Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 8
Capítulo VII


Notas iniciais do capítulo

Olá amores, mais um capítulo para vocês e como prometido, com reencontro hehe. Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789063/chapter/8

CAPÍTULO VII 

O corpo humano com o qual fora transfigurado mostrava-se tomado por um cansaço incomum para o arcanjo, Kambriel sentia como se um grande peso tivesse sido jogado em seus ombros e todos os seus músculos pareciam doer. Tudo aquilo causava nele uma estranheza por não compreender muito bem como o corpo humano funcionava. A poltrona aonde estava sentado parecia ajudá-lo com a dor que tinha no corpo, agradeceu por ela ser estofada e confortável o bastante para que ele seguisse por três horas consecutivas sentado na mesma.  

Seus olhos mantinham-se fixos no homem deitado na cama hospitalar ainda adormecido, a enfermeira lhe dissera que demoraria para que ele acordasse, mas a preocupação para com a vida do pastor o impedia de desviar os olhos dele. Até porque temia que houvesse uma segunda tentativa contra a vida do homem enquanto estavam dentro daquele hospital.  

Por não estar acostumado com o dia a dia humano, as três horas passadas desde o que houve na igreja pareceram esgotá-lo de uma maneira nunca vista antes, era um fato que ele precisava se acostumar totalmente com seu corpo humano e percebera como tal processo estava levando mais tempo do que era esperado. Provavelmente por ele ter se focado demais em sua missão e não ter tirado um tempo para seu eu humano. O tempo que estava a observar o pastor, de certa maneira veio a calhar, pois estava finalmente descansando; ainda que não fosse o descanso correto para seu corpo.  

Da janela do quarto hospitalar era possível ter uma visão ampla de como estava o ambiente do lado de fora, algumas poucas nuvens cinzas apareceram dando a entender que o clima iria cair um pouco, porém o que chamou sua atenção foi a mistura de cores anunciando o pôr do sol. Kambriel sempre adorou assistir o sol se pôr e sempre considerou o acontecimento como uma das mais belas criações do Senhor e mesmo que gostasse muito de assistir tal evento, o perderia naquele dia por um bom motivo. 

Seus pensamentos se voltaram para o homem e o que houve horas atrás, internamente o arcanjo continuava a batalhar contra seu lado guerreiro. Se não estivesse na terra transfigurado como um ser humano, não hesitaria em encontrar o demônio responsável pelo ataque, sabia que se tomasse aquela decisão desencadearia uma série de reações que resultariam numa batalha até o momento desnecessária e perigosa. Contudo Kambriel não conseguia negar e nem mesmo esconder que, se dependesse apenas dele, o demônio responsável já teria pago pelo fizera.  

Tentou voltar sua concentração apenas para o pastor ainda inconsciente, no momento era ele sua prioridade, apesar de ter em mãos uma missão importante. Decidiu que não sairia daquele hospital até que o homem acordasse, sentia-se responsável por ele desde o segundo em que não fizera absolutamente nada para impedir o demônio de atacá-lo, o peso que sentia nos ombros era isso: A culpa. O estranho sentimento que sentiu lhe dominar com tanta rapidez.  

Um barulho o assustou, pegando-o de surpresa por estar tão concentrado no pastor. O som não veio de longe e nem de algum outro lugar, veio dele, mais especificamente de seu estômago; avisando que a principal necessidade humana ainda não fora sanada.  

Estava com fome. 

O rapaz levou uma mão para a própria barriga, pela primeira vez percebendo e dando importância ao vazio que sentia no corpo desde cedo; quando tentou se alimentar e deixou a lanchonete para procurar pela filha do pastor Jacob. Kambriel conhecia muito pouco daquele lugar, mas encontrou em sua mente a lembrança de que tinha uma máquina de salgadinhos naquele mesmo corredor e que o vira quando estava caminhando em direção ao quarto aonde o pastor Jeffrey fora alocado.  

