Entre o Céu e o Inferno. escrita por Sami


Capítulo 39
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oie de novo amores, no mesmo dia sim! Porque não vou ficar enrolando pra postar o último capítulo mesmo, chegamos de vez ao último capítulo da história e confesso que foi muito difícil de escrever ele porque eu simplesmente não queria terminar a história. Pois bem, boa Leitura (pela última vez)



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EPÍLOGO

 

O cabelo de Alana West estava bem maior agora, para ser mais preciso, a cascata de fios grossos e castanhos chegavam a altura de seus cotovelos e conseguia cobrir boa parte de seus braços, porém, ela sempre fazia questão de mantê-lo preso ou em um tipo de rabo de cavalo alto ou em uma trança lateral que fazia de qualquer jeito. Dois tipos de penteados comuns, mas que para a moça, parecia salvar sua vida no decorrer dos agitados dias na faculdade e do trabalho na lanchonete do Tom.

Naquele dia em questão, fazia um calor de quase quarenta graus, todos os estudantes eram forçados a usar suas roupas de verão e, em especial as moças, optavam por manter seus cabelos presos para que não passassem tanto calor. E apesar do clima abafado e quente, Alana caminhava pelo campus, distraída em seus próprios pensamentos.

Reorganizando mentalmente tudo o que precisava fazer durante aquela longa semana, arrumar suas roupas sujas, devolver os livros que pegou na biblioteca e principalmente, estudar para as provas finais. Três coisas apenas da faculdade, pensou ela com um leve sorriso, havia adiantado boa parte das outras tarefas nos dias anteriores o que lhe dera uma grande vantagem e mais tempo livre para os estudos. Teria também de organizar as coisas da lanchonete, mas Tom havia adiantado a grande maioria, a deixando apenas com as finanças do estabelecimento.

 Ela gostava das caminhadas que fazia pelo campus, apesar de aquele ser o segundo ano em que estava na faculdade, a jovem nunca de fato se acostumara com o lugar, claro, gostava do ambiente aberto e verde que o lugar proporcionava, mas sua preferência de lugar ainda se encontrava fixa em Grória e na universidade local; mesmo que tenha recusado estudar por lá.

A faculdade de Moonstone não era ruim, oferecia cursos ótimos e uma excelente grade curricular, mas a distância... Isso ainda a incomodava demais. Apesar de estar apenas quarenta minutos de Grória, Alana sentia que estava longe demais de sua casa, nos primeiros dias imaginava que essa sensação fosse deixá-la em paz, mas isso não aconteceu e ela sabia o motivo. Não estava acostumada a ficar longe da cidade por tanto tempo — seriam quatro anos —, mas tinha em mente que precisava disso para conseguir o diploma e seguir carreira. Então, seria um sacrifício pequeno que faria.

Por causa do calor e também por ser sexta-feira, muitos alunos demoravam para voltar para seus quartos, mais a frente ela viu vários rapazes jogarem bola, todos sem camisas e suados, gritavam alto quando alguém marcava pontos. Outros faziam algo menos agitado como apenas ficar deitado no gramado cortado do campus, ou ouvindo música, ela até viu alguns estudarem também. Mas a grande maioria se preparava e comentava sobre a festa do time de futebol que teria naquela noite; uma festa da qual ela fora convidada, mas não iria participar.

Kelory insistiu para que ela também fosse, sempre alegando que seria ótimo para a amiga socializar um pouco mais. Alana não era uma daquelas alunas que nunca participavam de nada que acontecia na faculdade, na verdade marcou presença em um número alto de festas durante os dois anos, mas naquele dia ela simplesmente não queria estar num quarto lotado de gente quando o clima estava tão quente. Ficar na sala de aula já se mostrou um grande desafio, o que dirá um quarto menor com alunos?

Sua caminhada pelo campus era um escape, algo que encontrou para fazer e assim conseguir evitar que Kelory a puxasse contra sua vontade para a festa que aconteceria mais tarde. Amava a amiga, bem mais do que ela pensava, mas evitaria muitas aglomerações naquele dia.

