Não estamos na porra de uma favela, você tá se achando demais.

— Tá. – respirou fundo e se sentou na cadeira de frente pra mim. – Otávia não está bem. Desde o início ela fez que aceitou a partida do irmão, mas eu a observo muito e já notei que ela vai de mal a pior.

— Você não consegue pensar em outra pessoa? – o observei. – E olha que pelo menos eu sou correspondido. – segurei o riso.

— Você é um babaca sabia?

— Foi bem isso que encantou Kevin. – sorri.

— É. Combina bastante com ele. – dei uma risada.

— Por que ela não tá bem Ryan? – decidi leva-lo a sério antes que ele apelasse.

— Ela tá bebendo muito. A mãe ainda não se deu conta. Nem os avós. E todos nossos amigos acham normal. É o luto. Não é normal.

— Arthur e ela sempre foram muito apegados. Lembro lá na universidade que ele enlouquecia quando havia uma notícia ruim sobre ela. – pensei um pouco. – Por que me chamou? Por que só eu posso ajudar?

— Caso não se lembre ela perdeu a virgindade com você.

— Ah tá. E por isso agora sempre vamos estar ligados a vida toda?

— Não seu imbecil sem sentimentos. Ela e você sempre foram amigos.

— Ah... – sorri. – O ciúme não te deixa esquecer isso né?

— Rafael. Se me irritar mais um pouquinho eu vou socar sua cara.

— E vai perder a chance de ter minha ajuda.

— Você tá convivendo tanto com Kevin que tá igualzinho a ele.

— Já ouvi isso algumas vezes. – olhei para o lado. – Deve ser verdade. – o encarei. – Que bom. Fico feliz por isso.

— Não vai ficar quando ver que não é tão esperto quanto ele. Sustenta suas gracinhas. – chegou mais perto mostrando que estava perdendo o resto de paciência que lhe restava.

— Parei. Parei. – avisei com sinceridade e seriedade. – O que eu devo fazer?

— Conversar com ela. Fazer companhia a ela. Ela tá se sentindo sozinha. Você é como um irmão pra ela, agora deve fazer esse papel.

— Irmãos não... – calei a boca. Eu realmente estava muito igual ao Kevin, eu iria batê-lo por isso.

— Você tem dentes muito bonitos, sabia? Seria uma pena ficar sem eles.

— Ryan só me responde uma coisa.

— Você tem uma oportunidade de não falar merda.

— Como consegue preservar o seu sentimento por Otávia por tanto tempo?

— Pergunte ao Kevin. – ele sorriu. Agora iria se vingar. – Ele vai saber, já que ainda ama Murilo.

— Como você sabe que ele o ama? – cai na provocação e voltei a ser mais parecido comigo mesmo. – ele ficou me olhando sorrindo. Não sei o que me deu, eu me descontrolei e fui pra cima dele com tudo, o socando e tirando todo o sangue que na verdade eu queria tirar de outra pessoa. – Por que não está revidando? Não queria me bater?

— Eu estava brincando seu inútil! Você tá acabando com o meu rosto, sai.

— Não sem antes você dizer o motivo.

— Pode me socar até eu desmaiar, porque eu não vou dizer. – ele sabia de alguma coisa. Algo concreto. Eu não podia desistir. – Você é covarde Rafael.

— Vamos fazer um acordo. – o soltei. – Você não conta pra ele que eu te bati e eu não conto que você contou.

— Acho que eu prefiro tirar umas fotos de como estou agora e mandar pra ele. Sabe que ele vai achar repugnante né? E sei que você não vai conseguir inventar que eu mereci isso. Além do mais, você tá ciente que eu e Kevin somos muito amigos.

— Tá. – soltei um suspiro pesado. – Você venceu. Estou ferrado. – não sei se foi o meu semblante triste, mas ele mudou de ideia.

