Law queria estudar um pouco.

Mas quem disse que Luffy se importa?

— Tora-o, fala comigo.

Law fechou os olhos e respirou fundo, sentado no deque do Sunny, sentindo a brisa marítima e o calor do sol. Estava agradável, silencioso, e... populoso. Luffy não saía de perto dele. Não podia reclamar, é verdade; ficava pensando que, talvez, em algum tempo, não teria mais o privilégio de estar perto de Luffy o tempo todo como agora, mas... pelo menos um minuto de silêncio para poder ler...

— O que você quer?

— Larga esse negócio chato, vamos pescar.

— Não posso, preciso estudar esses documentos.

— Mas você fica lendo essas coisas o tempo todo. Não tira nenhum minuto para ficar comigo.

— Isso é mentira — Law baixou os papeis. — Eu fico o tempo inteiro com você.

— Fica nada. — Luffy cruzou os braços. — E se está comigo, está agarrado na papelada.

— Ou em você.

— Não o suficiente — Luffy pôs a mão nos documentos de Law e os baixou até deitá-los no chão.

Law suspirou. Luffy exigia muita atenção. Não ficava satisfeito com pouco. Law era um sujeito paciente na maior parte do tempo, mas às vezes não podia dar a Luffy tudo o que ele merecia. Law não gostava de fazer nada pela metade, muito menos mal feito. Se ia dar atenção a Luffy, tinha que ser integral. Talvez estivesse sendo um pouco injusto com ele. Podia ser mais maleável e dividir seus hobbies com ele. Poderiam passar mais tempo juntos, dessa forma.

Olhou para Luffy e sentiu-se contente por ver o biquinho que ele fazia. Acariciou seu rosto.

— Muito bem — Law organizou seus documentos e guardou-os numa pasta. — Vamos fazer algo. Mas vai ser o que eu quiser, para variar.

— O que você quiser!

Pouco tempo depois, Law e Luffy estavam sentados na biblioteca, montando um quebra-cabeças. Law havia comprado em Dressrosa, pensando que poderia ser um bom passatempo durante sua viagem no Thousand Sunny. No entanto, todas suas horas no navio foram quase que inteiramente consumidas por Luffy, e sequer teve tempo de abrir seu brinquedo novo.

O quebra-cabeças era de mil peças e era uma imagem complexa do Planalto das Flores, uma Colina icônica em Dressrosa. A dificuldade do quebra-cabeça era muito alta, já que os girassóis são parecidos. Law logo ficou animado com a perspectiva de montá-lo por completo. Era lindo!

— Tora-o! — Luffy exclamou assim que Law espalhou aquelas peças na mesa. Eram todas idênticas! — Que coisa chata é essa?!

— Não é chato, é só um jogo de concentração. Eu gosto.

— É chato — Luffy bagunçou mais as peças, para ver melhor.

— Você disse que íamos fazer o que eu quisesse, dessa vez. — Law o lembrou, apoiando os cotovelos na mesa.

Luffy deu-se por vencido. Havia dito aquilo, mesmo.

— Vamos lá, Mugiwara-ya — disse Law com seu tom de voz suave e condescendente. — Sei que você vai gostar desse jogo se der uma chance.

Eles sentaram lado a lado e começaram a organizar as peças. Luffy demonstrou bastante interesse no começo, o que deixou Law satisfeito. Poderia aproveitar não só a companhia de Luffy, mas algo que gostava de fazer para relaxar. Não demorou muito, entretanto, Luffy pareceu ficar entediado e até confuso com aquelas peças que ele dizia serem todas idênticas.

Law não deu muita atenção, optando por manter sua concentração no quebra-cabeça. Estava avançando lentamente, mas o começo era sempre assim.

Não demorou muito para Luffy se pendurar no pescoço de Law enquanto observava o que ele estava fazendo no quebra-cabeças. Ficou falando algumas coisas desconexas e sugerindo qual peça iria em qual lugar. Law aceitava algumas, mas em regra as sugestões estavam equivocadas.

Luffy deitou a cabeça no ombro de Law, depois levantou, deitou de novo, encostou o nariz no pescoço dele. Deixou a mão escorregar pelo alto do peito dele, e ficou acariciando por onde já sabia que havia tatuagens. A satisfação que sentia com o cheiro de Law. Era um cheiro que esquentava o corpo de Luffy, tinha um pouco de mar e um pouco de ervas.

Toda a pele de Law reagia ao toque de Luffy, mas ele queria tanto se concentrar.

Claro que Luffy não ia deixar. Ele nunca deixava.

Law fechou os olhos e permitiu-se sentir Luffy o tocando gentilmente. Dedilhando o alto do peito até o umbigo, em algum momento baixando as mangas de Law para poder alcançar a pele das costas.

O casaco pesado foi ao chão e Luffy se contorceu um pouco para passar as pernas por cima do colo de Law, mas o espaço era apertado. Eles se aproximaram num beijo que era intenso de imediato. Não havia tempo para provocação entre eles. Law desceu as mãos pelo corpo de Luffy e o pôs sentado na mesa, para que ficasse mais confortável, em vez de espremido entre Law e o móvel.

Law amava tanto aquele corpo que todas as vezes que o tocava, fazia questão de se comportar como se fosse uma despedida. Eles tinham uma vida perigosa, e de certo, qualquer momento poderia ser mesmo o último. Portanto, tinha que dar a ele a intensidade que merecia, sempre. Nada menos. Nunca menos. Sempre mais.

Os dedos de Luffy se embrenharam no cabelo de Law que, apesar daquele pensamento intenso e apaixonado, percebeu o que estava acontecendo ali.

— Ah! — Law exclamou repentinamente, puxando Luffy para longe da mesa. — Minhas peças!

Luffy fez um trejeito de surpresa e correu para ver se algo havia sido destruído. Olhou cautelosamente, embora não sabia exatamente o que estava procurando. Law reorganizou algumas peças. Toda sua logística havia sido destruída.

Luffy tendia a causar caos nos planos de Law.

— Me desculpa, Tora-o. — Ele fez uma expressão tristonha. — Eu baguncei tudo.

Law olhou para ele, exausto. Tombou a cabeça. Devia estar furioso, ou pelo menos frustrado, mas era impossível.

Acariciou o rosto de Luffy e deu um sorriso cansado.

— Tudo bem. Eu vou fazer isso mais tarde. Agora, onde estávamos?

Luffy abriu um imenso sorriso e pulou no colo de Law num segundo. Não tinha tempo a perder, afinal.