Traços Marcantes escrita por Leonardo Souza


Capítulo 3
Cinco Meses E Vinte E três Dias Antes


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Augusto

 

Era o último dia da semana de provas na faculdade, durante esse período me trancava em casa tentando aprender toda a matéria do semestre em um dia. Rafael sabia da minha rotina caótica então não mandou nenhuma mensagem chamando para ir a casa dele durante a semana, provavelmente estava aproveitando o tempo com Jaqueline. Troquei algumas mensagens com Victoria durante a semana, combinamos de sair juntos sábado para comemorar ou afogar as mágoas depois das provas.

Olhei para o relógio, seis da tarde se sair agora consigo estudar um pouco na biblioteca.

 

Victoria

 

Não conseguia me focar o suficiente para estudar. Durante a semana, Pablo apareceu em casa quando só minha mãe estava lá, levou dinheiro e alguns itens. Procuramos por ele durante a semana, mas não tivemos sorte, durante todo o tempo minha mãe pedia para deixar isso para lá, considerando que era semana de provas, estava me esforçando o máximo para não deixar isso afetar minha nota e provavelmente estava falhando. Bruno também estava uma pilha de nervos, escutava ele andando pela casa durante a noite. Verificando se as portas e janelas estavam fechadas.

 

Rafael 

 

Semana de provas nunca foi um problema para mim, não tirava notas surpreendentes, mas ficava acima da média para não reprovar e os meus pais só se importavam com isso. Ninguém checa seu boletim escolar e sim seu diploma, como meu pai sempre diz. Augusto estava trancado no quarto chorando em cima dos livros, vi Jaqueline três vezes durante a semana e saí com duas outras. Infelizmente a semana de provas não é uma boa época para mim.

 

André

 

Trabalhar durante o dia e estudar durante a noite já é exaustivo, adicionar as provas só deixa pior. Chegava em casa e ia direto para a cama, estava tão cansado que só verificava meu celular no horário de almoço, ou seja, estava demorando quase 24 horas para responder qualquer mensagem.

 

"Vêm em casa sábado? Preciso falar com você."

 

Era Victoria, um dia atrás.

 

"Claro, depois te ligo."

 

Respondi.

 

Antes de guardar o celular vi uma nova mensagem do aplicativo de relacionamento.

 

"Oi"

 

Duas horas atrás. As únicas informações no perfil eram a idade, 23 anos, a altura, 1.71, o nome, B, e a foto. Provavelmente ele em frente ao sol então só a silhueta era visível.

 

"Oi"

 

Respondi e guardei o celular.

 

Augusto

 

Sai da sala com a certeza de que iria conseguir o suficiente para não precisar fazer DP. Rafael estava parado em frente ao meu bloco, me esperando.

 

— Como foi? — Perguntei.

—  Como todas as outras vezes. —  Rafael sorriu.

— Jaqueline? — Começamos a andar em direção ao estacionamento.

— Vai sair com um cara hoje. Porém não vim até aqui só perguntar da sua prova. Sábado, Eduardo vai dar uma festa e nós fomos convidados.

— O Eduardo que você ficou um tempo atrás?

— O próprio.

 

Rafael nunca se preocupou com sexualidade, desde que o conheço, ele sempre ficou com mais meninas, mas as vezes ia para casa com um cara no fim das festas.

 

— Achei que não mantinha contato com as pessoas que ficava, seu código moral não impede esse tipo de coisa? —  Brinquei.

— Essa é a melhor parte, ele me chamou perguntando sobre você.

— Não!

— Sim! — Rafael estava dando pulinhos de felicidade.

— Não vou ficar com ele.

— Não faz seu tipo? Moreno, alto, forte?

—  Você sabe que estou conversando com Victoria.

— Então seu tipo é pessoa que não está afim de você? Entendi.

— Vai se ferrar. Inclusive nós vamos e vou convidar ela para ir também.

— Pobre garoto.

—  Outra vez, vai se ferrar.

 

André

 

Saí da faculdade e chequei meu celular, uma nova mensagem de B.

 

"Tudo bem?"

"Tudo e você?"

 

 Respondi.

 

"Cansado."

 

Ele respondeu imediatamente.

 

"Bem vindo ao clube :)"

 

 Enviei.

 

"Posso ser membro VIP? Pelo menos posso ter uma poltrona confortável."

 

Aquilo me fez rir.

 

"Claro, nós merecemos."

 

"Ótimo!"

 

Até agora ele não pediu uma foto minha, não tinha nenhuma no aplicativo e também não pediu nenhuma foto íntima, como a maioria dos outros caras aqui, o que era uma vantagem.

 

"Preciso ir, mais tarde conversamos." 

 

Ele enviou.

 

"Tchau." 

 

Enviei.

