Até aquela noite, Will e eu tínhamos tudo para dar certo. Pelo menos era assim que eu pensava, mas Afrodite resolveu brincar com a gente.

Will vinha estando cada vez mais distante.

Nós não estudávamos na mesma turma, mas sempre dávamos um jeito de nos vermos entre as aulas. Porém, naquela semana, Will estava dando um jeito de não me ver durante os intervalos. No recreio, ele sumia. No almoço, nós sempre nos sentávamos juntos à mesa com nossos amigos, mas naquela semana Will estava sentado em outra mesa, com outros amigos.

Eu vinha levando aquilo "numa boa", até porque às vezes cada um precisa do seu próprio espaço, mas quando Percy - PERCY, a pessoa mais desligada do planeta - veio me perguntar se nós tínhamos terminados, eu notei que realmente tinha algo errado.

No quinto dia de esquisitice do Will, resolvi esperar por ele na saída da escola. Sai da sala dez minutos antes do sinal tocar, apenas para me certificar de que Will não iria sair antes de mim. Fiquei no estacionamento, fazendo questão de permanecer sentado em cima do capô do carro dele. O sinal tocou e alguns minutos depois ele apareceu. Apesar de eu estar relativamente brabo com ele, era muito difícil não se derreter com aquele rostinho, que no momento que olhava com uma cara de Who The Fuck Is Nico Di Angelo?

— Por que você está sentado no capô do meu carro? – perguntou ele de um jeito tão indiferente que chegou a doer.

Me levantei e fiquei frente à frente com ele.

— Preciso falar com você. Por que está agindo desse jeito?

Will estava inquieto; ficava o tempo inteiro olhando o celular, como se estivesse esperando por uma mensagem ou uma ligação

— Desse jeito como? – perguntou ele, pondo o celular no bolso, mas sem retirar a mão de lá — A gente conversa outro dia, tenho que ir agora.

— Por que você tem que ir agora? Vai se encontrar com alguém?

— E se eu for? Você é meu dono agora?

Eu podia responder da mesma maneira grosseira que ele? Podia. Podia dar um chilique sobre o quão grosso ele estava sendo? Podia. Podia começar a chorar e dizer que ele estava partindo meu coração? Podia também, mas algo me dizia que, se eu fizesse qualquer uma dessas coisas, Will seria extremamente grosso, e eu não queria isso, porque sabia que iria me machucar. Tudo o que fiz foi assentir e dar um apertão no ombro dele ao sair. Eu não sabia se eu estava magoado por Will ter sido grosso, coisa que ele raramente era, ou por Will ter sido grosso comigo.

Será que eu tinha feito alguma coisa? Mesmo se eu tivesse jeito, seria mais maduro da parte dele vir conversar comigo, e não agir igual um mané ignorante.

— O artista: Will Solace. A obra de arte: Nico com cara de psicopata. – falou Reyna me dando um susto ao parar do meu lado — O que acha de uma sessão de terapia no nosso parque?

Duas coisas que eu amava: a sessão de terapia e o "nosso parque" - que na verdade era um pequeno bosque perto da casa de Reyna, mas como ninguém ia lá, ele acabou se tornando só o nosso bosque. E a sessão de terapia consistia em ir até esse bosque, deitar sobre uma toalha, reclamar da vida e comer sorvetes e torradas.

— Uma sessão de terapia seria ótima agora.

***

Depois de estendermos a toalha no chão, Reyna e eu nos deitamos e ficamos encarando o céu, que começava lentamente a ficar rosa e amarelo com o pôr do sol.

— Você e o Will brigaram? – perguntou ela encarando o céu.

— Não exatamente. Ele ficou meio esquisito essa semana.

— Ele parecia estar te evitando.

— Exatamente isso. Eu não sabia o porquê dele estar agindo assim, então resolvi ir falar com ele hoje no final da aula.

— É, eu vi. Sei que o relacionamento é seu, mas eu tive que me segurar ao máximo para não ir lá e me meter na discussão. Quem ele pensa que é?

— Will Solace. Eu invejo você por isso. Essa sua capacidade de conseguir discutir com os outros e ir até o final sem chorar é algo realmente invejável.

— É uma questão de sentimentos. Eu nunca briguei com alguém que eu amasse. Se você brigasse comigo, eu choraria.

Grandes declarações de amizade em pequenas frases de sessões de terapia. Eu não sabia se eu amava mais as sessões ou a Reyna.

Continuamos conversando. Não tinha muito o que falar sobre Will e eu, até mesmo porque: naquele momento eu estava bravo com Will, e qualquer lembrança boa - e tinha tantas - me deixaria com raiva dele. Conversamos sobre as aulas, livros e outras coisas assim, até que começou a chover. Enquanto assistíamos Black Mirror, tudo o que eu pensava era em Will. Eu não sabia se era verdade, mas e se ele realmente tivesse um encontro depois da aula? Will tinha muitos amigos, mas nem todos sabiam que ele não era hétero. E mesmo se soubessem, ele estava namorando! Will nunca foi de esconder nada, muito menos de agir daquela maneira.

É comum a gente não passar o resto das nossas vidas ao lado do nosso primeiro namorado, mas isso não precisava acontecer comigo e com o Will, precisava?