Apocalipse semideus escrita por Milordcentriado


Capítulo 2
28 Dia




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Era quase manhã, isso Vitória sabia. No relógio da sala já era quase seis horas, se existisse sol ele nasceria em instantes. Provavelmente irá nascer, porém não seria visto. Não pôde dormir, apenas cochilou em alguns momentos.  Estava deitada no colchão que colocara no canto da sala. Queria ter dormido no quarto, mas o corpo da coisa estava lá. Olhou para o lado e viu sua mochila com alimentos necessários da dispensa daquele lugar.  Se levantou e com cuidado espiou pela janela. Viu a entrada do condomínio e viu que algumas coisas andavam lerdas. Faltava pouco para chegar no parque, sentia que deveria estar lá. Abriu a mochila e pegou sua agenda e marcou a data 28 de abril. Quase um mês. Nunca esqueceria do dia 1 de abril. Um dos inúmeros motivos de não conseguir dormir.

Naquele dia tinha pegado o metro. Era uma manhã indo ao trabalho. O vagão escolhido não estava tão cheio, agradeceu por ter esperado o próximo e ter ido para o último vagão. Pegou o seu livro “Dom Quixote “ e colocou sobre o colo para lê-lo. Uma criança chorava no colo da mãe, ela revirou os olhos como qualquer pessoa normal faria. A criança chorava muito, olhou na direção dela e viu que sua mãe tentava acalmá-la e sua irmãzinha tentava ajudar a mãe, tentava, pois, era patético aquela situação. Vitória esboçou um sorriso. A criança no colo da mãe deveria ter pelo menos 1 ano e a menina, pelo menos 5. O metro tinha parado na estação Santa Efigênia e Vitoria viu o shopping Boulevard e se lembrou da noite passada com o seu namorado, havia assistido um filme e ela tinha ido pra casa dele. Grande noite, lembrou ela.

O metro continuou em direção ao centro da capital. Vitória percebeu que todos próximos a mãe da criança tinham se levantado e olhou novamente e algo lhe fez se sobressaltar. A menina estava mordendo a cara da criança que chorava. A mãe tentou tirá-la, porém foi mordida. Todos estavam assustados. As pessoas começaram a se aglomerar em volta. Vitória encostou na parede do fundo do metro. Com uma mão segurava o livro e com a outra a mochila. O metro parou na estação central e a porta se abriu. Vitória correu, porém, tropeçou no vão da plataforma e caiu. As pessoas apenas queriam entrar e não deram importância para a pessoa que estava no chão. Vitória olhou e viu que tudo no metro estava normal, olhou para a janela e viu a mãe e suas duas filhas tranquilas. Vitória começou a chorar e ficou olhando a porta do vagão que estava se fechar e quando olhou novamente viu o momento exato que a menina mordeu o rosto da irmã. A visão não durou muito tempo, o metro havia partido. Vitória levantou e levou a mão ao bolso. Tentou ligar para o namorado, mas ele não atendeu. Subiu as escadas do metro e saiu de lá. Correu até a praça sete, entrou no edifício onde trabalhava e tentou se acalmar. Uma sensação horrível percorreu o seu corpo. Começou a ter uma crise de pânico. Tentou respirar. O elevador parou no 8 andar e quando a porta se abriu um homem todo acinzentado tinha pulado pra cima de si, Vitória gritou e conseguiu sair do elevador, a coisa veio em sua direção, Vitória viu um extintor de incêndio e o pegou, o homem veio pra cima dela e bateu o extintor em sua cabeça. Sangue jorrou daquele crânio. No final do corredor Vitória viu uma mulher caída no chão se contorcendo. Correu para ajudar. Outras duas mulheres gritavam, possivelmente estavam aguardando alguma entrevista. A mulher no chão parou de se contorcer. Vitória se levantou, sabia o que viria em seguida. Olhou para as duas mulheres.

— Fujam. – Disse ela saindo dali.

Mas já era tarde, a moça que estava no chão se levantou e mordeu o pescoço de uma das mulheres, a outra tropeçou e caiu no chão aos prantos. Chorando. Vitória queria correr para fora do prédio, mas sabia que não deveria. Entrou novamente no elevador e apertou o 28° andar. Apenas uma imagem se formou na sua cabeça, um local cheio de arvores na orla da lagoa da Pampulha. Conhecia aquele lugar, mas ignorou o pensamento. Pegou o celular novamente, viu que estava sem ...

Vitória se levantou do colchão que estava. Ouviu batidas na porta.

— Alguém ai??? – Abre a porta. Socorro. – Disse uma voz masculina.

— Não idiota. – Disse Vitória baixinho. Se levantou com cuidado e foi para a cozinha pegar água. Sabia que tinha que dar o fora dali. Ele iria atrair aquelas coisas.

A porta continuou a bater. Vitória tentou fazer o mínimo de barulho possível, já estava craque naquilo.

A porta continuava a bater.

Vitória foi até o quarto e viu que a coisa está no chão com a cabeça esmagada. Olhou para a parede e viu novamente foto da senhora junto com uma mulher que poderia ser muito bem sua filha.

O som na porta parou. Vitória ficou mais relaxada. Agachou e pegou o cabo de vassoura que ela tinha utilizado para enfiar na cabeça da coisa no chão. Tinha usado uma faca para criar uma ponta.

Vitória se sobressaltou. O homem começou a chutar a porta. Como se quisesse arrombá-la. Vitória correu até a sala. Pegou sua mochila e guardou o que estava fora. Colocou o cabo amarrado nela e foi até a sacada ao lado da janela. Viu que estava no oitavo andar, lhe fez lembrar de Clarice Falcão. A porta continuava a ser chutada. Olhou para baixo e viu algumas coisas se aglomerando na entrada do prédio que estava. Aquele barulho todo estava chamando-as. Vitoria olhou para o andar de baixo e viu a outra sacada, do apartamento a esquerda e resolveu arriscar. Subiu na borda, se segurou como pôde e pulou. Seu pé bateu no parapeito da outra sacada e quando caiu torceu-o. Segurou o grito de dor e se levantou. Olhou para o apartamento e viu que estava vazio. Olhou rapidamente para cima e não viu nada. Foi tudo muito rápido, não sabia o que poderia fazer. Se ficasse ali morreria, se isso para o corredor morreria. Se descesse pulando os andares. Morreria. Da sacada do 7° andar Vitória olhou para uma fumaça. Vinha do supermercado em frente. O Carrefour estava pegando fogo. Uma sirene tocou, Vitória olhou para baixo e viu as criaturas saindo do prédio e avançando para o portão do condomínio. Todas derrubaram o portão. A rua estava cheia daquelas coisas descendo. Possivelmente todas iriam para o supermercado em busca dos responsáveis. Com certeza era mais de um. Vitória aproveitou a oportunidade e entrou no apartamento com o cabo em mãos. Não tinha nada. O que preocupava ela era o visitante no andar de cima, nunca confiou muito em homens e agora no apocalipse menos ainda. Saiu em direção ao corredor e não encontrou nada. Seu pé doía, mas a sua vontade de sair de lá era maior ainda. Vitória virou o corredor em direção as escadas e ouviu passos atrás de si, desceu as escadas correndo. Ao sair do prédio alguém que a esperava acertou a sua cabeça fazendo-a desmaiar.


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