Amanhecer: Novos Começos escrita por Sarah Lee


Capítulo 7
Decisões


Notas iniciais do capítulo

Postei e sai correndo! Nos vemos nas notas finais queridxs S2



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788400/chapter/7

Estava me permitindo, depois do que parecia ser uma eternidade, pensar mais em mim e relaxar um pouco. De certa forma, era como se a calmaria tivesse finalmente surgido depois de todo esse tempo de tempestade na minha vida, e eu me sentia otimista, pensando que ela finalmente duraria. O futuro parecia promissor como eu me lembrava, então me agarraria nesse sentimento enquanto eu pudesse.

 Paul finalmente voltou a conviver com a matilha, o que substancialmente melhorou o humor de todos. Apesar dele ser a pessoa mais cabeça quente e feroz que eu já conheci, ainda era um irmão querido, e a família dos lobos não estaria completa sem ele. E também, não podia mentir que uma grande parte minha estava aliviada agora que finalmente conseguimos nos resolver. O que significava um peso a menos na minha cabeça, já que as provas finais estavam finalmente chegando, e com elas, o encerramento dessa parte da minha vida. É satisfatório poder riscar mais esse problema da minha lista, e me concentrar nos problemas da álgebra.

Continuava perdida nos meus livros quando Angela se aproximou da mesa do refeitório, e ao contrário do silêncio e calmaria que normalmente emanava, ela se jogou na cadeira, fazendo muito barulho.

— Eu juro que se tiver que discutir mais uma vez com a Jessica sobre os arranjos florais eu… — Ela abaixou a cabeça, fazendo um som que beirava o descontentamento e a frustração.

— Calma Angel — Tentei consolá-la, mesmo que inutilmente, já que Jessica sabia como tirar qualquer um do sério. Era quarta, e a festa de formatura seria apenas na sexta que vem, o que ainda renderia muito tempo compartilhado entre as duas. — Mais nove dias e tudo isso já vai ter acabado. Tente sobreviver.

— Eu sei, mas é que ela consegue ser tão irritante às vezes.

— Não seria Jessica se não fosse… — E ambas rimos de como isso era verdade.

— Não sei por que aceitei esse trabalho na comissão — Ela continuava com o rosto enterrado nos braços, derrotada.

— Você aceitou porque sabemos que ninguém mais conseguiria colocar ordem nesse grupo. Com certeza Mike não conseguiria.

— Eu nem sei o que ele faz lá afinal! — Mas ambas sabemos por que ele fazia todas essas atividades. De uns tempos pra cá, Mike estava querendo aumentar desesperadamente sua lista de atividades extra-curriculares, e se conseguisse passar mais tempo ao lado de Jessica, então estava melhor ainda. Parece que eles finalmente conseguiram se entender, o que eliminava de vez esse clima de amor não correspondido entre mim e ele.

— Tudo isso vai acabar logo — E de súbito um gosto amargo começou a tomar da minha boca, mas eu impedi mentalmente que ele se espalhasse.

— Você já decidiu o que vai fazer quando nos formarmos? — Angela levantou levemente o olhar para me encarar. — Quer dizer, tem muita coisa para considerar — E ambas sabíamos ao que ela estava realmente se referindo. Como era de se esperar, Angel já tinha se adiantado na sua conversa com Eric, e eles tinham entrado em um acordo, não muito bem aceito pela parte dele, de terminar o namoro. Era ruim, mas ela sabia que não conseguiria manter um relacionamento à distância, e seu futuro sempre foi o fator principal para as suas escolhas. E também, esperar que Eric conseguisse entrar na mesma universidade que ela, era pedir por um milagre. Angela estava considerando entre Oxford ou Harvard, e as notas dele não eram tão boas para conseguir acompanhá-la por mais tempo.

