A Ilusão da Realidade escrita por Kisara


Capítulo 9
Retratos de Famílias Diferentes


Notas iniciais do capítulo

Olá! ♥

Decidi postar esse capítulo rápido assim porque foi outro que eu acabei dividindo de tão grande que ficou hahaha Não sei que milagre anda acontecendo que eu ando gostando tanto das cenas que eu escrevo ultimamente, mas quero aproveitar para escrever e postar o máximo que eu conseguir enquanto isso dura ♥ Além disso, a próxima parte fala sobre algo que eu ainda quero ter certeza que escrevi sem dizer nenhuma bobagem, então quero revisar e editar com muito carinho e atenção... talvez eu só consiga postar lá pro meio/final da semna que vem, então já quero deixar essa parte aqui para vocês lerem enquanto isso ♥

As notas finais são importantes! Leiam, por favor!

Boa leitura!! ♥



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Nem os meus livros, nem as minhas músicas relaxantes e nem a companhia dos meus melhores amigos conseguiam me fazer parar de pensar na conversa que estava por vir. Se me abrir com as outras pessoas da minha idade já era difícil, tentar falar com gente mais velha parecia ser uma missão impossível, às vezes. Ainda mais quando se tratava dos meus pais.

Minha mãe foi a primeira a chegar naquela noite, o que não era incomum. Eu não sabia se falar com ela seria mais fácil ou mais difícil, mas engoli a seco e corri para cumprimentá-la assim que ouvi a porta da frente sendo fechada.

— Boa noite, mãe — falei assim que a vi e tentei sorrir. — Como foi o seu dia?

— Boa noite — ela me respondeu com a seriedade de sempre. Eu já estava acostumada. — Foi cansativo e corrido, como sempre. Você está com pressa por algum motivo? Por que está respirando assim?

Droga. Ela sempre reparava qualquer diferença em mim, mesmo quando nem eu notava que alguma coisa estava diferente. Pelo menos isso me deu a brecha que eu precisava para ir direto ao assunto.

— É que eu queria falar com você… — Aquela foi a melhor forma que eu encontrei para começar o assunto. — A Emily me convidou para passar o final de semana na casa dela.

— A Emily, é? — minha mãe questionou. — Logo aquela menina festeira?

Droga, droga, droga. A conversa já estava indo de mal a pior. Como eu poderia deixar a situação mais leve?

— É que eu comentei que ia ficar aqui sozinha e ela quis me fazer companhia. — A minha explicação não era a melhor, mas eu preferia evitar muitos detalhes. — Acho que eu também prefiro não ficar sozinha aqui nessa casa enorme.

Minha mãe levou a mão ao queixo e me analisou, as sobrancelhas arqueadas de tanto receio. Será que ela conseguia sentir que essa não era toda a verdade? Ou será que ela só não gostava tanto da ideia?

— Tenho que concordar que você estaria mais segura com companhia. — Ela balançou a cabeça, visivelmente frustrada. — Confio em você para se cuidar sozinha e cuidar da casa, mas aqui é a capital, as coisas são bem diferentes… Melissa, preste atenção no que eu vou te dizer.

— Sim?

Olhei para cima sem piscar, nem respirar. Pelo jeito, meu argumento tinha sido bom.

— Eu não gosto muito dessa sua amizade e nós vamos ter uma conversa bem séria se as suas notas caírem por causa dessa menina. Não quero ver você ficando assim, como essa gente daqui. Vai depender de você, certo? Você sabe o que é certo e errado, então não faça nada que não deve ou vamos ter que rever as coisas. Agora, tome um banho logo e vá dormir. Você precisa estar descansada para a aula amanhã.

Minha mãe virou e andou na direção da cozinha. Eu sabia que aquilo era o mais próximo que eu ia chegar de ouvi um “sim”, então tentei ignorar tudo o que me deixava angustiada e foquei em comemorar o pequeno sucesso com Roy e Liesel, que acenavam para mim. Lizzie pulava de alegria e eu suspirei aliviada.

