Até entrar para o bando dos Chapéu de Palha, Sanji não achava que tinha valor no mundo. Não acreditava que era digno dos sacrifícios que Zeff fez em nome dele, do carinho e dedicação que recebeu por tantos anos de todos os amigos no Baratie. No entanto, quando conheceu Luffy, ele também não hesitou em se sacrificar para ajudá-lo. Eles mal se conheciam, e Luffy não devia nada a ele; não era como Zeff, que fez o que fez porque se sentia culpado.

Apenas quando se ajoelhou, e agradeceu Zeff e os demais amigos por todos os anos no Baratie, é que entendeu: ele tinha sim valor naquele mundo. E seu sonho de encontrar o All Blue não era uma bobagem infantil; ele tinha todo o direito do mundo de sonhar, porque sua vida importava.

Quando escolheu casar com Pudding em prol da segurança daquelas pessoas, ele decidiu que seu sacrifício seria um agradecimento por tudo o que fizeram por ele no passado.

Entretanto, Luffy, de novo, estava lá para lembrá-lo de que o que ele desejava também era importante. Era mais importante do que tudo.

Sanji chorou incontáveis vezes em Whole Cake. Depois, quando estava de volta no Sunny, a caminho de Wano, e depois de um grande banquete e um merecido descanso, Sanji chorou de novo.

Luffy se aproximou dele. Estava encostado no mastro principal, sentado no chão, com um cigarro que já havia queimado pela metade sem que percebesse.

Sanji secou as lágrimas rapidamente e decidiu jogar o cigarro fora. Luffy ficou observando em silêncio, com uma expressão neutra. Sanji se encostou no guarda-corpo e ficou olhando para o mar. Não conseguia olhar para Luffy agora que estavam sozinhos.

Sem intimidar-se, entretanto, Luffy chegou ao lado dele no guarda-corpo e olhou para o mar também. Ajeitou o chapéu na cabeça. Fez um barulhinho com a boca, como se estivesse cantando. Fez umas caretas. Sanji sabia que ele não iria iniciar a conversa, porque Luffy era assim, mas Sanji também não estava com vontade de falar nada.

Estava com vergonha.

— Sabia que me assustei pensando que iria ficar sem sua comida para sempre? — Luffy falou num tom triste. No final, iniciou a conversa, mas não era bem o que Sanji esperava debater.

— Outra pessoa iria cozinhar para você.

— Mas não seria você. — Luffy disse, olhando adiante.

Sanji virou-se para ele. Sentiu o coração apertado.

— Mas seria comida. Todo o trabalho de um cozinheiro deve ser igualmente valorizado.

— Eu sei, mas o seu é especial. É o cozinheiro do meu navio. É quem alimenta meus companheiros. Eu não conseguiria encontrar um substituto.

 Sanji pensou em insistir que, não importava quem cozinhasse, a comida deveria ser tratada com o mesmo respeito, mas Luffy não estava pensando nisso. Ele estava pensando que queria Sanji em sua cozinha, e mais ninguém. E isso fez Sanji perceber, além de muitas outras coisas, que havia sim um propósito em sua vida. Ele havia nascido para muitas coisas, é verdade, mas dentre elas, a mais especial era cozinhar para seus companheiros.

Para Luffy.

Nada enchia mais o coração de Sanji de alegria e ternura do que ver Luffy se empanturrando com a comida que ele preparava. Todos os elogios que ele lhe dispensava eram especiais. Mesmo que Luffy dissesse a mesma coisa todos os dias, Sanji ficava feliz todos os dias. Sanji cozinhava todos os dias pensando em agradar a todos, é claro, mas ele precisava ter certeza de que Luffy estava bem alimentado, com todos os nutrientes essenciais, e de uma forma que lhe desse prazer. Até agora, não havia errado.

Sentiu os olhos arderem. Como se atreveu a dar as costas para ele?

— Luffy, eu sinto muito. — Sanji disse, finalmente.

— Eu sei. — Ele foi objetivo.

— Você não entendeu. Eu não devia ter feito isso com vocês... com você.

— Não devia, mas fez. Não importa, Sanji! O que importa é que você voltou! Aliás, você nunca foi embora de verdade.

Sanji queria saber encarar as coisas com aquela serenidade que Luffy tinha. Ele podia parecer um idiota para muitos, mas Sanji conseguia ver a imensa sabedoria do capitão.

— É verdade, eu nunca fui. Meu coração esteve sempre aqui.

— Aqui, no Sunny?

Luffy olhou para ele. Sanji sorria, embora sentisse as lágrimas escorrerem. Nem importava mais.

— Aqui, com você.

Sanji tocou no peito de Luffy com a palma aberta, e sentiu o coração dele batendo. Estava palpitando mais forte agora. Luffy baixou os olhos para ver os dedos de Sanji, e depois subiu o olhar para o cozinheiro.

De repente, Luffy abriu um grande sorriso. Sanji ficou surpreso.

— Shishishi — riu ele, colocando uma mão sobre a de Sanji. — Viu como você nunca foi embora?

Sanji sorriu também, e puxou Luffy para um abraço apertado.

Luffy ainda ria enquanto se enrolava no corpo de Sanji com seus braços e pernas de borracha. Sanji estava chorando tanto que soluçava, e sentiu-se um bobo porque Luffy continuava rindo. Sabia que ele não estava tirando sarro, até porque, o choro de Sanji era de alegria. Era da mais pura felicidade.

Depois de uns instantes, Sanji percebeu que Luffy não estava cedendo, e sentiu o rosto esquentar.

— Solta!

— Não! — Luffy o apertou ainda mais. — Vai que você decide fugir de novo e casar com outra maluca por aí!

— A Pudding-chan não é maluca!

— É sim, ela me deixou para morrer!

— Ela se arrependeu!... ora, não vou discutir isso com você.

— Bom mesmo!

Eles ficaram em silêncio um instante.

— Luffy! — Sanji gritou. — Me solte logo!

— Nunca! — Luffy apertou o abraço para se desvencilhar do corpo forte de Sanji, que tentava enxotá-lo. — Eu nunca mais vou te soltar!

— Não podemos viver assim, está maluco?!

— Só se você me prometer que nunca mais vai me abandonar.

Num primeiro momento, Sanji ficou chocado com o pedido, mas não precisou de muito tempo para pensar.

— Eu nunca vou te abandonar, Luffy. Eu prometo.

Luffy o soltou num estalo do corpo de borracha. E sorriu, seu mais belo sorriso.

— Eu sei. Eu acredito em você, Sanji.