Copenhague escrita por Julie Morgan


Capítulo 13
O dia das confissões


Notas iniciais do capítulo

Olá olá xuxus, cá estou de volta!
Acabei demorando infelizmente para postar esse capítulo porque estive com um bloqueio criativo grande e alguns problemas para resolver, porém finalmente consegui terminar para deixá-los aqui para vocês ❤️
Bom, sem mais delongas, espero que gostem! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789050/chapter/13

Anos antes do assalto ao Banco da Espanha...

— Por que não larga um pouco estes papéis? Já estou ficando angustiado em vê-lo ficar todo o dia lendo praticamente as mesmas malditas linhas. - Andrés falou chegando por trás de Sérgio, lhe dando um tapa leve nas costas e fazendo com que ele se assustasse um pouco.

Antes que o irmão chegasse, o Professor estava sozinho naquele quarto do monastério tendo em sua companhia até então apenas o silêncio ininterrupto do local e algumas pequenas velas acesas mais ao fundo, o que mudou quando o mais novo entrou com uma sacola em mãos e a deixou sobre uma cadeira depois de lhe alarmar brevemente.

— Não tenho cabeça para outra coisa, sabe disso. E estou tão apreensivo quanto você e os outros, tenha certeza.

— Mas em quê exatamente está pensando, se não se importa em responder?

Sérgio pousou sobre a mesa a caneta que usava para grifar algumas palavras e retirou seus óculos, virando-se de lado na cadeira e olhando fundo nos olhos do irmão. Havia tanto que queria lhe dizer, porém não sabia exatamente como se expressar sem soar entediante ou até mesmo receoso além do que devia.

— Bom, é… como vamos saber qual é o momento certo para atravessar algum obstáculo? Creio que talvez tenhamos muitos problemas no caminho a serem resolvidos, e não podemos deixar muitas pontas soltas se quisermos acabar com o plano da melhor forma possível. Tudo deve se encaixar perfeitamente, não?

Berlim suspirou levemente e arrastou uma das cadeiras para mais próximo de si, para se sentar próximo de Sérgio e poderem conversar com clareza. Apesar de ser muito irônico e mencionar sempre algo de cômico para aliviar a pressão, aquele não era o momento ideal para piadas. Não dessa vez. Via com clareza a incerteza transparecer no olhar de Sérgio, já que dentro de pouco iriam começar a dar início aos detalhes iniciais do esquema.

— Esses obstáculos que você diz… o que seriam exatamente?

— Problemas pessoais, entre membros do grupo, ou até mesmo demasiada aproximação da Polícia. São tantas variáveis passíveis de acontecer que mal posso contar sem demorar algumas boas horas.

— Acho que, para todos estes, a única solução é seguir o nosso próprio instinto. Querendo ou não, também somos animais, dotados somente de uma quantidade a mais de racionalidade. Porém o instinto nunca nos abandona. Aquele frio percorrendo nossas costas, o dilatar de pupilas quase instantâneo, a respiração ofegante… enfim, os sinais. Precisamos seguir os sinais.

— Sabe que não sou tão bom assim em lidar com os sentimentos carnais.

— Mas irá aprender. Estou seguro disso. Sua inteligência está além de muitos que também vivem nesta era, irmãozinho. - Andrés falou tirando da sacola uma garrafa comprida e dois copos, e entregando um a ele. - Se lembra disto aqui, não?

— Licor de maçã. Como iria esquecer? O favorito de nosso pai. - Sérgio falou em tom nostálgico e um tanto triste por ter agora em sua mente aquela memória, recordando os momentos que se lembrava dele.

— Pois acredito que ele está mais do que realizado por estarmos fazendo isso juntos. - ele então abriu a garrafa e partilhou o líquido para ambos, sorrindo para o irmão quando terminou. - Um brinde aos Marquina. E também ao plano, óbvio.

***

Depois que desligou o telefone, o Professor tentou manter a calma e respirar fundo para então contar para Alicia sobre a notícia que havia recebido, e prepará-la para enfim dar conclusão naquela primeira parte final do plano. Afinal, não poderiam sair de mãos atadas depois de tanto esforço e tempo gasto.

Ele saiu da sala e foi até a varanda, onde viu a ruiva sentada com o olhar vagando pelo jardim à frente, com semblante mais tranquilo e pelo que parecia, um pouco triste também.

— E pensar que um lugar tão calmo assim está hospedando pessoas como nós. - ela respondeu deixando escapar uma risada involuntária, porém não alegre. - Com o futuro tão incerto. Não acha?

— Alicia, eu preciso da sua total atenção e concentração no que vou dizer. Porém não quero que se desespere, porque já sabemos muito bem como resolver.

