Arquivos da Frota Estelar 9 - Beverly Crusher escrita por Valdir Júnior


Capítulo 4
Punição




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788771/chapter/4

A alferes Beverly Howard estava sentada na cama no alojamento que dividia com a amiga Thylia na Base Estelar Earhart, em Valakis. Como todos os recém formados na Academia da Frota Estelar, ela aguardava seu comissionamento para saber em qual posto ou nave iria servir. Enquanto tomava uma xícara de Raktajino (1), consultava em seu “pad” suas possíveis opções. Esperava ter a sorte de ser designada para a equipe médica da  Hood ou da Stargazer.

Estava tão concentrada que se assustou quando seu telelink começou a tocar.

— Olá – disse ela sorrindo ao atender e ver o rosto do seu namorado Jack. Mas não demorou dois segundos para notar a preocupação no olhar dele - aconteceu alguma coisa?

— Estou a caminho do Hospital de emergência da base. – respondeu  o rapaz.

— Hospital... como assim? – perguntou ele.

— Um amigo nosso, Jean-Luc...— respondeu ele, hesitante - ... e mais dois colegas,  “Corey” Zweller e Marta Batanides, se envolveram em uma briga com alguns nausicaanos no cassino próximo à base e ele foi esfaqueado no coração (2).

— Tente se acalmar Jack. – disse Beverly, procurando demonstrar calma  - Vou trocar de roupa e me encontrar com você aí.

— Já estamos chegando. – continuou Jack Crusher - Ele deve estar sendo levado para a cirurgia neste momento.

*    *    *

 A cirurgia demorou quase três horas. Mas quando o médico saiu do bloco cirúrgico parecia tranqüilo, apesar de demonstrar algum cansaço. Encontrou Jack Crusher e Beverly aguardando ansiosos na sala de espera.

— Está tudo bem, ele está fora de perigo. – disse ele, sorrindo – Porém, apesar de ter sido atendido a tempo, os danos ao músculo cardíaco foram irreparáveis e o coração precisou ser trocado por um órgão artificial. Mas o alferes Picard já está no quarto se recuperando.

— Graças aos céus – disse Jack – eu não iria conseguir me virar sem este sujeito pegando no meu pé.

Os namorados se abraçaram, sorrindo.

De repente Beverly pareceu se lembra de alguma coisa.

— Jack, eu me esqueci de avisar a Thylia onde nós estamos  e ela pode estar preocupada.

— Acho que não, Bev. – disse ele - Ela também estava no cassino durante a briga. Mas logo que os nausicaanos fugiram, ela e alguns cadetes saíram também, apressados. Pensei em segui-los, mas os seguranças da Frota chegaram para nos interrogar sobre o ocorrido e não deixaram ninguém mais sair.

Beverly pegou o telelink e ligou para o número da amiga andoriana. Ele tocou várias vezes, até cair na caixa de mensagens.

“Onde está você, Thylia?” pensou Beverly, olhando frustrada para o aparelho.

*    *    *

O nausicaano olhava preocupado através do vidro sujo da janela. Estava escondido ali a mais de duas horas. Seus amigos haviam ido tentar conseguir um transporte para fora de Valakis em uma das naves de carga que constantemente passam pelo planeta. Sabia que os seguranças da Frota estariam à procura deles depois que ele matou aquele tolo humano no cassino.

De repente ouviu um ruído às suas costas e quando se virou, viu uma andoriana alta, vestindo o uniforme de cadete da Frota Estelar sair das sombras e parar à frente dele

— Frota Estelar! – disse, com os olhos brilhando de fúria – Então vou ter que sujar novamente minha faca e matar mais um de vocês.

Thylia deu um sorriso irônico e se aproximou mais um passo dele.

— Considere-se com sorte hoje,  covarde ­– disse ela, empunhando o ushaan-tar (3) que havia trazia preso ao cinto – Porque acabei de saber que o humano que você atacou pelas costas não morreu. E só por isso você sairá vivo daqui. Mas pode ter certeza que este nosso encontro será bem marcante para você...

   *    *    *

Berverly, sentada na sua cama com as pernas cruzadas sob o corpo, escutava espantada a notícia que Jack estava lhe trazendo.

— ... dois deles foram cercados no espaçoporto e quando tentaram reagir foram nocauteados pelo phaseres dos seguranças. O terceiro foi achado em um armazém próximo.

— E ele também deu trabalho? – perguntou a moça.

— Duvido muito. — respondeu ele – O cara estava inconsciente, mais morto do que vivo. Ele tinha alguns cortes e arranhões e vários de seus ossos foram quebrados. Também tinha músculos e juntas torcidos por todo o corpo. E o mais estranho é que os paramédicos que o atenderam garantem que os ferimentos mais graves foram feitos por alguém usando unicamente as mãos. Ainda vai demorar para que ele possa dizer o que aconteceu.

Neste momento Thylia entrou no alojamento. Suas roupas estavam sujas e rasgadas e ela tinha alguns hematomas azulados no queixo e na testa.  Quando notou que Bervely estava olhado com um ar intrigado para ela, encaminhou-se silenciosamente para o banheiro.

— Jack – disse a moça ao namorado – Thylia acabou de chegar e preciso conversar com ela. Nos falamos depois.

— Ok então. — respondeu o rapaz – Um beijo.

Beverly se recostou, ouvindo o ruído do chuveiro sônico no banheiro. Quando a andoriana saiu de lá, vestindo um roupão,  aguardou pacientemente que lhe dissesse alguma coisa, mas ela simplesmente pegou um copo de suco e um sanduíche na geladeira e sentou-se calada à mesa para comer.

Finalmente, diante desta atitude da amiga, Beverly resolveu quebrar o silêncio.

— O que aconteceu com você e com as suas roupas?

— Tive um pequeno encontro com um arruaceiro que acabou mal. – respondeu a andoriana, sem levantar os olhos do seu prato -  Principalmente para ele.

Beverly levantou as sobrancelhas e a encarou por alguns momentos. Resolveu não insistir no assunto.

—Jack acabou de me contar que os nausicaanos que feriram Jean-Luc foram capturados.

— Que notícia boa – respondeu Thylia, lacônica.

— Mas um deles não está em bom estado não – continuou a garota – parece que alguém o pegou pra valer.

A andoriana acabou de tomar o suco, colocou o copo sobre o prato já vazio e olhou Bervely de frente.

— Não posso dizer que sinto pena dele. – disse Thylia com dureza – Muito pelo contrário.

— E é somente isso que você tem a dizer sobre este assunto? – perguntou a jovem médica.

— E o que mais haveria para se dizer? – retrucou a alferes andoriana.

Beverly olhou espantada para a amiga. Porém logo depois suspirou e sorriu. “Você não vai mesmo me contar, não é?”, pensou.

— Tudo bem então. – respondeu ela – Agora venha aqui e me deixe dar uma olhada nesses hematomas.

Thylia sorriu também e sentou-se na sua cama, enquanto Beverly ia buscar seu estojo médico.

 

Referências do Capítulo:

(1) Raktajino (pronunciado rack-tə-jeen-oh) é um tipo de café Klingon forte, preparado cozido no vapor e servido quente ou gelado.

(2) Série Star “Trek – The New Generation” (“Jornada nas Estrelas – A Nova Geração”), 6ª temporada, episódio 15 (“Trama”).

(3) O ushaan-tar é uma lâmina com a forma aproximada de uma meia-lua que os mineradores de gelo andorianos usam como ferramenta e ocasionalmente como arma. Eles brincam com elas desde crianças.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Arquivos da Frota Estelar 9 - Beverly Crusher" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.