Legends escrita por MusaAnônima12345


Capítulo 3
O Sol da Esperança


Notas iniciais do capítulo

Postado dia 04/04/2020.



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Sábado – 11:34 da manhã

— Rapunzel? – ouço alguém chamar atrás da porta do meu quarto e bater logo em seguida.

— Só... – digo, me esticando um pouco mais na minha escada para terminar de pintar o meu novo quadro. - ...Um minutinho...

Quando a porta se abre subitamente levo um susto tão grande que o pincel que estava usando voa longe da minha mão e preciso me agarrar na escada para que não caísse da altura que eu estava e me machucar lá embaixo. Suspiro, assoprando minha franja e olho para a pessoa que me encarava ainda assustada. Pulo na direção onde um pouco do meu cabelo estava pendurado e rapidamente meus pés tocam no chão do meu quarto. Cabelo Rapunzel, como assim?

Sim. Cabelo. Mais de dez metros, pra ser mais exata.

Antes que conseguisse bolar alguma desculpa convincente minha mãe me envolve num abraço apertado até demais. Dona Arianna sempre me incentivara a fazer o que eu gostava, mas nunca deixava de ficar de cabelo em pé quando me via usando meu cabelo para me ajudar a alcançar meus objetivos. Ela vivia dizendo que era perigoso, que uma hora dessas meu cabelo não iria conseguir suportar o meu peso e muitos outros comentários pessimistas; porém nós duas sabíamos que o meu cabelo estava longe de me atrapalhar. Muito pelo contrário. Aqueles dez metros de cabelo loiro escondiam um segredo tão forte quanto eu. Observo minha mãe segurar meu rosto e analisá-lo com cuidado para ter certeza de que não havia me lascado nessa última brincadeira e desvio os olhos para o chão, procurando pelo pincel que havia deixado cair.

— Eu estou bem mamãe. – tento dizer, mas ela me ignora e continua procurando por algum sinal de algum machucado. – Já te falei que não precisa se preocupar tanto assim comigo.

— É claro que vou me preocupar com você querida. – ela responde, beijando minha testa e me fazendo suspirar levemente. – Sempre. – olha para o painel acima da lareira do meu quarto recém pintado e abre um sorriso orgulhoso. – Então era aquilo que você estava fazendo esse tempo todo e não queria mostrar?

— É... Pena que agora a senhora viu. – comento, prendendo minha franja atrás da minha orelha com um sorriso de lado. Juntas andamos até perto da pintura que acabara de fazer a parede. – O que você acha mãe?

Eu havia passado dois dias inteiros trancada no meu quarto para fazer aquele desenho que tinha ficado gravado na minha cabeça depois de um sonho que eu havia tido, para me certificar que tudo ficaria exatamente igual o que tinha visto e para tentar entender o que significava. Era uma paisagem de árvores a noite, onde a única iluminação era as dezenas de formas brilhantes que flutuavam pelo ar. Não eram estrelas, eu sabia de alguma forma. Eram como balões, flutuavam pelo ar.

— Está maravilhoso querida. – responde, voltando a me encarar. – Vejo que passou um bom tempo ocupada nisso. Não está se esquecendo de nada?

— Me esquecendo do que? – pergunto, arqueando uma sobrancelha. – Por favor, não me diga que é hoje o aniversário do papai, eu sempre esqueço isso...

— Não Rapunzel, não é o aniversário do seu pai. – minha mãe rebate, rindo. – Hoje é a festa beneficente que suas primas vão fazer para a caridade.

— A festa! – exclamo, batendo minha mão na testa. – Como eu fui esquecer logo isso?

— Vim chama-la para almoçar e para começarmos a arrumar esse cabelo para hoje à noite. – dona Arianna continua, passando os dedos entre os meus longos fios e parecendo distante por um momento. – Chamei as escoteiras mirins para te ajudar com isso. Elas parecem se divertir com o desafio de fazer uma trança com – ri, gesticulando para o quarto tomado por um mar loiro – tudo isso.

— Certo, diga ao papai que eu já vou. Preciso achar um sapato primeiro. – digo, voltando a procurar o meu pincel perdido e acabo o achando próximo da minha varanda, do outro lado do cômodo. – Nos vemos já já mãe.

Só depois que escuto o barulho da porta se fechando consigo respirar direito novamente. Pego meu material de pintura e acabo me detendo na varanda, admirando a paisagem no horizonte. O vento batendo no rosto, o sol esquentando minha pele, o cheiro de lavanda nos jardins dos fundos invadindo os sentidos. Liberdade. Algo inalcançável até nos meus pensamentos. Mesmo com todos os recursos que tenho jamais conhecerei o que essa palavra realmente significa. Porque? Bem, é uma longa história. Algumas pessoas nascem com dons. Outras, com problemas. Há ainda aquelas que nascem com fardos que com o tempo se tornam insuportáveis de se carregar. Eu tive a sorte e o azar de ter herdado tudo isso de uma vez só.

