O Despertar dos Sentidos LIVRO 1 escrita por Shirley Santos


Capítulo 2
1 - UM Baile INESQUECÍVel




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A noite de quinze de dezembro de mil novecentos e noventa e cinco está quente, estrelada e com a lua cheia brilhante iluminando o céu, enquanto uma adolescente de dezesseis anos observa os astros da imensidão celeste.

Simone Andrade possui cabelo levemente cacheado, castanho e na altura do ombro, preso em um rabo de cavalo. Seus olhos castanhos tristes se escondem por trás dos óculos de cor rosa claro com formato circular que quase lhe esconde todo rosto. Lábios carnudos, pele clara com algumas marcas de espinhas e sem qualquer maquiagem. Corpo esguio e altura mediana. Vestida com uma camiseta branca de uniforme escolar, calça jeans clara, um tênis simples preto e nenhum acessório a enfeitando. Carrega consigo um caderno universitário e um estojo pequeno preto.

A jovem vive em um município do interior do estado de São Paulo chamado Sumaré, com traços de cidade provinciana, mas como faz parte da região metropolitana de Campinas é bastante movimentada durante o dia.

Como sempre faz, ao sair da escola estadual onde cursa o segundo ano do ensino médio, ela retorna para seu lar sozinha, pois não reside muito distante de onde estuda, apenas quinze minutos de caminhada normal, embora nessa noite seus passos estejam mais lentos, demorando o máximo que lhe fosse possível para chegar à sua casa.

Enquanto admira a lua, perdida em seus pensamentos, relembra os últimos meses de sua vida, das coisas que havia feito e do que ainda estava acontecendo. Suas emoções afloram com tais lembranças e seus olhos se enchem de lágrimas.

Dedica-se sempre a fazer as vontades de sua mãe, Maria Lúcia Andrade, uma mulher de trinta e seis anos, rigorosa, com muitos ressentimentos de um passado infeliz que sempre tentou esquecer. Por causa disso seus olhos demonstram tristeza, assim como os de sua filha. Suas feições se parecem muito com Simone exceto pela sua estatura mais baixa, seu corpo acima do peso ideal e ainda o fato dela não usar óculos.

Por mais que Simone se esforce em fazer tudo que sua mãe lhe manda, da forma que lhe é pedido, para a senhora as coisas nunca estão boas o suficiente, por isso a jovem sempre sofre com maus tratos verbais e físicos.

Neste ano, Simone conheceu seu primeiro namorado, Ricardo Martins de dezenove anos, aluno do primeiro semestre de Ciências Econômicas da USP. Um verdadeiro playboy, possuidor de um Escort XR3 branco conversível, objeto pelo qual ele nutre ciúmes de forma absurda.

Em meio aos seus pensamentos, a jovem começa a se lembrar da noite em que o conheceu. Foi em uma festa para a qual ela fez um verdadeiro malabarismo para comparecer, o que lhe causou muitos sofrimentos posteriores.

(***)

É a última sexta-feira do mês de maio quando seu pai, Pedro Andrade, lhe dá dinheiro para comprar uma camiseta do uniforme escolar e um caderno.

Pedro é um operador de máquina em uma tecelagem da cidade, bastante trabalhador e esforçado, mas que guarda escondido em sua alma uma grande infelicidade devido a alguns acontecimentos do seu passado.

Logo que Simone chega à escola, seus amigos lhe dão uma notícia maravilhosa: não irá ter aula para sua sala, pois muitos professores haviam faltado por causa de uma greve.

Alguns de seus amigos como, por exemplo, Cesar Henrique Guedes, Breno Moreira, João Paulo Ribeiro vulgo JP, Aline Pereira Godoy com seus irmãos mais velhos e gêmeos Tiago e Guilherme, Melissa Gomes, Ilhane Costa Gonçalves e Gabriella Ferreira começam a especular sobre o que iriam fazer. Ilhane é a única que diz que terá que ir para casa, todos os outros dizem que vão para o baile no Clube da cidade que está sendo patrocinado pela rádio do município vizinho, cujo nome é Americana. Simone deseja muito ir, mas tem medo da reação de sua mãe, o que Aline insiste:

— Aaaahhhh, Simone! Vem também! Todos nós vamos. Te empresto a roupa, sandálias, te maquio e você deixa seu material na minha casa que na segunda te trago. O problema vai ser só o dinheiro para a entrada.

— Pelo dinheiro não precisa se preocupar que eu posso pagar sua entrada, Simone. – diz Cesar com um brilho estranho nos olhos.

— Não precisa, Cesar. – Simone responde toda encabulada — Tenho o dinheiro que meu pai me deu para comprar um uniforme novo.

— Então, Simone, vamos? – convida Aline feliz, batendo palmas.

