Depois de uma meia hora a campainha tocou e Hazel foi atender.

— Oi, eu vim buscar o Will. – falou Frank, obviamente tímido.

— Ah, oi. Ele está ali. – falou Hazel, também meio tímida.

Me levantei da cadeira e peguei minha mochila do chão, mas antes de chegar a porta eu parei e disse:

— Acho que eu esqueci o meu celular no seu quarto. Vou lá buscar.

Deixei os dois sozinhos e fui até o quarto de Hazel. No caminho, percebi que o quarto de Nico estava vazio. Será que ele tinha saído com Reyna?

Fiquei um tempo no quarto, mexendo no celular, e pude ouvir os dois conversando e rindo. Fiquei com vontade de pular pela janela e ir embora a pé mesmo, só para que os dois pudessem ficar mais tempo juntos.

Depois de nos despedimos, Frank e eu fomos para o carro. No caminho fiquei pensando sobre Hazel. Se ela estava gostando de Frank, pelo menos era o que todo mundo dizia, não tinha como ela gostar de mim também, não é?

Embora eu quisesse conversar com alguém sobre isso, Frank não era a pessoa ideal. Ele gostava de Hazel, e talvez acabasse ficando brabo comigo por perguntar aquilo.

— Quem é a sua dupla no trabalho?

— Valdez. – respondeu ele, e eu pude perceber uma pontada de raiva em sua voz.

— Qual é a causa desse seu ranço com o Valdez?

— Não tenho ranço nenhum.

— Tem sim. Por algum acaso o motivo se chama Hazel?

Ele ficou em silêncio por alguns instantes antes de responder:

— É que ele gosta dela. E ele não tem medo de demostrar isso. E ele é legal, divertido e tudo o mais – ele fez uma pausa, pensando no que iria dizer. — E não há nada que eu possa fazer, porque eu mal converso com ela, então eu não tenho o direito de ficar com ciúmes das amizades dela.

— Cara, eu ouvi vocês conversando lá na casa dela. Vocês combinam, se dão bem, por que que você não diz logo o que sente para ela?

— Eu não sei, cara. Eu simplesmente não sei o que dizer. "Hazel, eu gosto de você." e sair correndo não me parece ser uma boa ideia.

— Não, com certeza não é uma boa ideia.

Conversamos sobre algumas ideias de como ele podia se declarar para Hazel, mas ele era teimoso demais para aceitar qualquer ideia que fosse. De repente, um plano começou a se formar em minha mente. A família de Frank tinha um aras para hipismo numa parte mais afastada da cidade. Se tinha uma coisa que Hazel amava era cavalos. Seria o lugar perfeito para um encontro.

— Por que você não leva Hazel lá no aras? – sugeri.

— Não sei, acho que ela não iria gostar e...

— Frank Zhang, eu vou te dar um soco! Hazel ama cavalos e todo mundo sabe disso. Ela iria adorar se você fizesse isso.

— Você acha mesmo?

— Tenho certeza.

Frank ficou calado pensando na ideia.

— Mas e se ela não aceitar? – perguntou ele.

— O “não” você já tem. O “sim” você precisa conquistar. Não perca seu tempo pensando no que pode dar errado. Pense no que pode dar certo.

— Eu sei, eu sei, mas é que eu fico nervoso quando estou perto dela. É como se o universo conspirasse contra mim.

— Sei como é...

— Olha o Will... Quem é a sortuda? - perguntou ele maliciosamente.

Percebi tarde no que havia me metido. Eu não havia assumido minha bissexualidade ainda, e não tinha certeza se já estava preparado.

Pensei em um jeito de escapar daquela cilada em que eu havia me metido.

— Eu gosto da Miranda. Não diga isso à ela.

Miranda Gardner era minha melhor amiga, o que facilitaria as coisas. Caso acontecesse alguma coisa, seria mais fácil explicar a ela do que aos outros.

Frank sorriu sozinho.

— Por que está sorrindo? – perguntei.

— Jason e eu fizemos uma aposta. Eu disse que você gostava dela e ele disse que você gostava da Kayla.

— Que viagem, Kayla é como uma irmã para mim. E qual que era o preço?

— Dançar Bad Romance em cima da mesa do refeitório durante o intervalo – falou Frank sem conseguir conter o riso.

Aquilo seria a coisa mais hilária que alguém poderia imaginar. Jason era o mais comportado e sério entre nós, e só de pensar nele dançando eu já tinha ataques de riso.

— Tenho uma ideia – falei cessando o riso. — Se eu convidar Miranda para sair, você convida a Hazel. Fechou?

Frank pensou por alguns instantes. Claro que era complicado para ele. Ele gostava de verdade de Hazel. Eu gostava de Miranda. Como amiga.

— Pode ser – disse ele por fim. — Mas não conte para ninguém, entendeu?

— Sim, senhor Zhang.