— Capitã – disse o comandante Tharaan – estas são as Dras. Beverly Crusher e Selar, da nave da Federação Enterprise.  Elas vieram nos auxiliar com os feridos e...

— Entendido comandante – interrompeu disse secamente a capitã Thylia, sem tirar os olhos da Dra. Crusher – pode voltar a seu posto e me mantenha informada se houver qualquer movimentação hostil dos Breens.

Tharaan empertigou-se sério e saiu silenciosamente.

Logo que a porta automática fechou-se às costas do comandante, Thylia suspirou e relaxou sua postura rígida. Mesmo mostrando agora certa tristeza no olhar, conseguiu esboçar um sorriso.

— Quando soube que era a Enterprise que estava vindo em nosso socorro – disse a andoriana olhando Beverly nos olhos  – orei aos deuses pedindo que você estivesse a bordo. Estou feliz que eles me atenderam.

Ela estendeu seu antebraço para a Dra. Crusher, com a mão voltada para cima e esta, dando um passo, colocou o seu antebraço sobre o dela, apertando com carinho e repetindo o comprimento que eles usavam quando ainda eram jovens.

— Thylia... – disse Beverly, emocionada – já faz quase dez anos que não recebo notícias suas. A última vez que nos falamos, você havia acabado de se promovida a comandante de esquadra. 

— Desculpe por isso, Bev. – respondeu a andoriana – Desde que saí da Frota Estelar e aceitei o convite da Guarda Imperial, precisei me readaptar a viver em Andoria. Quando conheci Thoval e nos casamos, nossas carreiras nos colocaram por muito tempo em missões longas no espaço. – Ela apertou levemente o braço da Dra. Crusher – Sinto muito não ter podido estar com você quando Jack morreu...

A Dra. Crusher sorriu e assentiu  compreensiva.

— Me lembro também que você me mostrou uma holofoto do filho de vocês, Kethaar – disse Beverly – ele já deve ser quase um adulto agora. Gostaria de conhecê-lo pessoalmente.

O olhar da andoriana ficou ainda um pouco mais triste  e ela o dirigiu para o jovem deitado na cama e que estava sendo monitorado pela Dra. Selar.

A Dra. Crusher compreendeu imediatamente.

— Thylia, eu... – murmurou ela.

— Ele e o tenente Berath encontravam-se na engenharia quando os Breens atacaram. Estavam próximos a um dos conduites de plasma que explodiu. – disse Thylia, apontando o outro leito, onde estava o  andoriano com quem conversava quando as médicas entraram – Nós conseguimos resgatá-los, mas Kethaar foi o mais atingido.

A Dra. Crusher aproximou-se do leito onde estava o tenente Berath e o sondou atenciosamente com o tricorder.

— Ele sofreu algumas queimaduras de segundo e terceiros graus. Nós teremos de colocá-lo em uma unidade de regeneração dérmica  – informou a médica, preocupada, olhando novamente para Thylia  – precisamos transferir os três feridos com urgência para a enfermaria da Enterprise.

— Por favor, providencie isso – disse Thylia com firmeza.

A Dra. Crusher olhou então para a médica vulcana.

— Selar, me ajude a prepará-los para transporte – ordenou. Em seguida acionou seu broche comunicador para falar com a sua enfermeira-chefe.

— Alyssa, volte imediatamente para a Enterprise e prepare dois leitos de suporte de vida adaptados para a fisiologia andoriana. Eu e a Dra. Selar iremos em seguida.

— Certo doutora – respondeu Alyssa Ogawa.

A médica tocou novamente o comunicador, desta vez abrindo um canal com a ponte da nave.

— Picard falando – respondeu o oficial-comandate da Enterprise.

— Capitão, - disse a Dra. Crusher  – acabamos os procedimentos aqui e estamos retornando à nave com alguns feridos.

 - Entendido. – respondeu Picard. – Estamos monitorando para nos certificarmos que os Breens foram embora realmente. Mas  gostaria de conversar com a capitã Thylia no meu gabinete para saber detalhes específicos sobre o ataque.

A médica olhou para a andoriana, que assentiu.

— A caminho. - disse ela.