— Eu não sei. Quero ir, mas... – Simone coça a cabeça.

— Mas o quê? – interroga Aline com o olhar severo, pega as mãos de Simone — Olha, você vai e pronto!

Aline e todos os outros amigos insistem tanto para ela ir junto que Simone se dá por vencida.

Assim, se despede deles e segue para a casa de Aline localizada atrás da escola. Os irmãos da amiga a seguem de perto, enquanto os outros vão para suas casas para também se produzirem para a balada.

Simone e Aline possuem a mesma idade. Seus corpos são semelhantes, exceto pelos seios que são um pouco mais volumosos em sua amiga, que tem os cabelos longos, louros e levemente cacheados, olhos verdes, pele clara e muitas sardas no rosto. Aline é extrovertida, adora uma festa e gosta de dançar, embora Simone não a considerasse a melhor amiga, mesmo assim sempre gostou de ter a amizade dela.

A casa de Aline é simples, com três quartos, uma sala de estar e uma cozinha pequena, a garagem onde é guardado o carro da família, um Fusca amarelo, além de um quintal grande com algumas plantas onde também fica a lavanderia. Os móveis têm aspecto de muito usados, algumas plantas e flores adornam a entrada da sala, cujo único enfeite é um quadro de Nossa Senhora Aparecida na parede, logo atrás do maior sofá. No quarto de Aline as paredes são enfeitadas por pôsteres de grupos musicais tais como Pearl Jam, Green Day, 4 Non Blondes, Ace of Base e de Double You. Além disso, apesar de ser um quarto de moça, ele não é arrumado.

Aline revira o guarda-roupa a procura de uma roupa para sua amiga. Encontra algo que agrada bastante a Simone, uma camiseta branca com detalhes na cor preta nas mangas curtas e na gola, com um desenho grade de coração preto no meio da blusa com um ponto de interrogação branco dentro dele. Uma minissaia preta, não muito justa, que faz conjunto com a blusa. A loira também empresta uma sandália preta de salto plataforma, não muito alto, além de um par de brincos pequenos em formato de coração.

Depois de pedir para sua amiga guardar os óculos no estojo da escola, Aline começa a maquiá-la, em seguida lhe faz um penteado com uma trança embutida. Quando finalmente Simone fica pronta se surpreende ao olhar no espelho, pois não acredita no que os seus olhos veem, uma moça linda e totalmente diferente daquela que está acostumada a ver todos os dias.

Aline coloca um vestido vermelho curto e colado no corpo. Posiciona uma presilha na lateral do cabelo com desenho de borboleta prateada, coloca um par de brincos de argolas no tamanho médio, sandálias prateadas de salto agulha e maquia-se. Ao terminar de se embelezar, abre uma pequena fresta da porta do quarto e pergunta aos seus irmãos se já estão prontos, quando eles, na verdade, já as esperam impacientes na sala de estar.

A mãe dos garotos, Dona Gertrude, trabalha como secretária da escola onde eles estudam, é sempre muito simpática e acolhedora, até mesmo os seus olhos não demonstram qualquer reprimenda, diferentemente do que Simone está acostumada a presenciar em sua genitora.

Ela avisa que irá levá-los ao clube, abrindo a porta e seguindo para a garagem. Antes de chegar no Fusca é detida por Tiago.

— Não precisa, mãe. Nós vamos a pé. – Tiago resmunga para ela encostado no sofá menor.

— Precisa, sim! – Aline rosna ao sair do quarto, seguida por Simone – Não vou até à cidade a pé de salto alto.

Tiago e Guilherme, este último que ainda se encontra sentado no sofá maior, se assustam com a chegada da irmã na sala e se espantam com a beleza de Simone.

— Nossa! Simone, você tá muito gata! – os dois falam ao mesmo tempo.

Simone fica vermelha como uma pimenta e arregala os olhos, espantada com a declaração dos gêmeos, ainda assim, sorri levemente e agradece acenando com a cabeça.

Guilherme volta sua atenção para a irmã:

— Qual é, Aline! Você já pensou que mico chegar com a mãe lá? E se algum amigo nosso nos ver?

— Não interessa! – ela esbraveja — Não vou a pé!

— Podem parar com a discussão, vou levá-los e ponto final. – responde Gertrude pondo fim a discussão — Já está tarde para andarem por aí sozinhos, inclusive, quando terminar a festa vocês me liguem para buscá-los.

Apesar das reclamações dos gêmeos, todos entram no carro e Dona Gertrude leva-os. Ao chegarem no clube, percebem que o mesmo ainda se encontra fechado. Para passar o tempo, Aline convida Simone para beber um suco na lanchonete próxima, do outro lado da rua, enquanto seus irmãos vão para a praça, não muito distante, encontrar com os amigos.

