Shadow of the Colossus - O Guerreiro e a Entidade escrita por PZero


Capítulo 3
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Wander abriu seus olhos lentamente conforme dezenas de raios de luz gradativamente atacavam seu rosto. Com o braço direito rente aos olhos, o caçador analisava seus arredores a fim de ter certeza de onde estava. O sol acabara de nascer, e assim como o esperado, Wander acordara sob a árvore da noite anterior... Mas mesmo que procurasse com muita atenção, não conseguia encontrar Mono, a garota de branco que conhecera anteriormente. O ruivo se levantou ainda um pouco sonolento, e bocejou alongando-se momentos antes de encontrar alguns caroços de manga ao lado de uma raiz maior que a árvore possuía. Chegando mais perto, contou um total de cinco, mas não se recordava de ter comido todas elas. Sua memória estava um pouco falha... Porém, embora sua mente parecesse querer enganar, era fato que Wander havia rolado por aquela colina, visto que a superfície de sua cabeça ainda doía um pouco no local do impacto. Ainda assim... Como ela havia partido sem que o rapaz percebesse? Como o jovem não se lembrava de ter sonhado qualquer outra coisa enquanto dormia, julgou que provavelmente a existência daquela moça era fruto de sua imaginação; um sonho criado por seu subconsciente para enganá-lo depois de sofrer o acidente sozinho.

Wander suspirou enquanto passava a mão atrás da cabeça. — Talvez eu esteja me sentindo solitário demais... — Disse a si mesmo. O caçador virou-se para o vilarejo e novamente se pôs a bloquear os raios de luz que viajavam até seu rosto, sorrindo por uma razão que nem mesmo ele poderia explicar. — Melhor eu voltar pra casa. — Murmurou.

O ruivo desceu a colina em direção ao bosque, por onde passou alguns minutos caminhando antes de chegar até sua entrada secreta que levava aos estábulos. Os sentinelas estavam sonolentos; felizmente, o final do turno da madrugada durante o nascer do sol era um dos momentos de maior distração para eles. Com o início do dia, os homens de Emon ficavam despreocupados, e graças ao extenso tempo de vigia durante a madrugada, já estavam extremamente lentos e preguiçosos. Bastou procurar o momento certo para correr, passar pelo buraco, e bloquear tudo com folhas e palha. Não tinha erro.

Tudo parecia extremamente normal. Wander entrou nos estábulos a fim de subir as escadas para seu quarto, mas se surpreendeu com Kuba no meio do caminho. O homem de cerca de quarenta anos de idade consideravelmente alto para um Tsa’hik, certamente assustaria qualquer criança em seu caminho... Apesar de não ter um físico muito chamativo, era detentor de um olhar intimidador sempre que surpreendia alguém. Kuba tinha olhos claros e um cabelo castanho escuro médio para trás, além de geralmente deixar a barba crescer mal feita. Naquele dia, ela estava um pouco mais evidente que o habitual. Apesar de ser uma das pessoas mais sérias que Wander já conheceu em toda a sua vida, era possível ver em seus olhos após poucos minutos de conversa que tratava-se de um indivíduo bom e justo.

— Wander... Onde você esteve? — O homem perguntou após um breve momento surpreso. Tinha um misto de preocupação e seriedade em sua voz. — Te procurei por toda a parte ontem à noite... Você não voltou depois do banquete, então tive que colocar a comida dos cavalos sozinho mais cedo. O quê houve com você? — Completou num tom um pouco mais autoritário.

O garoto não esperava encontrá-lo justamente ali... Mas não raciocinou também sobre o fato de Kuba não poder estar fazendo outra coisa caso precisasse compensar sua falta momentânea. — Acabei caindo no sono lá mesmo e só consegui acordar agora... — O ruivo respondeu um pouco nervoso. — Me desculpe, Kuba... Não durmo direito há dias por causa das caçadas. — Ao menos esta parte era verdade... A tensão de estar tão perto de se tornar oficialmente um caçador fez com que Wander perdesse suas noites de sono mais importantes. Talvez por isso não tenha despertado quando a garota de branco partiu durante a madrugada... Não havia como saber. — Não vai acontecer de novo. — Afirmou o rapaz.

Kuba suspirou. — Tudo é uma questão de comprometimento e seriedade, Wander... — Após as ditas palavras, o homem fungou duas vezes enquanto cerrava o cenho. Sua expressão desconfiada assustou um pouco o jovem, que recuou para trás quando Kuba deu um passo adiante. Isso acontecia com frequência... Embora não de modo tão repentino, é claro. O responsável pelos estábulos de Eelry era um homem cujo dom de nascença envolvia um faro impecável. Kuba conseguia detectar os mais diferentes aromas antes de qualquer outra pessoa... Não havia como enganá-lo caso, por exemplo, algum dos cavalos não fosse banhado corretamente. — Que cheiro anormal... Nunca senti nada parecido.

Wander tentou se fazer de desentendido. — O-O quê é agora, Kuba...? Já te disse que passei a noite no...