— Você precisa ir, quem sabe não encontra o namorado dos sonhos nessa festa? — ela recordou-se do que a amiga falou ainda naquele dia. Kelory tinha a mania terrível de sempre apresentá-la para alguns rapazes, com a desculpa de querer ver a amiga encontrando alguém para namorar.

E West conseguia se esquivar de todas essas vezes.

— Ele vai aparecer uma hora ou outra. — foi essa a resposta que deu a ela, Alana não tinha muita pressa em encontrar alguém. Gostava de deixar as coisas fluírem ao seu ritmo e também, até o momento não encontrou alguém que realmente despertasse nele interesse o suficiente para que ela mantivesse uma conversa por mais de dois minutos.

E também não conhecia nem metade dos estudantes da Moonstone.

Alana seguia um tipo incomum de trilha, estava aos poucos se afastando do campus lotado de alunos com calor que, tentavam à sua maneira conseguir um pouco de frescor até encontrar um caminho de concreto que ela sabia que levaria para a parte isolada da faculdade. Moonstone era localizada em um ponto alto da cidade vizinha, isolada por árvores e longe o bastante da cidade para que os alunos precisassem fazer uma viagem de meia hora para se aventurar na cidade. A moça passou por diversos bancos vazios, todos feitos de concreto e até passou por algumas — três — estátuas.

Uma delas chamou a sua atenção. Era um anjo que tinha em mãos uma espada, a arma estava levantada e sua ponta direcionada para o céu, suas asas não eram grandes, mas remetia um tipo de poder que deixava claro que, o artista quisera fazer um ser poderoso e invencível ali. As outras duas estátuas pareciam completar aquela, eram dois anjos também, porém nenhum deles segurava uma espada ou qualquer tipo de arma, estavam apenas em uma posição de oração. As asas também abertas.

Ela pouco sabia sobre anjos e o conhecimento limitado que tinha sobre o assunto lhe fora dado por seu pai anos atrás, quando ele ainda estava vivo. O que conhecia sobre era apenas sobre suas diferentes hierarquias, Arcanjo, Querubins e Serafins. E nada mais do que isso. Mas ao ver aquelas estátuas e sentir-se um tanto tentada para obter um conhecimento aleatório sobre o assunto, bem sabia que a curiosidade que sempre lhe moveu a incitava para pegar o celular e buscar pela internet sobre anjos. Mas não o fez, temia receber alguma ligação de Kelory e, enquanto aquele dia não se desse por terminado, não tiraria o celular do bolso.

Sua caminhada prosseguiu e acabou a levando para o ponto mais isolado da faculdade, um tipo de jardim. O lugar tinha canteiros das mais diversas flores plantas e muito bem cuidadas, mais a frente havia uma fonte — com um anjo segurando um jarro por onde ela teve certeza de que a água saia — seca; mas que assim como as flores também estava recebendo um cuidado especial. Alana não viu ninguém por perto, primeiro imaginou que não estava sozinha e esperou que alguém aparecesse; talvez estivesse escondido por entre os tantos arbustos, mas depois de alguns instantes, ninguém apareceu. West não costumava ficar assim se isolando e nem mesmo gostava de parecer uma pessoa assim, mas aquele lugar parecia incitá-la a fazer isso, por isso, não pensou duas vezes em se dirigir até o único banco existente ali e sentar.

Este ficava de frente para o que ela julgou ser o estacionamento dos professores, um campo aberto e grande que, permitia a ela uma visão privilegiada do pôr do sol. O céu naquele horário se encontrava em uma mistura bela de azul, laranja e amarelo e, tirou uma foto com a câmera de seu celular para fazer registro daquela imagem única. Em Grória a única maneira de conseguir assistir ao sol se pondo seria fazer uma longa trilha pelas montanhas que rodeavam a cidade e, mesmo que quisesse e tinha isso como um desejo futuro, nunca de fato teve tempo para tal.

Estava tendo agora, mesmo que estivesse a quarenta minutos de distância de Grória.