Logo que as duas entram na lanchonete, Simone se assusta, pois se depara com seu tio Carlos Eduardo. Um rapaz de cabelo acinzentado curto, olhos esverdeados, corpo não muito magro, mas também não é atlético, bem mais alto que ela, cuja diferença de idade entre eles, é de apenas nove meses, sendo ele da mesma turma da garota. O rapaz aguarda a abertura das portas do Clube com alguns amigos, mas ao ver a sobrinha, a chama:

— O que está fazendo aqui, Simone? – pergunta em tom de reprovação, com uma expressão severa no rosto.

— Eu vou para a festa. – murmura preocupada com o que ele irá dizer.

— Sua mãe sabe que você está aqui? – questiona rudemente.

— Não. E você não vai ligar para ela avisando que estou aqui! – Simone explode.

— Por quê? – ele fala fechando ainda mais a cara.

— Porque você sabe muito bem que ela seria capaz de vir me buscar e fazer o maior escândalo. Isso vai queimar meu filme.

— Ok! – Carlos Eduardo murmura levantando as mãos em sua própria defesa — Você é quem sabe o que está fazendo. Depois não diga que não avisei.

— Tá! Já sei. – ela murmura se virando para voltar para perto de Aline.

— Só mais uma coisa, Simone. – ele fala chamando-a.

— O que foi? – ela cruza os braços ao se virar para fitá-lo.

— Vou ficar de olho em você. – Carlos Eduardo fala colocando o dedo indicador perto do seu olho direito.

Simone se vira depois de mostrar a língua para ele e se junta a amiga. O encontro com o tio a deixa nervosa e consternada, sem saber que atitude tomar, pois tem muito medo da mãe e do que ela pode fazer. Aline, sentindo o seu nervosismo, tenta acalmá-la, mas em vão, já que a amiga está decida a voltar para casa se não fosse a chegada de três de seus amigos.

Breno Moreira, da mesma idade e altura de Simone, tem cabelo loiro acinzentado, curto e liso, olhos azul-celeste, pele branca e corpo magro, veste calça jeans clara, camiseta preta sem qualquer desenho, tênis preto e boné da mesma cor.

João Paulo Ribeiro, vulgo JP, por sua vez, é um ano mais velho que Simone, o rapaz arranca suspiros das meninas da escola. Ele possui cabelo castanho escuro, liso e na altura do ombro, pele alva, bem mais alto que Simone, olhos verdes como duas pequenas esmeraldas, corpo atlético, um verdadeiro galã de cinema americano, que veste para o evento roupas muito parecidas com a do amigo Breno.

Por fim, o mais importante de todos para Simone, Cesar Henrique Guedes, que tem a mesma idade dela, possui cabelo castanho escuro quase negro, liso e curto, olhos na cor de mel esverdeados, pele clara, com marcas de espinhas e sardas pelo rosto, magro e da mesma altura de JP. O menino usa calça jeans escura, camiseta preta com desenho do grupo de rock Guns N' Roses e um par de tênis preto.

Simone sente um frio na barriga quando olha para Cesar, além de ficar corada, parece que lhe falta o chão e suas pernas tremem feito gelatina, sentimentos que ela experimenta todas às vezes que o vê.

Os três ficam boquiabertos quando veem Simone. Cesar é o primeiro a se aproximar dela, lhe dá um beijo na bochecha e diz com um sorriso radiante:

— Está muito linda, Simone!

— Obrigada. – ela sussurra timidamente.

— Realmente, está muito linda. – murmura JP depois de cumprimentá-la.

— Eu não te disse que você ia arrasar? – Aline confidencia no ouvido de Simone.

Simone dá um tapinha no braço da amiga, enquanto Aline, com um sorriso deslumbrante, cumprimenta os amigos.

— Acho que a Simone sempre foi bonita, nós que não percebemos antes porque ela nunca se arruma. – Breno murmura depois de cumprimentar Simone.

— Bom, acho que vocês estão exagerando, mas, de qualquer forma, agradeçam a Aline. – Simone fala abraçando a amiga e abrindo um leve sorriso.

O som começa a tocar dentro do Clube, uma batida de música eletrônica que deixa a todos eufóricos. Cinco minutos depois as portas são abertas, então Aline pergunta com uma expressão desafiadora no rosto:

— E aí, Simone? Você vai embora ou vai entrar com a gente?

— Como assim? Você não vai entrar? – pergunta Cesar espantado com a revelação.

— É ruim, hein! Depois de ouvir o batidão e ver todos aqui, vou entrar sim! – exclama com um sorriso largo.

— Então vamos, galera. – JP fala, olhando para a entrada do clube.

