Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 6
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Olá! Demorei? Demais, eu sei. Meu computador quebrou e demorou demais para arrumá-lo, também meu gatinho morreu e isso simplesmente me deixou abalada demais, por isso a ausência tão longa, mas eu voltei e não vou mais sumir. Prometo.

Capítulo novo para vocês, esse demorou pra sair porque eu simplesmente não sabia como terminá-lo, mas descobri uma forma de não deixá-lo tão longo e também não tão curto, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789063/chapter/6

CAPÍTULO V                  

 Contar para Kelory o que houve na noite anterior mostrou para Alana que ela não deveria ter tomado tal decisão. Apesar de ter ouvido da boca de sua amiga que ela poderia contar sem medo de um futuro pré julgamento, não foi bem isso que aconteceu. 

West já esperava pelo olhar que lhe foi lançado assim que contou o relato de forma detalhada, era algo entre a descrença e surpresa que, causou na filha do pastor, um leve desconforto pelo que poderia vir a seguir. Algo que a pegou completamente desprevenida. 

O caminho da delegacia até a igreja central não era assim tão longo, levaria poucos minutos para que West fosse levada até o lugar. Contudo devido ao extenso sermão que recebeu de Kelory Ogura, o trajeto rápido pareceu ser mais demorado que o normal; fazendo a morena desejar sair o quanto antes daquele carro.              

A descrença não lhe incomodava como pensou que faria, até porque entendia que eles precisariam ver com os próprios olhos para acreditar em cada palavra que foi dita por ela. Mesmo que a prova maior sobre o assunto fosse Vívian Glesser, a mulher que estava com uma das pernas quebradas e agora internada no hospital em um estado desconhecido pela jovem. Vívian era a única prova que Alana tinha sobre o que houve, nem mesmo o cheiro ardente e forte de enxofre que empesteou sua casa poderia ser usado como prova. Após a chegada dos polícias, o odor simplesmente sumiu.              

Muitas perguntas e poucas respostas.  

Fazia um pouco mais de cinco minutos desde que fora deixada na porta da igreja central de Grória — como Alana havia pedido — e a dúvida agora parecia martelar com mais força dentro de sua mente. Após ouvir de duas pessoas confiáveis que, tudo o que aconteceu durante a noite passada era simplesmente impossível de ser real, a moça começou a questionar-se também. Se deveria seguir adiante com o assunto ou enfim aceitar o fato de que sua mente pode mesmo ter criado tudo aquilo.              

A dúvida fazia sua cabeça doer, seus pensamentos se confundirem e, por alguns segundos ela cogitou a hipótese de depor algo diferente do que foi dito para a polícia antes. Inventaria algo mais coerente que fizesse sentido para todos e talvez assim, se livraria de julgamentos e olhares de descrença.              

Alana virou o rosto na direção da construção da igreja, o grande prédio feito de forma a parecer com algo renascentista era um dos pontos mais atrativos de Grória. Grande para suportar um número alto de fiéis. Seus dedos se enroscavam uns nos outros enquanto pensava no que faria, após a morte de seu pai quem assumiu a igreja foi o pastor Jeffrey e sobre tudo o que houve nas últimas horas, Alana gostaria de conversar com alguém que provavelmente não a chamaria de louca de forma subliminar.              

Porém entrar na igreja depois de tanto tempo era uma quebra de uma própria regra que criou para si mesma duas semanas atrás. Para ela, era estranho entrar no lugar onde seu pai costumava passar a maior parte de seu tempo. As lembranças que viriam à tona assim que pisasse no interior da igreja a fazia recuar em questão de prosseguir ou não com isso.              

A decisão levou cerca de dez minutos para ser tomada, quando a jovem deu-se conta, suas pernas já a estavam levando para a entrada da igreja. Depois que as mortes sem explicação começaram a acontecer, os pastores dirigentes decidiram mantê-la aberta durante todo o dia. Então Alana esperava que não estivesse sozinha quando enfim entrasse, ou seja, mentalmente ela preparava-se para receber os olhares de espanto que viriam.              

Com passos incertos e lentos, West prosseguia encarando as duas portas de madeira abertas ao seu máximo como um convite para que entrasse. Sua mão apertou-se num punho firme enquanto sentia que suas pernas ganhavam mais tensão e força. O coração batia levemente mais acelerado que antes devido a grande incerteza que lhe dominava e ela tentou pensar em qualquer outra coisa, no que diria ao pastor Jeffrey quando o encontrasse e se deveria contar a ele o que aconteceu. 