Realmente havia muita coisa para decidir agora, mas eu não fazia a mínima ideia do que pensar. Com todos os acontecimentos recentes, e todo o estresse dos últimos dias, eu nem tive cabeça para parar e avaliar muita coisa. Pior ainda, eu nem tinha falado com Jacob sobre a possibilidade de deixar Forks. Estava tudo tão confuso na minha mente que, às vezes, sentia que não conseguia respirar direito. Eu faria faculdade, provavelmente, sempre fui apaixonada por literatura, então a minha melhor chance seria entrar em alguma relacionada a isso. E quem sabe não poderia ser em Phoenix? Já que a minha mãe insistia veemente em pagar os meus estudos. Mas tanto eu, quanto Charlie, sabíamos que era por causa da proximidade. Mas o principal era Jacob. Como que sustentariamos esse relacionamento de tão longe? Eu não poderia pedir para que ele fosse comigo, pois não havia sentido em mantê-lo afastado da sua família. Da sua “matilha”. E também, não posso desconsiderar o que ele quer fazer, apesar de nunca termos conversado sério sobre isso. Eu sabia que os planos dele se baseiam basicamente em assumir algum negócio da família na reserva, e continuar morando em Forks. Provavelmente ele conseguiria me visitar em Phoenix algumas vezes por ano, mas não é uma certeza. Mas será que seria o suficiente? Será que, após tudo que aconteceu nessa cidade, eu ainda aceitaria voltar para cá quando acabasse os estudos? Provavelmente não, mas pensar nisso fazia meu estômago se embrulhar, de modo que eu evitaria essa reflexão até o último segundo se fosse preciso.

Minha atenção voltou para Angel quando percebi que ela estava com um jornal em mãos, e procurava freneticamente por algo nas notícias.

— Ainda nenhuma pista? — Perguntei, apesar de eu já saber a resposta.

Ela negou com a cabeça. — Não encontraram nada, nenhum rastro, roupas, imagens em câmeras de segurança. Nem um corpo... — Angel engoliu seco. — É como se tivesse evaporado no ar.

Eu sabia que Angela não era boba, ela tinha consciência, tanto quanto eu, de que quanto mais dias se passavam do desaparecimento, menor era a chance de achá-lo com vida. Mas eu ainda tinha esperanças, não sei se conseguiria desistir algum dia de encontrar alguém que eu amo. Porém, temia que o realismo de Angela tirasse isso dela também.

 Pelo o que ela contou, o primo era muito próximo da família, quase como um irmão. Ele vivia indo na casa dela e ajudando na livraria do pai nas férias. Ele era só um ano mais velho, e entraria na universidade de Oxford nesse ano. Estavam todos tão felizes, até que ele foi para um show em Seattle no final de semana, e não foi mais visto.

— Eu sei que vão encontrá-lo Angel — Segurei sua mão, tentando passar um pouco de confiança que fosse. — Meu pai não vai parar de cobrar a polícia de lá até que eles tenham respostas.

— Eu sei... — Ela sorriu, um sorriso cansado. — Vamos continuar procurando — Mas se havia esperança nessas palavras, eu não consegui perceber.

O clima se amenizou algum tempo depois, quando Jessica chegou tagarelando alto na mesa, falando de mais preparativos para a cerimônia. Angela se recusava a mostrar que estava com problemas, pois não queria ser um incômodo para as outras pessoas. Era um sistema de defesa horrível, mas fiquei feliz que, pelo menos comigo, ela conseguia ser mais real. Eu tinha conquistado a sua confiança. E com a tensão finalmente quebrada, eu até me diverti com a situação, ao mesmo tempo que senti pena da Angel, e com suas tentativas de se manter calma enquanto a amiga falava alto sobre cores de fitas, e a festa que ela daria em sua casa após a cerimônia de formatura.

Depois da aula, Jacob estava me esperando no lugar de sempre — Longe o bastante para não ter nenhum contato com alguma garota desconhecida. — E eu não consigo deixar de revirar meus olhos toda vez que eu penso nisso.

— Nossa Bells, você parece acabada — Disse sorrindo, antes de me dar um beijo na testa.

— Que coisa carinhosa para o meu namorado dizer para mim — Tentei brincar, mas essa realmente me magoou. Apesar de ser a mais pura verdade. — Que surpresa que você estivesse solteiro até seus 16 anos.

— Ei! Todos sabem que dezessete é a idade dos relacionamentos, você não pode me culpar se eu escolhi esperar — Eu tentei desviar de seu corpo para me sentar no meu lugar na moto, mas ele me puxou para um abraço apertado antes que eu conseguisse protestar. Então toda minha resistência desapareceu, enquanto sentia o seu calor subir por todo o meu corpo. — Dia difícil?

— Muito... — Sussurrei no seu peito. Apesar de toda a situação na reserva ter se acalmado, eu ainda estava sob muito estresse. O caso do primo de Angela, a formatura chegando, e com elas as provas finais e a escolha para decidir o resto da minha vida. Quem sabe até o futuro do meu relacionamento. Parecia que eu não tinha um dia de descanso nesta vida.