— Não... — O homem o interrompeu. — Isso é cheiro de manga e grama fresca... Mas tem outro aroma estranho no meio.

O ruivo contorceu um pouco o rosto, estranhando aquele modo de agir. Ainda assim, o cuidador de cavalos continuava fungando. — Kuba... — Wander afastou o rosto, mas não tinha para onde ir, então continuava parado no mesmo lugar. — Isso é um pouco assustador, sabia...?

— É como uma mistura de doce de leite, jasmim, e lírio do vale... — Afirmou o homem, extremamente pensativo. Após alguns instantes, Kuba se afastou e cruzou os braços. Com uma de suas sobrancelhas mais erguida que a outra, já era possível saber o quê ele iria dizer. — Isso é cheiro de mulher.

— Mas que droga, Kuba... Você não consegue sentir o cheiro de algo sem ter que comentar a respeito?! — Wander perguntou, irritado. O rapaz ajeitou o manto cinza e fitou seu chefe com um olhar de impaciência. — Se está pensando que foi por isso que me atrasei, está enganado... Não acordei com nenhuma mulher.

— Mas certamente dormiu com uma. — Disse o homem rapidamente.

— Não, Kuba! Não dormi! — Wander contestou, mais estressado que antes. — Nós podemos começar a trabalhar de uma vez...? Isso é perda de tempo. — Concluiu ele, se afastando para poder pegar uma caixa com diversos materiais diferentes, incluindo uma grande escova de madeira com cerdas escuras. Sem hesitar, o jovem se aproximou de um dos animais dos estábulos e começou a escová-lo. Tinha que subir na caixa para poder ter altura suficiente para fazê-lo corretamente. Era uma égua grande e de pelugem negra. Sua testa tinha o enfeite natural de um losango de cor branca. Dentre todos os animais dali, ela era o maior. — Francamente... — Wander resmungava enquanto dava início ao trabalho.

— Não vi muito da comemoração de ontem... Mas soube que você ganhou a máscara da águia. — Afirmou Kuba, encostando-se ao lado de Wander numa pilastra de madeira que se ligava ao teto. — Seu pai ficaria muito orgulhoso. — Completou, sorrindo. Felizmente havia mudado de assunto.

O garoto suspirou, melhorando seu semblante. Acariciava a égua enquanto escovava seu pelo bem cuidado. — É... Acho que sim. Mas encontrar aquele javali foi um golpe de sorte. — Comentou ao se lembrar do ocorrido. Ainda teria que lidar com muitas congratulações nos próximos dias... Mas poderia se acostumar, afinal, seria bem pior se fossem críticas.

— Bom, com o seu novo dever de caçador, acho que vou ter que procurar outro ajudante em breve... — Embora gostasse muito de Wander, Kuba estava pronto para deixar o rapaz ir desde que o mesmo decidira seguir os passos de seu pai. — Odeio esse tipo de situação. Não é fácil achar pessoas competentes pra esse tipo de trabalho... A maioria trata tudo com indiferença e pouca seriedade. Hoje em dia todos querem ser mais do que meros cuidadores de animais...

— Não pretendo deixar os estábulos. — Afirmou Wander, cortando completamente seu chefe.

Kuba ficou confuso. — Como assim...? Você sabe que é contra as regras de Eelry que um caçador, guerreiro, ou sentinela faça trabalhos além de seu dever principal. Lorde Emon o puniria se descobrisse...

— Sei muito bem da escolha que fiz, Kuba, e é sobre isso que eu queria falar com você... — O ruivo virou-se para o homem de barba mal feita e o fitou com um olhar quase suplicante. Anteriormente havia o dito que precisava conversar sobre algo sério, mas decidira deixar para quando tivesse certeza que se tornaria um caçador de verdade. — Eu estou seguindo os passos de meu pai... Mas não quero deixar de fazer algo que gosto por causa disso. — Wander olhou para baixo como resposta ao silêncio de seu chefe. Kuba não era exatamente uma pessoa exigente... Apenas se preocupava, já que já havia sido um grande amigo do pai do garoto. Por esta razão, o acolheu em sua casa, e o ensinou tudo o que sabia... Kuba deu a Wander um dever, mas nem por isso o impediu de seguir o caminho que queria. — O senhor sabe que eu amo os cavalos... — Sem que ao menos notasse, o rapaz abraçou a cabeça da égua negra. O animal reagiu abaixando um pouco a testa, dócil como sempre quando bem tratada por Wander. — Quero pedir sua ajuda para que me deixe continuar vivendo aqui e o ajudando, Kuba. Sei que pode ser muito, mas... — Após afastar-se, ele então abaixou a cabeça diante de seu chefe. — Eu imploro. Permita que eu continue trabalhando nos estábulos...!

