Você Me Perdoa? escrita por Gaio


Capítulo 3
Um Encontro Inesperado


Notas iniciais do capítulo

*LEIAM AS NOTAS INICIAIS*

Olá, meu povo. Primeiramente, me desculpem pelo atraso. Eu ia postar esse capitulo no inicio da semana, mas muitas reviravoltas aconteceram e acabei demorando mais. Espero que estejam bem e estejam lavando as mãos.
Eu avisei no ultimo capitulo (para quem viu) que este seria o ultimo da serie, mas eu percebi que eu poderia dar mais um motivo para as atitudes da nossa Nami e decidi expandir um pouco meu universo. Espero que gostem, pois esse capitulo tem algumas surpresas e a aparição de um novo personagem.
Tenho muitos leitores aqui, e espero que vocês apareçam nos reviews, pois a historia vai continuar e eu gostaria muito da opinião de vocês sobre isso.

Eu trabalhei a semana toda nesse capitulo para que não ficasse carregado. Espero que tenha conseguido.

Boa leitura, meus amigos.



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Por Gaio

~•••~

 

A casa de Bellemere ficava do outro lado da cidade, próximo ao mar, numa viagem de quase 3h de carro. Enquanto seu apartamento na cidade lhe dava a vista de um lindo nascer do sol, a pequena casinha no topo da colina, cercada de lindas laranjeiras, tinha a visão mais encantadora do sol poente, que trazia consigo cores que Nami jamais havia visto em toda sua vida, nem sequer imaginava que existiam. Dois lugares completamente distintos, mas que a ruiva amava mais do que qualquer coisa.

A casa ficava afastada das outras que compunham a pequena vila. Bellemere achava que aquele cantinho recebia a quantidade de sol perfeita para que suas laranjeiras crescessem saudáveis, e dessem uma boa safra. Era feita de madeira da qual a marinheira havia pintado de branco com muita devoção – mesmo que fosse um lar humilde, não significava que precisava parecer ser, era o lugar onde ela poderia se refugiar dos dias difíceis, e entregar às suas filhas boas lembranças da infância.

Ainda era cedo quando Nami chegou, e o dia quente banhava a plantação de laranjas com a luz do crepúsculo, dando vez a lua; a jornalista perdera as contas de quantas vezes deitou abaixo do enorme teto de folhas, e acabou pegando no sono ao som do seu farfalhar. Se existia um lugar que pudesse lhe trazer paz para pensar e espairecer, com certeza era esse.

Nami estava sentada de costas para lápide de Bellemere contando a ela suas ultimas façanhas, e a sua frente o mar exibia-se dançando fervorosamente. A ruiva havia pedido a Sanji que a levasse para lá, e o cozinheiro acatou seu pedido sem receio, não apenas pelo afeto que tinha pela amiga, mas também porque todos sabiam que contestar a jornalista não era algo muito inteligente de se fazer.

Nami precisava sair da cidade, por isso não poderia voltar para sua casa, não mais.

Nojiko havia a acolhido imediatamente quando Nami lhe contou tudo o que precisava contar: o porque de estar mais distante, porque andava sempre tão ocupada, e quase sempre desaparecia sem dar qualquer noticia. Por mais que tivesse ficado em choque com tudo o que soube, ainda eram irmãs, ainda se amavam mais do que tudo, e ela apoiaria Nami no que fosse preciso.

As luzes do dia se perdiam na água azul do oceano, e no lugar, milhares e milhares de estrelas pintalgavam de branco os fios da noite, tecidos pouco a pouco sobre os últimos vestígios do sol. Nami fechou seus olhos e respirou fundo o ar salgado da maresia. O vento morno balançou majestosamente seus cabelos, e acariciava sua pele como se fossem dedos, tocando-a de maneira delicada pelos braços e pelo colo. O som da água colidindo com as rochas fazia sua mente se perder em sensações leves; ela não pensava em nada, deixava apenas que as vozes do mar a levitasse e levasse seu corpo cuidadosamente, transportando todas as duvidas e todo pesar.

Já fazia muito tempo desde que Nami sentira algo assim.

Estava tão inebriada que nem mesmo percebeu Nojiko se aproximar. Ela trazia consigo um prato com alguns pedacinhos de bolo:

— Você não comeu nada desde a hora que chegou. – Disse ela, sentando-se ao lado da ruiva e colocando o prato entre ambas.

— Não estou com fome.

