Drania escrita por Capitain


Capítulo 44
Blefe


Notas iniciais do capítulo

Sim. Tem outro.



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A música parou. A plateia deixou escapar exclamações de espanto e Rasth deu um passo para trás em surpresa e choque. Eu não desfiz minha máscara. Ao invés disso, cruzei meus braços e levantei meu queixo em uma postura superior. Quando Rasth e eu nos encontramos pela primeira vez, ele havia dito que sabia quem eu era. Na hora, eu achei que ele apenas estivesse atrás de mim como o culto estava. Mas não era isso. Ele me confundira com a fantasma que estava acompanhando Aurora quando Ogün morreu. Então talvez eu pudesse usar isso ao meu favor.

— A Apóstola... - Rasth murmurou - tinha uma filha?

Bom, ele não desconfiou do nosso blefe. A julgar pela sua expressão, ele não ligou os pontos entre aquele fantasma e a Apóstola. - Eu disse para Aurora. - Agora só preciso de uma história convincente para justificar minha aparição aqui.

Você não pensou em uma?— Aurora me perguntou, chocada.

Eu estava com pressa!

Baixei meus olhos até Goroth. Ele estava completamente imóvel, apagado. Não dava nem para ver se ele estava respirando. Ótimo, posso usar isso. pense, Drania. Pense numa história convincente.

Tentei lembrar do que sabia sobre a fantasma nas lembranças de Goroth. Ela havia matado Ogün pela promessa de um corpo físico. Isso sequer era possível? Não era hora de especular. Ela havia dito “minha mãe”, e claramente estava se referindo à Apóstola. Mas eu já havia explorado essa conexão. Ela não parecia se importar com o culto ou seus planos, mas Rasth não tinha como saber disso sendo que ele não havia nem sequer feito a conexão entre ela e a antiga líder do culto de Kraaz.

Qual seria a relação dessa outra Drania e o Arauto? Será que... o Arauto mandou procurar aquela Drania, e não eu? Será que tudo aquilo era uma grande coincidência? Mas então, onde Alice entrava? Eu amaldiçoei os espaços vazios na minha memória, e a urgência em descobrir as peças que faltavam voltou, gritando para mim que minha vida dependia disso.

Não agora, mandei minha cabeça se acalmar.

Rasth, ainda em choque, tentava entender o que estava acontecendo, e eu podia ver a dúvida começar a infiltra-se em sua expressão. Eu precisava de uma desculpa, e precisava dela agora. Como Rasth não sabia quase nada sobre a outra Drania, eu decidi arriscar.

— Não foi nada pessoal, sabe? - eu disse - Ogün parecia ser um sujeito interessante. Infelizmente, A Apóstola não concordava com ele.

— Você está tentando me dizer... - Rasth vociferou - que a Apóstola mandou matar meu pai...

— Ah, você não sabia? - eu fingi examinar minhas unhas - achei que fosse óbvio.

Drania, o que você está fazendo?— Aurora estava tão chocada quanto Rasth.

Eu tenho uma ideia— respondi. - Esteja pronta para participar, e prepare alguma coisa que pareça fatal.

Você não está sinceramente sugerindo...

Isso é exatamente o que eu estou sugerindo.

Você é um demônio— eu podia sentir o sorriso no rosto de Aurora, mesmo nessa situação tensa.

Fantasma — eu respondi - “assassinos, tiranos ou loucos”, não é?

Rasth ainda me encarava com o rosto confuso, eu pensei em mais uma baboseira para falar. Eu tinha que deixar Rasth com raiva, ou não ia funcionar.

— Ela me mandou matar Goroth também, já que ele partilhava das opiniões do pai - eu falei - mas já que você o baniu e culpou a bruxa, foi mais útil deixa-los vivos... até recentemente.

— Mas... - Rasth olhou para o irmão caído no chão - então você...

— A bruxa sempre foi mais fácil de enganar - eu disse, com uma voz desinteressada - mas infelizmente, o seu irmão sempre foi mais desconfiado. Uma pena, realmente. Ele e a bruxa descobriram seu plano secreto, então, eu tive que intervir. Se ele não morreu ainda, ele irá em breve.

A expressão de Rasth mudou de “surpresa e dúvida” para “fúria assassina”.

