Traços Marcantes escrita por Leonardo Souza


Capítulo 1
Um Mês Depois - Prólogo




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Augusto

O consultório cheirava a produtos de limpeza, as paredes eram amarelas, uma mesa próxima a porta e duas cadeiras giratórias, estava sentado em uma e minha psicóloga na outra, com seu terno, seu cabelo preto preso em um coque e seu caderno onde fazia anotações. Pela primeira vez no dia reparei no que estava usando, um tênis, sem meia, um short jeans e uma camiseta, sabia que não era minha, mas não podia pensar no dono. Talvez começaria a chorar e não sabia se iria parar. Meu cabelo ainda tinha corte, acho que era a única coisa visualmente certa ali.

— Como está se sentindo? — Ela perguntou. Acho que não foi a primeira vez.

— Horrível. — Respondi.

— Pode ser mais específico?

— Sinto que preciso gritar com alguém, mas todo mundo que poderia gritar também está triste.

— Isso é sobre o que aconteceu com o seu amigo?

— Podemos não falar sobre isso?

— Eu acho que você quer falar sobre isso.

— Tudo bem, mas posso te perguntar uma coisa antes?

— Claro.

— Vai passar?

— O que?

— Passar esse sentimento horrível de se culpar o tempo inteiro por uma coisa que aconteceu, mas você não tinha nenhum controle sobre, mas mesmo ainda fica correndo cenários na sua cabeça de como poderia ter evitado ou ter percebido.

— Talvez um dia, cada pessoa lida de formas diferentes.

— As vezes eu esqueço como vocês podem ser mais vagos do que previsões de horóscopo.

Antes que ela pudesse responder, meu celular vibrou com uma mensagem, como ele estava na minha mão, virei a tela para mim e li a notificação.

"Aline: Acho que devemos conversar."

— Tenho que ir. — Me levantei e saí antes que ela pudesse falar alguma coisa. 

Peguei o celular e comecei a digitar uma resposta para Aline.

"Já conversamos tudo o que era para ser conversado."

"Você sabe que isso é mentira, pare de se afastar. Nós afastar. Estamos preocupados."

"Se for aí vou encontrar uma intervenção?"

"Não, sabe disso."

"Tenho outros compromissos. Desculpa." 

Desliguei o celular e só então percebi que estava andando na direção oposta a minha casa, me sentei na calçada e mesmo com o barulho dos carros, aquele sentimento de culpa e nojo apareceu segurei o choro o máximo que pude, mas não foi muito eficaz.


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