Pacto No Desespero escrita por Crosfilos


Capítulo 9
Capítulo 08




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O final do dia se aproxima, enquanto eu sigo sem uma direção fixa.

Em meu caminho não vejo nenhum ponto específico para me auto guiar. Tudo o que vejo são árvores e pedras para todos os lugares que miro. Assim sendo, continuo seguindo sem uma direção, a não ser, pelo norteamento cego, de uma estraga de terra batida, em meio ao bosque recoberto de folhas secas, que a vegetação rasteira, não medi esforços para o reclamar baixo seu domínio.

Caminho por entre as raízes, e me apoio algumas vezes nos troncos das árvores, sempre mantendo uma linha de distância. Pois estradas para mim, se tornaram perigosas. E um desafio a minha própria sobrevivência. Uma vez, que eu sei que seria burrice caminhar pelo meio da estrada, quando eu não posso prever quem por ela poderia passar a qualquer momento.

Loki, por algum motivo se recusa a voltar para o Mar da Alma, como o pedregulho, e se mantém firme, enrolado no meu pescoço. E já que essa é a sua vontade e, eu não vejo algum motivo contra para isso, não tomo partido no assunto, e o deixo a cargo de sua vontade.

Mesmo que o final de um dia de caminhada constate se aproxime, eu pouco me importo. Pois não sinto-me esgotado pelo exercício constate. Pelo contrário, a comodidade me açoita. Dado o motivo de que Loki passou o dia caçando pássaros, desavisados em meio a vegetação, o que no final me forneceu energia para continuar adiante.

Alienado entre alguns pensamentos de minha antiga vida, me pergunto várias vezes onde eu havia errado!? Para não perceber durante tantos anos que Nicholas era um traidor. Mas talvez lá no fundo eu já soubesse da verdade e, me recusava a acreditar nela. Pois além de excelente secretário, ele era muito bom de cama.

Fosse o começo de um amor jovem, ou apenas a luxúria de uma paixão. Eu fui estúpido em acreditar em um rosto bonito, e um pau grande, e este erro nesta nova vida eu não iria cometer.

Convicto dos meus muitos erros e acertos, perco o foco da atenção, e não percebo a carroça que atravessa a estrada, até esta estar a poucos metros de mim.

Me maldigo, por não focar no que é realmente importante para mim no momento, e me ponho a pensar em um plano.

— Uma chance. - Sussurro para mim mesmo, e vou na direção do veículo.

— Achei que queria passar despercebido. – Indaga Loki.

— E quero, mas essa é uma oportunidade boa demais para deixar passar.

— Oportunidade? - Pergunta curioso.

— Você está muito visível, se esconda dentro de minha blusa. - Peço e imediatamente o espírito escorrega para dentro, e me provoca um leve arrepio pela temperatura baixa de seu corpo.

No caminho rapidamente vasculho o chão freneticamente, até achar uma graveto seco, porém duro e resistente, cuja uma das pontas se dividi em duas menores, e o uso de apoio enquanto sigo até meu intento.

— Olá, jovem, que bons ventos o trazem a esta parte do Bosque dos Corvos. - Cumprimenta o homem velho de barba longa, de estatura baixa e magra, pele clara e enrugada pela idade, trajando um turbante branco e uma túnica marrom.

— Gentil, senhor, que bom que o encontrei, estava vagando sem rumo a horas, tentando achar meu grupo de caça da qual me separei.

— A julgar pelo estado de ruas roupas, você passou por mal bocados. Como você se perdeu?

— À noite enquanto nos aquecíamos no calor da fogueira, esperando alguns espetos de coelhos ficarem prontos, formos atacados por uma Besta Demoníaca. Imediatamente após sua repentina aparição, o caos se estourou e, antes que eu pudesse fazer alguma coisa, fui atingido em cheio, e cai desacordado. Quando desperto, já era dia, não havia sinal da besta ou dos meus amigos. - Relato, e tento conter as lágrimas que descem pela minha face.

— Pobre garoto. Não chore, tenho certeza que seus amigos devem estar bem, por isso suba, eu te levo até a próxima cidade.

— Mas eu preciso encontrar meus amigos, eu não seria um homem se os abandonassem.

— Você tem os culhões de um verdadeiro guerreiro da Ilha da Caldeira, mas a noite se aproxima, e não é sábio ficarmos no meio do bosque. Além disso, algum de seus amigos podem ter buscado refúgio na vila mais adiante.

— Acho que o senhor tem razão. - Afirmo, limpando rapidamente meus olhos embebecidos por lágrimas e, subo na carroça auxiliado por sua mão estendida. - Obrigado senhor. - Agradeço sentando-me ao seu lado.