— Quer ficar lá na minha casa? O silêncio da floresta pode ajudar você a relaxar — Senti Jacob sorrir de novo, enquanto ele respirava baixinho nos meus cabelos. — Se continuar tensa assim, eu posso achar que logo você vai virar um lobisomem.

E eu notei novamente que era impossível não ser contagiada pela energia dele, não quando o próprio sol parecia pular do seu peito. O bom humor te envolvia, assim como o calor do seu corpo, então era fácil demais esquecer as preocupações. E quem sabe, eu realmente estivesse precisando relaxar um pouco, a última coisa que eu gostaria que acontecesse é algum tipo de sobrecarga antes das provas finais. E por algum motivo, esse pensamento final me fez corar.

— Eu posso ligar para Charlie e falar que vou me atrasar um pouco para o jantar — Admiti, pois sabia que não adiantava discutir muito com Jacob e a sua cabeça incrivelmente dura.

— Essa é a minha garota! — Ele riu, e deu mais um beijo no topo da minha cabeça. Eu ainda fico impressionada o quanto ele é maior que eu agora, sendo que algum tempo atrás, Jake era praticamente do meu tamanho.

Nós subimos na moto e seguimos na direção da reserva. Eu segurava firme no seu corpo enquanto via o verde passando rápido pelos meus olhos, e percebi, com certo receio, que a alta velocidade não me desagradava mais. Não tanto quanto antes. A sensação de vertigem e medo tinham desaparecido, tornando a viagem mais aproveitável agora. E eu fico pensando quem exatamente eu deveria agradecer por isso. 

Jake me falou, quando chegamos na entrada da reserva, que passaríamos um pouco na Emily antes de irmos para a sua casa, já que os boatos eram de que ela estaria preparando algo realmente delicioso hoje, e que não sobraria mais nada se esperasse até de noite. Não era surpresa nenhuma que o estômago dos lobisomens estava sempre pedindo mais, e eu não podia negar que a energia ainda mais brilhante de Emily seria de grande ajuda nesse momento. Eu poderia pedir a ela conselhos sobre como lidar com essa parte da minha vida que ainda é tão nova. Pois, apesar do alerta de Leah, eu não me deixaria mais amedrontar pelas coisas que eu não conseguiria mudar. Continuaria lutando por quem eu amo, não importa qual o desafio. Então chega de ficar tremendo de medo enquanto as pessoas tomam decisões por mim, e isso também se aplicava a essa situação.

Estava perdida nos meus devaneios quando gritos, que antes deveriam estar sendo encobertos pelo barulho da moto, ficaram mais altos e claros. Meu estômago se apertou instantaneamente quando consegui distinguir a voz de quem estava na discussão.

— Você não pode fazer isso! — Leah berrava. E mesmo nessa distância que estávamos, eu conseguia ver seu corpo tremer violentamente. Enquanto ela falava, Sam se distanciava a passos lentos, mantendo um espaço seguro entre os dois.

— Não é uma escolha nossa — O alfa advertiu, estava visivelmente mais calmo com a situação. Mas o olhar continuava afiado. Os outros meninos, Embry, Jared e Paul, assim como Emily, assistiam de longe na sacada da casa. — Vai acontecer a qualquer momento.

— Deve haver alguma forma — Ela jogou os braços para o ar, e fez menção de avançar para cima do homem que era pelo menos duas vezes maior que ela.

— Pois não tem! — Ele estava mais autoritário. — Então é bem melhor estarmos lá quando acontecer do que deixá-lo sozinho durante o processo! Você deve lembrar como isso é doloroso — Sam passou a mão no rosto, consternado. Parecia que a situação o machucava de mais de uma maneira. — Olha Leah, tente compreender…

Mas ela não fez menção de tentar escutar, em um salto Leah estava correndo na direção oposta, para a floresta. Eu só tive alguns segundos para ouvir suas roupas sendo rasgadas, e ver a cauda do lobo cinza desaparecer por entre as árvores. Os outros nem fizeram menção de perceber a nossa chegada, concentrados demais na briga que tinha se desenrolado à frente. Menos, é claro, Paul, ele olhava diretamente para Jacob agora. Nos dias que passaram desde a volta dele para a matilha, eu sentia que havia algo entre os dois, algo que eles não compartilhavam com mais ninguém. E eu tinha medo demais de perguntar, e talvez desencadear algum problema real, que antes só existia na minha cabeça

Quando todos estavam se recolhendo para a pequena casa de Emily, foi quando voltamos a nos mover também. Só então eu percebi que estava segurando forte demais a mão de Jake.

