[Referência a conversa do Natsume com o Shigeru – Ep. 10, Temp. 2]

Takashi acordava tirando Nyanko-sensei de cima de si. Era um domingo e não tinha muito o que fazer. Recentemente havia decidido devolver os nomes do Livro dos Amigos e agora contava com um youkai guarda-costas, viciado em comida e sake, e muitos outros youkais o buscando – fosse para se apossar do Livro ou pedir o nome de volta.

Descendo para o café da manhã, soube que Touko iria fazer uma faxina na casa e algumas compras, enquanto Shigeru terminava alguns projetos do trabalho. Já tendo feito suas lições no dia anterior, podia muito bem se oferecer para ajudá-la.

— Touko-san, você gostaria de ajuda? – Takashi ofereceu um pouco tímido. Não era normal para ele se intrometer na rotina das famílias que o acolhiam, porém, talvez, isso não fosse se intrometer! Mas sim apenas o desejo de ajudar.

— Ah, obrigada Takashi-kun. Mas hoje é domingo, você e seus amigos não irão se encontrar? – Touko admirava o esforço que ele estava fazendo para se adaptar à nova vida.

— Não tenho nada para fazer hoje, então estará tudo bem. – ele respondeu com um simples sorriso.

Touko aceitou sua ajuda e Shigeru sorriu admirando o momento – ver Takashi sorrir e tentar interagir com a casa e eles era fantástico e lhe trazia o pensamento de que agora ele estava melhor. Jamais se esqueceria da cena que viu no funeral em que o conheceu! Um menino magro, machucado e triste, completamente alheio ao mundo a sua volta.

Primeiro ele e Touko foram ao mercado. Haviam muitas compras pesadas para carregar e Natsume se ofereceu para leva-las para ela; os dois foram juntos caminhando devagar na ida e na volta, sendo seguidos por Nyanko-sensei, que fez Natsume comprar doces para ele.

Voltando para casa, descarregaram as compras, guardaram e Touko começou a fazer o almoço, antes da faxina na casa. Takashi não sabia cozinhar muito bem, mas queria ajudar e ver como ela fazia – Touko ficou um pouco sem jeito e se divertiu mostrando o preparo da refeição para Takashi.

Almoçando com os dois, Natsume prestava atenção em seus sorrisos, na conversa alegre que os dois tinham e direcionavam a ele as vezes, querendo ao máximo manter aquela paz e o calor que cada momento lhe trazia desde que se mudou.

Touko e Shigeru foram os primeiros parentes a vir em busca dele, seus parentes que não foram obrigados por algum acordo ou promessa a cuidar dele, aqueles que perguntaram o que ele queria... Os primeiros parentes com os quais ele se sentia confortável. Mesmo que agora entendesse coisas que não entendia quando mais jovem, Touko e Shigeru eram completamente diferentes dos incontáveis outros parentes com os quais ficou.

Terminado o almoço, Touko lavaria a louça antes da faxina. Natsume ainda queria ajudar e ela sugeriu que ele trocasse de roupa, para uma mais antiga, para ajudá-la. Natsume confirmou sua sugestão e foi até seu quarto se trocar. Lá, encontrou um youkai a sua espera, para ter seu nome de volta.

Natsume suspirou sabendo que devolver um nome iria esgota-lo por algum tempo, sentou de frente para sua escrivaninha, onde o Livro estava, e recitou seu encantamento para devolver o nome do youkai. Desmaiando ali mesmo e com Nyanko-sensei reclamando ao seu lado, Natsume não reparou que Touko o chamava.

Com o casal sem nenhuma resposta sua, entraram em seu quarto e o encontraram apoiado contra escrivaninha. Touko e Shigeru sorriam o admirando dormir tranquilo.

— Ele deve estar cansado. – Shigeru comentou baixinho.

— Sim. – Touko sorria – Ele parece uma criança dormindo logo após comer. – ela continuava a se divertir.

— Ele já mudou muito desde que o acolhemos. – Shigeru olhava satisfeito para ele.

— Sim, mas acho que ainda há muito que ele não consegue mudar. – Touko, por mais feliz que estivesse, sabia que Takashi tinha alguns acessos de instabilidade ainda e parecia fugir deles quando precisava explicar algum machucado ou porque suas roupas estavam sujas.

Decidindo deixa-lo descansar e Touko tendo o coberto com uma manta, os dois saíram em silêncio do quarto. Shigeru voltou a seu trabalho e Touko foi começar a limpeza da casa. Natsume acordou pouco depois, percebendo que estava coberto e com Nyanko-sensei bebendo ao seu lado.

— Sensei... – ele se espreguiçava e bocejava; ainda era difícil de suportar o impacto de devolver os nomes – Obrigado. – ele agradeceu pela manta.

— Idiota. – o gato virou o rosto bravo – Foi a Touko quem te cobriu.

— Touko-san. – Natsume parou um pouco e fechou seus olhos, sorrindo. Essa gentileza tão grande que tinham por ele, todo aquele carinho, será que um dia poderia retribuir?

Ficou com seus pensamentos para si e saiu do quarto para ver se Touko ainda precisava de ajuda. Ela continuou a divertir-se com o comportamento de Takashi e ele sorria para ela, um pouco envergonhado. Os sorrisos dela e de Shigeru conseguiam aliviar qualquer preocupação sua.

— Obrigado pela manta. – sem nem pensar, Natsume a agradeceu pelo gesto, ficando um pouco sem jeito e vendo Touko fazer uma expressão surpresa, feliz e fofa em troca.

— Tudo bem, Takashi-kun. Não precisa agradecer. – ela até ficou um pouco envergonhada. Shigeru e ela não tinham filhos e, depois de conhecer Natsume, sentia que tinha comportamentos e cuidados sobre ele, como se fosse seu próprio filho. – Vai me ajudar a terminar a limpeza? – a verdade é que ela e Shigeru realmente o viam como seu próprio filho e queriam protege-lo.

Os dois terminaram a faxina na casa e decidiram por fazer um chá, já que a tarde logo terminaria. Touko pediu que ele chamasse Shigeru e Neko-chan (a maneira como ela chama o Sensei) enquanto ela preparava.

No corredor de fora da casa, Natsume e Shigeru estavam sentados à espera de Touko. Shigeru foi quem pegou Sensei para saírem e o estava acariciando em seu colo, enquanto Natsume assistia pensando que ele não fazia ideia que o gato era um grande e poderoso youkai.

Touko chegou com o chá e os dois pararam para cada um pegar sua xícara. Os três sorriam juntos admirando o final da tarde. Podia parecer apenas mais uma parte do dia, um simples momento. Mas era um momento pacifico e feliz de uma família ainda em seus primeiros passos.