Eles seguem em direção ao clube, brincando uns com os outros, muito felizes, enquanto outras pessoas chegam de todos os lados, inclusive mais alguns amigos de Simone. Alguns carros também começam a chegar e a estacionar próximos da entrada do clube, quando um Escort XR3 branco conversível quase atropela a garota, que se assusta.

Simone tenta ver o motorista do veículo, mas sem sucesso, principalmente porque a capota está levantada e os vidros fechados. Ele, no entanto, consegue vê-la perfeitamente. Aline puxa a amiga pelo braço, enquanto o carro segue seu caminho:

— Essa foi por pouco! Que motorista louco. Você conseguiu ver como ele era?

— Não. – responde ainda olhando para o carro que está estacionando distante da entrada do clube.

— Ah! Deixa isso quieto! – fala enquanto continuam seu percurso.

Uma fila logo se forma na bilheteria para a compra das entradas, depois para a revista dos seguranças. A fila da revista das mulheres anda separadamente da dos homens, as duas entram por portas separadas, em seguida todos se encontram da parte interna da entrada onde tem uma grande porta de vidro preto.

Simone fica maravilhada com todo esse lugar em que até então, nunca havia estado. O ambiente em forma circular possuí dois andares, a entrada fica no andar superior onde há um bar repleto de bebidas variadas do seu lado direito. Enquanto um pouco mais à frente, do lado direito da escada, que desce, tem uma abertura circular através da qual as pessoas podem observar quem está no piso inferior, onde se localiza a pista de dança. Do lado esquerdo dessa escada, há um corredor que também permite ver o andar inferior e que também leva a um local mais escuro que os outros ambientes. "Provavelmente o local da pegação" Simone reflete ao observar o lugar. Um portal mais à esquerda da entrada leva a um salão com iluminação sutil e alguns sofás.

A escada com tapete vermelho fica exatamente de frente para entrada principal. Simone desce observando maravilhada as luzes que vibram ao som da batida da música eletrônica. Algumas lâmpadas de luz negras espalhadas pelo salão deixam sua blusa branca com um tom de neon lindo, dando um efeito eletrizante ao coração preto e aos detalhes da mesma cor.

O palco com as caixas de som, a mesa do DJ e do técnico da iluminação estão localizados do lado direito da escada, bem ao fundo, enquanto a pista de dança, que também possui forma circular, está no meio entre a escada e o palco, onde também há uma máquina de fumaça e uma luz laser verde, ambos dão um tom mais charmoso ao ambiente.

Do outro lado da pista, bem ao fundo, há um corredor largo com várias mesas com boa iluminação e outro bar, um pouco menor que o primeiro, embora possua a mesma oferta de bebidas variadas.

Simone sente uma euforia que jamais havia sentido na vida, seus olhos brilham e um sorriso fascinante ilumina seu rosto. Aline e outras de suas amigas a puxam para a pista para dançar, enquanto outro grupo de jovens começam uma dança com passos ensaiados, ao que Simone começa a acompanhar, com certa dificuldade no início, mas acaba aprendendo rápido. Assim, dançam várias músicas eletrônicas que fazem muito sucesso nas rádios.

Depois de tanto dançar, Simone vai ao bar do andar superior e compra um refrigerante, ingerindo-o enquanto observa, pela abertura, as pessoas dançando na parte de baixo onde avista seus amigos Cesar, Breno e JP, próximos do palco, bailando. "Eles estão dançando?", ela pensa, "Eles estão só pulando!". A cena dos três palhaços se divertindo a faz rir sozinha.

Ao terminar sua bebida, volta para pista, se deparando com um outro passo que logo e sem dificuldades, ela aprende.

Dançam ao som de "The Sing", do grupo Ace of Base. Enquanto baila, Simone sente em sua cintura as mãos de alguém que a está acompanhando no passo, o que a faz virar para olhar. 

 

https://www.youtube.com/watch?v=iqu132vTl5Y

 

O rapaz que a acompanha é muito bonito. Bem mais alto que ela, pele morena, cabelo longo liso e negro, olhos meio puxados e negros, lábios carnudos e corpo atlético, seus traços indígenas são bastante acentuados e seu sorriso é de tirar o fôlego de qualquer garota.

A presença dele não a incomoda, de forma que continuam dançando juntos. Na verdade, decide deixar que ele continue conduzindo-a e faz o mesmo com ele quando se viram durante a dança.

Não param os passos mesmo quando começa a tocar "All That She Wants", do mesmo grupo musical.     

 

   https://www.youtube.com/watch?v=d73tiBBzvFM

 

Apenas ao termino da canção, o rapaz a pega pela mão conduzindo-a para a escada em direção ao bar do piso superior. Pergunta com uma voz sedutora em seu ouvido:

— O que você quer beber?

— Um refrigerante. – responde timidamente em seu ouvido.