— Não se preocupe com Leah — Jacob me encarava, ansioso. — Ela só precisa esfriar a cabeça. Logo estará de volta.

— Mas o que foi isso? — Demorei alguns segundos para encontrar as palavras, de tão surpresa que estava com a  situação. Leah podia ser muitas coisas, mas brigona não era uma dessas. Ela preferia se manter impassível e venenosa, eu nunca tinha a visto perder o controle assim.

— É Seth. O irmão dela está com a “Febre” — Ele deu uma conotação estranha à última palavra. E quando viu minha cara de confusão, continuou. —  A “febre”, como chamamos, é a “doença”, a doença do lobisomem. Antes da transformação nós temos sintomas como de um resfriado, nos sentimos indispostos, enfraquecidos, apesar do nosso corpo estar se desenvolvendo em uma velocidade assustadora. Então ficamos mais irritados e mais fortes. E depois disso, nossa temperatura aumenta, como em uma febre, e ela nunca mais baixa. — Ele completou, soturno.

Só então minha ficha caiu, o irmão de Leah estava se transformando em um lobisomem também. Eu tentei me lembrar bem como ele era, no enterro de seu pai, e não imagino aquele garotinho pequeno se transformando em um lobo gigantesco como o resto dos demais, certamente ele teria que mudar muito. — Ainda não aconteceu — Ele completou, talvez tentando adivinhar os meus pensamentos. — Mas Seth já está no último estágio, então não irá demorar muito. Quando a notícia se espalhou, Sam já tratou de verificar o que estava acontecendo. É só uma questão de tempo mesmo.

É óbvio que Leah estaria nervosa, eu sempre a achei protetora demais com o irmão, então é claro que ela ficaria frustrada com a situação. Ver alguém que você ama se transformar em um lobo gigante, e lutar contra criaturas mortais, deve ser algo horrível. E tudo fica ainda pior agora que tínhamos o exemplo real do que aconteceria se um deles cometesse algum erro. A situação de Paul ainda estava terrivelmente fresca nas nossas memórias. Os ferimentos, o sangue, a incerteza se um dia veríamos retomar a consciência, ou se ficaria desacordado para sempre. Eu não desejaria esses sentimentos para mais ninguém.

— E realmente não tem nada que se possa fazer? — Em um momento, eu me imaginei como Leah, vendo um irmão querido sendo empurrado para esse destino perigoso, e senti a dor dela. Mas assim que as palavras saíram da minha boca, eu percebi o quanto elas eram estúpidas. Se existisse algum meio de evitar isso, tenho certeza que Jacob teria o feito tempos atrás.

— Tudo que podemos fazer é vigiar, e fazer companhia quando se transformar. Explicar o que está acontecendo, tentar tranquilizá-lo com a voz do alfa e as lembranças da matilha. — Estávamos parados a alguns metros da casa agora. — Um lobo gigante já é perigoso, mas um lobo gigante e assustado é ainda mais problemático.

— Foi o que Sam estava dizendo — Eu repeti a discussão na minha cabeça, ainda processando a informação. Deveria ser algo realmente assustador, em um momento ser você, depois, ter se transformado em algo que não entendia. Felizmente Seth teria várias pessoas para apoiá-lo. Foi então que uma ficha caiu, e as palavras saíram antes mesmo de eu formulá-las por inteiro. — Por um acaso isso já...