— Oi

A moça deu um pulo ao ouvir a voz masculina. Com os olhos focados no pôr do sol sequer tinha percebido que alguém tinha se aproximado e nem mesmo esperava que isso fosse acontecer, porque imaginava que estava longe demais do campus e dos outros alunos para que alguém pudesse tê-la seguido até ali.

De pé, ela olhou na direção da origem da voz, viu um rapaz, provavelmente da mesma idade que ela ou alguns anos mais velho — chutaria no máximo dois anos de diferença — se aproximar com clara hesitação do banco. Alana o encarou tempo demais, desde a bota coturno na cor marrom que ele usava, ao jeans escuro e uma camisa branca um pouco larga demais para seu corpo; era um estudante como tantos outros da faculdade. Então olhou o rosto, o cabelo era um loiro escuro e curto, penteados de qualquer maneira em um penteado que ela considerou pouco moderno, mas que ele parecia dar um charme diferente e até incomum, seus lábios pouco carnudos e os olhos azuis demais. Quase brilhantes.

— Me desculpe, não queria assustar você. — Ele começou a falar, levou a mão para a nunca num gesto realmente envergonhado e tentou sorrir, os lábios se moveram e pareceram tremer levemente com a ação.

Alana não pôde deixar de esboçar um sorrio gentil em direção a ele também. A moça sacudiu a cabeça num gesto rápido, sim, realmente tinha se assustado com a aproximação inesperada dele, mas não tinha sido nada demais; ao menos para ela.

— Está tudo bem — Respondeu dando com os ombros, tentando demonstrar que o susto fora algo rápido e passageiro; ela nem mesmo se recordava dele. — Eu só não esperava que tivesse mais alguém por aqui.

O rapaz concordou. Enfiou as duas mãos nos bolsos frontais de sua calça e olhou para o lado, aonde o pôr do sol acontecia.

— Eu sempre venho aqui para ver o pôr do sol nesse horário, o ponto é ótimo e é possível vê-lo como se estivéssemos no topo de alguma montanha. — Ele contou ainda sem olhá-la e Alana pôde perceber que ao contar aquilo que ela julgou ser um segredo dele, seus olhos azuis pareceram brilhar em admiração. — Me atrapalhei na biblioteca hoje, eu não esperava encontrar mais alguém aqui.

Nesse momento ela se sentiu uma verdadeira intrusa, o lugar aonde estava era um escape dele, sempre frequentado por ele e, ela o invadiu. Apesar de não existir nenhum tipo de acusação em sua voz, Alana se sentiu estranha por ter invadido seu “espaço”, até porque ela não foi até lá para assistir o sol se ponto, estava apenas fugindo de aglomerações e, aquele lhe pareceu um ótimo lugar para isso. Já ele, o desconhecido realmente frequentava aquele espaço com um objetivo e, ela estava atrapalhando-o.

— Hã... Se quiser eu posso deixá-lo sozinho — Alana começou a falar, o cenho levemente franzido enquanto sentia que as palavras estavam se atrapalhando em sua mente. Era uma sensação estranha, ela nunca pensou que chegaria a um ponto em que ficaria ou agiria daquela maneira agitada e nervosa e percebeu tarde demais que era por causa dele. — Eu só estava caminhando mesmo.

Muito provavelmente pela maneira como sua voz soava tão gentil e suave aos seus ouvidos ou pela presença dele ali e o que sentia com ela. Ele então a olhou, um pouco surpreso e confuso, os olhos azuis tão fixos no rosto feminino que, ela sentiu começar a corar.

— Que nada, acho que o banco tem lugar o suficiente para nós dois. — Respondeu ele, gesticulando em direção ao banco agora vazio. O convite foi feito e, Alana se sentiu tomada por um novo tipo de nervosismo naquele momento. — É a primeira vez que tenho companhia, acho que será bom.

West esticou os lábios mostrando um sorriso mais amigável e concordou. Contrariando seus pensamentos mais lógicos que, lhe diziam para agradecer e deixá-lo sozinho, por um momento muito breve ela pensou em fazer isso, o pensamento até ganhou força em sua mente, mas assim que se deu conta, ela estava imitando-o e sentando-se novamente no banco de concreto. Mantendo uma distância pequena dele, como se em algum momento ele pudesse lhe fazer algo ruim.