— O vento não vai encher sua barriga. Ao menos experimente, fiz como nossa mãe fazia, ou ao menos tentei.

Nojiko usava uma calça jeans clara, uma blusa cropped preta, um avental um pouco sujo e sandálias de salto baixo. Pelo canto dos olhos, a ruiva a observou retirar um cigarro e um isqueiro do bolso, o acender com uma longa tragada e, depois de um tempo, se livrar da fumaça jogando-a para cima, para logo em seguida admirar a mesma vida que Nami – quanto mais o tempo passava, mais Nojiko se parecia com Bellemere e talvez nem se dava conta disso. Os cabelos estavam soltos e um pouco bagunçados, e o rosto mostrava certos traços de cansaço. Ela havia lhe contado que tem sido tempos difíceis: novas empresas haviam chegado a cidade para competir no mercado, roubando seus clientes.

Mesmo que Nami estivesse sempre ajudando Nojiko no andamento da fazenda, ela sentia um pouco de remorso por ter deixado todo fardo nas mãos da irmã. Por um momento sua mente foi invadida por um flashback, e ela riu.

— O que é tão engraçado? – Perguntou a mais velha.

— Me lembrei de como Bellemere tentava nos convencer, com os olhos cheios, de como esse lugar era o melhor do mundo. – A imagem de sua mãe sorrindo lhe aqueceu o coração, mal parecia que todos aqueles anos haviam passado. Elas enfrentaram tantas coisas juntas...

— Gen-san sempre dizia o quanto ela lutou por esse pedaço de terra com unhas e dentes quando decidiu nos adotar. Gastou até mais do que podia.

As irmãs olharam a fazenda por um momento. A sutil luz que vinha da porta da sala era o único ponto iluminado que se via entre os corredores de arvores. As laranjeiras balançavam devagar, como se também utilizassem a noite para descansar, e o único som que se ouvia era o canto dos grilos.

— No fim... ela nos deu um presente e tanto. – Nojiko sorria quando apoiou o rosto sobre os joelhos dobrados, os olhos semicerrados pareciam lagrimejados.

— Ela tinha tanto orgulho desse lugar!

Ela também tinha muito orgulho de você!— Nami se atentou as palavras da irmã. – Bellemere sempre dizia que por mais que te bajulasse com o melhor molho que ela pudesse fazer, você não iria resistir ao mundo quando descobrisse o quão vasto e incrível ele consegue ser.

Nami sentiu seu coração reagir as palavras da irmã. Seus olhos acenderam quando Nojiko apoiou sua mão sobre a dela, e continuou:

— Ela sempre admirou você, sua ambição... E eu também! Eu te amo Nami e sempre vou estar aqui para você.

Nojiko olhou para Nami com os olhos brilhantes e repletos de carinho, era tamanho que seu amor transbordava de uma maneira que conseguia acalmar até mesmo a agitação das ondas. De repente, o peito da jornalista parecia pequeno demais para comportar as batidas descompassadas, e essa sensação lhe fez estremecer da cabeça aos pés. Um misto de surpresa e emoção tomaram conta do seu corpo, e então, um sentimento... implacável com todos aqueles de coração tenro, dilacerou o seu em pedaços e fragmentou até o ultimo resquício de força ainda existente... a saudade!

Essa traiçoeira indomável que tornava todas as suas decisões mais complicadas e desnorteava todos os seus sentidos. A ruiva sentiu suas estruturas se desmontarem e seu rosto ser inundado. Nojiko a abraçou, amparando-a em seus braços.

— Nojiko... – disse ela com a voz tremula – Eu não quero ir embora!

Nami chorou. Chorou como uma criança que acabara de ter seus sentimentos feridos. Foi como se tivesse chegado ao seu ápice, e não poderia mais se sustentar sozinha. Ela se agarrou ao colo da irmã e liberou sua dor, liberou toda tristeza vinda das mentiras carregadas por semanas, o cansaço de todas as noites não dormidas, a frustação de ferir as pessoas que mais amava, e de não conseguir ser sincera com elas.

Pela primeira vez em dias....

Nami desabou.

A irmã estreitava cada vez mais a distancia entre elas, e como se seu sofrimento fosse um vírus contagioso, Nojiko também não conseguiu evitar que algumas lagrimas escapassem. Ela acariciava as longas madeixas ruivas pensando se realmente não haveria outra solução, pois sentia com imenso pesar a partida de Nami. A jornalista aos poucos se acalmava, e Nojiko depositou em sua testa um demorado beijo:

— Vai ficar tudo bem! – Dizia ela.