— Não quer algo mais forte?

— Não, obrigada, não bebo bebida alcoólica, não tenho o costume.

— Ok. Qual é seu nome?

— Simone.

— Bonito nome, o meu é Ricardo, mas pode me chamar de Rick.

— Muito prazer, Rick.

— O prazer é todo meu! – ele dá um beijo demorado no rosto dela deixando-a ainda mais tímida.

Depois de pegar as bebidas ele a convida para irem ao salão onde estão os sofás. Simone senta, o rapaz faz o mesmo, porém fica colado a ela:

— Antes de tudo, Simone, quero lhe pedir desculpas.

— Desculpas, por quê? – pergunta depois de beber quase a metade da bebida.

— Por eu ter quase atropelado você. – sorri debilmente.

— Então, era você? – questiona espantada.

— Sim! Você não conseguiu me ver? – ele franze o cenho experimentando sua bebida enquanto aguarda a resposta.

Simone dá uma risadinha:

— Eu tenho um pouco de dificuldade para enxergar as coisas a noite se eu estiver sem meus óculos!

— Então, você usa óculos? – ele fita seus olhos e sorri.

— Sim. É uns óculos sem graça, grande, não gosto dele. – olha para sua mão livre em seu colo.

— Pois, aposto que você fica muito bem com ele. – dá outro gole em sua bebida.

— Hum... Acho que não. Minha amiga Aline mandou tirar ele e escondê-lo. – ela fixa seu olhar no dele.

— É porque, assim, podemos ver o quanto seu rosto é lindo. – diz o rapaz acariciando o rosto dela com as costas de seus dedos longos e finos.

Simone dá uma gargalhada fazendo com que ele abaixe a mão, espantado pela reação da garota.

— Linda? Eu? Acho que é você que precisa de óculos!

— O que eu vejo e enxergo muito bem por sinal, é uma moça linda, charmosa, com um sorriso lindo e uma gargalhada deliciosa.

Simone abaixa a cabeça envergonhada com as palavras dele, Rick pega o queixo dela e a faz olhar fixamente em seus olhos:

— Tão linda que não consigo resistir aos seus encantos!

Por impulso ele a beija, surpreendendo-a e deixando-a ainda mais tímida.

— O que foi? – se afasta ao perceber o constrangimento da garota.

— Ah... nada não. – volta seu olhar para a mão livre em seu colo.

— Por favor, me fala. Não gostou do beijo?

— Não é isso! Eu gostei. Na verdade... é que... nunca beijei ninguém. – depois de responder ela cobre os olhos com a mão livre.

— Como assim? Nunca beijou? Por quê? – questiona tirando a mão dela do rosto, tocando em seu queixo, forçando-a a olhá-lo nos olhos.

— Não tive a oportunidade. – volta a atenção para sua bebida e ingere mais refrigerante tentando disfarçar seu nervosismo.

— Não se preocupe, não vou fazer nada que não queira. – Rick mostra-lhe um sorriso fascinante nos lábios.

Simone suspira profundamente ao ver esse sorriso, retribui com um sorriso acanhado, termina sua bebida, dá um beijo rápido no rosto dele e se levanta.

— Vamos voltar para pista. Quero dançar muito hoje! Quero aproveitar ao máximo minha primeira vez aqui! – diz pegando a mão dele e o puxa na direção da escada, fazendo-o rir. Antes de saírem, ele também termina sua bebida, joga os dois copos na lixeira próxima a porta.

Para sua surpresa, Simone encontra com seu tio que a fuzila com um olhar gélido, mas ela não dá atenção ao gesto do rapaz. Desce as escadas puxando Rick pela mão, ao chegarem à pista, ele pergunta em seu ouvido:

— Quem é aquele cara que estava te encarando?

— Meu tio Carlos Eduardo! Ele disse que vai ficar de olho em mim, provavelmente para contar tudo para minha mãe depois.

— Então, não posso mais te beijar aqui no meio de todos? – murmura com tristeza na voz, fazendo biquinho.

— Acho melhor não. – mostra-lhe um grande sorriso.

Simone e Ricardo continuam a dançar apenas trocando olhares e sorrisos. Após algumas músicas, ele pergunta se ela está com sede o que ela assente, assim, retornam para o bar do piso superior. Enquanto ingerem suas bebidas, observam as pessoas na pista de dança pela abertura superior. Rick murmura em seu ouvido:

— Você tem namorado, Simone?

— Não. – responde simplesmente.

— Sério? Não acredito!

— É verdade! Não tenho, mas... – ela responde, em seguida volta a olhar para a pista e observa o grupo de amigos perto do palco.

— Mas o quê? – pergunta todo curioso.

— Eu gosto de alguém que, inclusive está aqui esta noite.