— Pois o que aconteceu dessa vez, ora? - ela perguntou segurando Ibiza melhor, e apoiando a cabeça dela em seu ombro.

— Eles… encontraram o seu apartamento. Não sei se já chegaram a vasculhar o local, contudo se ainda não o fizeram, estão próximos disso.

Alicia fechou os olhos e suspirou durante um instante, depositando um beijo na pequena mão de Ibiza que vez ou outra percorria levemente por seu cabelo. Sabia que cedo ou tarde isso iria ter de suceder, pois como qualquer outra foragida da polícia, estavam em busca de qualquer tipo de pista para lhe encontrar.

E agora, mais do que nunca, desejava do fundo de seu ser escapar com segurança independente da maneira que fosse, pois não era somente a vida dela que estava em jogo. Jamais iria deixar acontecer algo de ruim com sua criança, e para isso iria até o fim do mundo caso necessário. Então ela sequer hesitou e muito menos pensou duas vezes quando abriu os olhos novamente e esvaziou sua cabeça daquilo que poderia atrapalhá-la a montar uma alternativa plausível de ocorrer.

— Você disse... que eu iria precisar fingir me entregar. E que eu iria pedir para sair do país. Como faremos isso sem perder o controle da situação?

— Bom, pensei na seguinte situação: você irá ligar para a tenda, e pedir para conversar com Tamayo. No exato instante em que identificarem sua voz, irão fazer o possível para tentar encontrar também sua localização. E aí é que está a grande sacada: você irá estar conosco, prestes a entrar em um dos caminhões rumo ao Banco, enquanto aparentemente estará indo para outro lugar qualquer. Talvez possa sugerir encontrá-los em meu antigo esconderijo, afirmando estar comigo e que pode me usar como moeda de troca. Você então irá entregar o telefone para mim e eu finjo me render, dando à eles a falsa ideia de que estão vencendo, quando na verdade, estaremos mais do que prontos para acabar com qualquer resquício de esperança que eles têm de ver nossos rostos novamente.

— E quanto às passagens?

— Você irá pedir uma em seu nome, mas precisa garantir que somente irá me entregar junto caso eles dêem o primeiro passo.

— Não acha um pouco incoerente eu pedir para sair do país sendo que na verdade, tudo o que eles querem é que eu responda à pena aqui na Espanha junto com vocês? Porque duvido muito que eles irão concordar em supostamente me deixar responder à tudo o que fiz fora daqui.

— Mas você tem alguma ideia melhor que essa? - ele retrucou logo depois. Não queria soar tão ríspido, porém diante da circunstância em que estava, não era fácil controlar os próprios impulsos.

— Não. Não tenho. Mas tenha a certeza de que se eu tivesse, não iria deixar de comunicá-la a vocês. Porém estou ocupada demais me preocupando com algo que definitivamente iria me deixar muito mais abalada caso acontecesse. E você sabe bem o que é.

— Alicia, vamos tentar não iniciar uma discutir agora? Por favor? - ele falou juntando as mãos e levando-as ao rosto.

— Não estou discutindo com você. Só estou lhe apontando um fato, Professor. Agora eu tenho alguém que compartilha do mesmo sangue que eu, e também preciso pensar nela. Em como cuidá-la, e deixá-la livre disso tudo. Porque eu já estou exposta o suficiente, e não quero que passe o mesmo com ela. Então preciso ter a completa certeza de que tudo irá terminar bem. - ela falou com certa irritação se levantando logo depois. Mas antes que pudesse sair, o Professor parou diante de si e a encarou no fundo dos olhos, podendo quase afirmar que por eles passavam faíscas.

— Em tudo na vida há o que acontece de bom e de ruim, então tecnicamente... temos 50% de chance dessa vertente do plano funcionar. Mas preciso que colabore. Mais do que nunca. - ele falou tentando acalmá-la, tentando não demonstrar também qualquer hesitação.

Alicia desviou o olhar algumas vezes, para o chão e para os pés, mas sempre voltando para onde estava. Apesar do nervosismo e instinto de defesa, ela não queria descumprir sua parte do acordo, e tampouco poderia. Pois afinal, agora estavam tão entrelaçados que qualquer desequilíbrio era capaz de afetar a todos. O famoso efeito dominó, em que uma peça cai e as demais repetem o mesmo em seguida.

— Pode ao menos garantir que, no meio disso tudo, ela não irá estar exposta? - ela falou mordendo o lábio inferior, a ponto de deixar escapar uma lágrima. Porém não o fez, afastando rapidamente de sua mente qualquer previsão ruim.

