A eterna guerra contra si mesmo. escrita por Ninguém


Capítulo 2
Montanha de cadáveres em uma cachoeira de sangue


Notas iniciais do capítulo

Perdoe-me por possíveis erros de português.



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Leniel observava Egoinis deitado na grama com as mãos apoiando a cabeça enquanto observava o céu azul daquela bela e tranquila tarde. A mulher de longos cabelos negros e pele chocolate mantinha-se à distância correta para não adentrar no perímetro do selo da prisão em que o amigo havia sido posto. Era a primeira que tinha vindo visita-lo após sua traição.

Parada centímetro das runas gravadas no chão em um raio de um km a mulher olhava atentamente para o homem que conhecia desde criança, alguém que esteve ao seu lado em batalha, que chorou com ela, riu com ela... a notícia de sua traição foi um golpe grande demais para ser aceito e Leniel demorou muito tempo para vir vê-lo.

— Vai ficar aí parada sem dizer nada até quando? – perguntou o sujeito deitado tranquilamente em sua posição serena.

Egoinis sempre foi um sujeito de fala mansa, rosto simpático e inteligente. Era impossível saber seus pensamentos porque o mesmo manipulava sua expressão facial para engar as pessoas a sua volta quanto aos seus sentimentos.

— É verdade? Você tornou-se um demônio?

— Quem sabe? – disse olhando para o céu – fiz o que queria fazer, o que precisava fazer. Se é ruim aos olhos dos outros eu não dou a mínima, nunca dei. Viver de acordo com o que acho certo é a única coisa que importa.  

— Ego!!! – vociferou ela segurando as lágrimas de ódio – o que você fez a este mundo!? Suas ações romperam o equilíbrio entre as espécies! Ao introduzir o medo e inteligência naquele primata ele evoluirá desrespeitando toda a ordem imposta pela natureza desse planeta! Haverá caos!

Pela primeira vez naquela tarde, Egoinis vira a cabeça para o lado a fim de olhar a amiga.

— Como sabe? – ele sorriu – temos muitas habilidades, mas prever o futuro não é uma delas. Eu fiz uma aposta... o homo sapiens evoluirá constantemente através da inteligência e o medo será o combustível que vai impulsionar esse poder sempre para frente. Haverá caos? Talvez. Mas esse é um pequeno preço pela evolução.

Leniel balança a cabeça na negativa.

— Você realmente enlouqueceu? Ações tomadas pelo medo sempre, sempre geram caos, tristeza, violência... esse primata vai evoluir por meio de morte. As outras espécies desse planeta e seus próprios semelhantes não significarão nada para eles.

— Exato. A união da inteligência com o medo eu humildemente chamo de Ego. Foi um presente, Leni, eu vi potencial para essa raça e tinha o dever de ajuda-los. Esse mundo é belo e existirá por muito tempo, mas isso não significa que será eterno. Todas as raças que aqui vivem serão exterminadas ao fim da vida de sua estrela. O sol morrerá e com ele todo o resquício de vida que esse planeta azul abriga. Graças a mim eles terão uma chance de sobreviver, terão a chance de se desenvolver para explorar outros mundos e quem sabe no futuro se tornarem deuses como nós?

— Não somos deuses! – gritou Leniel – não ouse dizer que sua empreitada foi para benefício deles, pois ao romper com o equilíbrio e injetar sua energia nessa raça você se alimenta da energia deles! E a medida que se multiplicam seu poder vai se ampliando!

Egoinis olha para a palma de sua mão.

— Não nego que também faz parte do meu plano. – ele fecha a mão em punho – obter poder o bastante para destruir aqueles metidos arrogantes que nos governam com suas regras rígidas. Graças a minhas ações já obtive a imortalidade, agora é só questão de esperar para ver a proliferação e a dominação dos humanos sobre esse planeta.

Leniel dá um passo para trás.

— Sua inteligência realmente te fez perder a empatia. Quis desafiar nossos generais e veja como acabou. Está preso em uma barreira de vida para sempre. Você entende que esse tipo de prisão impede que qualquer coisa com vida entre em seus limites? Ficará preso sozinho até o fim dos tempos!

Ego baixa o braço voltando a apoiar a cabeça enquanto olhava para o céu.

— Eu não diria que perdi. Nem mesmo Liana com todo seu poder foi capaz de me matar agora que sou imortal, quanto ao resto só preciso esperar. Como disse, um dia esse mundo será destruído pelo sol e com ele a barreira.

— Isso pode levar bilhões de anos.

Ego volta a olhar para a amiga.

— Eu esperarei. E quando me libertar, por que Leniel, eu vou me libertar, terei a energia de uma raça inteira me alimentando e vou caçar e destruir os malditos generais começando por Liana. Vou mudar nosso sistema para sempre! Tudo será diferente!

***

No consultório do doutor Olegário Alector mantinha-se sentado na confortável poltrona branca de couro estofado olhando para os próprios pés enquanto massageava os braços como se estivesse com frio. O psiquiatra olhava atentamente para seu paciente de vinte anos esperando o momento em que ele falaria. Com Alector era sempre assim, era necessário paciência. São os momento de crise em que ele consegue ser aberto e sincero e ainda que pareça um retrocesso nos últimos sete anos de terapia o experiente médico entendia que precisava saber o que se passava na cabeça do garoto para poder ajuda-lo.

A medicação só vinha depois que os “medos” do jovem eram expostos. Era como um ciclo: Olegário dava os remédio, Alector melhorava e parava de tomar, então vinham as crises, as consultas, a exposição do que o assolava no momento e depois de volta aos medicamentos.

Olegário tomou um gole de água enquanto cruzava as pernas esperando a movimentação sistêmica do paciente cessar, quando finalmente pareceu se acalmar Alector olhou diretamente para o médico.

— Eles começarem de novo.

— Os pesadelos?

— Sim.

— E sobre o que é dessa vez?

Com a respiração irregular Alector responde:

— Um demônio fugiu de sua prisão e com ele está vindo uma montanha de cadáveres em uma cachoeira de sangue.        


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Notas finais do capítulo

Postarei o próximo se houver ao menos um comentário. E então, vale a pena comentar?