— É mesmo! E quem é?

Ela aponta na direção do palco:

— Está vendo aqueles três tontos que só ficam pulando perto do palco?

— Sim. – Rick olha para o grupo de rapazes.

— É aquele que está no meio, de camiseta preta do Guns e sem boné.

— E ele? Não gosta de você?

— Acho que não.

— Pois, então, você tem que esquecer ele. Não acha? – sorri maliciosamente.

— É! Eu acho, mas é difícil.

— Talvez eu possa te ajudar. – Rick faz carinho no rosto dela com as costas dos dedos.

— É mesmo? – responde com um sorriso irônico. — Como você pode me ajudar?

Ele a beija calorosamente deixando-a sem ação por alguns instantes, até que em um ato de autopreservação ela o afasta:

— Não posso! Meu tio Carlos Eduardo pode ver.

— Então, vem comigo! – ele pega a mão dela, a conduz ao local mais escuro do clube.

O lugar é realmente escuro, Simone mal pode ver as pilastras de sustentação do andar inferior e superior, assim como as paredes, mas Rick a conduz perfeitamente como se conhecesse aquele espaço como a palma de sua mão.

Ele encosta-se à parede, abraça-a e pergunta em seu ouvido:

— E aqui? Você pode me beijar? Acredito que aqui ninguém pode ver você!

— É, realmente... – antes que pudesse terminar a frase ele a beija, abraçando-a firmemente. Simone segurava em seus braços, sentindo seus músculos definidos, enquanto Rick começa a lhe fazer carinho, primeiro em seu rosto, depois em seu cabelo. Suas mãos começam a descer pelo corpo da moça, passando pelos ombros, depois pelos braços, retornando para os ombros e descendo para a cintura dela, o que a faz se afastar, interrompendo-o. — Ei! – diz, arfando. — Vamos com calma, sim!

— Já disse para não se preocupar. Não vou fazer nada que você não queira.

— Acho bom mesmo! – responde tentando controlar sua respiração.

— Estou apenas querendo sentir sua pele. – sussurra esfregando o nariz no rosto dela e depois em seu pescoço, para, então, aproximar sua boca do ouvido de Simone. — É tão suave! E você tem um cheiro muito gostoso.

Ela dá uma risadinha encabulada, ele a abraça mais forte e continuam a conversar sobre a vida dele com um pouco mais de privacidade, trocando beijos ocasionalmente até que começa a tocar a música "Everybody" do DJ Bobo. Simone se empolga:    

 

   https://www.youtube.com/watch?v=_0JrmT3FjBE

 

— Adoro essa música! Vamos voltar para a pista? – antes mesmo dele responder, sai puxando Rick pelo braço, que começa a rir.

Eles dançam a música e ao final desta começa a tocar outra que Simone vibra ao ouvi-la, "The Rhythm Of The Night", da Corona.   

 

   https://www.youtube.com/watch?v=u3ltZmI5LQw

 

Mas antes que continuasse a dançar, ela é interrompida por Carlos Eduardo que a puxa pelo braço até as escadas e fala alto para que ela possa ouvi-lo:

— Onde você estava?

— Estava dando uma volta! – responde tentando se soltar dele.

— Já te falei que estou de olho em você! – ele rosna fuzilando-a com o olhar gélido.

— Já sei que, quando você puder, vai falar tudo o que acontecer aqui para minha mãe! – ela argumenta ainda tentando se soltar dele.

— Não é isso! Estou cuidando de você. Nunca saiu para lugar algum, por isso é muito inocente! – dá uma olhada feia para Ricardo que está perto o suficiente para ouvi-lo, mas não se abala com o que ele diz.

— Não se preocupe que estou bem. – ela responde olhando para Ricardo.

— Quando as luzes se acenderem, você vai embora comigo.

— Tá! Tá! Agora vai se divertir e me deixe em paz! – responde se voltando para Carlos Eduardo que finalmente solta seu braço.

Simone entra no meio da multidão dançante seguida por Ricardo, os dois ficam bem próximos do palco, o que acaba atraindo a atenção de Cesar que ao vê-la interrompe a dança e a observa atentamente, franzindo o cenho ao constatar que ela está acompanhada.

Neste momento, é dado início a seção de músicas românticas começando por "Ordinary Word", do grupo Duran Duran, o que faz com que a multidão dançante diminua, restando na pista apenas os casais, incluindo Simone e Rick que a envolve em seus braços, colando seu corpo no dela. Sem se importar com mais nada e com ninguém ela o beija, surpreendendo-o, então o rapaz a abraça mais forte.

 

   https://www.youtube.com/watch?v=FqIACCH20JU

 

— Xi! Acho que você perdeu, Cesar. – Breno cutuca o amigo.