Era melhor não pensar em tudo que poderia dar errado.

 

***

 

Quase não senti a semana passar. A companhia de Emily, a tensão com Alex e a insistência de Roy me deixaram com a cabeça tão ocupada que, quando me dei conta, já era sexta-feira. Incrível como o tempo conseguia voar quando eu não queria que o dia da festa da minha irmã chegasse nunca.

Emily ainda não tinha discutido planos concretos e nem mencionou a invasão outra vez, então eu estava torcendo para que ela tivesse esquecido disso, mesmo que fosse improvável. Eu sabia que ela não deixaria algo assim passar.

Eu estava começando a me acostumar com a companhia de Emily e isso me ajudou a conhecê-la um pouco melhor. Apesar de ainda estarmos começando a nos entender, de uma coisa eu já sabia: Emily não desistia. Foi assim que ela conseguiu se tornar uma presença constante na minha vida e, para começo de conversa, também foi por isso que eu concordei com aquela festa do pijama. Algo me dizia que eu teria que lidar com o lado insistente de Emily outra vez muito em breve.

Durante aqueles dias, Roy simplesmente não me deixou em paz. Ele sempre tinha que fazer uma das suas sugestões cretinas quando percebia que eu não queria falar sobre o assunto, então isso acontecia o tempo quase todo.

Por que você não tenta falar com esse garoto? Ele sussurrava no meu ouvido sempre que o víamos. Eu me sentia cada vez mais longe de encontrar um jeito de fazer aquilo — mesmo com tudo que estava entalado na minha garganta — e me contentava em saber que essa tortura psicológica logo estaria no passado junto com aquela droga de apresentação de física. Saber que eu não precisaria falar com ele nunca mais depois que isso tivesse passado me animava um pouco.

Apareça na festa com a Emily, então! Ele sugeria sempre que nos encontrávamos com Emily, porém eu tentava evitar o pensamento. Aparecer naquela festa nunca esteve nos meus planos e pensar nisso me dava ânsia de vômito só de imaginar a cara que a Larissa faria se me visse pelo salão. Nossa relação pode nunca ter sido muito boa, mas eu não queria fazer as coisas daquele jeito.

E quem falou em invadir quebrando tudo? É só ir escondida, ora! Roy tentava insistir e ria satisfeito enquanto jogava os cabelos para trás sempre que tocava nesse ponto. Quando a conversa chegava ali, eu virava o rosto e não tentava mais discutir. Ficar rebatendo as falas dele era infantil demais, além de não resolver nada.

Hmm… já sei! Então que tal parar de inventar desculpas e tomar uma atitude? Aposto que você ainda vai reclamar que as coisas nunca mudam!

Quando a conversa chegava nesse ponto, eu parava de prestar atenção e o ignorava por algum tempo. Lizzie acabava sendo minha melhor companhia nesses momentos, mesmo quando ela só cantarolava músicas que inventava na hora enquanto rabiscava desenhos ou fazia qualquer coisa do tipo. Por mais que eu soubesse que precisava enfrentar todos aqueles medos, ter uma consciência constante nem sempre era tão útil quanto as outras pessoas poderiam imaginar. As verdades de Roy nunca me deixavam ficar em silêncio comigo mesma.

 

***

 

Tô perto, vc pode abrir o portão?

As pontas dos meus dedos tremiam quando apertei o botão e enviei a mensagem, mas ideia de tocar a campainha e não saber quem responderia me assustava muito mais. Apesar de Emily querer que eu já voltasse com ela depois da aula e almoçasse ali, isso ainda parecia ser muito mais contato do que eu me sentia capaz de manter com outra pessoa. Passar o dia inteiro prestando atenção em tudo e pensando mil vezes antes de dizer qualquer coisa ainda era cansativo demais para mim, então eu dei uma desculpa boba e disse que só podia aparecer agora, no final da tarde. Passaro final de semana inteiro ao lado dela já seria um grande desafio e eu precisava desse tempo para me preparar.