Já perto da entrada, seu celular tocou de repente. O toque alto e chamativo a assustou, tirando da moça um salto único e uma exclamação silenciosa devido ao susto levado. Alana verificou a ligação e viu o nome de Thomas na tela, obviamente o homem estava preocupado com ela, pois não tinha nada mais do que a palavra incidente como justificativa para sua ausência no trabalho. Contrariando a si mesma e seu próprio jeito de ser, ela recusa a ligação, fazendo uma anotação mental de ligar para seu chefe assim que saísse da igreja.              

— Desculpe Thomas. — Murmurou após recusar a chamada e guardar seu celular.              

Alana parou de forma brusca assim que chegou na entrada da igreja, ficando entre a pequena e fina parede que fazia a divisão entre a parte interior do enorme salão e o lado de fora. 

Nesse momento seu coração acelerou ainda mais em seu peito, as lembranças de seu pai não vieram em sua mente como pensou que aconteceria, mas sentiu-se desconfortável por estar ali.              

Ainda incerta, ela avança alguns passos. Percebendo o salão vazio. West não se recordava de alguma imagem da igreja vazia como estava, o que tinha guardado em seus pensamentos eram imagens do salão lotado de gente e luminoso. Uma visão bem diferente da que tinha no momento.              

Ver a igreja vazia a fez repensar em sua decisão e se realmente deveria estar ali. Mordeu o lábio inferior com força e mudou de ideia, iria embora e encontraria uma outra forma de obter algumas respostas para suas questões sem sentido.              

Mesmo que existisse em sua mente algumas dúvidas que imaginava que o pastor Jeffrey poderia responder, a sensação de estar de volta no lugar não foi algo agradável de se sentir. O motivo era óbvio e envolvia apenas uma pessoa: Jacob West. Seu pai.  

Confusa e até mesmo um tanto perdida sobre o que deveria fazer, ela então enfim decide ficar. Contrariando a si mesma e todas as suas vontades. 

A morte ainda recente do homem de uma forma que ela ainda não compreendia a impedia de entrar na igreja por mais de cinco segundos, não que estivesse rejeitando a crença e tudo o que aprendeu, apenas não sentia-se cem por cento preparada para entrar. Não quando tantas lembranças do homem vinham em mente tão de repente. Alana então lembrou-se de Vívian Glesser e logo se viu preocupada com a mulher já de idade, queria saber como ela estaria e qual seria seu real estado. Aquela era a primeira vez que se lembrava da mulher, havia dado tanta importância em tentar não parecer uma completa maluca para Bill e Kelory que se esquecera da mulher 

Decidiu de última hora caminhar de volta para sua casa, o tempo para chegar seria o suficiente para organizar seus pensamentos e decidir o que faria nos próximos dias e principalmente, o que diria em seu depoimento oficial para Bill. Como bem sabia, ele não acreditaria na real história do que houve e por isso tinha em mente que precisaria pensar em algo que o fizesse acreditar.  

Apesar de conhecer a lei e saber que mentir para um policial era crime, percebeu que não teria outra escolha. Visto que, se insistisse na verdade criaria uma confusão da qual não tinha muita certeza se estava preparada para enfrentar.  

West não tinha uma noção exata do tempo em que ficou ali parada no meio da igreja, tão pouco o tempo que fazia desde que descera do carro de Kelory, mas bastou que seus tantos pensamentos e ideias se bagunçassem em sua mente para que ela acionasse de imediato a decisão de ir embora daquele lugar. Afastar-se de algo que só a faria lembrar-se de seu pai morto não iria ajudar naquele momento. 

A moça recuou rudemente quatro passos antes de virar-se para partir e, assim que o fez parou de forma brusca ao vê-lo passar pelas duas portas abertas da igreja. Era ele. O rapaz que apareceu no outro dia a procura de seu pai e que depois de saber de sua morte simplesmente sumiu estava ali, caminhando em sua direção. Foi estranho, pois no segundo em que ele pareceu vê-la ali também, parou e assim, os dois ficaram a se encarar numa distância consideravelmente longa.  

— Você!? — A palavra única saiu de seus lábios num sussurro surpreso e assustado ao mesmo tempo. Sua expressão era de espanto, as sobrancelhas arqueadas, os olhos bem abertos e a boca também aberta deixavam em evidência que ela não esperava encontrá-lo ali. Sua voz pareceu ecoar por todo o salão da igreja num eco baixo, o suficiente para fazê-lo se aproximar meio passo e logo em seguida parar novamente.  