— Perdi o quê? – ele responde fingindo não entender, mas sem tirar seus olhos de Simone.

— Perdeu a chance de conquistar a Simone.

— Que conquistar nada! Me deixe em paz! – Cesar sai em direção ao bar do piso inferior.

— Que bicho mordeu o Cesar? – JP pergunta sem entender nada.

— Foi o bicho do ciúme. – Breno responde rindo, então aponta para Simone e Rick, que estão aos beijos.

Cesar pega um refrigerante, volta para perto da pista e observa atentamente o casal que mais lhe interessa e é quando começa a tocar "Come Undone", do mesmo grupo anterior. 

 

   https://www.youtube.com/watch?v=Epj84QVw2rc

 

Simone, que havia parado de beijar o Rick, se empolga com a música e vibra com ela. Rick dá uma gargalhada, a faz dar um rodopio para abraçá-la, em seguida.

Cesar não gosta do que vê. Irado, amassa o copo plástico que ainda continha um pouco de refrigerante derramando um pouco em sua mão, deixando-o ainda mais nervoso.

Durante a música, Simone e Rick dançam, se abraçam e se beijam mais uma vez, mas ao chegar no fim da canção o rapaz pede para ela lhe esperar ali, pois precisa ir ao banheiro. Sem que ele percebesse, Cesar o segue.

— Quais são suas intenções com a Simone? – Cesar rosna ao abrir a porta do banheiro junto com Rick.

Ricardo se assusta com a interrupção, analisa Cesar dos pés à cabeça, por fim responde com desdém:

— Não é da sua conta.

— É da minha conta, sim! – dispara ainda mais nervoso.

— Por quê? Você é namorado dela?

— Não... mas... – ele murmura.

— Mas nada! Eu sei que você não é namorado dela. Você não tem direito algum sobre ela. E se a Simone quiser, eu sim, quero namorá-la. É uma garota incrível, totalmente diferente de qualquer uma que já conheci, portanto não me amole, cara!

Rick entra no banheiro deixando Cesar irritado, falando sozinho.

Na pista de dança, Aline se aproxima de Simone e fala alto, sorrindo maliciosamente:

— Até que enfim ele te deixou um pouco sozinha, amiga.

— Quem?

— Ora, quem? Aquele pão delicioso que estava te abraçando e beijando! – responde, cruzando os braços.

— Você viu? – pergunta olhando ao redor.

— E quem não viu, amiga! Um beijão daquele e você pensou que ninguém iria ver?

— Pois é. Eu também me deixei levar, não resisti ao charme dele. – responde encabulada colocando a mão no rosto.

— Não precisa se envergonhar de nada! – Aline exclama tirando a mão de Simone de seu rosto — É assim mesmo que acontece. Você conhece alguém que te deixa ensandecida e acaba rolando. O bom disso tudo é que se der continuidade você pode esquecer esse amor platônico que sente pelo Cesar.

— Mas não é amor platônico. Eu realmente o amo!

— É mesmo? Então, por que beijou o carinha na frente do Cesar?

— Para ver se ele iria sentir ciúme ou qualquer coisa, assim, quem sabe ele irá dizer que gosta de mim. – responde dando de ombro.

— Então, você está usando o carinha? – sibila dando um tapinha no braço de Simone.

— Não! Bem. Só um pouquinho. – Simone ri da situação — Mas de qualquer forma, ele é gentil comigo e quem sabe pode até ser que continue, ou sei lá, talvez seja algo de uma noite apenas. Não sei! Só sei que quero aproveitar ao máximo esta noite.

— Tudo bem. – Aline fala dando de ombro — Agora, quero te perguntar, você vai voltar com a gente?

— Não. Infelizmente, meu tio disse que vou embora com ele.

Rick retorna e Simone faz as apresentações:

— Aline. Esse é o Ricardo. Ricardo essa é minha amiga Aline.

— Muito Prazer. – a loira fala apertando a mão dele beijando-o no rosto.

— O prazer é todo meu, mas pode me chamar de Rick. – responde também dando um beijo no rosto dela.

— Simone, já que você vai embora com o Carlos Eduardo, nos despedimos aqui!

— Como assim? Você vai embora com o seu tio? Achei que eu ia te levar para sua casa! – Rick exclama indignado com a notícia.

Aline sorri e faz um sinal para Simone que fica encabulada com a proposta de Rick.

— Não vai dar. Infelizmente, vou ter que ir com ele.

— Tudo bem. – Rick encolhe os ombros, dá um longo suspiro, olha ao redor, em seguida volta a pousar seus olhos em Simone. — Mas não quero perder você de vista.

— Você não vai perdê-la de vista. – interrompe Aline sorrindo maliciosamente. — Ela, ou melhor, nós estudamos na escola Elysabeth.