Ao fim das palavras do jovem caçador, Kuba ficou num completo e profundo silêncio. Com os braços cruzados, observava a cabeça baixa do rapaz enquanto mantinha esboçada aquela expressão séria e despreocupada em seu rosto. Por mais que parecesse indiferente, Kuba se importava bastante com Wander. Quando o garoto era apenas uma criança, fora ele quem o acolheu... Kuba ensinou tudo sobre cavalos. Como alimentar, tratar, cavalgar... As diferentes raças, personalidades. Wander se apaixonou pelos cavalos, e mesmo com o jeito estranho de Kuba, se adaptou em viver debaixo do teto de outra pessoa. O rapaz criou seu novo lar ali... Sempre fora bem tratado, e se não fosse pelo grande amigo de seu pai, provavelmente teria sido abandonado e morreria de fome antes que outra pessoa o adotasse para sua família. Claro; o relacionamento entre Wander e Kuba não era o de pai e filho... Mas por ser o mais próximo de uma amizade de verdade, deu certo até aquele momento, e por isso o rapaz sentiu-se confiante o bastante para fazer o pedido.

— Sabe que eu não vou poder esconder isso por muito tempo, não sabe...? — Questionou o homem, coçando a barba por conta de um leve nervosismo ligado ao assunto.

Wander imediatamente levantou a cabeça, sorrindo como uma criança. — Obrigado, Kuba! Eu sabia que poderia contar com você! — Disse animado.

— Tsc... Não fique tão entusiasmado, garoto. Você vai ter que fazer o dobro do que faz para compensar a minha boa vontade! — Kuba brincou, aumentando o tom de voz propositalmente.

— Se precisar eu faço o triplo, senhor! — Wander respondeu, voltando a escovar a égua.

O homem bufou uma risada. — Certas coisas nunca mudam... Termine de escovar todos os cavalos e vá comer alguma coisa. Depois quero que volte e limpe os estábulos... Ainda tem muito trabalho pela frente hoje. — Kuba saiu andando na direção da saída e pegou algumas coisas no caminho, levando-as para perto da porta. Antes de sair de vista, virou-se para Wander com um olhar um pouco mais sério. — Ah... Quase me esqueci. Os cavalos do grupo de transporte irão voltar em cerca de duas semanas. Já me confirmaram que irão trazer mais três robustos que compraram em Hwen no inverno passado. Se eu não estiver aqui, você já sabe o que fazer...

— Mas nós não temos espaço o bastante para mais três cavalos. — Contestou o jovem.

— Emon me pediu através de um de seus mensageiros que sacrificasse Agro caso ela continue se recusando a ser montada. — Explicou o homem. — Tentei convencê-lo, mas foram ordens diretas. Por isso permiti que trouxessem mais um cavalo de Hwen.

Wander pulou de cima do caixote e começou a andar até Kuba. A égua que o garoto estava escovando era justamente Agro... — O senhor vai mesmo deixar isso acontecer? A Agro nunca atacou ninguém... Essa não é uma razão para sacrificá-la!

— Animais trazem custos e ocupam espaço, Wander. Se ela não puder ser montada, de nada adianta continuar alimentando-a e provendo abrigo... Cavalos de guerra gastam muitos recursos. — Kuba tentou argumentar. Na realidade, não concordava completamente com as próprias palavras, e ambos sabiam muito bem disso... Mas havia outra saída? Ordens são ordens, afinal...

— Eu consigo montá-la, Kuba. A culpa não é dela, é dos guerreiros de Emon! São eles que não sabem montar! — O ruivo retrucou, fechando os punhos com força enquanto mostrava um olhar indignado.

— Wander, você é leve como uma pena... Claro que pode montá-la. Sei que se importa muito com essa égua e que cuidou dela desde que a mesma chegou aqui, mas...

— A Agro não é fraca! Um cavalo de guerra não se estressa por conta de peso, Kuba, o senhor sabe disso tanto quanto eu...!

— Garoto...! Você não entende, eu não tenho escolha! — Exclamou o homem, já alterado.

— Todos temos escolha!

Após a frase de Wander, tudo ficou em silêncio. Kuba sabia muito bem que o garoto estava certo... Nada do que ele havia dito estava envolto em equívoco, e por mais que Agro realmente estivesse dando custos desnecessários, não significava que ela não podia ser montada. Nem mesmo Kuba conseguia subir na égua sem que ela ficasse estressada e começasse a tentar ir para todos os lados sem sair do lugar, completamente inquieta. No entanto, a Wander ela obedecia e se permitia ser montada por horas a fio. De todos os animais que o homem teve de domar, ela era a mais confusa de se entender... Agro não parecia gostar de ser tratada por qualquer pessoa que não fosse o rapaz, e por isso Kuba deixou que o mesmo ficasse completamente responsável por mantê-la saudável e em forma. No fim, o jovem acabou se apegando mais do que o esperado pela égua... E os dois se tornaram quase como melhores amigos. Não havia um dia que Wander deixava de mimá-la.

— Sinto muito, Wander... — Kuba disse de repente após o longo remanso. — Não é uma decisão que eu possa tomar... São ordens do próprio ancião. — Completou o homem, claramente triste por ter de dizer aquilo.

Wander abaixou a cabeça, indignado. Com os olhos quase fechados e uma expressão irreconhecível, o rapaz conseguia pensar apenas em o quão injusto aquilo era. — Kuba... Por favor... — O ruivo implorou uma última vez, apelando para o lado bom de seu chefe.