Nami abriu seus olhos, ainda embaçados.

— Acha... que preciso contar ao Law?

Nojiko pensou um pouco antes de responder. Achava que, se fosse ela em seu lugar, talvez... ela não perdoaria Nami.

— Não precisamos preocupar mais pessoas se as coisas já estão resolvidas. – Disse enfim.


~•••~


 Seu escritório estava em completo silêncio. A luz fraca das luminárias penduradas nas laterais do cômodo eram a única coisa que o iluminava, e se sobrepunha com perfeição à ira do homem, estampada na carranca em sua face. Estava no fundo da sala, sentado numa poltrona luxuosa atrás de uma enorme mesa de madeira retangular. Ele mirava a lua pelo vidro da janela a sua direta pensando em como iria lidar com alguns contratempos que acabaram por atrapalhar seus planos.

Olhou pelo canto dos olhos uma pasta a sua frente, que continha informações sobre os responsáveis pela perda da mercadoria que havia lhe custado um bom dinheiro. A mão apoiada sobre o braço da poltrona apertou a madeira com tanta força que a fez rachar.

Nada o fazia se enfurecer mais do que seus planos não saírem de acordo com o tramitado.

Pensava que os ventos haviam mudado de direção de uma hora para outra muito rapidamente, e que, talvez, isso fosse feito de uma nova divisão do governo que acabara de chegar ao Leste. O homem franziu o cenho e começou a ligar os pontos. Entretanto, uma coisa não encaixava: o que poderia ter acontecido para que ele estivesse se metendo nos seus assuntos após o trato que fizeram? Será que uma vida normal já não o satisfazia mais?

Talvez seja hora de uma visita familiar — pensava enquanto bebericava um pouco de vinho.

Passos puderam ser ouvidos e ele se atentou ao seu companheiro que abriu a porta do escritório segundos depois.

— Com licença, senhor. Nós encontramos o comerciante.

O homem assentiu minimamente com a cabeça, deu uma última olhada nas fotos antes de fechar a pasta e coloca-la no gaveteiro, para então, erguer-se da poltrona com elegância, enquanto ajeitava o voluptuoso casaco sobre os ombros. Ele seguiu seu companheiro pelo extenso corredor que dava acesso a sala principal da base, um enorme salão em formato circular que esbanjava todo significado do seu império, o estilo da qual as casas eram construídas antigamente o agradava bastante, e fez questão de que todos os elementos desse lugar fossem excepcionalmente do jeito que imaginava quando decidira se mudar para o Leste.

Sua presença podia ser sentida até mesmo por um reles pescador que havia recebido um pouco mais de dinheiro para levar uma carga especial. Do balaústre da escadaria ele observou os quatro homens ajoelhados no centro do salão, estavam cercados pelos seus homens, e quando olharam para ele, o horror tomou conta de seus rostos. Mesmo que não mostrasse nenhuma reação, era fato que aquilo o instigava mais do que qualquer coisa.

O medo das pessoas.

Fazia seu sangue ferver e o corpo entrar em euforia. Enquanto descia lentamente, degrau por degrau, todos os murmurinhos cessaram imediatamente, até mesmo aqueles entre os membros da organização, mostrando o respeito que tinham perante seu chefe. A única coisa que se ouvia era o lamento dos homens desesperados por suas vidas.

Ele era um homem muito alto, e suas vestes, assim como sua aura assassina mostrava sua imponência esmagadora. Os comerciantes nunca tinham sentido o tamanho do seu poder mesmo trabalhando para ele durante anos... até agora. Agora ele estava parado diante deles, segurando um revolver na mão. O rosto inexpressivo e os olhos frios escondidos atrás de um brilho mortífero os fazia tremer, e a coragem até mesmo de olha-lo desaparecia.

Senhor... por favor! – Suplicou um deles.

Que foi correspondido com um violento chute no rosto.

O comerciante caiu no chão sentindo o gosto do próprio sangue na boca. Um homem se aproximou e entregou para o seu chefe quatro balas.

— Quatro homens, quatro chances.

Ele se agachou e pela primeira vez na noite, sorriu. Colocando naquele sorriso o sinal de sentença daqueles pobres homens, que vazaram informações preciosas dos seus negócios. E com muita calma, ele colocou no revolver apenas uma bala, girando o tambor¹ logo em seguida. Seus olhos resplandeceram novamente.