*   *  *

A equipe médica da Enterprise passou a hora seguinte acomodando, examinando e monitorando os pacientes, sob o olhar atento e preocupado da capitã Thylia. A Dra. Selar cuidou da jovem andoriana, e ela estava praticamente recuperada depois que ele tratou o seu quadril fraturado com um regenerador ósseo. 

O tenente Berath foi instalado em uma unidade hermética de regeneração celular para recuperar-se de suas queimaduras, sob os cuidados e a supervisão da enfermeira Ogawa.

A Dra. Crusher acabara de checar os monitores do leito de suporte de vida onde Kethaar havia sido colocado.

— Ele está estabilizado, mas o trauma grave no abdômen e a perda de uma das mãos faz com que seu estado seja delicado. – informou por fim a Dra. Crusher à capitã –  Por isso terá de ser operado com urgência nas próximas horas.

— Tudo bem, doutora – disse Thylia – quando você pode começar?

— Será necessário que ele receba transfusões de sangue durante os procedimentos – respondeu a médica – já solicitei ao computar da nave que me envie os dados médicos de todos os tripulantes andorianos que temos a bordo. Preciso que você me consiga os da sua tripulação também, para podermos encontrar doadores compatíveis.

— Entendido – respondeu a andoriana, pegando o comunicador para entrar em contato com sua nave – vou fazer com que você os receba imediatamente.

*    *    *

Thylia Zh'thathar atendeu o intercom assim que ele tocou. Estava em um dos alojamentos da nave, mas apesar de estar cansada, ela não havia conseguido dormir. E sabia que não conseguiria até que seu filho estivesse fora de perigo.

— Thylia aqui. – disse ela.

— Tenho novidades sobre a cirurgia de Kethaar— anunciou a Dr. Beverly Crusher – Mas gostaria de conversar com você pessoalmente.

— Estou a caminho – respondeu a andoriana, já saindo.

Assim que capitã entrou na enfermaria da Enterprise viu a Dra. Beverly Crusher inclinada sobre a unidade de recuperação e monitoramento onde estava seu filho Kethaar. Thylia aproximou-se devagar, tentando mascarar sua ansiedade, embora sentisse o coração acelerado.

— Pois não, doutora. – disse ela – sua voz parecia animada no intercom.

A médica endireitou o corpo e suspirou, demonstrando no rosto o cansaço das longas horas de trabalho junto aos seus novos pacientes.

— Achamos uma doadora compatível com Kethaar. – disse a Dra. Crusher – Porém ainda existem dificuldades que preciso discutir com você.

A andoriana olhou para a médica demonstrando preocupação.

— E quais seriam estas dificuldades?

— Elas se referem a quantidade de sangue que deveria ser transferido para seu filho durante a cirurgia. – respondeu a Dra. Crusher – Nós não conseguimos mais nenhum doador compatível e normalmente apenas um não conseguira fornecer tudo o que seria necessário.

As antenas de Thylia se elevaram tensas.

— Porém, pesquisando os arquivos médicos da Frota, – continuou Beverly Crusher, apontando para a tela do terminal que estava a sua frente – penso ter encontrado a solução.

A andoriana se aproximou, olhando para a tela também.

— Descobri que a cerca de setenta anos, o Dr. Leonard McCoy, da primeira U.S.S Enterprise usou uma droga experimental para acelerar a reposição sanguínea de um doador para conseguir realizar uma cirurgia em um paciente vulcano (1). Nós ainda temos a fórmula no nosso banco de dados e eu conseguiria adaptá-la para o sangue andoriano. Porém...

— Porém? – perguntou Thylia.

— Este procedimento seria quase experimental e apresentaria riscos tanto para a doadora quando para Kethaar principalmente,  por ele estar bastante debilitado. A  Alferes kyhlen se dispôs a correr o risco e fazer a doação assim mesmo, mas preciso saber a sua opinião, uma vez que se trata da vida do seu filho.

A andoriana olhou mais uma vez para o seu filho, deitado na unidade de recuperação.

— Doutora, o mais importante é termos uma chance de salvar Kethaar – respondeu ela – pode prosseguir.

— Ok então. – disse a médica, tocando o broche-comunicador em seu peito – Alferes Kyhien, você poderia vir à enfermaria agora?

— A caminho – veio a resposta.

Referência do Capítulo:

(1) Jornada nas Estrelas (Star Trek), Série Clássica, 2ª temporada, episódio 10 (“A Caminho de Babel”).