Immortality escrita por lisa gautier


Capítulo 8
Capítulo Sete


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores, é com imensa alegria (e constrangimento) que retorno depois de um ano em hiato. Aos que leem aqui, agradeço imensamente a compreensão e paciência e, acima de tudo, persistência com essa fanfic. 2020 foi um ano caótico e como muitos não escapei da depressão e fatiga pandêmica. Retorno agora com novos capítulos e, novamente, a alegria em escrever. Boa leitura!



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CAPÍTULO SETE

 

Junto dos vermes

 

1922

 

Estava chovendo quando Edward chegou a Ohio. 

O vampiro caiu de joelhos, instantaneamente exausto. Sentia-se zerado, como se, de repente, aquelas mil noites sem dormir estivessem fazendo falta. Respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e sentiu-se grato pela distância humana, um pouco de leveza dentro de tanta dor. Uma porta abriu-se, refletindo uma faixa de luz sobre os ombros pesados de Edward. Uma mulher, de cabelos dourados, ajoelhou-se na lama, unindo o corpo de Edward ao dela em um som de alívio. O rapaz encolheu-se, sensível, vulnerável: seu corpo largo continuou a diminuir, encontrando abrigo naqueles braços maternais.

— Carlisle! Ele está de volta! — Esme apertava Edward, beijando-lhe os cachos úmidos. Em segundos, o homem loiro estava diante deles: prostrando-se ao lado da esposa, colocando uma mão gentil no ombro de Edward. — Ah, Edward! — se ainda humana, Esme estaria chorando. — Não sabíamos quando você ia voltar… Estamos tão felizes, tão felizes!

Edward não tinha forças para erguer a cabeça. 

Uma tempestade de pensamentos, sensações, invadia a mente do jovem vampiro. Culpa, arrependimento, amargor… Vergonha diante daqueles que deveriam ser seus pais adotivos. Os pensamentos de Esme rodopiavam pela mente de Edward, ecoando: ela estava tão contente, tão grata. Grata. Por um breve instante, Edward sentiu que queria vomitar. Livrar-se de todo aquele sangue humano e impuro. Gratidão. Esme sentia gratidão pelo seu retorno, amena como se não tivesse um assassino em seus braços. Ah, sim. Era isso que ele era, pensou, um assassino. Em sua tentativa por justiça, por equidade, tornou-se igual aqueles que punia. Eles deviam ter nojo dele. Eles, aqueles vampiros gentis que tentavam conviver com a sociedade humana, contendo seus desejos mais profundos, respeitando seus irmãos de jornada. Carlisle, quem Edward considerava o pai de tal filosofia de vida, o olhava sem julgamento, seus pensamentos leves: era um homem contido, cheio de sabedoria, e tentou reter sua própria mente, sabendo que o recém-chegado abriria-se com ele quando se sentisse capaz. 

— Vamos para dentro. — disse Esme. 

Edward continuava paralisado, o corpo e mente cedendo a uma espécie de morte. O casal o apoiou, segurando-o pelos braços. A chuva parou. Logo, Edward sentiu a maciez de um sofá. E, depois, uma toalha felpuda passando por seu rosto e cabelos. Esme cuidava-o como uma criança, limpando-o do que era externo enquanto ele se afogava internamente. 

À toa, tudo fora à toa. 

Edward mal conseguia formar um pensamento lógico. Estava sendo engolido por toda aquela dor reprimida. Desejava se deitar, para ter uma folga daquelas sensações tão profundas e angustiantes. Desejava dormir,  dormir da maneira que um morto como ele deveria estar dormindo. Quis escavar a terra com as próprias unhas, esconder-se, encolher-se no solo, deitado junto dos vermes, para nunca mais ser visto. 

