Abusivo: A história que ninguém conta escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 16
Capítulo 15




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Caixas e mais caixas a minha frente... Jean foi atrás de algum caminhão de mudança para levar as minhas coisas. De primeiro momento, achei que não havia necessidade para um caminhão, mas agora eu tenho mais roupas que havia chegado aqui e tudo que eu tinha cabia em uma mala, agora estavam abarrotando várias em caixas.

As meninas me ajudavam de colocar minhas coisas do lado de fora do quintal, menos Betina que estava olhando com um semblante sério parada em pé perto da porta.

—Vai ficar parada aí Betina? Não vai ajudar a Cat?. – Questiona Alissa que está pegando uma das caixas sobre a cama.

— Eu não concordo com isso. – Diz Betina que agora cruza os braços.

— Não concorda com o que? –  Questiona Tiemi que está embalando outra caixa de maneira cuidadosa sentada no chão.

— Eu não acho certo que a Catarina vá morar com ele. Vocês mal se conhecem e já vai morar com ele? – questiona me encarando.

Quando eu penso em responder, sou interrompida por Tiemi que levanta e começa a falar.

—Olha só Betina, não vai desanimar a garota. Ela tem sorte de ter a oportunidade de morar com ele. Se não, ela teria que abandonar a faculdade. O Jean está apenas querendo ajudar. – Ela volta a sentar no chão para continuar o que estava fazendo.

— Ele poderia ajudar de outra maneira e eu poderia ajudar também. Talvez pagando algumas coisas e te ajudar a arranjar um trabalho... – argumenta Betina.

—Foi você mesma quem disse que isso seria impossível, lembra? Aliás, você deixou bem claro que eu não deveria ficar aqui. – Rebato, Betina que fica vermelha instantaneamente.

—  O Jean está sendo um príncipe encantado na vida de Cat. Ela tem muita sorte de ir morar com ele, coisa que nem a   Leticia conseguiu. – Comenta Alissa quebrando o clima.

—Mas... Cat. – Betina olha para mim. – Tem certeza disso?

Minha boca abre, mas não sai nenhum som, eu não consigo responder ela, sei que tudo foi muito rápido, mas é a única maneira de manter a faculdade. Porém, prometi a mim mesma que eu vou dar um jeito de me manter sozinha e que essa situação é temporária. Por enquanto eu preciso da ajuda do Jean para ficar, mas não estava gostando da situação que me coloquei. O fato é que era a única saída. Arranjar um emprego, seria bom arranjar um logo até mesmo para essa situação de morar com o Jean seja temporária, não sou desse tipo de garotas que moram com outro homem antes de casar. Quando eu tento em responder Tiemi interrompe novamente:

— Ela com certeza quer. Agora sai daqui Betina. Se você não vai ajudar, não venha atrapalhar. – Ela tira Betina do quarto e fecha a porta. — Catarina, não de ouvidos as palavras dela. Betina é muito amargurada e não acredita ou confia em ninguém.

Um silencio toma conta do lugar, as meninas se entre olhavam e eu senti o peso de seus olhares sobre mim, pareciam querer falar algo.

— Mas conta para gente Cat, como foi o jantar ou o sexo?... conta os detalhes. – Diz Alissa deitando na cama animada para ouvir. Tiemi também parou de embalar para me ouvir.

— O jantar foi... legal? – Digo encabulada, evitando qualquer contato visual com elas. Eu sabia que os detalhes eram relacionados a minha primeira vez. Mordo meus lábios e continuo — O sexo...Não sei o que esperar, acho que foi normal ou bom.

Não queria recordar aquela noite porque ainda estava tudo confuso dentro de mim, me parece bom, mas não sei se foi bom com aquela dor e como aconteceu. Nos filmes ou novelas mostravam sempre que este momento era quase magico... um homem dentro de si, te fazendo mulher. A mocinha da novela se sentindo bem, feliz, mais apaixonada que tudo. E quanto a mim?  Eu não consegui sentir nada... até senti, vergonha do meu corpo e me senti suja.