— Me desculpe, garoto. — O homem levou sua mão direita até a cabeça de seu jovem aprendiz, bagunçando um pouco sua cabeleira. — Existem coisas que são como precisam ser.

Conforme Kuba caminhava para fora dos estábulos, o coração de Wander batia cada vez mais rápido. Indignação... Ódio... Tristeza. Um luto antecipado. O garoto havia cuidado daquela égua desde que ela chegara a Eelry; quando ela nem mesmo podia ser montada por ainda possuir pernas frágeis e lentas. Wander a nomeou. Fora o primeiro a conseguir cavalgar sem ser derrubado... Manteve-a saudável em tempos difíceis, e sempre a tratou como algo além de um animal.

Num surto de indescritíveis emoções repletas de angústia, o rapaz correu até a primeira sela que viu e colocou-a sobre a égua. Kuba estava terminando de encaixar a roda de uma carroça recém montada quando Agro passou correndo para fora dos estábulos, fazendo com que o homem caísse para trás em cima de uma pequena poça de lama. O enorme vulto negro havia passado tão rápido, que mal era possível enxergar Wander em cima do animal, que saltou por cima do pequeno muro de pedra que dividia a área aberta dos estábulos do restante do vilarejo. O jovem cruzou quase metade de Eelry sobre a égua, que corria descontrolada quase derrubando a maior parte das pessoas em seu caminho. Na primeira chance que teve, então, Wander a guiou até os portões principais, que encontravam-se abertos para que um grupo de agricultores entrasse com um par de carroças lotadas de batatas, chirívias, e couves. Agro atropelou o transporte de verduras pela lateral, causando uma grande bagunça enquanto os sentinelas se perguntavam o quê estava acontecendo. Tudo se concretizou tão incrivelmente rápido, que nem mesmo viram quem estava montado sobre a égua negra que destruiu os carregamentos vindos das plantações do norte.

Após a fuga triunfal, Wander deu um longo grito com os braços abertos sobre Agro, adentrando o bosque pela estrada principal. Com os olhos fechados, o rapaz sorria de peito estufado tão vivo como nunca. Aquela era a sensação de liberdade que ele realmente prezava; diferente do falso sentimento no qual mergulhava toda vez que saía para uma caçada com seus companheiros. Não havia um dever naquele momento. Não havia um propósito sério ou formal. Apenas a mais pura e genuína sensação de estar vivo; algo semelhante ao que a garota de vestido branco havia mencionado na noite anterior.

Sim... Por alguma razão Wander se lembrou dela. O mero ato de imaginá-la diante de si causava no rapaz algo próximo ao que estava vivendo naquele instante único. Uma profunda vontade de continuar ali por toda eternidade; de continuar sentindo-se daquela maneira... Mais e mais... Como um vício incontrolável pela vida. Com tantos sentimentos presos no peito, gritar parecia ser a única saída, e após tanto cavalgar para longe do vilarejo, o jovem caçador riu como nunca antes. Agro parou rente a um pequeno riacho, relinchando enquanto balançava a cabeça. Não havia se cansado, mas como a água a impedia de continuar, ali parecia o lugar perfeito para se descansar. Wander saltou de cima da égua, e a acariciou até a cabeça, olhando em seus olhos negros por um longo momento. Sua respiração ainda estava ofegante... Mas não havia qualquer resquício de aflição no rapaz.

— Não vou deixar que nada te aconteça, Agro... Eu prometo. — Disse o ruivo num tom de voz mediano, sorrindo. Ainda um pouco eufórico pela corrida, olhou para o riacho respirando fundo. — Nós vamos dar um jeito nisso... Não importa como. — Ao se virar, ele deu uma breve risada. — Mas acho que depois do que eu fiz hoje, é bem provável que Kuba ameace me botar pra fora! — Wander se aproximou novamente de Agro e acariciou a égua perto da boca. Seu relinchar mais suave e o olhar sereno mostravam que havia rapidamente se acalmado da corrida, mas o dia estava só começando. — Você se saiu muito bem lá atrás... A recompensa de hoje é liberdade total! — Sem hesitar, o rapaz correu até a lateral da égua e saltou para cima de sua sela, puxando as rédeas com força para que ela erguesse as patas dianteiras. Sempre que fazia aquilo, Wander sentia que poderia realizar qualquer feito! — Liberdade! — Gritou antes de fazer Agro disparar bosque adentro.