— Eu sei onde fica. – Ricardo olha para Aline e sorri.

— E ela trabalha na prefeitura como patrulheira mirim.

— Aline! – Simone retruca cutucando a amiga.

— O quê, amiga? Ele quer saber como te encontrar depois. Eu tinha que falar, já que tenho certeza que você não iria dizer nada. Afinal de contas, vocês ficam muito bem juntos.

Simone começa a rir encabulada, Rick a abraça e beija seu cabelo, depois mostra um grande sorriso para Aline.

— Muito obrigado pelas informações, Aline. Você, realmente, é uma ótima amiga para Simone.

— Se precisar de mais informações sobre ela, pode deixar comigo.

— Mui amiga, hein! – declara Simone cutucando novamente Aline que dá uma gargalhada, depois se despede deles.

Durante o resto da noite, Simone permanece dançando e azarando Rick com olhares, leves toques nas mãos, algumas palavras ao pé do ouvido acompanhadas de risadas, além, é claro, de vários beijos. Tudo isso com o olhar atento de Cesar que se morde de ciúmes.

Às três horas e trinta minutos da manhã as luzes são acesas e começa a tocar o estilo de música que Simone mais detesta, o pagode.

— Vou embora agora, Rick. – ela murmura no ouvido do rapaz.

— Tudo bem. Vamos procurar seu tio.

— Não precisa, ele está bem ali. – aponta para o corredor onde ficam as mesas.

A saída que fica perto de onde ele a espera também já está aberta.

— Tudo bem, mas você vai embora sem me dar um último beijo?

— Acho melhor assim. – responde abaixando seu olhar para suas mãos.

— Ah! – ele pega as duas mãos dela, beija os nós de seus dedos. — Por favor. – pede em tom suplicante.

Com um sorriso encantador ela gesticula com a cabeça em consentimento ao pedido de Rick. Ele a abraça forte e a beija. O casal se despede, então ela segue em direção a Carlos Eduardo.

— Você já quer ir embora? – Simone murmura um pouco entristecida.

— Sim. – responde com expressão insondável.

Os dois saem e começam a caminhada de trinta minutos até a casa de Simone sem trocarem palavra alguma. Ao chegar à rua da sobrinha, se despedem e cada um vai para um lado, já que Carlos Eduardo mora em outro bairro, embora bem próximo ao dela.

Com todos esses acontecimentos, Simone esquecera dos problemas que terá quando chegar em casa. Ela entra, percebe que todos dormem tranquilamente mesmo com as luzes do quintal e da área de serviço estando acesas. A jovem, que não é boba, caminha na ponta dos pés sem fazer qualquer ruído.

Sua casa é modesta e não está concluída. Não tem piso de cerâmica, nem reboco nas paredes da cozinha, do banheiro e do quarto que divide com seus irmãos, Mariana de nove anos e Felipe de sete anos. A parede não tem chapisco e por isso é possível ver os tijolos totalmente desnudos. Na sala e no quarto de seus pais se vê chapisco na parede, quase todos os trincos das portas não funcionam. São poucos os móveis e todos bem usados. Não existe qualquer enfeite por toda a casa.

Simone troca de roupa rapidamente e em silêncio, depois deita na cama superior da beliche que divide com sua irmã e adormece sonhando com luzes piscantes, braços fortes, olhos negros e atrevidos, além de beijos molhados.

Às seis da manhã, sua mãe arranca-lhe suas cobertas e a puxa da cama fazendo-a cair de joelhos, começa a gritar e a puxar os cabelos da garota, batendo em sua cabeça e em suas costas com muita força, ao mesmo tempo em que diz palavras do mais baixo calão relacionando-os a Simone.

Somente depois dessas agressões, questiona o motivo dela ter passado a noite fora. Leva-a para sala aos tapas, socos e beliscões, agarra seu cabelo e suas orelhas com as duas mãos usando muita força para, em seguida, bater a cabeça da moça contra a parede de chapisco. Simone apenas chora com as dores, não consegue dizer palavra alguma. Sua mãe para com o espancamento e a joga no chão, rosnando enraivecida, enquanto aponta o dedo indicador para a filha:

— Você vai fazer todo o serviço da casa agora e sozinha! Não vai dormir! A próxima vez que fizer isso pode ter certeza que te mato!

Apesar de estar embriagada pelo sono que sente, Simone faz tudo o que sua mãe ordena nesse dia, sonhando com o próximo encontro com Rick, o que não tardou a acontecer.


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Notas finais do capítulo

Oi! Gostaram do primeiro capítulo? Não se esqueçam de curtir para ajudar na divulgação, além de comentar. Digam tudo, não me escondam nada. rsrsrs Enfim, sintam-se a vontade para conversar comigo. Beijos.



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