Amanhecer: Novos Começos escrita por Sarah Lee


Capítulo 15
Extra: O conto do plano de fuga


Notas iniciais do capítulo

Esse cap é apenas um repost, por que vocês não imaginam o quanto ele estava me incomodando na ordem em que ele foi postado (meu toc ainda vai me destruir kkkkk). Além disso, também vou repensar a minha politica de extras para os proxs caps, mas isso já é um assunto para depois.
Enfim, boa releitura ♥



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(Esse conto precede os acontecimentos de quando Bella chega em Forks)

 

Eu via o meu reflexo no pequeno espelho do banheiro, e não me reconhecia. Não com esse grande curativo no lado direito do meu rosto. Eu não consigo me lembrar dos detalhes da noite, ou eles estão muito rápidos, ou fora de foco. Mas do pânico, ah o pânico de ver o que eu vi, acompanhado da dor e a dúvida, disso eu me lembro muito bem. Sue me disse que irá passar com o tempo, mas que eu precisarei fazer terapia para me ajudar com o trauma e a minha nova aparência. Mas talvez o real motivo disso seja para me manter sob controle. Uma pessoa desequilibrada poderia dar facilmente com a língua nos dentes, e eles não querem isso.

Vários rostos conhecidos e desconhecidos vieram falar comigo durante a primeira semana quando eu finalmente acordei. Alguns conhecidos aflitos e distintivos brilhantes. Mas mesmo sedada eu sabia que não podia falar a verdade, pois era tão absurda que seriam capazes de me internar, achando que o ataque teria afetado meu cérebro ou algo do tipo. Porém, se eu aprendi uma coisa depois de tudo que eu já passei, é que eu não posso duvidar de mim, nem por um segundo. Começar a duvidar de mim mesma já foi quase uma sentença de morte, e eu não faria isso comigo novamente. Mas é claro, não quer dizer que eles não tentaram. Sue primeiro falou sobre alucinações e estresse pós-traumático, mas logo desistiu quando percebeu que eu não podia ser comprada com uma historinha qualquer como os outros. Nem nos meus dias mais criativos eu conseguiria imaginar o que eu vi, e ela sabia muito bem disso. Então mudaram a abordagem, e finalmente começaram explicações. A história contada para o “público” foi de algum ataque genérico de urso, e eu estaria mentindo se pensar desse modo não me ajudou nos primeiros dias da recuperação. Porém, foi só quando recebi a visita do Velho Quil, seguido de Billy e Sue, que eu fui posta a par de toda a situação. E a verdade, como eu já sabia, parecia loucura.

 Eu sabia sobre as lendas, e a importância delas para todos os outros. Mas vê-las de perto, e descobrir que elas eram verdadeiras, deu uma nova dimensão do mundo.  Apesar de parecer tão absurdo. Provavelmente Sam não acreditava também, isso antes dele se transformar em um lobo gigante bem na frente dos meus olhos. E agora, bem, me pergunto se ainda conseguirei enxergar pelo olho direito. Sue falou que meu olho não estava totalmente danificado, então eu ainda o tinha. E sobre isso, eu só posso acreditar que foi uma benção da Deusa. Pois, se lobisomens realmente existem, então a Deusa também deveria ser real. E eu me pergunto se outras coisas que pareciam absurdas, não são realidades no final das contas. Mas toda vez que eu entro nessa linha de raciocínio eu fico cansada. É muita informação para a cabeça, e eu me sinto perdendo a sanidade quanto mais eu penso nisso.

Sue também me ensinou sobre uma técnica, que ela usava com seus pacientes que sofreram algum tipo de trauma profundo. Ou seja, eu. Em vez de pensar nas incertezas, eu deveria me concentrar nas certezas. Então, depois de um longo dia de reflexão, eu consegui elaborar três pontos principais. Primeiro, as lendas são reais, e Sam é um lobisomem. Segundo, se as lendas são realmente reais, então há mais perigos que adolescentes se transformando em lobos gigantescos. Terceiro, eu preciso urgentemente sair dessa maldita reserva, e levaria Leah comigo.