— A primeira vez é bem ruim para a maioria das mulheres, a minha mesmo foi horrível, eu senti dor por causa do hímen, mas passou e a segunda vez foi melhor. – Comenta Tiemi sorrindo para mim e segurando a minha mão, como se adivinhasse os meus pensamentos.

—  O lado bom que a Cat fez com alguém experiente e que a ama. – Afirma Alissa —Vocês usaram camisinha?

— Não lembro, só senti algo quente dentro de mim foi tudo bem rápido. – Digo com os olhos fechados.  Flashes daquela noite vinham e parecia que estava sentindo o peso do Jean em meu peito, me causando uma falta de ar.

Quando acabo de falar e olho para as duas que estavam de olhos arregalados para mim e depois entre elas. Tiemi ajeita o seu corpo e então me pergunta;

—Você toma pílula?

—Não, nunca tomei – respondo sem graça — Por quê?

Alissa sai correndo praticamente do quarto e Tiemi solta a minha mão desta vez mostrava estar furiosa, havia ficado vermelha no rosto com um semblante fechado.

— Catarina! Está louca?! Como assim vocês fizeram sem camisinha e deixou Jean gozar dentro de você? – Questiona Tiemi irritada e ela se levanta do chão. — Você não pode permitir uma coisa dessas.

Alissa volta para o quarto com uma cartela com dois comprimidos na mão e um copo de água.

— Para sua sorte, sempre ando prevenida com a pílula do dia seguinte. Tenho quase um estoque para esse tipo de emergência. – Revela Alissa me entregando — Tome conforme as orientações da bula. Lembre-se, você só pode usar uma vez ao ano esse tipo de remédio. Por favor, toma mais cuidado.

Eu tomei um dos comprimidos, mas o olhar das meninas em cima de mim, me deixaram preocupada e nervosa. Realmente minha mãe não conversava comigo sobre sexo, mas nunca tive uma informação sobre os cuidados a tomar nesse tipo de relação. Pelo visto estava bem desinformada, ainda bem que as meninas me avisaram. Sei que sentirei falta desse cuidado delas comigo.

 Era um misto de emoções dentro de mim, estava triste pela partida da minha mãe, por sair do pensionato e, ao mesmo tempo, feliz por ficar e animada por continuar a faculdade. Porém, preocupada por estar morando com um namorado. Sentia um aperto no peito e um embrulho no estomago todas as vezes que lembrava da minha primeira vez com Jean e ainda mais por saber que aquilo vai se repetir. Balanço minha cabeça fortemente, quero esquecer essa noite e torcer para que a segunda vez seja melhor.

Terminávamos de retirar algumas caixas e Dona Ester estava parada no portão da pensão olhando para a rua, até o carro de o Jean encostar acompanhado de um caminhão. Quando ele decide entrar, Ester colocou sua mão no peito do meu namorado, impedindo sua entrada.

— Já que você agora é o responsável pela mocinha, não esqueça de pagar as dívidas dela aqui, está atrasado a mensalidade. – Avisa Dona Ester. Vejo o Jean respirar fundo.

—  Não se preocupe, informe a conta que vou lhe transferir tudo agora mesmo. – Jean encarando a mão que está em seu peito. Ele pega o seu telefone e digita as informações passadas pela dona da pensão. Em questão de minutos ele mostra o visor com a transferência efetuada e então entra. —  Catarina, vamos embora logo.

— Eu só vou me despedir das meninas. – Eu me viro para elas que estão me olhando, menos Betina que estava no quarto.

— Vamos logo Catarina. – Reforça Jean mostrando estar impaciente. Ele começa a jogar as minhas caixas dentro do caminhão junto com os rapazes da mudança também o ajudam.

—  A gente se vê na minha formatura. – Fala Tiemi me abraçando.

— Se precisar de qualquer coisa é só ligar. – Agora era a vez da Alissa me abraçar.

— Já está indo? Espero te ver na faculdade e vamos marca de sair. -  Jennifer vem e me abraça.