Meu cabelo podia ser uma benção, mas também carregava uma prisão. Talvez até mesmo uma maldição.

Afinal, eu nunca ouvi falar de pessoas que possuíam um cabelo mágico capaz de curar qualquer doença, ferida ou enfermidade. Parece loucura? É, muita.

Suspiro, fechando meu estojo de tintas e puxando meu cabelo para ir almoçar escadaria abaixo, rumo a sala de jantar onde meus pais me aguardavam.

***

O tempo passou voando desde a hora do almoço e agora já estávamos mais que na hora de sair de casa. Talvez por ter que secar dez metros de cabelo o dia acabou mais cedo pra mim – isso porque ainda tive ajuda de muita gente para me ajudar a me arrumar depois do meu banho. Já se aproximavam das sete da noite e eu ainda estava terminando de arrumar a trança que usava para sair.

— Prontinho! – uma das garotinhas conclui, colocando a última flor no meu cabelo agora totalmente preso. Consigo sentir o sorriso em sua fala seguido de um arquejo das outras pequeninas. – Está pronta Rapunzel.

Me encaro no espelho com um sorriso, admirando o trabalho daquelas mãos tão ágeis. Logo cinco rostinhos aparecem ao meu redor, me pedindo para levantar e fazer como havia ficado atrás. Não consigo evitar o arquejo de surpresa e dou uma gargalhada, girando para ver todo o resultado. As flores eram de variados tons de rosa e combinavam perfeitamente com o vestido rosa escuro que minha mãe havia escolhido para a festa das minhas primas. Estava perfeito. As garotas se sentam na minha cama para admirarem o trabalho que haviam feito enquanto eu calçava meus sapatos e em seguida ia na direção do meu guarda-roupas pegar uma surpresa que havia guardado para elas: uma cesta com ursinhos de pelúcia e muitos chocolates.

— Pra vocês meninas. – digo, entregando à mais velha delas e as observando abrirem a embalagem eufóricas. – Vocês são simplesmente demais por trabalharem tão bem no meu cabelo sempre que preciso. Obrigada.

— Mas Rapunzel, não precisava. – a mais nova começa, e eu não aguento não abraçá-la.

— É o mínimo que eu posso fazer. – rebato, com um sorriso. Só porque meu pai ajuda a pagar as contas das Escoteiras de Nova Iorque não significava que eu também não pudesse fazer alguma coisa para aqueles cinco anjinhos. – E já disse que podem me chamar de Punzie.

Elas começam a conversar entre si sobre alguma coisa que eu não entendi e logo todas nós somos interrompidas por uma das empregadas de casa nos avisando que meus pais já estavam me esperando para sairmos. Suspiro, dando um pequeno beijo na bochecha de cada uma delas e logo me despedindo de todas. Juntas, eu e a empregada de longa data de casa descemos as escadas da mansão de Corona, herdada através de muitas gerações da nossa família. Como eu esperava minha mãe já estava a minha espera na beirada da escadaria, parecendo tão ansiosa quanto eu. Eram poucas as vezes que eu saia da mansão para qualquer evento que nossa família era convidada e só iria desta vez porque pedi muito a papai. Por ele, eu ficaria escondida pelo resto da minha vida por causa do meu cabelo mágico.

Tento sorrir para o mesmo, mas ele está mais preocupado em se manter sério para retribuir minha tentativa de demonstração de carinho. Pelo menos dona Arianna não seguira seu exemplo e agora estávamos nós duas abraçadas uma na outra, prontas para seguirmos para o evento no centro da movimentada Nova Iorque.

— Lembre-se minha filha, não se afaste de nós. E se o fizer, fique longe de qualquer um que queira mexer com você. – ela diz, arrumando uma das flores caindo da minha franja. Dou um meio sorriso, balançando a cabeça. Ela dá um outro sorriso, tentando me encorajar. – Certo. Lá vamos nós.

Acompanho os dois em direção ao nosso carro e sento na janela do banco de trás, dando uma última olhada para minha mansão. Quando finalmente avançamos para nosso destino daquela noite sinto meu coração se apertar dentro do meu peito de uma maneira estranha. Um pressentimento ruim toma conta da minha mente e logo a única coisa que quero é sair daquele, e ir ver minhas primas. Sabe quando você acha que alguma coisa vai acontecer, mas não sabe o que é?

Tomara que isso seja tudo coisa da minha cabeça.  


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