Então... quem quer começar?


~•••~


Nami acordou com o aroma de pão fresco invadindo seus sentidos, ela respirou bem fundo e sorriu pensando que iria adora uma fatia de pão com uma camada generosa de geleia. A ruiva abriu os olhos bem lentamente. O sol invadia seu quarto e a banhava com raios intensos deixando o quarto aquecido, o que provavelmente significava que já era um pouco tarde. Ainda deitada, ela se espreguiçou e fitou o teto por alguns instantes.

Robin havia ligado na noite anterior avisando que sua viagem havia sido antecipada, o que a deixara pouco ansiosa, estendendo sua noite, e ainda mais confusa com tudo o que estava acontecendo: por um lado, Nami sentia que esse era seu último dever, ela iria começar novamente em outro lugar, outro país, deixando sua vida para trás. Ela já havia feito antes, e poderia fazer outra vez.

Um lugar completamente desconhecido, mas rico, e do qual ela sempre sonhou em conhecer, experimentar sua realidade e vivenciar sua historia. Poder mergulhar em um mundo absolutamente diferente do seu que abriria seus horizontes, iniciando uma nova fase. A possibilidade de conhecer o mundo fazia o prazer lhe possuir

Nojiko tinha razão, Nami jamais se contentaria com pouco! Sempre que se via diante de fronteiras, sua consciência não a deixava em paz até que ela descobrisse o que estivesse escondido por trás dos muros, de baixo dos panos, mesmo que tivesse que enfrentar as pessoas mais perigosas do mundo. Principalmente após a morte de Bellemere.

E era exatamente que por causa da sua ambição que, agora, ela precisava ir embora.

Mas...

Por outro lado...

Ali, naquela cidade, onde encontrou pessoas que fez seu coração amolecer, e se apegar tanto a elas, pensar em abandoná-las agora parecia loucura. O que ela faria sem a cafeteria de Makino-san? Onde ela encontraria um café tão leve e cheio de sabor como aquele? Como ficaria sem a comida saborosa de Sanji que lhe enchia de energia com apenas uma colherada?

Nami agarrou o lençol que a cobria com força.

Ela amava tanto trabalhar com Robin no jornal.... Uma empresa que ela viu nascer e crescer, fazendo parte de cada conquista e ajudando a acabar com a escória daquela cidade. Mais do que ir atrás da verdade, Nami amava fazer aquilo com a amiga. Cada momento com seus amigos era precioso.

E claro... aquilo do qual ela sentiria mais falta e onde mais amava passar o seu tempo. Um pequeno apartamento do qual ela amou desde a primeira vez que pôs os pés, se encantando pela vista que ele te oferecia. Onde se dedicou com veemência para que se transformasse no seu lugar, trabalhando na pintura de parede por parede, fazendo o esboço no papel de onde cada móvel, cada janela deveria ficar, várias e varias vezes, mesmo que Law estivesse convencido de que eles poderiam muito bem ter pago alguém para fazer todo serviço.

Law.... seu peito ardia de saudades dele. Como será que ele estava? Será que estava muito zangado com ela?

A ruiva sorriu amenamente. Ela tinha construído algo que nunca imaginaria ter para si.

Precisava urgentemente ir até ele, mas tinha medo da sua reação. Ela tinha ainda mais medo de o encarar, para depois ter que deixa-lo. Transformado em mais uma fase da vida.

Isso era possível?

Nami sentia o corpo quente com o calor. Depois que tomasse um banho e tomar seu café, iria atrás do marido para lhe explicar tudo. Afinal, ela não poderia apenas ir embora sem lhe dizer nada. Isso seria completamente injusto.

Mas, quando a ruiva estava a caminho do banheiro, ela ouviu um barulho estranho do lado de fora. Caminhou até a porta do quarto que dava acesso a cozinha e chamou o nome da irmã, mas Nojiko não respondeu. Então espiou para fora pela janela, onde ela viu dois carros parados. Nami abriu seus olhos, seu corpo teve uma reação automática e ela pensou que perderia o movimento das pernas, mas o pavor a fez se recuperar e correr para fora.

Nokijo! — Gritou desesperada. Mas antes que pudesse chegar ao quintal, ela esbarrou em alguém ainda na porta da cozinha, e era ninguém mais ninguém menos que...

Zoro?