         Olho para elas mais uma vez, emocionada. Sei que não me despedi de todas e eu precisava me resolver com a Betina, mas olho para Jean que agora passa orientações do endereço aos rapazes da mudança.  O meu tempo é curto e então corro para dentro do pensionato me dirigindo para o quarto de Betina que está com a porta fechada. Bato inúmeras vezes até ela abrir:

—Betina, eu estou indo embora. – Digo para ela que está apenas me olhando sem esboçar nenhuma reação.

—Catarina, eu lamento por tudo que está acontecendo com você, mas eu sei que no fundo do seu coração que você sabe que não é a única opção. – Ela finalmente esboça algo, mas para minha surpresa é tristeza. Betina me encara com um olhar triste e me abraça. — Tem certeza que ele é um cara bom? O cara certo?

Eu a abraço de volta, pois não sei como responder suas perguntas. Afasto-me dela e então digo:

— Eu sei que faz tão pouco tempo que conheço Jean e ele tem sido tão bom comigo.  Todo mundo tem seus momentos ruim, mas ele é bom comigo. E eu sei que você tem certeza ele não é o cara certo, mas sei que ele me ama. E eu o amo, sim o amo.  Além disso ele tem provado cada vez mais que me ama de verdade. Betina , ele está cuidando de mim e se importa comigo. Entenda que é a primeira vez que alguém está me tratando tão bem, então sim, estou convencida que seja o cara certo para mim.

— Catarina, as coisas já estão no caminhão, vamos logo! – grita Jean me apressando.

Betina volta a entrar em seu quarto, fechando a porta entre nós. Olho novamente meu quarto que está vazio com a porta aberta. Parece pequeno e não sei explicar, mas já sinto saudade deste lugar. Não fiquei muito tempo, mas considero meu lar, uma parte de mim e da minha história. Quando encontro as meninas no portão, elas me abraçam rapidamente em grupo e depois eu saio quase correndo para o carro do Jean que sai rapidamente.

— Que mulher petulante! Ainda bem que estou tirando você daquele lugarzinho que parece uma espelunca! Ela acha que é quem para fala comigo daquele jeito? – resmunga Jean enquanto está apertando o volante com força.

— Calma Jean. – Peço segurando em seu braço.

— Você nunca mais vai colar seus pés naquele lugar. – Avisa afastando o contato.

Prefiro ficar quieta, pois minha garganta dá um nó me fazendo soar frio. Melhor não responder, ainda mais nesse estado em que se encontra. É notável sua irritabilidade, a qual eu não quero provocar mais. Meu coração aperta de saudade das meninas que me ajudaram a impressionar Jean. Elas estão sempre me apoiando e incentivando, mas na verdade meus pensamentos estão em Betina. Sei que ela mostra uma certa resistência a ele, mas talvez se ela o conhecer melhor, se ela pudesse ver o Jean encantador que eu conheço, ela gostaria dele e poderiam ser amigos.

Chegamos ao apartamento e os rapazes da mudança já subiram minhas caixas. Jean estava diferente, desta vez sorrindo, alegre, até parecia que havia ganhado algum presente, a ponto de ofertar uma gorjeta generosa aos rapazes. Ele fecha a porta do apartamento e eu dou uma olhada novamente por todo aquele espaço. Antes havia um ar pesado por causa...daquela noite. Desvio-me das lembranças daquela noite e Jean me desperta.

— Vamos começar? Eu decidi abrir um espaço no meu closet para você e quero que você se sinta em casa. Agora esse é o seu lar, meu amor. – Jean me toma em seus braços e me dá um selinho longo e logo para pois seu telefone toca. — Preciso atender. - Ele sai de perto e vai atender o telefone no corredor.

Como eu não tive tempo para reparar os moveis do apartamento de Jean, eu não me lembro de nenhum guarda roupa em seu quarto. Entro e noto apenas duas portas, uma eu já conheço é o banheiro do quarto dele, mas a outra porta eu não tinha reparado. Aproximo-me dela e a abro: era um quarto não muito grande, com roupas penduradas, sapatos em prateleiras, mais algumas prateleiras e um arado vazios.

— Ah você está aí. – Comenta Jean me abraçando por trás. — Espero que suas coisas se acomodem aqui.

