Miss Slasher escrita por Glauber Oliveira


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo curto por ser o prólogo, mas os outros serão maiores. Boa leitura!



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Quando o último cliente sai, Justine, com as chaves já em mãos, tranca a porta. Através do vidro, ela observa a rua. Não há uma alma viva lá fora, afinal, já passam das 22h da noite, e numa cidade pequena como Redlake, localizada na Califórnia, os moradores em sua maioria estão em casa bem cedo, por volta das 20h, no máximo. Porém, Justine trabalha no turno de tarde para a noite, após o colégio, como atendente, na academia Campbell, um dos poucos estabelecimentos que se mantém funcionado até altas horas, perdendo apenas para a Reese’s, uma lanchonete estilo anos cinquenta que fica sempre aberta, e o Xamã, um bar inaugurado há uns meses.

 Toda noite, após fechar a academia, Justine permanece ali por pelo menos mais uma hora, malhando. Ela não se preocupa em voltar para casa tão tarde, afinal, essa cidadezinha costuma ser um lugar tranquilo, quase sem crimes. Além disso, a jovem tem que manter a forma se quiser ganhar o Miss Redlake, o concurso de beleza regional, e então competir nas estaduais, depois nacionais e finalmente chegar ao Miss Universo. Justine não se considera bastante vaidosa, no entanto, assim que soube que é possível ganhar dinheiro com essas competições, ela passou a cuidar mais da aparência que muitos já elogiavam, inclusive chegaram a comentar que a garota parecia uma das irmãs Kardashian atualmente, só que natural.

 Justine prometeu a avó, Grace, que conseguiria um tratamento da melhor qualidade para a fibrose pulmonar dela, e essa é sua chance. Toda vez, após chegar do trabalho, se depara com a idosa, que costumava cuidar dela, encolhida na poltrona da sala, assistindo TV, usando uma máscara conectada a um cilindro de oxigênio. Aquela cena, mesmo partindo o coração da moça, a motiva a vencer o concurso que acontecerá em dois dias. Nada poderia detê-la.

 Ao se dirigir às esteiras, Justine sobe em uma e corre por trinta minutos. Ao final, está suada e ofegante. De repente, seu celular vibra. Ela pega o aparelho acoplado em um suporte preso ao braço esquerdo, aperta um botão lateral e a tela se ilumina. Há uma notificação informando que ela possui uma mensagem nova vinda de um número privado: “Oi, Justine”.

 A garota digita: “Quem é?”.

Desconhecido: Adivinha.

Justine: É você, Hector? Trocou de número?

Desconhecido: Não sou o Hector.

Justine: Então quem é?

Desconhecido: Um admirador misterioso.

Justine: Só pra saber, eu tenho namorado e odeio mistério. Se não falar logo quem é, vou te bloquear.

 Desconhecido: Você deveria estar mais interessada onde estou, não quem eu sou.

  O anônimo envia uma imagem de Justine correndo na esteira minutos atrás. A foto parece ter sido tirada de fora da academia, próxima da entrada.

 A jovem caminha com cautela até a porta e, novamente, através do vidro, olha a rua, de um lado para outro. Nenhum sinal de alguém.

 Justine: Se continuar enchendo o meu saco, eu vou ligar pra polícia.

 Desconhecido: Antes de você terminar de discar, eu vou ter cortado sua garganta.

 Justine: Quero ver entrar aqui.

 Desconhecido: Já entrei.

 A garota sente um súbito frio na barriga e o coração martelar furioso contra o peito. Ela se vira, assustada, no instante em que uma música, I Want It That Way, vinda dos autofalantes espalhados pela academia, rompe o silêncio.  Ao se voltar rapidamente para a entrada e girar a maçaneta, Justine lembra que a porta não abre porque ela a trancou. Contudo, a chave, que deveria estar na fechadura, não está ali. Um tilintar é ouvido e a moça lentamente olha para trás.

 Há uns cinco metros, uma figura em pé segura uma faca de caça e com a outra mão balança as chaves no ar. Ela se veste totalmente de preto — luvas, blusa de mangas compridas e capuz, calça e coturno —, exceto pela cabeça branca enfaixada: há buracos para olhos, o nariz, e em vez de um para a boca, há o desenho de uma, feito por batom vermelho.

— Você já me assustou — Justine diz com os olhos cheios de lagrimas e voz embargada. — Agora, vai embora.

  A figura ergue a faca e avança contra a jovem, tentando golpeá-la, entretanto, Justine é mais ágil e desvia ao correr. A garota pega um altere de dois quilos em um suporte, e dispara para vestiário ao passo que seu perseguidor não fica muito atrás.

 As únicas coisas audíveis no vestiário são os sons dos passos da figura, ecoando pelo local e sua respiração abafada. Ela caminha calma, passando pelas fileiras de armários vermelhos, procurando Justine, até chegar aos chuveiros, cada um separado por seis cabines ocultas por cortinas de plástico. O sujeito mal intencionado puxa bruscamente para o lado a cortina do primeiro cubículo da esquerda para direita. Ninguém ali dentro. Ele repete o gesto no seguinte. Nada. Nem no terceiro, quarto ou quinto. Ao puxar a cortina da última cabine, ela se revela vazia.

  Momentos antes, Justine se encontra deitada em cima da última fileira de armários, perto dos chuveiros, segurando com as duas mãos o altere contra o peito. Ela não sabe como subiu ali tão rápido, mas agora que conseguiu, não pensa em mover um músculo. Porém, o mascarado começa a verificar as cabines de banho, ficando vulnerável ao estar de costas para a jovem. Decidindo agir antes que seja tarde, ela se movimenta cuidadosamente, sem fazer barulho. Assim que o psicopata checa o último cubículo, Justine pula do armário e golpeia a parte de trás da cabeça dele com o altere, fazendo-o cair no chão, desorientado.

 Ela larga o peso e se agacha, aproveitando o momento para procurar as chaves nos bolsos dele e encontrando com facilidade. Ao levantar, pronta para fugir, o malfeitor agarra a perna direita de Justine e com a outra mão, pega a faca e corta o tendão do pé dela. A jovem urra em agonia e desaba, contudo tenta se arrastar, de bruços.

  O maníaco se ergue, aproximando-se de Justine. Ele a vira de barriga para cima, empurrando o corpo com o pé.

— Não, por favor — ela implora aos prantos. — O que foi que eu fiz?

  O algoz saca do bolso um papel dobrado e o estende, revelando ser um folheto do Miss Redlake. Justine possui um semblante de confusão. O mascarado amassa o panfleto, reduzindo-o a uma bolinha, e o guarda no bolso.  Ele levanta a arma branca para dar o golpe fatal, mas não antes da adolescente soltar um último e longo grito.


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Notas finais do capítulo

Se gostou (ou não) comente para eu saber e continuar postando.