Conforme a égua cavalgava por entre as árvores, diversas folhas flutuavam para todas as direções, criando um cenário quase mágico a qualquer um que fosse capaz de ver a cena com clareza. Mesmo com seu tamanho quase exagerado, ela esquivava de todos os troncos e arbustos, conseguindo enfim chegar até as planícies que rodeavam a região ao norte de Eelry. Mesmo já tendo passeado por aquele lugar algumas vezes durante suas caçadas instruídas, Wander nunca foi àquele lugar na primavera. Era simplesmente lindo... Um enorme campo munido de dentes de leão tomava conta da visão do rapaz, que não hesitou em bater as pernas para que Agro aumentasse sua velocidade. A égua então saltou para dentro da lavra, e iniciou uma corrida absurdamente veloz, começando a cruzar por entre as pequenas plantas brancas enquanto fazia com que suas folhas minúsculas decolassem pelos ares. A paisagem aos poucos se tornou única e cheia de movimento. Como se os pequenos flocos nos ares estivessem vivos... Tão vivos quanto o cavaleiro e sua fiel companheira sendo seguidos brevemente pelo voo baixo de uma curiosa águia.

Temendo voltar para Eelry cedo o bastante para ser punido no mesmo dia, Wander decidiu permanecer nos campos pelo restante do dia, cavalgando por diversos locais antes de se deitar num local plano para descansar enquanto olhava para as nuvens brancas. Quando estava com fome, bastava buscar algum fruto na copa de uma árvore ou no chão. Se precisasse ficar longe da civilização por mais tempo, poderia armar uma barraca improvisada... Criar uma lança com madeira, pedra, e fibra, e pescar em algum lago ou riacho... Quem sabe caçar algum animal maior e mais suculento? Não havia qualquer razão que não fosse ligada ao moral e ético para que Wander voltasse a Eelry. Se bem quisesse, sobreviveria facilmente da natureza... Então, ‘’por que retornar?’’, ele se questionava, se ali se sentia tão livre e vivo... O fantasma de seu pai; supostamente ansioso por honra e satisfação, o chamava de volta, e estas eram as correntes que o puxavam para casa. Na verdade, aquele não era seu lugar... Mesmo sendo tão grato por Kuba e Skjor... Por tudo o que eles fizeram... A floresta era seu verdadeiro lar. Tão perto... Mas tão longe.

As horas se passaram, até que Wander notou que o sol estava perto de se pôr. Agro parecia cansada, mas ainda tinha mais do que o suficiente para que ambos pudessem retornar em segurança. O rapaz montou na égua e começou a fazer o caminho de volta, ficando cada vez mais tenso com o fato de ter quebrado uma regra extremamente importante. Além de ter roubado um animal que era propriedade do ancião e de seus guerreiros, o jovem caçador deixou Eelry de lado sem qualquer necessidade vital. Causou danos e alarde na entrada do vilarejo, e não retornou assim que possível. Sem dúvidas sofreria a maior punição de toda a sua vida... Já estava pensando em quantas varetadas receberia nu em um poste quando se lembrou da noite anterior, quando conversou com a misteriosa donzela de branco que cantava como um pássaro enjaulado. Não havia razão para não buscar encontrá-la novamente... Mesmo se ela não fosse real, ao menos a vista de cima daquela colina seria o que fecharia a noite do rapaz com chave de ouro, e foi por esta razão que Wander seguiu até a mangueira acima do nível do bosque, escalando o terreno íngreme com alguma dificuldade ao lado de Agro. A lua já se encontrava atrás das nuvens claras quando o ruivo alcançou a árvore coberta de musgo... E lá estava ela; tão incrivelmente bela quanto na primeira vez que o jovem a vira.

— Você...

Wander chamou a atenção da garota, que se virou em sua direção lentamente conforme o vento tentava empurrar suas vestes para longe. Seu vestido era idêntico ao da noite anterior, porém, encontrava-se completamente limpo e em perfeito estado. De alguma forma, ela estava tão radiante quanto no primeiro momento em que o caçador a vira, e seu olhar sincero acompanhado de um singelo sorriso no rosto, era altamente recompensador.

— Você veio...! — Mono disse num tom suave, começando a caminhar aceleradamente na direção de Wander. Quando estava a alguns metros dele e de Agro, ela parou. Não parecia assustada com a égua... Mas hesitava em se aproximar mais, afinal, as duas ainda não se conheciam.

— Não precisa se preocupar, ela é mansa quando está comigo... — O rapaz afirmou após abrir um sorriso, instintivamente se aproximando da garota.

Mono ficou olhando para a égua por longos segundos até enfim tomar coragem para chegar perto e acariciá-la na lateral da cabeça. A jovem aproximou sua mão lentamente do pelo escuro do animal, que não reagiu de modo hostil como geralmente fazia diante de estranhos. Com Wander por perto, Agro costumeiramente mantinha o controle... Mas infelizmente isso não era o suficiente para que fosse aceita como montaria para qualquer guerreiro sério, afinal, o garoto não poderia ser carregado numa bolsa junto da égua. De algum modo, Mono reagiu muito bem ao seu primeiro encontro com Agro... Mesmo não estando acostumada com animais, visto que de acordo com ela mesma nunca antes tocara num cavalo, seus movimentos fluíam do mesmo modo que com o rapaz. Sempre harmoniosos e tênues...

— Acho que ela gostou de você... Isso é raro. — O ruivo afirmou, contente.

— Como ela se chama? — Indagou a garota.