— Você disse que era um guarda roupa, não um quartinho. – Comento, surpresa. Ele começa a rir e entra no quarto abrindo os braços.

— Eu disse closet, meu amor. É bem melhor do que deixar dentro de um móvel de madeira onde as roupas ficam com um cheiro horrível e todas amarrotadas.

Mais uma coisa do mundo do Jean que estou aprendendo, mas vamos ao trabalho. Ele me ajuda com as caixas, pendurando algumas peças das minhas roupas no arado e até faz alguns comentários.

— Esse vestido, você fica linda neste vestido. Quando você coloca, da vontade de tirar de você. – Ele segura o vestido erguendo no ar e me olhando com um sorriso.

— Então você não gostou já que quer tirar. – Retruco, enquanto estou tirando outra roupa da caixa.

—Você não entendeu... Eu quero tirar de você para te comer bem gostoso.

Aquele comentário me deixa vermelha. Fico mais vermelha ainda quando ele vai em outra caixa e começa pegar minhas roupas intimas.

—Jean... Deixa que essas...peças eu guardo. – Digo com vergonha tomando das mãos dele o fazendo soltar uma gargalhada.

—Catarina, não precisa ter vergonha de mim. No final das contas, vou conhecer cada peça de roupa sua.

Ele estava certo. Agora estou morando com ele e pelo visto vamos transar mais vezes. Só espero que não doa... Novamente tento fugir das lembranças daquela noite e lembro do aviso que as meninas me deram. Respiro fundo e então encaro Jean:

—As meninas me deram a pílula do dia seguinte, por conta... do que aconteceu – revelo desviando o olhar e olhando para as minhas roupas intimas na minha mão.

—Que ótimo que elas deram – afirma Jean com um leve sorriso — Aliás, estava pensando em marcar uma ginecologista para você. Acho que você deveria procura se prevenir melhor.

— Só eu? E quanto a você? – questiono.

— Primeiro, que eu não fico grávido. Segundo a camisinha me aperta e eu não consigo... Enfim é muito ruim para o homem usar preservativo. Terceiro que você era virgem, então é uma mulher limpa, não precisamos nos preocupar com doenças.  Só você tomar a pílula regularmente já protege a nós dois de qualquer imprevisto. Além de ser muito mais prazeroso o contato pele com a pele, você não achou? .

Prefiro ficar quieta. Não quero prosseguir aquele assunto, pois estava me constrangendo. Concentro-me nas minhas coisas e vejo algo que me dá saudade: o tênis que minha mãe me deu.  Sinto falta dela e as vezes quero voltar aquele tempo, mas ao mesmo tempo não quero voltar para minha infância sofrida.

Retiro a caixa surrada com os meus tênis velhos e coloco na prateleira junto com os outros sapatos e fico admirando.

— O que é isso? – Questiona Jean mostrando um certo desprezo ao ver a cena.

— Meu tênis favorito.  Tenho tantas lembranças com ele. – Toco na caixa enquanto tento conter as lágrimas. Jean olha para meu tênis, faz uma cara de nojo e volta ao que estava fazendo.

Finalmente acabamos. Estávamos cansados e deitados no chão do closet olhando para todas aquelas roupas: as minhas e as dele. Eu sempre imaginava que teria essa visão um dia: das minhas roupas ao lado da roupa de um homem. Porém, na minha imaginação, este homem seria meu marido e estaríamos em uma casa que teríamos lutado muito para comprar. E essa casa seria o começo para ter uma família e fazer a história dessa família.  Teria inúmeras lembranças, desde momentos só eu e meu marido aos primeiros passos do primeiro filho. A saída de um filho por ter se casado e netos chegando para correr por esta casa. Essas cenas pareciam tão reais para mim quando fechos os olhos, mas logo abro quando sinto o peso do corpo de Jean em cima de mim.

— Em que estava pensando? – Pergunta Jean me dando beijos pelo rosto.

— Eu não me imaginava morar com um namorado. Quero dizer, sempre pensei que se eu fosse morar com um homem ele seria o meu marido e não um namorado. – Digo sentindo uma pontada de tristeza, mas meu coração dispara com as ações de Jean.

