As lembranças da noite passada não saíam da minha mente - duvido que algum dia saíam -. As mãos de Nico, seus lábios passeando pelo meu corpo, suas palavras desprovidas de qualquer pudor.  Queria que todas as noites fossem assim.

Quando acordei, Nico dormia, a cabeça apoiada em meu peito. Fiquei mexendo nos cabelos dele enquanto corria os olhos por seu corpo, coberto apenas pelo fino lençol branco. As manchas da noite passada estavam bem visíveis em seu pescoço e seu peito. Suspirei, imaginando como seria acordar todo dia, olhar para o lado e ver ele ali.

Nico piscou os olhos devagar, meio incomodado pela luz que entrava pela fresta entre as cortinas. Ele me lançou um sorriso discreto e falou com a voz rouca:

— Oi. – ele se aninhou em mim e ficou passando a mão pela lateral do meu abdômen.

— Dormiu bem?

— Com um travesseiro desses... – ele continuou a passar a mão em mim, mas dessa vez fazendo cócegas.

Comecei a rir e a tentar me livrar das cócegas, mas Nico tinha mãos ágeis.

— Para com isso! Nico, para!

— Ah, eu não vou parar, Will.

O jeito como ele falou aquilo, semicerrando os olhos e balançando a cabeça com um sorrisinho nos lábios, me deixou excitado.

— Você está vermelho. – observou ele.

— E a culpa é sua...

Ele me lançou um olhar do tipo "Ah, é, é?" e sentou em cima de mim. Nossos lábios de uniram num beijo prazeroso e rápido. Nico rebolava em mim enquanto eu passava as mãos pelo seu corpo, parando no lugar certo, deixando-o excitado.

De repente a porta se abriu com tudo e só tive tempo de ver Nico caindo da cama, assustado. Puxei o lençol para me cobrir e olhei para a porta.

— Bom dia, pai. – falei sem saber onde esconder o rosto de tanta vergonha.

— Bom dia. – ele falou entre risos — Seu padrasto e eu vamos sair. Tentem deixar a casa inteira, está bem?

Ele saiu do quarto e fechou a porta. Levantei-me e a tranquei. "Tentem deixar a casa inteira, está bem?". O que ele pensava que eu fosse? Um maníaco por sexo selvagem? É, talvez.

— Que escapada de mestre, senhor Di Angelo. – falei.

— Não é só senhor Di Angelo. – ele falou enquanto se levantava e subia em cima de mim novamente — É senhor Di Angelo Solace.

Instantaneamente um sorriso se formou em meus lábios. Aquilo significava que ele queria ficar comigo, namorar comigo. Casar comigo. Significava que ele me amava.

— E eu sou o senhor Solace Di Angelo.

— Você não tem noção de como fica sexy falando isso. 

Voltamos a nos beijar e a fazer o que estávamos fazendo.  No fim, uma das tábuas da cama quebrou, mas isso não contava como a casa toda.

Tomamos banhos juntos e enquanto estávamos nos secando, Nico examinou o próprio corpo no espelho. Maravilhoso, para dizer o mínimo.

— Você tem que aprender a se controlar. – falou ele apontando para os chupões, mordidas e arranhões em seu corpo.

— Eu tenho que me controlar? Olha aqui e aqui e aqui. – fui apontando para os meus hematomas.

Nico ficou secando meu corpo com um sorrisinho bobo nos lábios.

Depois de já termos nos trocado, Nico e eu fomos até a cozinha tomar café.

— Nico, tem uma coisa que eu quero te perguntar. – falei entregando-lhe uma xícara de café.

— Se são uma ou duas colheres de açúcar?

— Não, não. Lembra quando começamos a trocar mensagens e você falou da sua vida amorosa?

Ele assentiu.

— Quem era o cara que não fazia o seu tipo?

Ele não respondeu de imediato, pensando se devesse ou não falar.

— Foi o Percy. E o ex/atual da minha amiga, no caso a Reyna, é o Leo.

— E quem é o cara lerdo?

— Você. Como você não percebeu que eu gostava de você?

— Como eu iria perceber que você gostava de mim?! A gente quase nunca se falava e teve uma vez que...

Aquela lembrança já havia se distanciado da parte útil do meu cérebro, mas naquele momento ele voltou com tudo.

— Teve uma vez que... – Nico repetiu o que eu havia começado a dizer.

— Uma vez eu ouvi você e Reyna conversando sobre mim. Ela perguntou se você gostava de mim e você disse que não gostava de mim, mas foi um não gostar do tipo Eu Odeio Will Solace.

Nico me olhou confuso. Pensou por uns instantes e então falou:

— Você não ouviu a conversa inteira. A frase inteira era "Eu não gosto do Solace. Eu amo ele". Você é um péssimo enxerido, Will. Mesmo se eu não gostasse de você do jeito que eu gosto, não consigo imaginar algum motivo para te desgostar.