Assim como Alana, o rapaz também pareceu um tanto surpreso em vê-la ali, mas seu rosto demonstrava um misto leve de expressões, algo entre o espanto e alívio ao mesmo tempo. Ela percebeu tarde demais o momento exato em que ele deixou um suspiro escapar de seus lábios juntamente com um riso leve que foi rapidamente disfarçado por uma expressão mais neutra.  

Foi estranho para a moça perceber como suas alturas eram tão distintas da outra, com ele parado não tão longe assim dela, West sentiu como se estivesse encarando uma estátua de gesso. A postura tão ereta dele, o corpo alto e notavelmente forte dava-lhe uma impressão de que ele não parecia um ser humano comum. A altura dele também a intimidava de certa forma, fazendo-a se sentir como uma criança ao lado de um adulto. 

— Hã... — A moça limpou a garganta quando notou que se encaravam por tempo demais. Cada um em seu estranho silêncio. — Eu preciso ir... 

Comentou para si mesma, a filha do pastor não esperou por uma resposta ou qualquer outra coisa do rapaz desconhecido, só queria ir embora dali logo. Suas pernas pareceram pesadas quando ela começou a andar na direção da porta e, seu corpo foi dominado por uma sensação estranhamente leve ao passar ao lado dele; a mesma sensação que lhe dominou no dia em que ele apareceu na lanchonete. 

Alana estava quase saindo da igreja quando foi surpreendida ao ouvi-lo lhe chamar.  

— Você... — Ele começou a falar ao passo que ela se virava na direção em que ele estava para olhá-lo. — Você está bem?  

— O quê? — Ela perguntou sentindo a voz falhar um pouco, até porque ela não imaginou que ele lhe fizesse uma pergunta. Na verdade, Alana não esperava que ele trocasse qualquer palavra com ela.  

Suas sobrancelhas se uniram em dúvida e ela apertou as mãos contra o próprio corpo, perguntando-se mentalmente se deveria questionar o motivo da pergunta ou se simplesmente o responderia e depois partiria. Ele se adiantou em lhe explicar. 

— Eu ouvi mais cedo na lanchonete que aconteceu um incidente com você na noite anterior, — Respondeu o rapaz num tom gentil, houve um segundo em que ele pareceu fazer menção de mover-se de seu lugar, mas tal ideia pareceu ser deixada de lado. — Não esperava encontrá-la por aqui... — Explicou. — Então, como você está? 

A pergunta a fez pensar durante poucos segundos porque ela não sabia exatamente como ela estava. Alana cogitou contar a ele o que houve e desabafar de uma vez sobre o quão frustrante estava sendo ser desacreditada, mas então lembrou-se de que não o conhecia e muito menos sabia seu nome. Não iria se expor assim para um completo desconhecido. 

Por outro lado, também, ela sentou-se estranhamente mais tranquila sobre tudo o que lhe aconteceu nas últimas horas, claro que, ainda existia o mesmo medo em seu interior sobre a cena horrenda de Vivian e do que quer que tenha acontecido com ela e tudo o que se seguiu depois, mas Alana West também se sentia mais calma sobre tudo. Sem aquela mesma agitação de antes. 

— Eu estou um pouco melhor — Enfim o respondeu, sorrindo levemente com o canto dos lábios; ela não sabia dizer se a sua resposta era totalmente verdade ou se estava mentindo para o rapaz e para si mesma. — Só estou um pouco cansada, mas estou bem. Obrigada por perguntar.  

Internamente West não tinha muita certeza se deveria mesmo agradecer pela preocupação, recordou-se da parte em que ele lhe contou que ouviu falar sobre o incidente na lanchonete e imaginou que o desconhecido estivera ouvindo a conversa de Thomas; que até onde ela sabia era o único que tinha conhecimento sobre o que aconteceu na noite passada — claro que ela não contou todos os detalhes, apenas o deixou a par de sua ausência no trabalho — e mentalmente começou a questionar o motivo de ele querer saber sobre ela. Afinal, não se conheciam.  

Novamente estavam se encarando no mesmo silêncio de antes e, dessa vez Alana pôde ver com mais clareza seu rosto e reafirmar a bizarra ideia de que ele não parecia uma pessoa de verdade. A moça imaginou que estaria exagerando se dissesse que o rosto do desconhecido era perfeito, mas percebeu que não existia uma outra forma de descrevê-lo que a palavra perfeição não estivesse presente. Se alguém lhe perguntasse, era provavelmente o descreveria como um anjo, devido a sua estranha perfeição. 