Jean me olha nos olhos e me dá um sorriso sutil com os lábios, Então morde seus lábios, parecia que iria me devorar a qualquer momento.

—  É muito comum namorados morarem juntos.  Esse seu pensamento é bem ultrapassado, Catarina. O casamento hoje em dia só acontece após as pessoas morarem junto depois de um tempo. – Suas mãos deslizam por meu corpo, até chegas nas minhas pernas, ele as puxa para ficarem dobradas.

— Mas eu quero me casar um dia, você não? – Questiono observando seus movimentos, estava torcendo para não ser uma preliminar antes do sexo, seu toque me assustava, eu não conseguia reagir contra.

— Claro que sim, e quero que a minha esposa seja chamada de Senhora Vasconcelos. – Ele sorri para mim me arrancando um sorriso falso, mas logo ele me beija de língua, sinto que seu quadril está pressionando o meu, seu membro está me cutucando através da roupa.

— Jean... estou exausta com a mudança. – Digo torcendo para ele não brigar comigo com a minha rejeição, mas eu não estava pronta para a minha segunda vez.

— Eu também estou... só estava te dando uns beijos. Eu não sei resistir a você e por isso estou excitado. – Ele senta no chão entre minhas pernas, me puxa pelos braços para ficar sentada no colo dele.

—  Está com fome? – pergunto, torcendo para a resposta ser sim, eu só quero sair daquele clima de excitação e tenso.

— Sim, mas vou pedir comida, enquanto isso... – Ele beija meu pescoço me deixando arrepiada, mas tudo que eu quero é sair de seu colo. — Sergio está me esperando, temos um compromisso. Você vai ficar bem sozinha por algumas horas?

— Claro. – Finalmente ele me solta e eu me levanto rapidamente. —  Mas que compromisso é esse?

Ele levanta, ignora totalmente o que perguntei. Pega algumas roupas e vai para o banheiro tomar um banho. Eu fico me questionando será que ele ouviu? Ou não quer me contar o que é? Jean termina o banho e estava lindo, arrumado e cheiroso como sempre.

— Eu volto dentro de algumas horas, no máximo três, está bem? – Ele me beija rapidamente, pega as chaves do carro que estão penduradas.

— Mas Jean... Que compromisso é esse? – questiono cruzando os braços com um semblante sério no rosto.

Agora sei que ele ouviu, pois está parado perto da porta. Ele caminha em   minha direção, coloca suas mãos em meu queixo não muito forte, mas forçando eu olhar para ele:

— Deixa eu explicar uma coisa, Catarina... Eu vou repetir mais uma vez:  não vá por esse caminho de mulher ciumenta. Se eu quiser te contar o que estou indo fazer, contarei. Porém, existem coisas que são apenas da minha conta e este compromisso é uma coisa minha. Coisas de homem, entendeu?

Ele solta meu queixo assim que aceno com a cabeça confirmando ter entendido. Seu rosto se aproxima do meu e eu fecho meus olhos achando que vai me beijar, mas logo se afasta e sai pela porta batendo com força. Novamente eu fui burra e acabei irritando Jean com algo ridículo. Ele tinha razão, bancar a ciumenta não seria bom para nosso relacionamento. Ele pode ter as coisas dele e seus compromissos. Talvez esse seja um dos que o Jean teve de abrir mão para me buscar.  Sei que também posso ter as minhas coisas e não sou esse tipo de pessoa que prende a outra ou controla.

Decido me aventurar pelo apartamento para conhecer o resto, onde ficava cada coisa em seu devido lugar. Imagino se alguma vez ele trouxe alguém aqui, no caso a Letícia. Será que ele a deixava sozinha assim também?  Para onde iria?

***

Haviam se passado cinco horas e eu estava morta de fome. Decido preparar algo para comer, termino o preparo da comida e nada de Jean aparecer. Depois fico verificando o telefone para ver se havia alguma chamada perdida ou mensagem deixada por ele, mas não tinha nada. Decido ligar para ele, mas estava desligado o telefone ou fora de área. Decido assistir TV no quarto para esperar Jean e eu acabo pegando no sono por já ser noite.