— Espera. – me parou e passou a mão em sua boca que ainda sangrava muito. – De qualquer forma também estou errado. Mesmo não merecendo isso tudo. – apontou para si. – Aceito o acordo. – apontou a mão e eu apertei. Ele se levantou e pegou uma toalha se limpando. – Vai doer. – me olhou nos olhos. – E você não vai poder falar pra ele. De jeito nenhum. Acabamos de fazer um acordo Rafael, que não pode ser quebrado, você deu sua palavra.

— Fala logo Ryan. Eu perderia mais que você se abrisse a boca. Eu te arrebentei inteiro. Aliás, o que vai inventar para os hematomas?

— Fui beber, mexi com a mulher alheia e apanhei. Clichê.

— Agora diz.

— Você acha mesmo que foi você que o tirou da escuridão que ele estava se enfiando né? – fechei os olhos. – Preciso mesmo dizer o resto?

— Precisa. Eu quero saber de tudo. Eles se encontraram?

— Pra que? Para um amor intenso como aquele já basta uma ligação e um pedido e tudo acontece. – suspirou. – Não estou fazendo isso por maldade. Só acorda. Ele é sim muito apaixonado por você e talvez seja você que ele queira ao lado dele. Mas ele... Eu não sei como te dizer isso... Conheço o Kevin muito bem, uma parte dele sempre vai estar com Murilo. E é essa parte que ele controla. Eu não iria querer ter um namorado assim.

— Por que você quer o Kevin solteiro? Parece que tá tentando fazer a gente terminar. Acha que se ele ficar solteiro vai desistir da faculdade e voltar pra cá? Sério mesmo? – ele arregalou os olhos.

— Vocês fizeram uma amarração cerebral incrível. Você agora fala como ele, faz piadas como ele e até pensa como ele. É incrível. Só tá faltando ter a autoconfiança dele.

— Então é isso?

— Não. Não é Rafael. Eu só dei a minha opinião sincera. E que não serve de nada. Vive sua vida com ele. Até que Murilo volte de Paris e roube seu namorado. – bateu em meu ombro e sorriu. – Vai cuidar de Otávia pra mim?

— Vou, mas é por ela e não por você. – sai de lá com raiva. Queria muito confrontar Kevin. Mas não podia. Havia dado a minha palavra. Bom... O meu acordo foi de não dizer nada a ele. E somente a ele. Procurei Alice. Se tem alguém que sabia me responder se isso realmente aconteceu, esse alguém era ela.

— Sim. Ele ligou. E fui eu que pedi. – a encarei com raiva. – Eu estava muito preocupada Rafael! Desculpa. – abaixei o rosto derrotado. – Você acha que foi ele que o fez melhorar e não você?

— Eu tenho certeza.

— E se for? O que isso importa? Você não vê que agora o Kevin poderia estar sádico, sem sentimentos e na ruína? Eu conheci o pior lado dele Rafael e não quero vê-lo de novo. Ele me iludiu apenas para atingir Arthur, ele brincou comigo, você tem noção do que é isso? E ele ainda riu depois. Que ser humano com alma faz isso? Não vou deixa-lo perder a alma dele mais uma vez, nem que pra isso eu tenha que trazer meu irmão de Paris. Eu faço o que for preciso. E você é egoísta demais pra não ver que ele te ama e que a conexão que ele tem com Murilo vem da infância e por isso ele consegue chegar em lugares que você nunca vai conseguir! É como eu era com Arthur. Você nunca vai entender. – a olhei e vi que ela chorava. Alice nunca chorava. Não agora. Eu a abracei em uma atitude impensada, apenas para acalma-la. Pedi que ela se acalmasse enquanto ela pedia desesperadamente que ele voltasse. Eu me senti extremamente culpado por despertar nela um sentimento ruim e por não ver que não importava mesmo quem ajudou Kevin a melhorar. Ele estava melhor. E isso bastava.


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Notas finais do capítulo

Não coloquei algumas frases em itálico atoa...
Até amanhã ou sábado ♥



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