Ainda que estivesse hesitante sobre deixar o homem sozinho, o arcanjo entendeu que se não se alimentasse com alguma coisa ficaria enfraquecido e ele sabia o que acontecia com os corpos humanos na ausência de uma alimentação. Incerto de sua decisão, ele levantou-se da poltrona e caminhou para a porta do quarto, alternando seu olhar entre o corredor calmo daquele andar e o interior do quarto, avistou a máquina de salgadinhos mais a frente, mentalmente contou em torno de nove passos até ela; não estava longe e poderia voltar rapidamente ao quarto.  

Assim o fez, deixou o quarto e não fechou a porta. Se acaso sentisse ou percebesse algo de estranho que poderia estar acontecendo, correria de volta e dessa vez o protegeria.  

Seu cálculo dos passos até a máquina se mostrou errôneo, na verdade foram doze passos até a máquina. Kambriel viu uma variedade de salgadinhos dos quais desconhecia todos e nem mesmo sabia seus sabores ou se eram apropriados para serem digeridos, o que acabou gerando em sua mente mais dúvidas sobre o tipo de comida que os humanos comiam. Dando-se conta de que precisaria escolher um para comer, o rapaz escolheu um da embalagem que mais lhe chamou a atenção, era um pacote azul escuro com letras grandes e amarelas, formando uma palavra que ele julgou ainda mais estranha do que a aparência do tipo de salgadinho que era exibido na embalagem.  

Olhou então para o painel ao lado do vidro que exibia os pacotes, viu dez botões quadrados mostrando a numeração de 0 até 1 e mais alguns botões que não pareciam fazer nenhum sentido para ele. Também tinha mais três painéis menores, um deles mostrando um desenho quase minúsculo de um tipo de cartão e o outro mostrando algo que seria uma nota de dinheiro. Nesse mesmo segundo algo em sua mente pareceu ser ligada e foi então que o arcanjo Kambriel percebeu que estava sem dinheiro. 

— Oh não. — Murmurou para si mesmo, sentindo uma leve frustração dominar seu corpo. Como pudera deixar tal detalhe de lado, odiava admitir que o mundo dos homens era movido pelo dinheiro e naquele momento, era disso que precisava. Caso contrário, não conseguiria se alimentar.  

Ele torceu os lábios de forma reflexiva, olhando para todas as nove opções de salgadinhos que a máquina estava lhe exibindo, tentou não pensar no som estranho e bizarro que seu estômago fez quando imaginou qual seria o gosto daquele tipo de alimento. O rapaz deu as costas para a máquina, sabendo que se continuasse a encarar todos os pacotes de salgadinhos acabaria tomando alguma atitude da qual não se orgulharia, pensou no que iria fazer. Aonde iria conseguir ao menos a nota de dois dólares que era o necessário para conseguir um pacote.  

— Você por aqui? — A voz feminina que ele imediatamente reconheceu e que ecoou por sua mente o fez virar-se numa ação imediata. Uma reação estranha de seu corpo que ele não entendeu.  

A filha do pastor estava ali, próxima a um outro corredor que possivelmente levaria para outro andar, — ele não sabia exatamente — e se aproximou com poucos passos, parando rapidamente ao vê-lo mais de perto. Ela estava usando outras roupas naquele momento, uma blusa marrom com mangas longas aparentemente fina para o clima que parecia que cairia alguns graus, o cabelo curto e castanho estava preso por um tipo de presilha, permitindo que seu rosto estivesse mais visível e limpo.  

— O que faz aqui? — Perguntou, a curiosidade estampada em seus olhos castanhos e pequenos enquanto o encarava com um olhar duvidoso, porém discreto. 

A pergunta feita por Alana o fez pensar sobre qual resposta daria a ela. Não iria mentir pela segunda vez naquele dia quando ainda se sentia estranho por ter dito ao pastor que era um jornalista, mas ele também não podia contar a ela — uma humana — o motivo de ele estar no hospital.  

— O pastor Jeffrey não estava bem e o trouxe aqui. — Foi tudo o que disse, o que era uma verdade; apesar de estar omitindo uma parte importante daquela verdade.  

Sua fala foi o suficiente para tirar da jovem uma reação de pura preocupação. 

— O quê? Como? — Ela avançou em sua direção ficando mais próxima do arcanjo enquanto seu rosto demonstrava com extrema clareza a preocupação visível. — Eu posso vê-lo? 