Aurora, agora seria uma boa hora para...

— Saiam da frente! - eu ouvi a voz de Aurora abrindo caminho pela multidão - Drania! Eu finalmente achei...

— Ela parou, encarando Goroth com uma expressão chocada. - Você... o matou?

Meio exagerado, mas vai servir.

— Ora, se não é a bruxa, em pessoa! - eu me virei para Aurora, atuando de forma tão natural que até Zhar ficaria orgulhoso - que encontro oportuno! Assim os dois poderão morrer juntos!

Rasth ainda me encarava com ódio. A plateia ainda estava extremamente confusa. Ótimo. Os rumores espalhados mais tarde seriam contraditórios e ajudariam a espalhar a confusão pela cidade. Então Aurora me pegou de surpresa. Caindo no chão de joelhos, ela começou a chorar sangue, seguido de um lamento desesperado.

— Maldita seja! - Ela gritou. Faixas de luz apareceram ao meu redor e se enrolaram em mim, porém não restringiram meus movimentos. O feitiço que era capaz de me paralisar era invisível, então aquelas faixas faziam mais sentido para a encenação.

Eu ri, inflamando meus braços e fingindo queimar as amarras, e Aurora seguiu minha deixa e as fez desaparecer.

Sua vez— Aurora disse, por telepatia. - Seja arrogante, e depois pareça surpresa.

— Você não quer comprar essa briga, bruxinha— eu falei, na minha voz mais arrogante. - eu sou... - eu interrompi minha frase na metade, quando Aurora começou a brilhar com uma aura branca, e uma runa brilhante apareceu no ar entre eu e ela. Eu não consegui ler, mas ela parecia uma das runas que aurora tentara me ensinar na caverna.

— wha-ri. - Ela sussurrou. - Seja banida. Que o submundo consuma sua alma.

Uma rachadura abriu-se no chão, e eu percebi que era minha deixa.

— Não! - eu gritei - não é possível!

Cordas de luz vermelha surgiram do buraco e agarraram-se a mim, e dessa vez aurora usou um feitiço para prender meus braços e pernas. Eu me debati e gritei, até que ela me empurrou para baixo da terra e fechou a fenda sobre mim.

Uma peça e tanto, pensei. Alice pediria bis.

A batalha ainda não estava ganha, entretanto. Como Rasth iria reagir?

Não se preocupe com Rasth— Aurora disse - só restaure a energia de Goroth quando eu mandar.

Aurora fez uma cena, se arrastando até onde Goroth estava desmaiado, e proferiu algumas palavras sem sentido.

Por favor! - eu a ouvi falar, mesmo debaixo da terra - por favor!

Aurora era uma excelente atriz.

Agora.

Eu comecei a devolver a energia vital de Goroth, e procurei fazer contato com a mente dele. Aurora me mandou ficar quieta, que ela explicaria a situação para ele. Justo. Eu aproveitei para transferir um pouco para Aurora também, o que me deixou com quase nada sobrando. Eu precisaria absorver mais logo, ou começaria a desaparecer.

Agora que a situação parecia um pouco melhor, o cansaço começou a retornar. Faziam quantos dias que eu não dormia? só um. Mas pareciam uma eternidade. Quantos dias eu tinha para encontrar o Arauto, e salvar Alice? Cinco. Não, quatro dias. Quatro dias até a lua nova.

Sucesso— Aurora me contou - Rasth ainda está confuso, mas não vamos morrer por enquanto.

O que Rasth disse? - eu perguntei - ele vai te prender de novo?

Goroth está falando com ele. - Ela respondeu - Eu acho que dessa vez vou conseguir uma... acomodação melhor do que a última.

Bom... isso é bom — eu falei - só uma coisa me preocupa agora.

O que?— Aurora parecia surpresa.

Se a outra Drania aparecer, nós estamos ferrados.

Aurora ficou séria de repente.

— Você não precisa se preocupar com isso — ela falou com confiança.

Como você tem tanta certeza?

Eu não tive tempo de te dizer antes - a bruxa disse - mas “a outra Drania” já apareceu. Em ágora. À dois dias.

Espera. Você não quer dizer...

A “outra Drania” e "O Arauto" são a mesma pessoa.

 

 


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Notas finais do capítulo

Vejo vocês no próximo!



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