 

Victoria

 

Assim que virei a esquina vi Bruno no portão. Seu rosto estava sangrando, sabia o que havia acontecido.

 

— Cadê ele? — Perguntei assim que desci do carro.

 

— Correu. — Bruno respondeu e cuspiu sangue no chão.

 

— Mãe? — Me aproximei e verifiquei o rosto dele, o sangue estava saindo do nariz, provavelmente um soco e deve ter cortado a parte interna da boca de Bruno.

 

— Lá dentro, chorando.

 

— Vamos entrar.

 

Assim que abri a porta, minha mãe começou a falar tudo o que aconteceu, mas com o choro não conseguia entender tudo. Bruno segurou o meu braço e me levou até seu quarto, minha mãe ficou chorando na sala.

 

— Quando cheguei, Pablo estava na cozinha, conversei com ele e então percebi que o celular da nossa mãe estava no bolso dele, pedi para ele devolver, ele surtou e acertou um soco antes de correr.

 

— Merda.

 

— A gente não pode mais deixar ele entrar aqui. — Não era a primeira vez que esse assunto surgia entre nós dois.

 

— A casa não é nossa.

 

— Nós pagamos tudo aqui!

 

— Você sabe o que eu quero dizer!

 

— O que vamos fazer? Deixar ele entrar aqui e arruinar tudo? — Bruno levantou a voz para que nossa mãe escutasse a próxima parte. — Isso só vai parar quando ele estiver morto e você sabe disso! 

 

— As vezes você consegue ser um imbecil! — Saí do quarto dele e fui para o meu.

 

Tranquei a porta, não podia lidar com isso agora, não queria. Bruno e nossa mãe começaram a discutir ao fundo. Em algum momento comecei a chorar.

 

André

 

Conseguiu uma folga no sábado, então a primeira coisa que fiz foi ir para a casa de Victoria, B não mandou nenhuma mensagem durante a madrugada. Quando cheguei, vi que o clima da casa não estava bom, dei um abraço na mãe deles e fui para o quarto dela. Victoria estava deitada.

 

— Ei. — Falei e ela levantou o rosto surpresa, como se por alguns segundos tivesse esquecido que me chamou para ir até a sua casa.

 

— Ei. — Ela respondeu e se sentou. Percebi que estava chorando.

 

— O que aconteceu?

 

— Pablo apareceu aqui ontem, levou o celular da minha mãe e deu um soco em Bruno.

 

— Ele está bem?

 

— Sim, minha mãe eu não tenho tanta certeza, acho que eles discutiram ontem sobre não deixar mais Pablo voltar para casa, não prestei atenção.

 

— Isso é uma merda, mas saiba que vou apoiar qualquer coisa que você decidir.

 

— Esse é outro problema, consigo ver os lados dos dois, mas não posso obrigar minha mãe a deixar o filho na rua.

 

A porta do quarto de Victoria abriu, era Bruno, parecia agitado.

 

— O que aconteceu agora? — Victoria perguntou.

 

— Saí por aí perguntando se alguém sabia onde Pablo estava e descobri que eles e outros meninos pretendem ir em uma festa de faculdade para roubar celulares e carteira dos riquinhos.

 

Victoria e eu não sabíamos o que responder então ele continuou falando.

 

— Nós vamos até essa festa, trazemos ele aqui e nós três decidimos o que fazer com ele. Juntos.

 

— Essa é a coisa mais idiota que já escutei. — Victoria respondeu depois de alguns segundos encarando o irmão.

 

— Eu vou até a festa, com ou sem você. — Bruno saiu do quarto.

 

— Então. — Victoria começou a falar. — Quer ir atrás do meu irmão comigo?

 

— Já disse que vou te apoiar com qualquer decisão.

 

Augusto

 

Victoria só me respondeu no sábado a tarde e disse que não podia ir para a festa, apareceu um problema com a mãe dela. Fiquei decepcionado, mas falei que entendia. Rafael ia passar em casa com Jaqueline e nós três iríamos para a festa. Estava sentado no sofá quando Rafael gritou meu nome, me despedi da minha mãe e saí. Sentei no banco traseiro, antes de conseguir fechar a porta, Jaqueline estava oferecendo uma garrafa de vodka.

 

— Sério? — Perguntei.

 

— Claro! — Ela respondeu e os dois começaram a rir.

 

— Augusto não aguenta bebida. — Rafael entrou na conversa.

 

— Cala a boca. — Peguei a garrafa e bebi.

 

— Esse é o espírito! — Jaqueline comemorou.

 

— E Victoria? — Rafael perguntou.

 

— Quem é essa? — Jaqueline falou.

 

— É uma menina que não gosta do Augusto, mas ele está apaixonado por ela. — Rafael respondeu.

