Marcados escrita por CM Winchester


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788674/chapter/5

— Como era sua vida?

Me encarou surpreso por quebrar o silencio.

— Era... Não tenho palavras para descrever.

— Uma merda total?

— Tipo isso. Mais para um inferno. Parece que a sua era boa.

— Não vou mentir. Sim. Fui muito bem mimada. Mas meu pai nos ensinou a sobreviver. Mamãe morreu quando Dean nasceu. Nosso pai era do exército também. E queria que seguíssemos seus passos. Sean seguiu é claro. Era tudo o que ele mais queria na vida. Eu optei por ser médica. Meu pai ficou feliz achando que eu seria médica no exército. Foi uma decepção quando optei por um hospital. Ele sempre foi controlador. É claro que nós batemos de frente. Mas um dia ele entendeu. E Dean seguiu a carreira dos esportes. Isso fez nosso pai dar mais atenção para Sean do que a nós, mas nenhum dos dois se importou. Queríamos viver nossos sonhos.
"Aprendemos a atirar, nosso pai exigiu isso desde que... Acho que desde que nasci. Tínhamos que saber nos defender. Fizemos aula de tiro ao alvo. Aprendemos caratê. Eles nos ensinou tudo que era preciso para sobreviver, mas não conseguiu sobreviver ao apocalipse. Foi atacado e se rendeu a morte para nos dar tempo de fugir. Então seguimos os três. Pegamos um ônibus e fugimos levando o máximo de pessoas que conseguimos. Tom foi um dos primeiros que encontramos. Passamos por cada buraco até chegar aqui.

— Sei como é isso. Vivemos em uma fazenda por um tempo, depois na prisão. Foi o tempo mais tranquilo que tivemos até o Governador vir e acabar com tudo. Ele matou meu irmão. - Vi tristeza em seus olhos. - Não era grande coisa, mas era meu irmão e se sacrificou para nos dar uma chance. Mas não adiantou. Ele veio e acabou com a prisão. Perdemos pessoas nesse tempo em que estivemos na estrada. E por um momento achamos que morreríamos. Até que encontramos os dois rapazes.

— Eles eram boas pessoas. - Murmurei e ele assentiu.

Ficamos em silêncio de novo. Até que ele levantou.

— Acho melhor eu ir.

Levantei e o segui até a porta.

Sabe a hora que você tem que se despedir, mas não quer? Não consegue.

Encarei seus olhos azuis. Estava esperando eu abrir a porta.

Me estiquei e beijei sua boca rapidamente o deixando desconcertado.

— Obrigado por hoje. - Seu rosto ganhou um tom avermelhado.

Ele abriu e fechou a boca várias vezes antes de somente assentir.

Quando abri a porta ele saiu, mas parou me encarando.

— Já estou com 40 anos, garota. - Pela primeira vez eu sorri de verdade.

— Não gosto de moleques. - Antes que ele pudesse falar algo fechei a porta.

Virei para a parede e toquei minha boca como uma idiota apaixonada pelo primeiro namorado da adolescência. A diferença só eram 15 anos de idade e um apocalipse.

Mas o desejo estava ali. Desejava aquele homem. Como não desejar? Sotaque caipira, vestido como se fosse o fodão do apocalipse e ainda carregando uma besta.

Subi as escadas e tomei um banho. Precisava de água fria para me acalmar. Fazia tanto tempo que eu não sabia o que era prazer carnal.

Encontrei com Maggie no outro dia.

— Por que está me olhando desse jeito? - Perguntei desviando meus olhos para a munição.

Estava no estoque de armas e munição. Vendo se estava tudo certo.

— Por que teve um cara que chegou todo vermelho em casa ontem. Com um sorrisinho bobo na cara.

— Não sei do que você está falando.

— Bom... Ele saiu da sua casa ontem então. - Ela sorriu abertamente. - Da próxima vez que sairmos, convida ele para ir a farmácia.

Não sabia lidar com aquilo. Não tinha amigas, mal tive quando era adolescente. Convivi minha vida toda com meus irmãos e meu melhor amigo, o perdi no primeiro dia do apocalipse.

— Ir a farmácia?

— É. Lá tem camisinhas.