— Aconteceu? Claro, alguém sempre tem que ser o primeiro. — Seu olhar escureceu com as lembranças. — E nesse caso, o “sortudo” foi Sam. — Então eu estava certa, como alfa, e o mais experiente, provavelmente Sam devia ter sido o primeiro a se transformar na reserva. — Como a magia pulou muitas gerações até agora, Sam acabou sendo o primeiro em muito tempo a se transformar, logo ali na floresta — E de repente um flash da minha conversa com Leah veio à tona, ele e Emily, e a cicatriz que marcou todo o acontecimento. — Sem ninguém para aconselhar, ou explicar toda a situação, Sam ficou à beira da loucura por dias. Os instintos gritando com os pensamentos, sem você saber quem realmente é, ou se não está alucinando. Os sentidos aguçados, e as lembranças de quem você deveria ser, tudo muito alto e conflitante. — Ele respirou fundo, o olhar escurecia cada vez mais, com os detalhes da história que contava. — Nas poucas memórias disso que Sam já deixou escapar quando estávamos conectados, eu posso te assegurar, é algo que você nunca irá querer passar na vida. — Ele segurou a minha mão para voltarmos a nos mover. —  Desde então, ele faz questão de estar presente em todas as transformações, para que não passemos por tudo que ele passou.

— É por isso que ele é o alfa então? — Continuei, pensando que deveria ser um dos motivos que o fazem ser tão estimado, talvez a hierarquia dos lobos funcionasse com base no respeito que tinham sobre alguém.

— Quase isso — Ele ficou constrangido por um momento. — É um pouco mais complicado. Te explico depois — Jake terminou a frase quando abriu a porta da casa, e eu consegui ver todos os lobos reunidos na pequena sala de estar.

Eles estavam espalhados, como sempre ficavam na casa de Emily, alguns pares de olhos me fitaram, e muitos sorrisos acompanharam eles. Mas algo estava diferente. Foi então, após um momento de confusão, que eu percebi que havia mais um corpo musculoso lá também. Alguém se sentava despreocupadamente na mesa, me encarando com espectativa. 

Eu o tinha visto poucas vezes, quando Jacob ainda não estava tão envolvido com esse assunto de lobisomens, e ele passava mais tempo com seus outros amigos. Mas era tão óbvio agora, com os músculos gigantescos e a falta de camisa, que Quill também havia entrado para a matilha. Com uma conta rápida, e já adicionando Seth ao grupo, eram ao todo oito lobisomens na reserva.

— Droga! — Jared exclamou, me fazendo desviar minha atenção.

— Pode ir passando — E Embry deu um soco em seu ombro. Jared, a muito contragosto, passou um bolinho para o amigo.

Minha cara de confusão deveria ter sido bastante óbvia, já que Jake se inclinou e cochichou no meu ouvido. — Eles apostaram na sua reação com a chegada de Quill na matilha.

— Eu disse para ele que você não ficaria assim tão surpresa Bella — Embry gargalhava, enquanto comia, e fazia sons exagerados de prazer, o bolinho que ganhou do perdedor.

— Eu devo dizer que também esperava uma reação maior da sua parte — Quill finalmente falou, voltando sua atenção para o seu próprio bolinho na mesa. — Mas parece que eu subestimei o poder da menina lobo — E riu consigo mesmo da piada que fez.

— Desculpe não atender às suas expectativas — Eu não consegui evitar de rir também, e fui logo me aproximando para abraçá-lo. — Bem vindo Quill.

— Eu sabia que Jacob não conseguiria ficar tanto tempo assim longe de mim — Ele me abraçou de volta, e de perto eu consegui finalmente sentir a sua temperatura elevada. Era o calor dos lobisomens.

A situação logo voltou a ficar caótica quando Sam anunciou que havia comprado uma bola de futebol aquela manhã, e não demorou muito para que os garotos estivessem no gramado da frente para jogarem durante algum tempo. Jacob também me implorou para que ficássemos mais um pouco, de modo que eu não tive qualquer relutância em mudarmos nossos planos, pois se o objetivo era relaxar na reserva, eu poderia facilmente fazer isso aqui com a presença de Emily me dando mais energia. Até Paul resolveu se juntar ao restante do grupo, ele havia aumentado duas vezes mais de tamanho nesses últimos dias, coisa que eu imagino que deve ser uma facilidade para os lobisomens, apesar de ainda estar menor que seus amigos. Me peguei em um momento observando a sua cicatriz, e meu estômago pesou novamente. O grande corte que ocupava toda a lateral direita do seu peitoral, do ombro à pélvis, assim como a minha mais nova cicatriz circular na mão esquerda, seriam mais lembretes de momentos difíceis que vivemos, e que nunca seremos capazes de esquecer. Instintivamente eu passei o dedo pela superfície da queimadura, e ainda não me acostumei com a  sensação levemente áspera que a cicatriz me proporciona. Jacob disse que ela lembrava uma “nuvem”, o que me fez rir por algum motivo.