Sou acordada com uma luz acesa na minha cara.  Tento abrir os olhos com certa relutância e vejo um borrão de um homem tirando a roupa e indo para o banheiro.

—  Jean? – Pergunto sonolenta parada na porta do banheiro. — Chegou agora? Que horas são?

— Volte para cama, Catarina.

Como estava cheia de sono ainda, decido volta para a cama, acabo adormecendo novamente e sem notar se Jean voltou para a cama ou não.

Acordo no outro dia, Jean estava dormindo ao meu lado. Era uma bela visão o seu rosto tão sereno que prefiro não o acordar.  Decido fazer uma surpresa e preparar o café da manhã. Faço um café preto e omeletes, pois como ainda não estou habituada ao bairro, não sei aonde tem uma padaria, mas sei que Jean gosta de omeletes.  Termino de preparar quando ele aparece sonolento na cozinha. Decido ignorar sua presença e terminar de servir as omeletes enquanto ele senta em um dos banquinhos da ilha e sinto seu olhar sobre mim.

—  Fiz o café. – Pego uma das xícaras servidas com o café que fiz e entrego em sua mão.

—  Faz muito tempo que não bebo café caseiro. Obrigado, meu amor. – Ele bebe calmamente.

Termino as omeletes e sirvo. Aquela manhã estava muito gostosa, o tempo estava um frio suave e o clima entre nós bem tranquilo. Esses momentos calmos que tenho com Jean são os melhores. Arrumamo-nos e então noto que essa seria a primeira vez que estávamos indo buscar o Sergio e não ao contrário. E o melhor, e eu não preciso esperar que me ofereçam lugar da frente ou sentar atrás. Paramos na frente da casa do Sergio, ele sai rapidamente e vem em direção ao carro entrando no banco do passageiro.

—  Olha quem está aqui cedo, a primeira dama. – Comenta Sergio, surpreso e se ajeitando no banco de trás.

— Catarina agora mora comigo, Sergio. Vá se acostumando. – Avisa Jean.

Eu estranho a surpresa de Sergio, afinal eles estavam juntos ontem.  Por que Sergio não saberia que eu me mudei ontem para casa de Jean?

—   Você não contou pra ele ontem? – pergunto quebrando o silencio do carro.

— Eu estava com muita coisa na cabeça. Sergio sabe que ficamos bem ocupados e não tivemos tempo para conversas triviais. – Respondo Jean sem olhar para mim.

— Ontem concluímos o último trabalho da faculdade. Finalmente o último! – complementa Sergio.

Isso me faz lembrar que eu não fiz o meu trabalho que era para ser entregue ontem. Eu não tenho nada para entregar, Patrick fez sozinho o trabalho e deve conseguir alcançar a nota máxima, mas eu com certeza me ferrei nesta matéria, a menos que eu consiga uma prorrogação com a professora.

Chegamos na faculdade, eu vou diretamente para o departamento dos professores. Caminho em direção a sala da professora e a encontro conversando com outro aluno. Noto que em sua mesa estão todos os trabalhos. O aluno estão se despede e sai da sala, nos deixando a sós.

— Desculpa professora, a senhora tem um minuto? – Digo tentando não aparentar que estava aflita.

— Diga Catarina. – Responde a professora com um semblante sério.

— Eu não consegui entregar o seu trabalho ontem. Meu fim de semana foi corrido, minha mãe veio pra cá e queria me levar e... – Disparo as palavras, mas ela me interrompe levantando a mão para mim.

— Você quer um novo prazo? – questiona enquanto se apoia na mesa. Ela então balança a cabeça negativamente — Não vai acontecer. Eu dei um prazo mais do que suficiente para esse trabalho ser feito. Sinto muito, mas não há nada que possa fazer, até por que você já reprovou por falta.

—Falta? – questiono, surpresa. — Mas eu nunca faltei...

—Catarina, você tem chegado atrasada nas minhas aulas. Ontem você nem ao menos foi... Eu não sei o que está acontecendo com você, mas espero que consiga resolver isso na próxima vez em que for fazer a minha matéria. Isso é tudo.