— Maggie. Você... Jesus Cristo. - Ela riu.

— Foi assim que Glenn e eu começamos.

— Indo a farmácia. - Foi inevitável não rir. - Desculpe, mas Glenn... Há uma diferença enorme entre Glenn e Daryl.

— Sim, mas... Há uma diferença enorme no jeito que Daryl trata as mulheres para o jeito que ele te trata. E olha.

— Por que todos ficam dizendo que ele fica me olhando?

— Por que ele fica com a maior cara de cachorro vendo um pedaço de osso... Carne.

— Não acredito que estou escutando isso. Podemos mudar de assunto?

— Sim. Pode pedir ao Daryl para construir uma torre?

— O que? Eu não estou entendendo nada. Onde você quer chegar?

— Só peça isso a ele.

— Não vou pedir nada a ele. Tem mais alguma coisa que você queria. - Ela abriu a boca para falar, mas fui mais rápida. - Que não seja sobre o Daryl. - Sua boca fechou e ela pareceu desanimar, mas sorriu.

— Tem uma casa vaga?

— Se for para você e Glenn morarem sim, se for para outros motivos não.

— Que outros motivos? - Ela sorriu.

Suspirei antes de pegar um molho de chaves de dentro do bolso da calça. Peguei uma chave e entreguei a ela.

— A casa ao lado da casa de vocês. Bom trabalho para você.

— Ok. - Ela colocou a mão no bolso depois me estendeu algo. - Vai precisar.

Olhei os pacotinhos na minha mão.

— Filha da mãe. - Resmunguei vendo as camisinhas.

Ouvi sua gargalhada antes da porta fechar.

Joguei a camisinha na gaveta e voltei a verificar a munição, mas desisti.

Precisava de outro banho frio.

Passei por Daryl no caminho para casa, ele me encarou e apressei o passo.

— Juliety? - Parei ao ouvir a voz de Rick.

— Precisa de algo? - Perguntei.

— Sim. Fórmula para Judy.

— Ah sim. Peguei três latas, as últimas que tinham na farmácia. Pode pegar no estoque.

— Só preciso de uma.

— Ninguém aqui tem bebês, então pode pegar todas, trouxe já pensando nela mesmo.

— Obrigado.

— Não por isso. E tem chocolate para o Carl caso ele goste.

— Que criança não gosta de chocolate?

— Sean nunca gostou. Não gosta até hoje. Todo mundo reclamando de não achar um chocolate e ele só debochava da nossa cara. - Ele riu. - Até mais.

Assim que estava no abrigo do meu quarto fechei a porta.

Precisava respirar.

O que era aquilo que estava sentindo?

— Tudo bem maninha? - Me assustei com Sean batendo na minha porta.

— Sim, por que? - Abri a porta para encara-lo.

— Você estava com uma expressão meio perturbada.

— Não vou mentir. Estou sim perturbada.

— Anda assim pelo caçador?

— Já sei, ele fica me olhando.

— Ele fica te olhando?

— Ah, aleluia, alguém que não viu também.

— Espera! Do que você está falando?

— É que todo mundo diz que ele fica me olhando e eu nunca vi. E sim, estou perturbada por causa dele. Estou... Meio que sentindo atração.

— E o que isso tem demais? Um dia tem que acontecer.

— Não nesse momento. Estamos no meio de um apocalipse zumbi. É insano se apaixonar e se apegar a alguém.

— Desde a morte de Zac você não se apega a alguém. Não tem a ver com o apocalipse tem a ver com perder quem se ama. Nós perdemos a mamãe. Então veio o apocalipse e perdemos nosso pai. Não conseguimos nem salvar Zac. Perdemos muitas pessoas pelo meio do caminho. Mas a vida é essa, Julie. Um dia você vai conhecer alguém que faça você tremer.

— Mas... Sean, eu sou uma pessoa quebrada. Passei tantas coisas nesse tempo.

— E lutou como uma leoa. Todos aqui confiam suas vidas a você. Dean e eu confiamos. Você é uma mulher incrível. Tenho orgulho de quem é, mana. E não faça a besteira de ficar assim para sempre.

— Assim como?

— Fechada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Marcados" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.