Emily sorriu e soltou um gritinho de animação quando me viu, enquanto Lizzie deu pulinhos ao meu lado. Sempre que eu a encontrava, seu rosto estava coberto por alguma maquiagem e suas roupas marcavam o seu corpo da melhor forma que ela conseguisse encontrar. Mas, naquele momento, ela estava descalça, vestia uma calça de moletom largo e uma camiseta velha e seus cabelos cacheados se espalhavam para todos os lados. Era estranho vê-la daquele jeito tão leve e descontraído; ao mesmo tempo, eu já estava gostando de conhecer esse outro lado de Emily. Talvez passar as coisas acabassem não sendo tão complicadas assim…

— Vem, Mel! A minha mãe tá louca pra te conhecer! — ela me puxou pelo pulso assim que eu entrei. — Anda!

— Ok… — tentei forçar um sorriso. — Ótimo!

Socorro! Eu mal tinha dito duas palavras e já me sentia uma esquisita! Por sorte, Emily estava tão feliz ao me arrastar para dentro da casa que não deu muita atenção para o meu constrangimento.

O amarelo neutro, quase bege pintado nas paredes da sala era tranquilizante. Tentei dar uma olhada rápida ao meu redor enquanto Emily chamava a mãe, mas o espaço não era muito diferente da sala da minha própria casa. Havia uma TV gigante perto da parede, duas poltronas, uma mesa de centro e uma estante enfeitada com vasos de flores. E, além de tudo isso, também encontrei algo que chamou muito a minha atenção, porque foi o que fez toda a diferença para mim: junto com os vasos da estante e sobre a mesa de centro, espalhado vários porta-retratos espalhados pelo ambiente com diversas fotos de família. Emily estava com duas pessoas que eu presumi serem seus pais e os três pareciam nunca parar de sorrir em praticamente todos os retratos. Algumas fotos foram tiradas na neve, outras na praia… ver aqueles cenários fez com que eu me perguntasse que outros tipos de viagem em família eles já teriam feito.

Mesmo sendo tão semelhante, aquela sala era muito, muito mais aconchegante do que a que tínhamos na minha casa.

— Ora, vejam só quem finalmente decidiu aparecer! A Emily não para de falar de você, sabia?

Se não fosse pelos traços da idade que já marcavam o rosto da mãe de Emily, eu teria jurado que elas eram irmãs, não mãe e filha. Elas compartilhavam o mesmo tom de pele negra, os olhos grandes, o nariz arrendondado, as pernas longas e a altura acima da média, além de estarem as duas com as unhas longas e muito bem pintadas. Até os cabelos cacheados e volumosos pareciam se espalhar pelos mesmos lados. Eu tentei forçar outro sorriso do melhor jeito que pude e me aproximei para um aperto de mão, porém ela me puxou com força e me apertou antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

— Boa tarde, senhora — eu tentei, porém não consegui falar mais alto que um murmúrio. — Tudo bem com vocês?

Quanto mais eu abria a boca, mais eu sentia vontade de me esconder no buraco do coelho da Alice pelo resto da vida. E o que mais eu poderia dizer? “Sei mais sobre a vida da sua filha do que a senhora já chegou a sonhar”?

— Senhora tá lá no céu, viu? — ela riu alto, olhando para mim. — Eu sou a Elisa. Você pode se sentir em casa, mocinha!

Eu só reparei na xícara de café laranja gigante que a mãe de Emily estava segurando depois que me afastei dois passos. Ela sorriu outra vez e colocou a mão sobre o meu ombro.

— Obrigada! — Tentei imitar o sorriso gigante no rosto dela, porém pude sentir que não tinha dado muito certo mesmo sem vê-lo.

— É bom ver a Emily finalmente fazer uma amizade de verdade — ela prosseguiu e eu mordi o lábio. Ainda bem que a mãe de Emily continuou a conversa, porque eu não sabia como responder aquele comentário. — Quer um pouco de café? Um pão? Ou você prefere um achocolatado?