— Isso sim. Seremos só nós. O grupo, você, eu, e nada mais. O ato final do plano, da melhor forma que pudermos fazer. 

— E quando isso? Amanhã? Porque pelo que parece já está tudo caminhando para o fim. Ou não?

— Sim. Amanhã. Apenas irei confirmar com Palermo se já temos todo o ouro fundido, se conseguiremos ter a colaboração de Gandía e se os caminhões estão prontos. Mas isso eu posso fazer sozinho, se preferir.

— Melhor sim. Você é o autor disso tudo, afinal. Os créditos são todos seus. - respondeu rindo sutilmente depois. - Mas, enfim… me avise quando estiver certo de que podemos partir. - ela então fez menção de se afastar e ir mais uma vez para dentro da casa, quando se lembrou de algo e bateu o pé em irritação. - Merda, como eu fui esquecer disso?

— O quê?

— Comissário. - ela falou antes de se virar. - O meu gato. Ele ainda está no hotel em que pedi para cuidarem dele nesse meio tempo. Se lembra? Há alguma forma de o buscarmos também? Não penso em deixá-lo para trás.

— Ah, sim. Claro. Vou pensar em alguma coisa, e lhe comunico depois. 

Alicia então lhe direcionou um sorriso discreto e foi para o quarto onde estava antes, abrindo a porta com certa rapidez e a trancando logo depois atrás de si. Bufou e retirou seus sapatos, largando-os em um canto qualquer e se sentou na beirada da cama por instante para deixar Ibiza no meio dela. Começou logo depois a caminhar de um lado para o outro, mordendo seu lábio inferior e passando vez ou outra as mãos pelos cabelos. Seria amanhã. O início do fim. Ou um fim que daria início a algo novo? Ela já não sabia mais, pois eram tantas possibilidades que mal lhe cabiam na cabeça. Respirava com certa pressa para tentar assimilar tudo aquilo, e alternava vez ou outra olhar entre o teto e a cama.

— Onde eu fui me meter, hein Ibiza? - ela perguntou de maneira retórica,ainda sem parar de caminhar. Porém, quando a porta se abriu atrás de si, ela rapidamente virou o pescoço e suspirou ao ver Diego entrando. - Ah, você de novo.

— O que está fazendo? - ele questionou antes que ela desse mais algum passo.

— Tentando raciocinar. Mas está quase impossível. 

— E por que? O que te preocupa tanto?

Alicia suspirou por instante, juntando as mãos e as levando ao rosto, tentando ao máximo manter a compostura. No entanto, era quase impossível, ainda mais com Marselha bem ali na sua frente, esperando por uma resposta que ela mal sabia formular.

— É amanhã. Nosso último dia aqui. - ela falou esboçando um sorriso triste, olhando para os próprios pés logo depois para não ter que encará-lo. - O último dia em que acho que vamos estar juntos de novo.

— Como está tão segura disso?

— Conversei com o Professor. Eu sou a peça que vocês precisam para escapar, e vice-versa. Já está tudo combinado.

— Mas isso ainda está dentro do plano, se esqueceu? Não é o fim do mundo, ainda há muito mais o que acontecer depois disso, ruiva.

— Porém passou pela sua cabeça a hipótese de que alguma coisa possa dar errado? Pensamos que a Polícia estaria muitos passos atrás de nós, mas estávamos errados. Eles também estão correndo tanto quanto qualquer outro. E não ficarei surpresa se conseguirem arquitetar algo tão bom a ponto de me pegarem.

— O Professor não tentaria isso caso não tivesse a certeza que daria certo, Sierra.

— Porra, não crie toda uma história maravilhosa em sua cabeça sem saber de nada ainda! - ela falou alterando o tom de voz, porém logo se conteve ao perceber o que estava fazendo e se arrependeu. - Merda, me desculpe. Estou gritando com você e mal me dei conta disso.

— Não consigo sequer imaginar como deve ser para você, então entendo sua raiva. - ele falou um pouco mais calmo, se aproximando mais do meio do quarto e quando menos esperava foi pego de surpresa por um abraço inesperado vindo da parte de Alicia. 

Ela não queria olhá-lo nos olhos para que soubesse que estava um pouco triste, então permaneceu durante um bom tempo apenas ali, com os braços ao redor de seu pescoço e a cabeça apoiada em seu ombro.

— Quero que faça algo por mim. - a ruiva começou, moderando qualquer resquício de angústia que poderia passar por sua voz. Não queria transmitir a ele um sentimento ruim, já que naqueles poucos dias haviam tido algumas das lembranças mais bonitas que Alicia poderia se lembrar. - Se no final das contas o tiro acabar saindo pela culatra, como dizem, quero que Ibiza fique com você, o mais longe possível de Madrid.