— Agro. — Wander respondeu, dando dois tapas de leve no animal. — É uma égua de guerra... Mas ela nunca entrou numa batalha. Talvez seja por isso que é tão dócil quando os outros a tratam bem. — Comentou, também acariciando-a.

— Ela é linda... — Mono falou antes de tocar sua testa em Agro, afastando-se devagar em seguida. — Mas sempre imaginei caçadores usando cavalos menores.

Wander riu. — Ah, não, ela não é minha... Eu trabalhava nos estábulos antes de me tornar oficialmente um caçador. Bem... Ainda trabalho, na verdade... Mas acho que vou ter que deixar isso de lado muito em breve. — Explicou, suspirando ainda com um sorriso no rosto. Lembrar-se daquele fato não era nada agradável... Mas ao menos o rapaz estava tentando ser gentil e amigável, afinal, pessoas deprimentes geralmente não são bem vistas. Após ditas as palavras, o ruivo começou a caminhar para perto da árvore no centro da colina, soltando completamente Agro sem se importar se estava dando ou não liberdade demais. Como a conhecia muito bem, sabia que a égua não fugiria numa circunstância como aquela. — Hoje acabei fazendo uma loucura antes de vir pra cá... Talvez eu tenha cometido um grande erro.

— E você acha que valeu a pena...? — Questionou a moça, encostando-se na mangueira enquanto fitava Wander com um pequeno sorriso no rosto e um olhar enigmático.

O rapaz pensou na resposta por alguns instantes... Mas ao se lembrar do próprio brado durante o cavalgar para fora de Eelry, as palavras escaparam de sua boca de imediato. — Com certeza...! Acho que nunca me senti tão vivo desde que nasci! — Falou com entusiasmo. — Você quer saber como foi?

Mono permaneceu quieta por um curtíssimo momento antes de assentir com a cabeça enquanto dizia que sim, liberando um tom de voz que emanava absoluta animação.

Os dois se sentaram sob a árvore de tronco esverdeado, e Wander começou a contar desde o princípio como escapou de Eelry de modo bombástico e completamente improvisado, entrando em detalhes sobre toda a adrenalina que sentiu durante o percurso cavalgando em Agro. Mono pareceu completamente imersa nas cenas que aos poucos imaginava, se vendo no lugar do rapaz sempre que possível. Como a noite já havia caído, seria loucura até demais se os dois saíssem dali para cavalgar... Além do perigo que a própria escuridão poderia representar, animais selvagens eram passíveis de estar em quase qualquer moita, e este seria um risco grande demais para se lidar, ainda mais estando Wander desarmado. Mesmo assim, o ruivo fez o possível para descrever a sensação de estar em alta velocidade com o vento batendo em seu rosto, e isso pareceu ser o bastante para suprir a necessidade da garota de entender o quê o coração do rapaz sentia sobre adrenalina. Sendo uma moça tão calma e serena, Mono dificilmente compreenderia completamente sem sentir algo assim na pele... E por isso Wander prometeu que algum dia os dois cavalgariam juntos pelas planícies da região.

Conforme o caçador falava sobre si, o rumo da conversa aos poucos mudava, e seu foco logo se tornava a vida diária do rapaz. Inclusive seus impasses... Wander raramente tinha a oportunidade de se abrir com outra pessoa, e saber que Mono não teria razões para rir de seus dramas e ambições, trazia certo conforto ao desabafar sobre seus problemas. Skjor fora um grande amigo de seu pai, e se importava bastante com o filho do falecido maior caçador de sua geração... Mas não era uma pessoa tão próxima assim do garoto, e jamais compreenderia sua vontade de ser livre ao invés de passar a vida caçando e buscando ser melhor. Já Kuba, por mais que tivesse um grau maior de intimidade com Wander e grande tolerância sobre suas opiniões, não apoiava o desejo do rapaz de viver fora de Eelry, já que era algo completamente fora de sua linha de raciocínio sobre o que é ter uma vida digna e saudável. Para ele, o importante era continuar mantendo os costumes Tsa’hik, independente do trabalho exercido.

— Naquela hora eu senti tanta raiva... — Wander dizia, olhando para a grama verde escura no solo fértil da colina. — Ele falou como se eu só devesse... Aceitar as coisas como são... Sem fazer nada a respeito. — O rapaz suspirou, colocando uma das mãos na cabeça, claramente envolto em impaciência ao lembrar-se da atitude de Kuba.

— E o quê você vai fazer para ajudá-la? — Perguntou Mono, juntando os joelhos na frente do peito enquanto fitava o jovem caçador.

— Ainda não sei... — Ele respondeu. — O quê aconteceu hoje foi um erro impulsivo... Quando eu retornar, provavelmente vou ser punido até o amanhecer. — Afirmou então, olhando de canto para a garota. Wander inevitavelmente sorriu. — Mas eu já esperava por isso... É o quê acontece com todos que saem sem permissão, afinal.

A moça virou seu rosto para baixo, bastante pensativa. Por alguns instantes, não emitiu som algum... Era como se sua mente estivesse vagando numa névoa densa de pensamentos extremamente divergentes. — Não acho que querer ser livre é algo errado. — Ela falou com um pouco de timidez. — Todos deveriam ter o direito de ir e vir... Ás vezes eu penso que poderia trocar tudo o que é importante pra mim por um dia de liberdade.