Senti uma alegria se desflorar num sorriso. Como seria se eu tivesse ouvido a conversa inteira? Será que Nico e eu estaríamos tendo aquela conversa ou qualquer outra que já tivemos? 

— Agora que estamos juntos, não devemos manter segredos. – ele colocou a mão por cima da mesa e eu a peguei — Tem uma coisa que eu quero te contar.

— Claro, pode me contar o que quiser.

— Lá na escola, eu meio que fugia de você. De você, do Leo, do Percy, mas principalmente de você. Sei que pode ter parecido mal educado e grosseiro, mas é que eu não quero que eles... – ele parou no meio da frase.

— Saibam que você é gay?

Ele assentiu.

— Você não precisa ter vergonha. Você só é gay, não é um ladrão, assassino ou qualquer outra coisa que deveria te deixar envergonhado. E se eles soubessem, não iriam te zoar, porque são seus amigos.

— Não é só a questão deles me zoarem. Eu tenho medo de que isso chegue até o meu pai. Eu ainda não contei para ele, e não sei como ele vai reagir. Ele tem um temperamento difícil.

— A gente podia convidar ele para vir aqui ou em outro lugar. Um jantar da minha família com a sua. O que acha?

Ele se levantou e deu a volta na mesa. Nico de sentou no meu colo e apoiou a cabeça em meu ombro, de modo que sua respiração quente fizesse cócegas no meu pescoço.

— Obrigado por ser um ótimo namorado.

Algumas lágrimas se formaram nos meus olhos. Depois de ter pensado que Nico nunca iria fazer parte da minha vida, lá estávamos nós, sendo namorados.

— Você também é um ótimo namorado, Nico. Podemos ficar assim para sempre?

Ele concordou com a cabeça.

— Tem uma antiga lenda que diz que as pessoas estão ligadas a sua metade por um fio vermelho. Esse fio pode embolar diversas vezes, mas nunca irá romper. Meu fio está preso em você.

— Acho que o nosso fio embolou demais. Tipo na festa dos Stoll.

— Você está dizendo de mim e da Rey? Ela é minha melhor amiga, e eu fiquei num veneno por causa do que o Jason fez, ainda mais depois de ter aprontado tudo aquilo com ela e com a Piper.

Eu não sabia daquela história. Perguntei a Nico o que havia acontecido. Ele parecia um site de fofocas ambulante.

"Todo mundo sabe que a Reyna tem uma quedinha pelo Jason, inclusive ele. No sábado, antes de você ir lá em casa fazer aquele trabalho de história, ele ligou para ela e perguntou se ela não podia ir à casa dele ajudar com um trabalho. Ela foi, só que quando chegou lá, não tinha droga de trabalho nenhum, apenas um Jason tarado louco para pegar alguém. Ele tirou vantagem dos sentimentos passados dela e a levou para a cama."

"Segunda-feira de manhã eu tinha Educação Física na primeira aula e quando estava me trocando no vestiário, vi o caderno deles."

Ah, O Caderno... A coisa mais idiota que eu já vi naquela escola. O Caderno consistia em um caderno - dã - no qual os garotos escreviam o nome da garota que eles pegaram e o quanto ela valia. Não eram todos os garotos que participavam, e eu pensava que nenhum dos meus amigos estivesse nesse esquema.

"Reyna estava lá. Na escala de 0 a 10: 10. Eu nunca senti tanto ódio de alguém como eu senti naquele dia. Quando eu fui falar com ela, vi ela e Piper discutindo. Jason havia dito que Reyna o obrigou a transar com ele. Piper acreditou nele e foi tirar satisfações com a Rey. Daí o Leo também ficou sabendo e deu no que deu: Reyna perdeu a melhor amiga, o namorado e quase todo o respeito que tinha na escola. E Jason continuou lá, a estrelinha brilhante do terceiro ano. É por isso que agora ela está faltando mais, além dos problemas que ela tem em casa. Foi por isso que ela saiu da brincadeira na festa e eu falei que estávamos namorando. É o que melhores amigos fazem; protegemos uns aos outros."

"Na semana da festa, Piper descobriu tudo e ela e Reyna estão voltando a serem amigas. Tomara que Jason tenha o que merece. Na verdade, todo mundo descobriu a verdade, inclusive a direção da escola. Ou seja, Jason foi expulso do time de futebol e perdeu toda a sua fama de bonzão. Bem feito."

— Caramba. Eu nunca pensaria que Jason era esse tipo de cara. – falei perplexo com aquela história. Eu me sentia extremamente culpado por ter sentido ciúmes de Reyna.

Uma música cortou o ar, vindo do celular de Nico. Ele o tirou do bolso e atendeu.

— Alô?

Alguém falou do outro lado da linha.

— Bianca?! – o rosto dele se iluminou de felicidade.

A garota falou algo do outro lado da linha.

— Você vai chegar aqui amanhã? Isso é ótimo. O que acha de um jantar com a família do meu namorado?