A jornalista estava espantada. Suas mãos suavam.

— Por que está me olhando assim? Até parece que viu um fantasma. – Disse o esverdeado com seu típico tom grosseiro.

Nami ainda estava petrificada, se recuperando de um susto, pois, por um momento, ela teve uma súbita ideia tosca de que...

— Nami!! – Ela ouviu seu nome ser chamado por uma voz conhecida, e quando Zoro saiu da sua frente, a ruiva teve a visão completa da plantação, e mal pode acreditar no que via.

Seu coração que batia acelerado se desordenou ainda mais, e ela não pode evitar de sorrir largo, satisfeita. Seu corpo que havia sido tomado por um sentimento hediondo, substituía essa sensação pelo sentimento de...

.... Alegria?

Eles estavam ali! Seus amigos estavam ali: Zoro, Vivi, Usopp, Sanji, Carrot, e... Ele!

Estava ao lado de Nojiko, e a olhava seriamente para logo em seguida sorrir de canto, um sorriso que passava suas intenções escancaradamente, mesmo tão distante. Uma brisa veio na direção de Nami, e esse ela respirasse fundo, tinha certeza que podia sentir o perfume dele.

E como ela sentia falta dele...

Law!

— Nami! Eu senti tanta sua falta. – Disse Vivi lhe dando um abraço na amiga.

— Como vocês chegaram aqui?

Law nos trouxe! –Respondeu a azulada.

Nami dirigiu seu olhar para o marido por cima do ombro de Vivi. Ele estava agachado sobre uma cesta de laranjas e se virou quando ouviu o nome de Nami ser chamado. Usava um boné e roupas completamente pretas, como a maioria das roupas que tinha no guarda-roupas. A camisa de manga longas estava dobrada na altura do cotovelo deixando as tatuagens a mostra. Eles se encararam por breves segundos até o cirurgião voltar ao que estava fazendo.

A ruiva sempre achava incrível a capacidade que Law tinha de te impressionar. Ele conversava algo com a sua irmã, e por um momento, Nami sentiu o tempo parar quando o viu rir. Ela quis ir até ele, quis correr, pular nos seus braços e dizer para que não a soltasse nunca mais, e que vem sofrendo por dentro desde o primeiro momento que colocou os pés para fora do apartamento. Mas ela não fez isso!Alguma coisa a impediu de se mexer, e a ruiva pôde apenas fita-lo. Seria algum receio de brigarem novamente? Ou talvez porque, de alguma forma, ela tinha ciência de que Law já sabia que ela ia embora, e não havia sido ela quem lhe contou?

....

— Luffy me pediu para dar desculpas por não poder vir, mas ele não conseguiria chegar a tempo de qualquer maneira. – Dizia Zoro.

— Foi bom não ter vindo – Disse Nojiko com um sorriso sarcástico – Não estou a fim de ter a polícia revirando a minha casa por causa dele.

Eles fizeram um banquete delicioso para o almoço que se estendeu até o anoitecer. Sanji se encarregou da comida, e fez isso com extrema diligência, como sempre. Fazia muito tempo que ela não via o amigo cozinhar, e lembranças de outros tempos invadiram sua mente, onde eles se reuniam com mais frequência durante a semana para conversar sobre qualquer coisa, até mesmo as mais fúteis e sem nexo, pois o que mais importava era estarem juntos, unidos com a família que formaram.

Ela pensou que se lembraria disso para sempre!

Nami passou os olhos por todos os seus amigos, observava quieta enquanto Zoro contava, já sobre o efeito do álcool, as últimas peripécias de Luffy contra o governo, discutindo com Sanji de minuto em minuto. Usopp fazendo alguma graça para fazer Vivi rir. E Law, que ouvia as histórias absurdas enquanto segurava uma garrafa de cerveja na mão.

Ele parecia bem. Conversava normalmente, ajudava a repor algum prato quando seus amigos esfomeados acabavam com a comida, ou retirava a louça da mesa, já que seu TOC por organização às vezes falava mais alto. Ele nem mesmo parecia aborrecido com o barulho da conversa elevada, pois que Nami sabia que Law detestava barulho. Muito pelo o contrario, o cirurgião parecia estar aproveitando aquele momento, mesmo que não tivesse dirigido a palavra a ela nem sequer uma vez.

Nami se indagava do porque ele estar reagindo assim. Por que parecia fingir que ela não o havia enganado? Por que fingia que não estava irritado?