A anestesia começou a evaporar conforme Edward relembrava os olhos escuros da cigana velha. O conhecimento que ela continha, a vida que ela carregava nos ombros… Soava justo ser julgado por aquela humana. Ela compreendia, ela entendia, o monstro que ele era. Edward fechou os olhos com força, seu primeiro movimento desde que chegara a Colombus. Esme franziu o cenho, vendo o corpo do garoto tremer. Nos olhos da idosa, Edward viu o desgosto, o pavor… Ela implorando pela vida do bisneto, oferecendo seu sangue como moeda de troca. Edward tremeu e convulsionou, seu corpo prontamente expelindo todo o sangue não digerido. Como uma limpeza automática, Edward ajoelhou-se conforme mais sangue escapava de seus lábios. 

Carlisle e Esme deram passos para trás, assustados. O carpete branco agora mostrava-se bordeaux, tomado de sangue envelhecido. O instinto médico de Carlisle agitou-se e ele se aproximou, devagar, estudando o que deveria ser sangue de dias. Aquilo, regurgitar daquela maneira e não digerir sangue, não era natural de um vampiro. O corpo do morto-vivo, tão desesperado por calor e vida, sugava sangue como uma esponja absorve água. 

Edward ergueu a coluna, ainda em seus joelhos, e limpou a boca com a palma da mão. Carlisle crispou os lábios, revisando mentalmente tudo que compreendia sobre o vampirismo e tudo que aprendera em sua vivência. Os olhos de Edward continuavam rubi, analisou o médico, mas, de alguma forma, era como se… Se sua moral tivesse conduzido aquela purificação corporal, rejeitando o que lhe afligia a mente. 

— Moral? — Edward cuspiu com escárnio. — Que moral eu tenho, Carlisle? Eu sou um assassino! Um assassino! Você não vê?

 

[...]

 

Era tarde da noite quando Alice despediu-se de Bella, dando-lhe dois beijos afetivos nas bochechas, e dirigiu-se até sua casa no sul de Chicago. Manteve-se na calçada, caminhando devagar. Sua mente ziguezagueava em alegria, esperança e certo medo, dividindo-se entre Nessie, risonha com seu vestido novo, e Edward, consternado, urrando na floresta. O futuro era um quebra-cabeça próprio, sabia Alice, onde tudo se encaixava, moldava, conforme o cenário escolhido… Edward ainda seria um homem diferente, ela esperava… O primeiro passo para a mudança já fora dado… O autocontrole, a lembrança afetiva, o desejo de restaurar sua própria vida eram outras escolhas. Alice suspirou, pois vira que… 

“Madame…” um homem pálido, de cabelos cor-de-ouro, tirava o chapéu em um cumprimento formal. A morena, no camarim, sorria satisfeita, estendendo a mão. Iluminada pelas lâmpadas no espelho, viam-se flores, caixas de bombom, garrafas de vinho, diversos presentes e um folheto anunciando Srta. Veronica & Sua Fabulosa Banda. Alice sentia o coração acelerado, o rubor ardente que subia pelo corpo da mulher… Sentiu a doçura daquele sangue que cantava. O loiro derreteu-se, a boca enchendo de veneno. A gengiva coçava em sua ânsia própria, desejando a satisfação que apenas a carne quente poderia fornecer.”

“Ele se inclinou, segurando a mulher com duas mãos de ferro antes de rasgar-lhe a jugular em uma mordida violenta, esfomeada. Um último grito escapou dos lábios de Veronica antes de colapsar no chão, vazia. Dois homens invadiram o camarim no outro segundo. O loiro lambeu os lábios, ainda preso naquele prazer além da descrição. Tiros foram disparados contra o corpo de mármore e, com a chegada de mais homens, de mais mulheres, mais corpos foram caindo ao chão. Molengos, frios. Um banquete se iniciava.

Idiota, idiota! 

Vampiro estúpido!

Alice retornou do seu estupor em uma fúria imensa. A visão inesperada, os acontecimentos que se desencadeariam nas futuras horas, uma imensa bagunça que chegara com um curtíssimo aviso prévio. Ela já vira aquele vampiro loiro antes e aguardava pacientemente pelo seu momento, esperando pelo dia que o encontraria em um café. O quebra-cabeça da vida tinha vida própria. E tomava decisões burras, Alice bufou. 