 

— Muito engraçado. É uma menina que estou conversando. Só isso. E ela não pode ir, sua mãe está no hospital ou algo do tipo. — Bebi mais um pouco.

 

— Então Eduardo voltou a ser uma possibilidade? — Rafael perguntou em um tom de brincadeira.

 

— Provavelmente não.

 

— Ah, você não vai para uma festa de não for se divertir. — Rafael protestou.

 

— Se nada acontecer, você pode se juntar com a gente. — Jaqueline sugere e troca um olhar com Rafael, que por alguns segundos pensa na proposta e da uma risada.

 

— Não, mas obrigado. — Bebo outra vez, uma quantidade maior dessa vez.

 

Victoria

 

Chegamos as dez horas da noite, a festa oficialmente começava as nove e queríamos que Pablo já estivesse lá, a festa era em uma chácara, com vários lugares escuros, o que dificultava achar Pablo ali e para pior o lugar começou a ficar cheio bem rápido. Bruno decidiu andar pela festa sozinho, deixando André comigo, decidimos ficar perto do banheiro feminino, o lugar mais alto ali e poderíamos ter uma visão melhor.

 

Augusto

 

Rafael acabou se perdendo, então quando chegamos já eram quase onze da noite, por ter bebido no caminho, já estava alto quando chegamos na festa. Jaqueline e Rafael foram direto buscar bebidas, encontrei umas pessoas da faculdade e comecei a conversar com eles, falamos sobre coisas aleatórias e Rafael continuava me dando bebidas, quando não estava ocupado beijando Jaqueline. Por volta da meia noite decidi procurar o banheiro.

 

— Vou ao banheiro! — Praticamente gritei no ouvido de Rafael.

 

— Tudo bem! 

 

Victoria

 

Nada aconteceu, Bruno encontrou os supostos meninos, mas Pablo não estava com eles, por um segundo pensei que ele tinha voltado para casa, mas Bruno confirmou que ele estava ali, só havia se separado dos outros meninos.

 

— Vamos andar pela festa. — Sugeri.

 

— Tudo bem! — Bruno respondeu e entrou no meio da multidão.

 

— Vamos acabar nos perdendo um do outro no meio de tanta gente. — André falou.

 

— Segura a minha mão. — Ele segurou e nós começamos a caminhar em meio as pessoas.

 

Não ajudava que a festa não tinha nenhum lugar próprio para dançar então pessoas estavam espalhadas por toda parte. 

 

— Victoria! — André gritou. — Alí.

 

Olhei para onde ele estava apontando e lá estava Pablo.

 

— Vamos. — Antes que pudesse correr, alguém entrou na minha frente.

 

Augusto

 

Por um segundo achei que estava enganado, não podia ser Victoria ali, ainda mais de mãos dadas com um cara, ela estava cuidando da mãe, mas percebi que não estava enganado. Ela mentiu para mim. Estava bêbado o suficiente para confronta-la. Passei pelas pessoas sem pedir desculpas. E parei na frente dela.

 

— Hey! — Gritei.

 

— Augusto? — Ela fingiu surpresa.

 

— Surpresa em me ver? Na festa que te convidei?

 

— Desculpa, mas não temos tempo para isso. — O rapaz que estava com ela falou.

 

— Augusto, depois te explico melhor.

 

— Não precisa, eu já entendi. Você não queria sair comigo. Era só ter me falado, não sou uma criança!

 

— Hey! — O rapaz entrou entre mim e ela. — Acho melhor você ir embora.

 

— Você acha? — Respondi.

 

— Augusto, desculpa te contar, mas nem tudo gira em torno de você. — Ela saiu às pressas segurando a mão dele.

 

Comecei a voltar para onde estava e no caminho encontrei Eduardo.

 

— Ei! — Ele gritou, claramente bêbado.

 

— Hey. — Respondi, minha cabeça girando.

 

— O que acha da festa, eu e me—.

 

— Desculpa. — Acabei interrompendo ele. — Você viu Rafael e Jaqueline?

 

— Vi os dois indo para os quartos no fundo.

 

— Obrigado. — Deixei ele no meio das pessoas.

 

Por ser uma chácara, era normal ter quartos para pessoas dormirem, precisei olhar em três quartos antes de achar os dois, quando abri a porta eles estavam se beijando, mas pararam achando que era um estranho.

 

— Augusto, que susto. — Rafael falou.

 

— Desculpa. — Respondi.

 

— Aconteceu alguma coisa? — Jaqueline perguntou.

 

— Mais ou menos, mas não importa. Me aproximei de Rafael e dei um beijo nele.

 

— Uou. — Ele se afastou. — Você tem certeza disso?

 

— Não. — Beijei ele outra vez, mas ele não se afastou.


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