Por que Law estava ali?

Seria esse seu castigo por mentir? Por ocultar a verdade da pessoa em quem ela mais confiava e acreditava?

A indiferença do médico começava a incomodar. As perguntas vieram uma atrás da outra, e aos poucos, Nami passou a ficar nervosa, e se perguntava não apenas se ele sabia de algo, mas o quanto sabia.

De cabeça baixa, ela o espiou pelo canto dos olhos, onde o flagrou olhando para ela. Nami desviou o olhar rapidamente para outra direção, suas bochechas coraram imediatamente e o homem soltou uma risada abafada com a reação dela.

Já estava ficando tarde, e seus amigos decidiram que já era hora de ir quando Zoro começou a cochilar no meio das frases, e provavelmente precisaria de ajuda para voltar para casa sem se perder. Nami os acompanhou até a entrada da casa vendo a guerra que foi colocar Zoro no carro, a discussão com o cozinheiro, Vivi atingindo fortemente a cabeça de ambos, e, por fim, o automóvel finalmente partindo.

Eles mal haviam ido embora e Nami já desejava que voltassem. Ela esperou até que o carro saísse do seu campo de visão para voltar sua atenção para a porta de entrada. Law se despedia de Nojiko com um abraço, e antes de sua irmã entrar para começar a organizar a bagunça, ela lançou uma piscadela para Nami.

Sim, ela precisava falar com ele, mais ainda não sabia como ou por onde começar.

Law sentou-se na escada da porta para calçar seus sapatos e Nami se aproximou. No céu da noite não tinha nem uma nuvem sequer, e a lua cheia estava radiante, sua luminosidade invadia cada cantinho da fazenda. O brilho prata que se parecia tanto com os olhos dele, aquela cor invernal que foi ainda mais acentuada quando o cirurgião se voltou para ela. Nami repetia as palavras na cabeça a cada passo que dava – ela sabia exatamente o que precisava dizer.

Precisava dizer que sentia muito, mais uma vez, mas talvez a última. Que entendia a raiva dele, e que ela merecia isso, mas que ao menos desse a ela a chance de se explicar.

Nami apertou os passos, estava convicta sobre o que precisava fazer, e mesmo que ele não a perdoasse, e a repreendesse da forma mais cruel, Nami acataria sua condenação. Tudo o que ela precisava era de uma oportunidade de dizer a verdade e se livrar daquela culpa.

A ruiva parou a poucos metros de Law. Eles se encararam por alguns segundos sem dizer nada, os rostos inexpressivos, os olhos intensos, um silêncio estrondoso...

... e ela travou!

O médico ainda estava sentado na escada e olhava de baixo para ela. Seu olhar acirrado a fez petrificar de tal maneira que ela sentiu o corpo se ouriçar da cabeça aos pés. Nami não conseguia nem mesmo abrir a boca.

Law arqueou uma sobrancelha, confuso. E se ergueu para finalmente ficar de frente para ela, pela primeira vez naquele dia. Nami deu um passo para trás por instinto, mas não tirou os olhos do cirurgião, que a mirava com admiração mesmo que ela não percebesse.

Nami estava irresistivelmente linda naquela noite. Se lhe fosse permitido, ele poderia facilmente ficar horas admirando cada traço angelical que a ruiva tinha, como fez algumas vezes, em alguma noite de insônia, enquanto a observava dormir.

 Ela usava uma blusa preta no estilo cigana que deixava seus ombros e colo a mostra, um short jeans e sandálias. Os cabelos estavam soltos, sobrepostos majestosamente nos ombros da jornalista. Cada onda traçava uma rota de maneira graciosa sobre os braços dela, e exalavam aquele leve perfume cítrico que sempre o enlouquecera. A pele alva resplandecia banhada pela luz da lua, Law jurava que irradiava luz própria, e encandecia os olhos infantis. Grandes orbes castanhos que luziam sua meiguice, flamejavam de maneira delicada e profunda ao mesmo tempo por debaixo dos cílios avantajados.

Pequenos pedacinhos de sol no meio da escuridão da noite.

Ele não pôde resistir e levou sua mão até os cabelos ruivos, escorregando-os para trás da orelha com cuidado, sentindo a maciez do rosto corado.