 Então passei o resto da tarde conversando com Emily e Quill, que havia escolhido se abster de pequenos conflitos enquanto ainda não tinha como controlar completamente a sua transformação, ou a sua força elevada. Ele também me contou da sua mudança, de como os sintomas surgiram, e junto a eles, Sam, para ter uma conversa particular. A situação toda acabou não tendo muito impacto sobre ele no final das contas, pois como era filho de um dos anciões da reserva, ele tem um conhecimento vasto sobre as lendas da tribo, as quais ouve desde criança. Ele também enfatizou de como achava que Embry e Jacob eram apenas grandes babacas, por começarem a ignorar ele de uma hora para outra. Mas que agora, sabendo o peso que o segredo tinha sobre as suas vidas, ele até entendia toda a situação.

— O que você disse? — Jacob gritou do meio do campo.

— Eu disse que você é um grande babaca! — Quill gritou, sem cerimônias. E ambos riram da situação.

Os lobos se mexiam rapidamente pelo campo, se trombando e empurrando com uma brutalidade que quase chegava a me incomodar. Mas como pareciam que estavam brincando, e os corpos continuavam livres de tremores, eu fiquei mais tranquila com a situação. Até Quill, que antes estava relutante, resolveu se juntar ao jogo, depois de vários pedidos dos seus mais novos irmãos.

— Isso é bom para eles — Emily completou, como se lesse meus pensamentos. — É bom aliviar o estresse de vez em quando. Não faz bem guardar tanta energia assim.

E eu assenti com a cabeça. Era uma informação importante se eu planejava continuar a minha vida como uma “garota lobo”. E revirei um pouco os olhos pensando como era machista alguém me reduzir a isso.

— É que eles são muitos agora. — Respondi, ainda um pouco preocupada. — Como Sam consegue controlar os ânimos de sete lobisomens?

— Ele me disse que tem algo a ver com a posição dele na alcateia — Ela pareceu um pouco mais pensativa agora. — Por ele ser o alfa e tudo mais, Sam acaba apresentando uma influência maior sobre as decisões dos outros.

— Acho que Jake já tinha me dito algo assim. — Tentei lembrar da situação, mas só tinha uma vaga ideia de que isso tinha acontecido. — Deve ser difícil para ele comandar tantos lobos assim. Deve exigir muito dele.

— Realmente é um trabalho e tanto. — Emily sorria para eles, devia se orgulhar do trabalho que seu noivo fazia com os demais. — Gostaria de ficar assim por mais tempo... — Ela agora apoiava a cabeça nos joelhos, mas parecia levemente triste nas feições.

— Os vendo jogar bola? — Tentei brincar também. — Posso imaginar coisas melhores para fazermos.

Mas ela não estava rindo. Emily apenas continuava a olhar fixamente os lobos que se moviam animados no gramado. O que, por algum motivo, me desconcertou um pouco. Há algum tempo, eu percebi que desenvolvi esse problema, que talvez fosse fruto de todas as experiências traumáticas que eu passei até agora. - Certamente é coisa demais para uma adolescente viver em tão pouco tempo -. Eu não conseguia mais diferenciar as ideias que eram baseadas em uma paranoia louca, e as que surgiam com base em uma intuição adquirida pela experiência. E por mais estranho que a situação parecesse, ela não seria tão desconcertante se não tivesse essa pequena vozinha no fundo da minha cabeça, gritando algo que eu não consegui entender. Acompanhada também de uma sensação ruim na boca do estômago, me dando a impressão que alguma coisa não estava certa. Eu apenas não sabia o que era ainda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Falei que eu voltava e estou voltando.
Tenho alguns capítulos pré-aprovados já, e outros para corrigir. Sinto que agora vai!
Peço desculpas novamente pelo sumiço, mas eu REALMENTE precisava de umas férias da vida. Estava atrasada em tudo mesmo, e esse tempo foi essencial para eu retomar a minha vontade de escrever por exemplo. Então agradeço quem ficou me esperando, prometo me esforçar mais esse ano e finalmente terminar essa fic tão querida por mim. Voltarei com os esquemas dos Extras, e definindo sexta como o dia oficial das postagens.
Então por mais é isso, críticas, elogios ou duvidas podem colocar nos comentários que eu vou amar responder.
Vocês não imaginam o prazer que é estar de volta!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Amanhecer: Novos Começos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.