Então eu tinha um plano, agora só era preciso colocá-lo em prática, Chamaria Leah para conversar comigo hoje, e irei propor que ficasse comigo por algum tempo em Vancouver. Com sorte, poderia transformar essa curta estadia em algo mais permanente, e ela estaria finalmente a salvo. Leah já tinha 18 anos agora, então se realmente quisesse ir, tenho certeza que ninguém se colocaria em seu caminho. Eu só precisava da desculpa perfeita que a convencesse da mudança, e apesar de ser um pouco cruel, eu também já tinha pensado nisso. Ela estava de luto pelo namorado, e eu esperava que isso fosse o suficiente para tirá-la daqui. As filhas de Billy, Rebecca e Rachel, fizeram o mesmo há algum tempo atrás. Rebecca se casou assim que possível para sair em viagens com o marido, e Rachel conseguiu uma ótima bolsa de estudos. A dor da perda da mãe era tanta, que elas não suportavam mais ficar aqui, então eu esperava que o mesmo servisse para Leah. Na verdade, acredito que Rachel e Becca tenham se safado de uma bala que elas nem ao menos consideravam. Apesar de Jacob ser um doce, ele ainda estava relacionado diretamente a Ephraim, ou seja, não demoraria muito mais para o inevitável acontecer. O grande problema então era a transformação dele. Existem algumas divergências, e é mais provável que Quil também compartilhe do mesmo destino daqui a alguns anos. Mas se meus cálculos genealógicos estiverem corretos, há uma pequena chance de Seth também ser escolhido pelo Lobo. Eu torceria internamente para que o tempo dele passasse sem a transformação, ele tem só 12 anos, então espero que Quil se transforme primeiro para ele não ter que passar por isso. Mas até eu ter certeza, a minha prioridade seria Leah. Se eu jogasse com as peças certas, não precisaria contar sobre o segredo para ela, aliás, também não posso confirmar que ela acreditaria em mim de qualquer forma. Então eu só precisava ajudá-la sem colocar a sua vida em risco com muita informação. Eu não quero deixar Leah se envolver nessa situação toda. Ela está tão concentrada em ser forte para apoiar o irmão o tempo todo, que nem percebe que precisa de cuidados. Eu só precisava convencer ela que Seth estaria bem melhor aqui com os pais, enquanto ela melhora longe dessa loucura. O que de fato era verdade, ou eu preferia acreditar que fosse.

Alguém bateu na porta e eu coloquei no rosto a melhor expressão de dor que eu conseguia, ou a que o curativo me permitia. Eu só teria uma chance, e não poderia falhar. Não poderia falhar com Leah novamente, eu devia pelo menos isso a ela.

— Emily! — Ela gritou e me abraçou quando eu abri a porta. Apesar de seu tom de voz demonstrar preocupação, o olhar ainda era assustadoramente afiado. O que fez uma bola de culpa descer pela minha garganta. — Eu estava tão preocupada.

— Eu estou bem, garota. — Eu retribui o abraço do melhor jeito que consegui. — Tudo vai ficar bem agora.

A chamei para sentar comigo na cama, e conversamos sobre outras coisas até chegar no assunto que eu esperava. Mas devia tomar cuidado, não queria aparecer incisiva ou insistente demais. Leah perceberia que havia algo por trás, a garota é muito mais astuta do que ela deixa transparecer. Eu tinha que parecer desesperada, isso a convenceria.

— A verdade — Comecei, não podia vacilar nesse momento. — É que eu pretendo voltar para Vancouver logo na segunda.

— Mas tão cedo? — A informação causou a surpresa e curiosidade que eu esperava. — E seus ferimentos?

— Eu já estou muito melhor agora, e não quero ser um peso para vocês, de verdade.

— Emily, isso é loucura! Mesmo que você vá de avião, você ainda está no pós-operatório.

— Eu sei, mas também deixei tantas coisas para fazer lá em casa… Eu já não esperava ficar tanto tempo.

— Emily... — Ela segurou minha mão esquerda com firmeza, e me encarou com seus grandes olhos castanhos. — Tem algo que você não está me contando? — A sala vibrava com a expectativa, Leah tinha mordido a isca. Eu me culparia depois de ter me aproveitado do senso desleal de proteção que ela tinha, mas agora eu precisava fazer o que fosse necessário.

— Na verdade… — Eu apertei sua mão em retribuição. Eu não queria mentir para Leah, muito menos machucá-la. Mas eu tinha que protegê-la, eu devia isso a  ela. — É que eu não me sinto mais segura aqui. Você sabe… Depois do que aconteceu comigo, e bem, com Sam. — E espero que um dia os Deuses consigam me perdoar.

Leah paralisou no lugar quando eu toquei na ferida, o nome do namorado ainda estava muito fresco com o sangue dele. Ela não me respondeu, apenas me encarava com os pensamentos muito mais longe.

— Só tem muita dor aqui, e eu não consigo lidar mais com isso. Leah, eu quero ir embora. — Chamei sua atenção de volta para mim, ela precisava entrar no mesmo raciocínio que eu agora, a ideia deveria parecer partir dela mesma para dar certo. — Você consegue se sentir segura? Mesmo agora? Mesmo depois que…

— Pare! — Ela me censurou, dando um pulo do lugar que estava sentada.