 Nami abriu os olhos com a caricia repentina. Law mantinha no rosto uma expressão plácida. Os olhos semicerrados vinham acompanhados de um gentil e fino sorriso; Nami não se lembrava de vê-lo tão complacente alguma vez. Sutilmente, ele passou a deslizar o toque no rosto dela até seu queixo, mirando-a com devoção, analisando cada curva de sua face, e lentamente...

.... Começou a se afastar dela!

Ele passou ao lado da ruiva indo em direção ao carro. Nami soltou um suspiro de indignação.

Para ela, aquilo havia sido a gota d’agua.

— Pare! — Gritou, virando-se na direção do cirurgião de forma brusca. Este, por sua vez, continuou de costas para ela, parado a alguns metros de distância. – Por favor, eu não aguento mais!

O cirurgião a olhou por cima dos ombros e ele se espantou com o que viu. O semblante da ruiva mudara para enlevar a sua cólera:

— Me xingue, me condene, grite comigo, mas fale alguma coisa! Você veio até aqui apenas para me fazer sofrer com o seu desprezo? – Cada palavra dita com força era o significado de toda sua ira resguardada. Ela já havia se livrado da tristeza, agora precisava se livrar da raiva que aquela situação a fez passar, obrigando-a a tomar decisões que não queria. – Eu sei que eu fui injusta com você, eu sei que tudo o que eu tenho feito é errar com você. Eu queria ter contado desse o início, mas...

Nami havia abaixado sua cabeça onde seus olhos foram escondidos por uma sombra, mas as lágrimas que insistiram em cair cintilavam como pequenas pérolas. Ela levou as mãos a boca, e seu corpo se curvava para baixo aos poucos, pois Nami fora assolada pela culpa sem misericórdia. Ferida pelas próprias esperanças de que, e alguma forma, pudesse permanecer no Leste. Na sua cidade, no seu emprego... poder ficar ao lado dele!

... eu... eu não consegui. Me perdoe! — Terminou, num sussurro sofrido.

Seu peito doía e respirar ficava cada vez mais difícil. Nami continuava de cabeça baixa, sem ter coragem de olhar para o cirurgião, tanto que ela não viu Law se aproximar e agilmente a pegou no colo. Nami não reagiu, e com cuidado, o cirurgião a depositou na escada da casa. Ele se sentou na sua frente, no degrau de baixo, e enxugou suas lagrimas. Os olhos castanhos estavam vermelhos e o rosto cabisbaixo. Law sentiu o peito apertar

— Me desculpe, Nami! Eu não quero te provocar, mas achei melhor não interferir nas suas decisões. – Law estava entre as pernas da ruiva e apoiou a cabeça numa delas. Ele ainda parecia muito calmo, mesmo revelando que sabia da partida de Nami do Leste.

Nami sorriu timidamente, evitando os orbes cinzas.

— Você não se importa não, é?

— Isso não é verdade!

— Então por que está me evitando o dia inteiro? Você... não está com raiva?

— Não mais.

— Então...?

Law abaixou o olhar. A noite dava um tom azulado aos cabelos negros, sempre desgrenhados e incrivelmente sedutores. Nami reparou que as olheiras no rosto dele diminuíram, e seu aspecto estava melhor desde a última vez que se viram.

— Estou tentando entender como eu deveria reagir. Não quero brigar com você, Nami, e eu não sei se senti raiva por você estar indo para outro país... – Law deu uma pausa, relutante, mas, agora, não fazia mais sentido esconder o que sentia. – ... ou porque eu iria ficar sozinho!

Nami ouvia atenta, sem falar uma palavra que não sairia nem se ela quisesse. Law continuou:

— Não leve isso a mal, não estou te pressionando. Eu não tenho te dado muitos motivos para confiar em mim.... O que eu poderia exigir de você? – Nami se surpreendeu com aquela resposta. De todas as reações que ela esperava de Law, essa com certeza não era uma delas. Law não parecia saber de toda verdade sobre sua viagem, e era melhor assim. – Eu também errei com você, então me desculpe por isso.

Eles ficaram em silêncio. Nami não conseguiu evitar e acabou por envolver os cabelos do marido entre os dedos, trilhando o caminho até sua nuca devagar. O aroma excitante de cipreste invadiu seus sentidos.

Law e Nami sentia fluir pouco a pouco a conversa que deveriam ter tido há muito tempo, e mesmo que com poucas palavras, eles sabiam que ali terminariam sua jornada com o casal que amavam tanto ser. Pois o sentimento que supriam um pelo outro era inegável.