Reprovada?  Eu nunca na minha vida havia reprovado alguma matéria, eu era sempre a aluna exemplar, entregava meus trabalhos a tempo, nunca faltei uma aula e sempre ganhava prêmios na escola por uma ótima conduta. Quando eu vou sair da sala vejo Patrick parado na porta me olhando:

—  O professor pediu pra te chamar, vai começar a prova – informa  e sai andando em direção oposta.

         Entro na sala de aula e noto que todos estão preparados para um prova. Sim, uma prova que eu nem lembrava que teria. Sento no meu lugar e olho para a folha e não consigo me lembrar de nada. Nem ao menos que disciplina era aquela. O que aconteceu comigo? Eu nem ao menos tento realizar a prova e a entrego para o professor, saindo da sala. Eu caminho pelo corredor sem rumo, apenas segurando o choro. Fico sentada do lado de fora esperando dar o horário do Jean chegar com o carro. Quando ele finalmente chega com o Sergio, caminho rapidamente tentando disfarçar minhas lágrimas:  

— Você está bem? – Pergunta Jean que abre a minha porta novamente.

Eu começo a chorar e aceno com a cabeça de maneira negativa. Eu não queria acreditar que consegui reprovar em uma matéria por causa de falta e não acredito que esqueci da prova.

— O que aconteceu desta vez? Foi aquele cara de novo? – Pergunta Jean ficando irritado e elevando a voz.

— Eu reprovei...

— Reprovou? O período? – Questiona Jean, enquanto Sergio começa a rir.

— Relaxa Cat, faz parte da vida, é só fazer a matéria de novo, não é o fim do mundo.

— Eu nunca reprovei ta legal! Eu sempre fui boa aluna e agora isso! – Desta vez o choro era compulsivo.

Jean fecha a minha porta, dá a volta no carro e liga.

—  Não é o fim do mundo, Catarina. Faça exatamente o que o Sergio falou: você não perdeu o período... quer dizer se você foi bem nas outras, você passa de período e depois é só puxar a matéria. – Jean diz como se estivesse irritado.

— Eu acabei de bombar em uma prova também – revelo recebendo uma careta dos dois que permanecem em silêncio.

Enquanto Jean dirige, eles conversam sobre qualquer assunto trivial de sempre, mulheres, sexo e bebida. Eu fico apenas olhando pela janela tentando não chorar mais e tentando ver uma maneira de contornar o meu erro. Preciso mudar minha postura com os estudos. Após Jean deixar Sergio na casa dele, ficou um silencio absurdo dentro do carro até chegarmos no apartamento. Entramos no apartamento, eu cabisbaixa apenas queria ficar sozinha, então Jean bate à porta atrás de nós.

—  O que foi Catarina?! Eu já não falei o que vai acontecer?! – Dispara Jean.

— Eu não disse nada, apenas estou chateada por ter reprovado e bombado na prova. Se tivesse feito meu trabalho e não ter ido ao jantar...

— Vai me culpar pelo seu fracasso?! Francamente era só o que me faltava, me culpar por tudo agora. – Ele passa por mim indo para o quarto. Arranca os sapatos, se joga na cama e liga a TV.

—Eu não disse que era sua culpa, Jean. – Digo parada na porta.

— Assunto encerrado Catarina – decide Jean, sério — Se você fosse realmente boa aluna, teria se virado para entregar esse trabalho a tempo.

Aquelas palavras pareciam um golpe na minha barriga. Estive ocupada com as coisas que ele me encarregou e com aquela agenda estupida, mas ele tinha razão. Não posso me justificar ou culpar ele por isso, pois isso tudo aconteceu porque eu pedi. Fui que quem pediu para conhecer os pais dele. Eu sabia que ficaria ocupada e deveria ter me virado para fazer o trabalho, como sempre fiz a minha vida toda. Sinto-me decepcionada comigo mesma e por decepcionar Jean. Arranco meus sapatos e deito na cama ao lado dele e abraço seu corpo, enquanto repouso a minha cabeça em seu peito e olho para a TV. Então prometo a mim mesma que não perderei esse semestre.


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