Os saltos de Alice estalaram pelo asfalto enquanto ela atravessava a rua com pressa, ouvindo buzinas e xingamentos altos. Ela lera no jornal daquela manhã sobre o belíssimo cabaret da Srta. Veronica e seu número exuberante. A noite era viva em Chicago. Alice dobrou a esquina, mantendo uma velocidade consideravelmente humana. Como aquilo não aparecera antes? Onde estava sua mente que não captara tamanha mudança tão rápido? Ela deveria saber que ele estava na cidade! Era uma variação muito brusca. 

Alice travou os pés na frente do Auditorium Theatre. O letreiro brilhante anunciava exatamente o que ela procurava: Srta. Veronica & Sua Fabulosa Banda. Entre os humanos empolgados, mulheres luxuosas e homens encantadores, a vampira encontrou a bilheteria aberta. O rapaz do outro lado, entediado, sentou-se reto quando Alice aproximou-se com a mesma delicadeza de um meteoro. 

— Um bilhete, por favor. — ela abria a bolsa com afobação. Entregou 20 dólares enquanto puxava o ticket de entrada. Saiu atordoada, as feições negativas, enquanto o rapaz gritava pelo troco. “São apenas 5 dólares, senhorita!

Ela entrou no prédio, tomada por descrença e irritação. 

Apresentou o ticket ao funcionário na entrada e zarpou, subindo correndo os degraus que levavam ao segundo andar e à entrada do auditório. Alice ergueu o pulso, espiando seu relógio fino: faltavam 40 minutos para o início da apresentação. Pela quantidade de presentes e suor no rosto de Veronica, Alice entendeu que o incidente ocorreria após o espetáculo. 

No mar de pessoas, Alice sentiu a essência que só poderia pertencer a outro da sua espécie. Marchou, furiosa, pelas pessoas, encontrando-o no bar. Estava sentado à bancada, a cabeça abaixada e um copo de uísque intocado. Jamais se sentira tão ofendida em sua curta existência! Como ousava sua mente traí-la de tamanha maneira? E como ousava aquele vampiro, aquele homem, ser tão descuidado? A bolsa de Alice voou contra o braço, cabeça, pescoço e qualquer outro lugar que pudesse acertar:

— Seu estúpido! — ela acusou, batendo-lhe com a bolsa cor-de-rosa. O loiro ergueu-se, incrédulo, parando a bolsinha. — Você é ridículo! Seu… Seu caubói ridículo

— Madame? — ele ergueu as sobrancelhas loiras. 

O homem levantou-se, tirando o chapéu. 

— Você ia causar uma cena, seu idiota! Idiota! Como pode ser tão descuidado?

Ele sorriu de canto.

— Madame, eu não sei de onde você veio, mas não sou eu causando uma cena. 

Alice paralisou. 

Lentamente, abaixou as mãos e escondeu a bolsa no canto do corpo. Estava cegada pelas próprias emoções, sentindo-se extremamente frustrada. Frustração com ele, com ela mesma. Como não vira aquela chacina antes? Por que sua mente era tão instável? Por que aquele estranho lindo tinha mudado de planos? 

— Senhores — o garçom atrás do balcão parou de secar um copo e inclinou-se. — Se vocês vão continuar brigando, eu peço, por favor, que se retirem. 

Alice engoliu a seco.

— Sinto muito, senhor. Ela se comportará agora. — prometeu o vampiro.

Ele se sentou na banqueta e indicou para que Alice se juntasse a ele. No seu rosto, um sorriso longo dançava. A vampira se sentou à frente, encolhendo os ombros; não era uma mulher a quebrar a norma social. 

— Talvez você queira se apresentar? — ele tinha olhos brilhantes e cheios de sarcasmo, ela viu. No lugar de vermelho, encontrou verde-escuro. Lentes. — Gostaria de um drinque, srta… ? 

— Brandon — ela respondeu exasperada, ajeitando o chapéu Cloche que usava. — Alice Brandon. 

— Srta. Brandon, então — ele concordou. — Jasper, Whitlock.


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Notas finais do capítulo

Algum feedback? Ficaria muito contente em ouvir de vocês! Como estão? Gostaram do capítulo? Aviso que em breve retorno com mais!
lisa X



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