Os dois deixaram que um silêncio grosseiro se erguesse entre eles, ambos apenas voltaram seus olhos para a imagem do sol a se esconder e então, quando o céu começou a escurecer e dar boas-vindas para a noite quente que chegava, o poste que era escondido por uma árvore pequena se acendeu. Sua luz — ainda que parcialmente ofuscada pela folhagem da árvore — conseguia iluminar o lugar, principalmente o banco aonde os dois jovens estavam sentados. Em poucos minutos, o sol já estava completamente escondido e, agora o manto escuro da noite tomava conta.

— Você... — Surpreendendo a si mesma pela ousadia, Alana começou a tentar puxar algum tipo de conversa, percebendo que o silêncio entre eles começara a parecer incômodo. — O que estava fazendo na biblioteca? Se a pergunta não for muito inconveniente é claro.

Alana imediatamente se arrependeu da pergunta que fez.

— Digamos que eu meio que trabalho lá, ajudo o senhor Peterson a organizar os livros, cartões dos alunos, etiquetagem... De tudo um pouco, na verdade. — Respondeu, diferente do que ela imaginou, ele compreendera sua pergunta; apesar de ela ainda julgá-la tosca demais para ser feita. — Me atrasei para o pôr do sol porque um dos alunos fez uma grande confusão na sessão de estudos sociais e, eu precisei organizar tudo de novo.

— Sinto muito por isso. — Disse com meio sorriso, Alana compreendia muito bem os “clientes” e esse tipo de coisa também acontecia na lanchonete. Com mais frequência do que ela gostaria. — O que está cursando?

Ele pareceu hesitar antes de responder, um tanto envergonhado, talvez?

— Teologia. — Respondeu, a surpreendendo. — Eu sei o que parece e acredite, ninguém está me forçando a cursar... Na verdade eu sempre gostei muito desse assunto, sempre achei interessante e quis me aprofundar.

Ela riu.

— Eu acho isso bem interessante na verdade — Sua resposta também o surpreendeu e muito, ao ponto de ele virar o rosto e olhá-la novamente; com um pouco de dúvida. — Meu pai era pastor na igreja de Grória, então digamos que eu “tenho um pé” nesse nicho — Ela fez aspas com as mãos, o que não deixava de ser verdade. Por ser filha de um pastor, Alana acabou sendo introduzida no mundo da teologia e, mesmo que Jacob West nunca tivesse a forçado a imitá-lo, ela ainda se achava um pouquinho religiosa. Ao ponto de carregar em seu pescoço uma correntinha com uma cruz.

— Filha de pastor? — Perguntou com o cenho franzido, como se tentasse puxar algo de sua memória. — Você é a filha do pastor Jacob West?

— Sim, o conheceu?

— Infelizmente não, mas desde que cheguei na cidade para morar com um tio, tenho ouvido falar sobre ele e de seus sermões. Eu não sabia que ele tinha uma filha...— Respondeu, Alana se surpreendeu novamente por saber que ele também era de Grória; geralmente todos sempre escolhiam cursar a faculdade local. — Sinto muito pela sua perda.

Ela deu com os ombros.

— Sem problema, já tem três anos. — Disse mais baixo, era uma lembrança dolorosa que tinha do pai, ele fora uma das tantas vítimas dos estranhos ataques que aconteceram na cidade e, mesmo com tantos anos passados, Alana não acreditava que fosse chegar um dia em que iria superar sua morte; principalmente por não ter nenhuma resposta a respeito.

— E você, o que está cursando? — Questionou ele de repente, retomando o assunto anterior; mantendo seus olhos nela.

— Ciências contábeis.

— Uau! — Ele exclamou realmente surpreso com a resposta dada. — Acho que finalmente descobri quem anda esquecendo anotações matemáticas nos livros desse curso. — Alana abriu a boca para responder, mas nada saiu de seus lábios. Foi como se algo tivesse sido apertado em sua mente, ela sempre reclamava de perder suas anotações e agora finalmente as encontrou, de uma maneira bem inusitada, por assim dizer. — Relaxa, eu guardei todas, pode ir pegá-las qualquer dia desses.