— Mas não vai acabar mal, ruiva. Por que insiste nisso?

— Apenas prometa de uma vez. Sabe bem que não tenho esse otimismo todo como você. Caso seja apenas mais uma teimosia minha, pode caçoar de mim o quanto quiser depois, mas por enquanto é só isso que eu quero.

— Ok, ok. Sem mais questionamentos. - ele falou tentando acalmá-la e depois se afastou para tentar ver seu rosto melhor, e quando então viu que ela mordia seu lábio inferior estando a ponto de derramar uma lágrima, sentiu como se um punhal houvesse sido cravado em si mesmo, pois vê-la triste também o deixava com o humor um pouco mais abalado. - Não fique com esses olhos assim ruiva, sabe que eu também estarei com vocês amanhã se precisar de ajuda.

— Você vai comigo?

— Óbvio que sim. Ainda pergunta? Não estive com vocês durante esses dias para simplesmente largar tudo e sair como se nada houvesse acontecido.

— Céus, loirinho. Você... é demais. - ela disse colando sua testa à dele e fechando os olhos, suspirando sutilmente e lhe dando um beijo rápido depois no canto do rosto. - Somente não sei imaginar um cenário tão bom assim diante de tanto caos. Acho que esse é o problema. Mas espero que tenha realmente entendido.

— Claro que entendo. E é por isso que queria te propor algo também, que eu já vinha pensando há um bom tempo. Mas ainda não havia achado o momento certo para contar.

— E o que virou isso agora, hein? O dia das confissões? - ela falou deixando escapar uma gargalhada e ele fez o mesmo.

— Se considera como uma confissão…

— Diga logo, não quero ter que esperar. Chega de surpresas. - ela falou lhe dando um tapa leve no ombro esquerdo.

— Depois que isso acabar e você estiver livre de tudo, ao invés de fugir sozinha, porque não me acompanha?

Alicia durante um instante engoliu em seco e sentiu um frio correr por sua espinha, pois não estava preparada para uma pergunta como aquela. Sentiu as bochechas ficarem mais ruborizadas à medida que os minutos passavam e ela permanecia calada, apenas olhando ficando nos olhos de Diego.

— Não vai responder nada?

— E como deveria responder à algo assim?

— Com um sim ou um não, eu acho. Nada mais complexo que isso.

— E quanto de certeza tem por querer fugir com alguém como eu? Porque eu entendo ter sido esta uma atração momentânea, e…

— E por que não entende o fato de que pode ser algo a mais? Algo além do plano? Porque ele está próximo de acabar, porém o sentimento não. Este mal começou.

— Então é isto o que quer? Ter que aguentar duas ruivas com você o dia inteiro? Como se não fosse o bastante ter o Professor no seu pé por agora. - ela revirou os olhos com ironia e riu depois jogando a cabeça para trás.

— Pois sim. O que há demais? 

— Para onde pensa em ir? - ela perguntou o interrompendo.

— O mais longe possível. E algum lugar diferente do que já estou acostumado aqui na Espanha, pois se temos a oportunidade de escapar que seja recomeçando.

— E o que acha das praias? Ou ver o sol de pôr na beira de um píer, escutando as ondas quebrarem?

— Não sabia que gostava do litoral, porém podemos tentar.

Alicia então mordeu seu lábio inferior, passando uma das mãos rapidamente por seu cabelo e logo após a repousando sobre o dele, tendo em sua boca o sorriso mais singelo que poderia lhe mostrar.

— Então acho que... estamos decididos. Se tudo der certo, o sol e a beira do mar irão nos receber. Mas somente se tudo der certo!

— Pois espero que assim aconteça. Pois não nego que também adoraria lhe ver em algo diferente.

— Como assim? - ela questionou franzindo o cenho.

— Talvez um... biquíni?

Alicia sentiu as bochechas corarem quase que de modo instantâneo e abriu mais os olhos, ficando um tanto surpresa com o comentário e fazendo com que Diego começasse a rir mais.

— Palhaço. - Alicia afirmou dando-lhe outro tapa e rindo logo em seguida também, abandonando seu semblante antes triste e lhe puxando depois para um beijo breve, porém muito expressivo, que era capaz de demonstrar todo o estima que continha dentro de seu interior.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?
Se puderem, deixem os comentários de vocês aí em baixo para eu saber o que estão achando, isso me ajuda e também me motiva muito a continuar escrevendo ❤️
Beijinhos de luz e nos vemos no próximo! Até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Copenhague" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.