Kambriel sequer conseguiu acompanhar as três perguntas feitas, sua resposta foi um aceno com a cabeça e ele gesticulando mostrando a direção do quarto aonde o homem estava, ela nem pareceu hesitar, quando o rapaz percebeu estavam os dois seguindo em direção ao quarto. A filha do pastor com passos mais apressados por claramente ser mais próxima ao homem do que ele.  

A morena entrou no quarto com a mesma rapidez de seus passos e quando o arcanjo percebeu, ela já estava ao lado da cama, seu rosto estampando a reação clara da preocupação que sentia ao ver o homem no estado em que estava; apesar de o médico que o atendeu lhe deixar claro que o pastor estava bem. Mesmo que estivesse ainda inconsciente.  

— O que aconteceu com ele? — Ao perguntar ela virou o rosto para olhá-lo, Kambriel também estava já dentro do quarto, porém mantendo uma distância consideravelmente longa dela.  

— Ele começou a passar muito mal, não pensei duas vezes em trazê-lo aqui. — Diz, alternando seu olhar entre o homem desacordado e a moça de pé ao lado da cama. Ela ainda o encarava, claramente não acreditou na resposta obtida e o rapaz percebeu isso. Não estava mentindo, ao menos não totalmente e a moça percebeu.  

Kambriel pensou em complementar sua resposta, sua mente procurava por algo que pudesse dizer a ela sem que desse muitas pistas do real acontecimento, mas antes mesmo que ele conseguisse pensar em algo assustou-se quando a viu virar-se de frente para ele com os braços cruzados e seu rosto tomado por uma expressão séria.  

— Você está mentindo. — Alega, olhando-o nos olhos e depois voltando-se para o pastor logo em seguida. — Não quero saber o motivo para mentir, mas sei que está.  

Era um péssimo mentiroso ele sabia muito bem disso, afinal não era como os humanos. Não fora criado para alimentar a mentira e tão pouco dizê-las assim com facilidade, por isso não se surpreendeu quando sua fala o acusou de estar mentindo, pois ele realmente estava.  

— Sabe se ele ficará bem? — Houve mais uma pergunta mudando de assunto, uma da qual ele saberia responder e o faria sem que fosse necessário mentir sobre. 

— O doutor disse que não foi nada demais, mas que ele precisa ficar em observação por um dia inteiro caso aconteça de novo. — Alana concorda com a cabeça, mas nada diz sobre. Nesse momento Kambriel perguntou-se o que ela estava fazendo no hospital e de forma discreta procurou nela algum ferimento que estivesse visível ou qualquer sinal de que ela teria de ferido desde a última vez que a viu naquele dia. Nada. Sentiu-se aliviado por isso.  

O arcanjo percebeu quando ela fez menção de se virar em sua direção novamente, mas acabou se distraindo quando teve sua atenção atraída para o corredor além do quarto. Duas enfermeiras passaram pelo quarto, ambas estavam conversando, mas não fora isso o que ele viu como fora do normal, foi o cheiro que seu nariz aspirou quando o mesmo pareceu se levantar dentro daquele quarto.  

— Você está sentindo esse cheiro? — Kambriel olhou surpreso na direção de Alana West, a filha do pastor, quando a ouviu fazer a pergunta porque ele não estava esperando que ela tivesse sentido o cheiro. Ela se afastou da cama, deu exatos três passos para frente e parou, ficando na mesma direção que o arcanjo, mas ainda distante dele, parecia procurar a origem do odor. — De... 

— Enxofre. — Ele completou sua frase num tom firme e pesado. Sentindo o corpo humano que tinha se tensionar depressa. Houve uma confirmação da humana, ela assentiu com a cabeça enquanto sua expressão mudava lentamente; como se ela também estivesse tensa.  