O cirurgião se achegou ainda mais no colo de Nami, sentindo o corpo reagir os toques dela. Mesmo sabendo o final que tudo isso teria, Law se sentia muito mais receoso do que demonstrava, ele queria expor todos o conflito que existia em si, mas isso não seria justo com ela. O cirurgião teve tempo o suficiente para refletir e para analisar, e por mais que estivessem frente a frente agora, ele ainda sentia que Nami não estava sendo por cento sincera com ele.

Se Nami estava partindo para realizar um sonho, por que essa decisão parecia tão penosa a ela?

— Por que você não me contou antes? – Indagou a ela.

Porque eu ainda não tinha me decidido! – Nami ergueu a cabeça e fitou o céu. A noite estava linda hoje. – Iria atrás de você hoje e te explicar tudo, mas você me achou antes. – Eles riram juntos. – Como me encontrou? Por que trouxe todo mundo aqui?

Law saiu daquela posição para se sentar ao lado da ruiva, que abraçou os próprios joelhos, olhando para ele.

— Nami-ya, eu conheço você! Se não quisesse ser encontrada, deveria ter ido para um lugar menos óbvio. – “Tem razão”, pensou Nami. – Pensei... que ver seus amigos antes de partir lhe faria bem, e eu também precisava saber como você estava. Apesar de tudo, você ainda é minha esposa.

Alguns segundos se passaram até Nami quebrar o silêncio com algo que estava lhe matando por dentro:

Law... o que nós vamos fazer?

O cirurgião suspirou, sem lhe responder por um tempo assustador.

— Bom... eu tenho o hospital, e daqui a dois dias euvou te levar ao aeroporto. E você... – O cirurgião a encarou com um sorriso orgulhoso – Você vai se dar muito bem lá fora. Eu acredito em você.

Seus olhos se prenderam um no outro com candura e amor, uma mistura graciosa entre verão e inverno. A bondade e complacência do cirurgião fazia o coração de Nami se aperta num sentimento que ela não sabia muito bem explicar.

Obrigada... por tudo!— Nami segurou a mão do cirurgião que a levou até os lábios, depositando ali um beijo demorado – Mas não me ignore assim nunca mais.

— Se você prometer parar de me esconder as coisas, tudo bem. – Law estendeu a mão para Nami – Temos um trato?


~•••~


Quando o dia da viagem chegou, Law fez o que prometera a Nami, levando-a até o aeroporto. A despedida deles não demorou muito, pois Law ainda teria que ir para o hospital naquele mesmo dia.

Ao voltar para a cidade, ele recebeu uma ligação de Rosinante o convidando para passar alguns dias em sua casa, o que não lhe parecia má ideia. Voltar para o apartamento sem Nami seria, no mínimo, angustiante. Assim, apenas com algumas mudas de roupas, eles foram no carro de Law quando a noite caiu, conversando no meio do caminho.

— Olha – começava Rosinante, sentado no banco do passageiro, enquanto buscava pelo maço de cigarros na mochila. – Se eu acordar a noite com você chorando, vou te dar uma surra.

— Cale a boca, imbecil.

— Você tem um isqueiro? Não sei onde diabos coloquei o meu.

— Cora...

Eles já estavam próximos a casa do marinheiro quando Law parou o carro lentamente no meio da estrada. Rosinante olhou para frente quando o irmão chamou por ele.

Três carros fechavam a passagem.

Os faróis altos impediam que Law reconhecesse alguém, até que a porta de um deles abriu e um homem saiu do carro do meio, caminhando até parar a uma distancia suficiente para que seu rosto pudesse ser reconhecido. Lançando um sorriso mortífero de orelha a orelha.

Um sorriso que Law jamais esqueceria.

Ele sentiu seu corpo congelar e seu coração entrar em disparada, pois quem estava a sua frente era o maior traficante de todo Leste, juntamente com seus capangas, que num mínimo sinal do homem, apontaram suas armas para a dupla.

O rei do narcotráfico e imperador do submundo.

Seu irmão...

... Donquixote Doflamingo.

 


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Notas finais do capítulo

1- tambor: suporte onde se encaixa o projetil de uma arma.

É claro que eu não poderia deixar um dos maiores vilões de OP de fora.
Por que veio atras de Law e Corazon? O que Nami está escondendo? Acho que já ficou claro, não é?

Comentem, a fim também depende da opinião e sugestões de vocês.
Até o próximo capitulo!! ;)



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