— Obrigada... Salvou a minha vida. — riu com o próprio exagero em sua fala. Mas era verdade, as anotações eram importantes para ela e, se quisesse passar em todas as provas precisava delas.

— Não foi nada. — O rapaz esboçou um novo sorriso, algo estranhamente gentil e hipnotizante, Alana não admitiria isso em voz alta, mas sentiu o coração bater mais forte com o gesto.

Era muito estranho tudo o que acontecia ali, aquela conversa não parecia acontecer entre dois estranhos que, sequer sabiam o nome um do outro, era mais como se já fossem conhecidos que, estavam apenas colocando o papo em dia. E, talvez isso tivesse algo a ver em como ela começou a se sentir com ele por perto, Alana estava ansiosa devido as provas que estavam se aproximando, mas sentada ao lado dele esse nervosismo simplesmente sumiu e uma estranha paz veio à tona. Talvez fosse a gentileza dele, a suavidade de sua voz ou a maneira gentil como ele gesticulava e falava com ela; não tinha como saber, mas ela gostou daquilo.

— A propósito, eu sou Kambriel. — Ele então finalmente se apresentou, esticando a mão em sua direção.

De início ela estranhou aquele nome, tão incomum, pensou, mas também tão belo e parecia combinar perfeitamente com ele. A moça esticou os lábios em um sorriso mais largo direcionado a ele.

— Alana. — O cumprimentou de volta, apertando sua mão e sentindo um calor inédito correr por seu corpo. Algo bom, percebeu.

●●●

Eva tinha mantido sua promessa de cuidar de Alana e manter-se longe da humana, mesmo que estivesse fazendo isso do seu próprio jeito. Durante os anos que se passaram manteve-se em uma distância segura da moça, cuidando e sempre atualizando a mãe dela sobre toda novidade que acontecia na vida da filha. Fizera uma promessa para Kambriel, cuidaria da humana mesmo sabendo que ela não seria atormentada por demônios nem nada disso e lá estava ela. Mantendo sua promessa.

Já Lena, ela apenas prometera não viver com a filha e bem, a mulher estava cumprindo com sua palavra; apesar de seguir o conceito utilizado por Eva em manter-se perto e ao mesmo tempo afastada da filha. Escondidas em uma das salas principais da faculdade, Eva e Lena assistiam a cena com espanto visível em seu rosto, os três anos que se seguiram desde que Alana acordara e não se lembrava de absolutamente correram para ela, entre cuidar da moça e tentar resolver uma promessa que ela não tinha nem conhecimento de sua existência, Eva esperava que West se relacionasse com alguém, isso já era esperado, mas, não imaginou que esse alguém seria Kambriel.

E Lena parecia tão espantada e ao mesmo tempo feliz como ela estava.

— Eu não esperava por isso. — disse a mulher com um leve sorriso formado em seus lábios, parecendo emocionada com o desenrolar da cena.

— Eu não esperava vê-lo. — Admitiu Eva, vê-lo novamente trouxe à tona suas próprias lembranças de tudo o que viveram em meses, ela não percebera o quanto sentia falta do rapaz até vê-lo outra vez. Em sua forma... Humana.

As duas estavam tão surpresas com o que acontecia que nem mesmo perceberam a presença de um serafim logo atrás dela, caminhando devagar para perto da janela aonde as duas se encontravam. O ser estava em sua forma humana, também escondido e longe dos olhos humanos assim como a mulher, trajando roupas igualmente comuns as dela. Eva quando o notou se preocupou, Joshuah poderia dedura-la aos Juízes e ela não queria nem pensar no que aconteceria com Lena se eles soubessem que a mulher estava próxima da filha.

Eva pouco se importava com o que lhe poderia acontecer, já era humana. Como seria castigada? Seria levada ao inferno? Ao Céu? Ela não ligava, mas se preocupava com o castigo que poderiam aplicar em Lena.