A forma como Mono olhou para as nuvens naquele instante, fora a mais inigualávelmente única que Wander poderia vir a imaginar. Como se almejasse estar lá; flutuando pelo céu escuro, a garota viajava com suas íris pelos mais diversos tons de cinza, imaginando tudo o que poderia vir a fazer se fosse tão livre quanto um aglomerado de cristais de gelo nas alturas. Aquela ânsia pelo direito de escolher os próprios passos era quase contagiante...

— Se eu pudesse fugir da tribo com Agro pra qualquer lugar onde eu fosse livre... — O caçador dizia, também olhando para a beleza da noite. — Acho que eu não me arrependeria e nem teria vontade de voltar atrás. — Mono o fitou novamente, analisando cada feição em seu rosto conforme Wander imaginava como seria sua vida além dos muros de Eelry. Havia curiosidade no olhar da garota... Mas também inveja, afinal, ele tinha a chance de fazer algo assim, e ela não. — Sabe... — Voltou a falar o rapaz. — Hoje eu estive pensando se eu deveria ou não deixar de lado o arco e voltar a ser só um cuidador de cavalos. Kuba me disse que eu não poderei trabalhar nos estábulos por muito tempo, e por isso não tenho certeza se estou fazendo a escolha certa...

— O quê seu coração te diz pra fazer...? — Indagou a garota de cabelos negros.

Wander respirou fundo, coçando a cabeça em seguida. — Não faço a menor ideia... Se ele está dizendo algo, eu não entendo a língua. — Brincou. — Ultimamente eu sinto que só tenho vivido seguindo uma trilha contínua e sem fim. Você consegue entender o que eu digo...?

Ao virar-se para Mono, Wander se deparou com um olhar triste e irreconhecível. Com as sobrancelhas levemente arqueadas com as pontas de dentro para cima, ela fitava o bosque escuro expressando absoluta melancolia. O rapaz se lembrava de anteriormente ter perguntado a ela a razão de estar visitando aquele lugar durante a noite. Mono havia afirmado que não podia sair de casa, mas não se aprofundara na razão para tal. Existiam inúmeras possíveis explicações para este fato, mas definitivamente o jovem caçador não conseguia pensar numa que se encaixasse naquela garota. Mono era linda, inteligente, e extremamente talentosa cantando. Por que alguém assim viveria em isolamento? Além de a moça não parecer doente, Wander desconhecia qualquer família em Eelry com rumores de confinar uma pessoa tão nova dentro de casa.

— Mono... — Num tom de voz mais suave e amigável, o rapaz chamou sua atenção. — Por que você não pode sair de casa?

A garota teve um leve espasmo, se assustando com a pergunta. Desviou seu rosto, hesitante... Mas após alguns instantes, virou-se novamente para Wander com a finalidade de respondê-lo. — Meu pai diz que é melhor assim... Que algumas pessoas vivem para fazer o bem ao mundo, mas que só podem concluir esse destino em isolamento.

Wander não esperava por uma resposta como aquela. A princípio, não entendeu exatamente o quê a jovem quis dizer, mas se arriscou a opinar. — Você não está me fazendo mal algum... Não entendo como o isolamento de alguém possa ser bom para o resto do mundo se essa pessoa não for má ou cruel.

— ‘’Há coisas ruins que estão além da índole humana’’... — Então afirmou ela, de olhos fechados. Assim que suspirou, Mono fitou o caçador com um pouco de seriedade em seu rosto. Não era como se ela concordasse com aquilo... Mas era algo que provavelmente já lhe fora dito muitas vezes.

O rapaz cerrou o cenho, irritado com aquelas palavras. — Isso não faz o menor sentido! — Exclamou em negação. — Tenho certeza que você é uma pessoa maravilhosa... Por que traria algo de ruim a alguém?

Mono permaneceu pensativa por um momento, e após certo tempo de reflexão, a garota se levantou e caminhou alguns metros adiante. Em pé e de costas para Wander, ela observava o vilarejo, completamente estática. O coração do rapaz se estremeceu então ao escutar aquela belíssima voz novamente. A mesma melodia que agraciara seus ouvidos na noite anterior, quando encontrou a donzela de branco pela primeira vez. Sua voz era gentil como uma brisa, e melancólica como o canto de um pardal cujas asas foram arrancadas.

Ao pôr do sol eu sinto...
Uma emoção.
A ânsia de um destino...
Sonhado em vão.

Além estão as respostas.
Além estão as origens.
Além está meu medo.

Sob o luar contemplo...
Antigas penas sobre o chão.
Minha esperança sumindo...
Numa última canção.

Seus olhos me glorificam.
Minhas asas os justificam.
Se encantam com meu suplício.

Além do marfim...
Sei que há um céu sem fim.
Nele um dia irei voar...
Se destinado a mim houver um lugar.