— Não esperava por visitantes no meio da semana. — A voz já conhecida de Jeffrey, quem assumiu o posto de pastor dirigente após a morte de seu pai ecoou pelo salão cortando o momento de silêncio formado entre os dois, fazendo com que ambos olhassem na direção em que o homem estava. 

O pastor Jeffrey era um homem na casa de sessenta anos, baixo e um pouco magro demais. Os olhos castanhos já cansados devido a idade já avançada e em seu rosto pequeno, as rugas e marcas de expressão de seus anos vividos eram visíveis. Ele trajava uma roupa simples, um camisa social escura e uma gravata de cor mais clara, um padrão que Alana reconheceu ser exigido por seu pai quando ainda vivo.  

— Alana?! — Disse ele com clara surpresa por vê-la ali e ele realmente estava. — Já faz tempo desde a última vez em que a vi por aqui.  

Um tanto sem jeito, a moça balançou a cabeça em concordância, por breves segundo se esquecendo-se do desconhecido com quem estava conversando a pouco. Se é que poderia chamar aquilo de uma conversa.  

— Eu já estava saída. — Ela mentiu, esboçando um riso forçado de gentileza na direção do pastor, olhando para os próprios pés brevemente antes de lançar um olhar para o rapaz. — Mas eu acho que ele queira conversar com o senhor... 

Alana West gesticulou para o rapaz próximo a ela que, lançou como resposta um olhar confuso. Mesmo que fosse ela quem quisesse conversar com o pastor naquele momento, algo em sua mente pareceu fazê-la desistir de última hora. 

— Até mais, pastor Jeffrey. — Ela despediu-se do homem mais velho de forma pouco atrapalhada, olhando uma última vez para o estranho cujo nome não sabia e como fizera antes, deu as costas para ele o deixando sozinho com o novo pastor. Dessa vez conseguiu sair da igreja sem nenhuma interrupção. 

Suas pernas mostraram-se pesadas ao começar a caminhar, como se algo a estivesse querendo mantê-la ali, mas Alana decidiu simplesmente ignorar tudo aquilo; de repente se viu precisando apenas chegar logo em casa e descansar.  

Na metade do caminho seu celular tocou uma segunda vez e diferente do que fez, Alana sequer recusou a chamada. Deixou o toque soar até que a pessoa que estivesse ligando enfim desistisse. West esperou que uma segunda ligação fosse feita, mas o recado silencioso que foi dado pareceu ter sido entendido. No momento, ela não queria conversar com outras pessoas; ao menos não nas próximas horas daquele dia. A caminhada seguia muito silenciosa e não apenas de sua parte, mas também do que a rondava, a cidade nos últimos meses mudara de aparência e também em seu movimento. Naquele horário, era comum que houvesse uma certa energia em todos, causando assim uma movimentação já conhecida pela cidade. Isso também mudou obviamente e agora, era como andar numa Grória sem vida e sem muitas pessoas também. 

Pela terceira vez seu celular tocou e ela seguiu a mesma atitude de antes em não atender a ligação e agora foi mais extremista em estar fora do ar, pegou o aparelho e o desligou. Sabendo que isso acabaria preocupando as pessoas que tentariam ligar, mas precisava disso; ao menos por um tempo até que voltasse ao seu normal. Estava virando a esquina quando parou de forma brusca e olhou para trás, com o estranho pressentimento de que tinha alguém lhe seguindo.  

Seus olhos se estreitaram enquanto parecia procurar pela presença inexistente de quem a estava seguindo. Alana então percebeu que possivelmente estava imaginando coisas. Ou ficando paranoica, talvez. Voltou a caminhar, suas pernas nesse momento pareciam ter ganho mais firmeza conforme ela caminhava e ela agradeceu por isso mentalmente.  

E a sensação de estar sendo seguida continuou a dominá-la até finalmente chegar em sua casa. Seguiu pelo gramado, tentando não recordar da noite passada e parou novamente, agora de uma mais firme quando a sensação de antes pareceu mais real e forte do que antes, juntamente com o cheiro forte de enxofre que passou a odiar da noite para o dia.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu juro que não queria terminar o capítulo assim, mas foi super necessário. Não desistam de mim haha.

~ O encontro deles foi curto, mas vai ter muito mais, prometo.

~ Próximo capítulo será todinho narrado pelo nosso querido Kambriel, preparem o coração!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre o Céu e o Inferno." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.