— Relaxem, não falarei sobre vocês a eles. — O serafim garantiu, tranquilizando as duas mulheres. — Assim como vocês, eu também vim aqui para vê-los.

Lena o olhou e lhe deu espaço para que ele se aproximasse também.

— Você sabia sobre isso? — Ela perguntou quando o serafim Joshuah se aproximou da janela também e ficou ao seu lado, assim como ela observando a cena se desenrolar como se estivessem assistindo a um filme romântico qualquer. Um filme único, ela admitia.

O ser celestial assentiu muito lentamente, entre triste e alegre ao mesmo tempo.

— Levou apenas três dias para que ele tomasse essa decisão, Gabriel já tinha percebido que tinha algo acontecendo dentro dele desde que subiu de volta após deixar Alana e, quando ele pediu para se tornar humano não foi uma surpresa para ninguém, nem mesmo para nosso Senhor. — Revelou. Sorrindo de maneira discreta ao olhar para o irmão; agora humano. — Ele sabia exatamente o que queria quando pediu a audiência, decidiu ser humano, mas com uma condição, que ele também não se recordasse dela e de sua vida como arcanjo.

A mulher piscou incrédula, levou a mão para seus lábios mordendo os nós de seus dedos com um pouco de força. A surpresa não era por Kambriel ter decidido tornar-se humano, mas sim por ele ter pedido que suas lembranças fossem também apagadas. Eva perdera um grande amigo, não totalmente, mas ele jamais se recordaria dela.

E, apesar de sentir-se estranha com isso, ela suspirou aliviada por ele.

— Por que ele escolheria não se lembrar de nada? — Eva murmurou pensativamente.

— Não é óbvio, Eva? — Lena respondeu com outra resposta. Arqueando uma sobrancelha ao olhar para a mulher que um dia fora um demônio.

Não demorou para que ela compreendesse o motivo que levou o rapaz a tomar tal decisão.

— Gabriel e Miguel concordaram com isso e entenderam o motivo de sua condição, mas isso não significava que não daríamos um pequeno empurrãozinho nas coisas. — Joshuah deu uma piscadela para a mulher, seus olhos negros brilhavam com a cena e ele a chamou para assistir novamente. — Quero dizer, Gabriel e Miguel fizeram questão de cuidar da vida humana que ele teria aqui na terra e... — O serafim não terminou, mas sua careta já dizia tudo. — Enfim, Kambriel sempre foi muito querido entre os arcanjos e todos do Céu, conseguir um empurrãozinho foi muito fácil.

Nesse momento, Kambriel e Alana pareciam mais próximos do outro, ambos gargalhavam e trocavam histórias bizarras de vidas que Eva sequer sabia que tiveram um dia, ela sentiu um pouco de inveja deles, não por terem se encontrado, mas por estarem realmente felizes mesmo depois de tudo o que passaram. Foi inevitável não sorrir com orgulho de ambos. Mas ela não podia dizer que também não tivera uma sorte durante os anos passados, cuidar de Lena e manter a mulher segura lhe trouxe um propósito e, quando percebeu, as duas se tornaram grande amigas.

Algo inédito para ela, Eva tinha ciência disso. Mas manter-se próxima de Lena lhe trouxe um pouco de Alana, era verdade que sentia falta da humana e, encontrou uma maneira de conseguir preencher essa saudade cuidando da mãe da moça e mantendo sua promessa; mesmo que Alana sequer soubesse ou se recordasse dela, tornando-se amiga da terceira humana que passou a gostar.

Então, Lena, Eva e o serafim voltaram a observar os dois humanos sentados no banco de concreto, acompanhando de longe a conversa alegre que tinham, rindo juntos...

Se apaixonado outra vez.

FIM.


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Notas finais do capítulo

Prometo que respondo vocês logo logo!

E chegamos ao fim. Eu nunca gostei de terminar histórias porque sei lá, eu sempre acabo me apegando demais aos leitores e também aos personagens que criei, mas o fim chega uma hora ou outra. Obrigada a todo mundo que comentou, favoritou e acompanhou essa história maluca, se não fosse por vocês provavelmente não teria chegado até aqui. Obrigada de coração ♥



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