Ao fim da melodia, um silêncio agradável tomou conta da colina. Durante toda a canção, Wander permaneceu calado e atento a cada palavra e sentimento expressado. As frases de pesar e melancolia eram como farpas insistindo em tentar perfurar a pele, enquanto as de esperança e fantasia traziam consigo uma sensação de leveza e regeneração de espírito, algo que o rapaz jamais imaginaria sentir através de qualquer música. A voz daquela garota era diferente de tudo o que Wander já havia presenciado em toda a sua vida. Um equilíbrio perfeito entre a música usada como forma de comunicação, e a ária artística como um todo. A harmonia entre os tons era perfeita, e até mesmo nos breves momentos onde uma curta menção de choro manifestava-se, havia total perfeição musical, e uma razão para tal comportamento durante a canção. No fim, tudo fez sentido para Wander, e a melodia de Mono fora o suficiente para que o jovem captasse tudo o que as profundezas de sua alma desejavam compartilhar.

A donzela de branco virou-se lentamente para o caçador. Apesar do sorriso, seu rosto parecia derreter naquele triste olhar. — Desculpe... — Mono disse enquanto limpava os olhos. — Ás vezes eu choro sem motivo.

Wander se levantou rapidamente, dando alguns passos adiante. Havia um misto de tristeza e determinação dentro de seus olhos. — Sei que existe um lugar pra você nesse mundo. — Afirmou conforme seu coração afundava naquele turbilhão de sentimentos confusos e intensos. Tais palavras; proferidas por uma voz trêmula e levemente hesitante, fizeram com que a garota, surpresa, reerguesse sua cabeça. — Você não está sozinha. — Completou o caçador, sorrindo após acalmar-se por um momento.

Mono permaneceu imóvel com as mãos rente ao peito assim que o rapaz terminou sua frase. Suas bochechas, coradas como nunca, apontavam que a jovem estava mais do que surpresa, e que definitivamente não esperava um grau de empatia tão alto vindo de um estranho que conhecera na noite anterior. Por mais que não soubessem tanto um sobre o outro, a ligação entre eles era visível até mesmo aos dois, e por este e outros motivos, o ruivo sentiu-se na necessidade de dar a aquela moça uma luz de esperança. Diferente dele, não havia pessoas em sua vida que a apoiassem. Nem mesmo seu próprio pai... Se ao menos pudesse fazer a diferença na existência de outro alguém; independente de como executasse tal ato, já estaria valendo à pena. Além do mais... Mono também havia o ajudado.

— O-Obrigada... — Agradeceu a garota, desviando o olhar enquanto juntava um pouco mais as pernas. O rapaz havia basicamente acabado de prometer estar ao lado dela para o que precisasse, e isso significava muito para a jovem; ainda mais vindo de alguém que não hesitara em protegê-la quando estava em perigo. Mono ainda era grata pelo que Wander fizera na noite anterior quando os dois rolaram colina abaixo. Ambos ficaram calados por longos dez segundos antes que a donzela de branco se aproximasse do caçador de cabelos ruivos e tocasse em suas mãos. Os dois ficaram parados olhando um para o outro por uma falsa eternidade então. — Se você prometer que nunca vai me deixar só... Eu prometo que sempre vou estar com você. — Afirmou ela, parecendo estar falando muito sério apesar da fragilidade em seu tom de voz.

Wander não soube como reagir de imediato. Seu coração estava rápido como o de um cavalo no auge de sua corrida, e suas pernas faziam menção de começar a tremer a cada suspiro que o rapaz dava. — E-Eu...! — Não era fácil dar uma resposta direta e rápida numa situação como aquela. Após consertar sua postura e respirar fundo, ele juntou as mãos da garota entre as suas, e fitou aqueles belos olhos diante de si. — Eu prometo. — A respondeu com seriedade e segurança.

Aquele havia sido um voto sincero de amizade e cooperação. A partir dali, ambos se apoiariam quando precisassem, e mesmo que o mundo estivesse contra os dois, eles estariam juntos carregando os fardos um do outro sempre que fosse necessário. Assim como Mono, Wander nunca teve um amigo o qual prometera estar ao lado para sempre. Aquela noite era como um sonho antigo e distante se tornando realidade... Não havia malícia ou interesse pessoal naquela promessa. Apenas empatia e afeição platônica.

Assim que voltaram para perto da mangueira, os dois se deitaram diante da árvore enquanto observavam as nuvens se afastarem umas das outras até revelarem as estrelas que antes se encontravam em sua maioria ocultas pelos tons de cinza no céu. Conversaram por horas... Compartilharam seus medos, seus sonhos... Situações tristes, momentos engraçados. Até mesmo seus mais profundos anseios; aqueles que se perderam diante da aceitação há muito tempo atrás. Eles se despediram quando Wander afirmou que era hora de voltar. O rapaz ressaltou que cumpriria com sua promessa, e ambos concordaram em a partir da noite seguinte, se encontrarem sempre que o sol deixasse o céu. A partir dali então; sob a luz do luar, seus destinos entrelaçados se tornaram um.


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