— Viu só! Você não se sente, não é? — Eu levantei também, não a  deixaria fugir, não importa o quanto continuar com isso me machucasse. — Agora eu entendo um pouco mais Rachel e Becca.

— Elas são umas covardes! Fugindo das coisas que não conseguem encarar!

— Então eu também sou uma covarde Leah! Eu não consigo mais andar por aqui depois que anoitece por causa de um maldito urso que eu nem cheguei a ver direito. — Mentiras e mais mentiras, elas saiam em fluxo da minha boca. — A questão é que eu não preciso disso, não preciso encarar meus medos a todo momento quando eu não me sinto pronta. Está tudo bem enfraquecer de vez em quando, está tudo bem lidar com as coisas apenas quando estiver mais preparada! — E finalmente disse uma verdade. Algo que eu deveria tê-la dito anos atrás, quando ela ainda era uma garotinha. Pelos céus, esperava que ela conseguisse me ouvir agora. Eu toquei em seu ombro, o que a fez parar. Leah pendia assustadoramente a mão próxima da porta, e eu sabia que se ela saísse antes de tomar a decisão final, tudo estaria perdido. — Eu não preciso ser forte o tempo todo.

— E o que você quer fazer? — Ela deu uma risada sarcástica e se livrou da minha mão. Mas saiu de perto da porta. — Vai simplesmente fugir? E o que eu faria? Iria com você? Está me dizendo para deixar Seth aqui, não é mesmo?

— Não estava dizendo isso! Mas se você quiser eu posso te acolher como sempre fiz. — A proposta tinha sido feita, agora era só não deixá-la considerar muito. —  Eles são seus pais, e não você deles. Eles vão saber se cuidar muito bem, e cuidar de Seth também. Você já foi tão forte, Leah. Acho que está na hora de você perceber que não precisa tomar toda e qualquer responsabilidade para os seus ombros. — E fazendo ela se virar para mim. — Está tudo bem agir como uma garota de 18 anos às vezes.

Ela parou por vários segundos, considerando o que eu estava falando, e por fim, quando seu rosto se contorceu de dor, eu já estava abraçando. Mas mesmo agora, não havia lágrimas. — Eu só… — Ela engasgava enquanto tentava falar, a tristeza transbordando pela boca.

— Shh… Eu sei garota, eu sei. Essa situação toda dá muito medo.

— E Sam… Será que…? — Ela agarrava ainda mais forte a minha camiseta, mas eu já não me importava.

— Não acharam o corpo, então há sempre uma esperança. Ele pode estar em outro lugar, mas você não precisa estar aqui para ver a resolução disso. — E se a Deusa quiser, você nunca irá precisar saber da história toda. — Escute… — Eu levantei seu rosto e passei a mão em seus cabelos. Por um segundo eu me senti muito mais nova, confortando uma garotinha que não existia pelo o que pareciam séculos. E meu estômago se retorceu ao perceber o que eu tinha feito para acabar com essa garotinha. — Passe alguns meses comigo lá em Vancouver, ok? E se você não aguentar de saudade, está tudo bem voltar. Mas eu acho que a distância vai te fazer bem, tirar um pouco das preocupações da sua cabeça vai te fazer bem.

— Talvez você tenha razão… — Ela respondeu quando voltou a se acalmar, e todo o vislumbre daquela garotinha que havia dentro dela, se apagou novamente. Em uma segundo ela tinha voltado a ser a Leah de pensamento friamente racional e olhar afiado. — Provavelmente me fará bem alguns dias para esfriar a cabeça..

— Eu concordo. — E nos levei para a sala de estar, para preparar um chá para nós, aproveitando o alívio que o dever cumprido trazia. Ela estaria a salvo, em três dias, Leah estaria finalmente bem. — Mas no final, é uma escolha sua. Mas lembre-se que eu sempre estarei aqui pra te apoiar Leah, seja lá o que você decidir e…

Eu não tive tempo de completar o pensamento, logo a passos pesados atravessaram a pequena área na frente da casa de Sue, e alguém empurrou a porta com força, a fazendo se obter na outra parede. Seth entrou correndo e suando na pequena sala da família. — Leah! Emily! — O menino gritou entre grandes goladas de ar. — Encontraram Sam, ele está vivo! — Foi o que disse depois de um tempo.

E o único pensamento que eu consegui ter, enquanto via Leah pular do pequeno sofá e seguir desesperadamente o irmão porta afora foi:

— Merda...


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Notas finais do capítulo

Surtos, elogios ou críticas construtivas, estarei esperando nos comentários como sempre ♥



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