Aquele entusiasmo estava começando a ajudar um pouco. Pelo jeito, ela não era muito diferente da filha também na personalidade. Mesmo assim, eu ainda estava me sentindo com vergonha demais para aceitar qualquer coisa.

— Tudo bem, eu acabei de tomar café — inventei para conseguir escapar.

— E tem aquela pizza pra gente depois, né? — Emily sorriu torto para a mãe. — E então, vamos começar? O que você quer fazer?

— Hmm… não sei…

Abaixei a cabeça e o riso de Roy finalmente invadiu os meus ouvidos. Já estava demorando, eu pensei e ele riu mais ainda, se esparramando em um dos sofás enquanto brincava com o anel pendurado do seu cordão.

— Você não vai ter coragem de sugerir nada, mesmo, não é, Mel? — ele tentou me provocar. — Uma pena. Talvez essa fosse uma boa chance para a Emily conhecer você melhor, também, só que é claro que você não vai arriscar. Afinal, você não quer ser chata, não é mesmo?

Ora, era claro que não. E se Emily não gostasse da minha sugestão? Eu não queria que ela se sentisse obrigada, ou muito menos que a noite já começasse sendo uma porcaria e ela percebesse o erro que cometeu convidando a maior desajustada do mundo para uma festa do pijama. Balancei a cabeça para tentar ignorar Roy e voltei a olhar para Emily.

— O que você costuma fazer a essa hora? — Não consegui pensar em outro jeito de puxar o assunto.

— Que tal vermos um filme? — A resposta veio em menos de um segundo. — Eu tenho TV no meu quarto e também tem a da sala, que é bem maior! Você escolhe!

Outro filme? Ótima ideia! Eu sabia que o silêncio não ia durar para sempre, mas isso me daria algum tempo para absorver o que estava acontecendo ao meu redor e me preparar para o resto da noite.

— Adorei! — Dessa vez, minha animação era verdadeira. — Pode ser no seu quarto?

Eu não queria invadir o espaço dela, porém a sala e o espaço da família eram ainda mais intimidantes. Felizmente, Emily acenou com a cabeça e fez sinal para que eu a seguisse pelo corredor, então apressei o passo para acompanhá-la. Meu coração começou a disparar e foi aí que eu me dei conta… estava acontecendo. Aparentemente, eu estava mesmo começando a fazer uma nova amizade e eu não conseguia nem ao menos imaginar como as coisas poderiam acabar dessa vez. Acho que eu já estaria feliz se as coisas fossem diferentes agora.

E eu já não sabia o que pensar, porque o quarto de Emily não era nada parecido com o que eu imaginava.


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Notas finais do capítulo

Então... eu sei que eu não mencionei o fato da Emily ser negra antes, ainda no começo da história e quero corrigir isso. Eu costumava descrevê-la como morena na primeira versão lá em 2011 e hoje eu sei que esse termo não é o mais correto a ser usado. Estou aprendendo e quero continuar aprendendo! Mas eu sou tão branca que seria transparente se eu fosse mais branca ainda, então tem horas que eu fico com muito medo de errar feio. Não quero que os meus personagens todos sejam brancos, héteros e completamente dentro do padrão, mas também preciso ter certeza que vou trazer a cor dela e as dores e lutas que ela vive da forma certa para essa história sem tomar o lugar de fala de ninguém e sem reproduzir mais preconceitos mesmo que não seja a intenção. Será que posso contar com a ajuda de vocês? Dúvidas, sugestões, críticas construtivas, qualquer coisa que vocês possam me apontar vai ser importantíssimo, eu preciso ouvir a voz de quem vive isso, ou sabe mais do que eu. Não tenham receios de ser sinceros, certo? Não só pela história ou pela minha escrita, mas também porque eu realmente quero continuar aprendendo sempre mais independente disso.

Bom, acho que já falei demais... vou ficando por aqui. Tentarei trazer o próximo capítulo assim que possível, mas ele precisa de uma edição bem cuidadosa e eu não quero postar qualquer coisa! ♥

Até a próxima! Muito obrigada!! ♥



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