Apesar do forte odor fazer-se presente dentro do quarto, Kambriel não estava sentindo nenhuma presença estranha por perto e nem mesmo ali dentro e parte de si pareceu se aliviar com isso, mas outra continuava tomada pela tensão pelo simples fato de Alana estar também sentindo aquele cheiro. Existia uma explicação para isso, os humanos não eram desprovidos do olfato e o cheiro era algo que todos conheciam, mas o que parecia intrigá-lo mesmo era a mudança de comportamento da jovem. Como se algo em sua mente tivesse sido acionado para deixá-la estranhamente tensa também.  

— Está tudo bem? — Ele pergunta, olhando-a com cuidado. Percebendo que por causa do cheiro ainda predominante no quarto, ela continuava tensa.  

A filha do pastor West virou o rosto para encará-lo.  

— Estou. — Respondeu, hesitante e Kambriel notou isso nela, em como os olhos se desviaram rapidamente dele ao respondê-lo.  

O arcanjo fez menção de aproximar-se dela, mas pareceu pensar a respeito se deveria mesmo fazer isso. Havia muita coisa acontecendo em seu interior e não apenas seu lado celestial parecia estar em conflito, mas também seu lado humano; o que no momento era quem mais ganhava espaço devido ao corpo transfigurado. Contudo ele viu e sabia, não totalmente, que existia algo de errado com ela por causa daquele odor tão característico.  

— O que aconteceu? — A pergunta veio ao mesmo tempo em que ele avançou até ela e parou a exatos três passos de distância; mantendo-se afastado para que ela não visse sua aproximação como uma ameaça. — Esse cheiro, você ficou tensa quando o sentiu.  

Alana pareceu prender a respiração durante alguns segundos, os olhos estavam fixos num ponto qualquer do quarto hospitalar até que ela lentamente virou-se em sua direção, o encarando pela primeira vez sem que mudasse a direção de seus olhos logo em seguida. A filha do pastor mostrava-se hesitante sobre o que estava prestes a falar e isso o deixou em alerta.  

— Eu sei que pode parecer uma grande loucura ou uma simples coincidência, mas eu senti esse mesmo cheiro ontem. — Revela, deixando um certo constrangimento transparecer eu seu tom de voz. — Não foi nada demais, eu apenas me lembrei disso. 

O cenho do rapaz se franziu.  

— E o que veio depois desse cheiro? — A pergunta feita veio numa mistura de preocupação e interesse.  

— Não é importante... 

— É sim, Alana! — Ele a segurou pelos ombros, assustando-a com sua atitude e a surpreendendo por chamá-la por seu nome pela primeira vez; por saber o nome dela. — Precisa me dizer o que aconteceu depois, por favor.  

A moça pisca algumas vezes, como se tentasse recordar-se do que aconteceu depois; apesar de o arcanjo ter uma leve ideia do que se sucedeu ao ocorrido.  

— Esse cheiro de enxofre pareceu impregnar toda a minha casa e não importava o que eu fazia, ele continuava forte — Ela fez uma pausa e suspirou. — Depois a minha vizinha, uma senhora de sessenta anos bateu na minha porta e me atacou.  

— Como ela estava quando a atacou? — Continuou com o interrogatório sabendo que estava a deixando curiosa sobre até onde todas aquelas perguntas iriam. Era possível perceber isso nos olhos da jovem.  

— Você sabe de alguma coisa, não sabe? — Foi a vez dela de questioná-lo.

— Só me diz como ela estava. — Responde ele, mantendo seu olhar sobre a jovem que parecia mais interessada em descobrir o motivo de seu interesse do que em respondê-lo. 

— Eu não sei explicar direito, ela não parecia a mesma... — Alana coçou a cabeça, lembrando-se. — A aparência dela era...  

Kambriel se afastou dela, sentindo com precisão o segundo em que todo seu corpo foi dominado por uma forte tensão. Ele já sabia qual seria a resposta que Alana lhe daria, mas queria a confirmação dela para ter certeza do que faria a seguir.  

— Demoníaca? — Ao completar a frase por ela, Alana assentiu com a cabeça, dando a ele a afirmação necessária para que ele imediatamente soubesse o que tinha de fazer.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

~ E agora, hein???

~Próximo capítulo já adianto que vai continuar com mais Alana e Kambriel juntos hehe.

Nos vemos em breve :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre o Céu e o Inferno." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.