— Você teve sorte por ter me encontrar garoto, mais algumas horas e você iria passar outra noite no bosque.

— Foi muita sorte minha achar o senhor. E por estar me ajudando, muito obrigado.

— Não precisa agradecer. Para este humilde velho ajudar um membro do clã Marlleo é um honra. - Afirma, batendo as rédeas nas costas do cavalo malhado, que começa a cavalgar e puxar a carroça. - Vamos lá, preciosa. – Chama sua égua.

— Como o senhor sabe que sou do clã do Marlleo? - Pergunto, já ciente de sua resposta.

— Oras, pelo seu cabelo vermelho, em toda as 7 ilhas só quem tem cabelos vermelhos são membros do clã Marlleo.

— Phanteia seja louvada, aquela erva está brilhando? - Exclamo exaltado.

— Onde, garoto, aonde você está vendo uma erva brilhar? – Procura desesperado, enquanto vasculha a direção que aponto com o dedo.

— Ali, senhor! - Aponto para longe, entre algumas árvores.

— Pare ai, preciosa. - Ordena, batendo as rédeas duas vezes no lombada égua. – Onde, garoto? - Pergunta novamente ao se levantar, e forçar a vista para enxergar melhor.

— Ali, senhor. - Aponto novamente o dedo.

O homem altera-se pelas esperança de encontrar a planta e ameaça descer da carroça, e na fração de segundo que o mesmo me mostra suas costas, tomo o graveto que havia recolhido no chão, e com toda a força de meus braços, enfio suas pontas bifurcadas e finas no pescoço do velho.

Com o choque do ataque o homem se desequilibra e cai de cima da carroça, por cima do graveto, fazendo com que suas pontas se aprofundassem mais ainda em sua carne. Em sofrimento, o velho grunhe em dor, e tenta desesperado retirar o graveto de sua garganta. Porém já era demasiado tarde, seu corpo imediatamente o trai, ao carecer de forças para tirá-lo de seu pescoço. E mesmo que o fizesse, o ferimento já é intratável.

Como o gargalo de um jarro de vinho, sangue borbulhante por sua respiração obstruída sai de sua boca em fartas quantidades.

O cavalo relincha pela agitação de seu dono. Mas se matem no lugar.

Não demora, e em poucos instantes o sangue para de borbulhar em sua boca, e o corpo do homem se torna inerte. Seus braços que antes seguravam o graveto em pânico pendem para os lados, e seus olhos vidrados, emoldura-se em minha face, como sua última visão em vida

— Está feito. - Afirmo, sem qualquer traço de emoção ou empatia na voz.

— Este não é o primeiro homem que você mata! Você criou a oportunidade e atacou o ponto mais vulnerável sem qualquer dúvida ou receio. - Especula Loki, ao sair de dentro de minha roupa e se posicionar sobre meus ombros.

— Talvez sim, talvez não, isso não é importante.

— Você teve muita sorte! Ele estava no ESTABELECIMENTO DE FUNDAÇÃO 1 ESTRELA. Um descuido e ele teria te matado.

— Quem bom que tive sucesso então.

— Por que você matou um fazendeiro?

— Este homem não é um fazendeiro. Embora ele aparente ser um. - Me levanto e vou para o lado de trás da carroça, e entre as palhas de feno desenterro 3 baús de madeiras, trabalhados em placas de ferro já corroídas pela ferrugem. - Ele se fez passar por um mísero fazendeiro para não ser roubado enquanto transportava esses baús. E pelo jeito que me tratou ele deveria possuir negócios com os Marlleos.

— Como você sabia que ele não era um fazendeiro?

— Não sabia. Mas não faria diferença, pois no instante em que me revelei eu iria matá-lo. Pois se eu o deixasse ir, ele iria se gabar em cada taverna da ilha, de como resgatou um garoto do clã dos Marlleos, e não demoraria muito para me descobrirem.

Ao olhar de perto os baús, percebo que estes se encontram trancados. Então dirijo meus esforços em procurar uma possível chave na carroça, mas não as encontro. Não vendo outro lugar para procurar, desço da carroça e vou até o cadáver no chão. Após minha rápida procura, acho-as e em um barbante amarrado ao pulso sob a túnica.

Com as chaves em mãos, subo na carroça e abro o primeiro baú.

Em seu interior, vejo um conjunto de armadura pesada, feita com o que parecia ser ferro fundido pela cor.

— Inútil. Meu corpo é pequeno demais para usar essa armadura.

— Esse pedaço de lixo não dá para ser chamado de armadura. – Diz com avidez o espírito.

Desisto do primeiro baú, sigo para o próximo e o abro.

Entre tecidos longos e roupas de variados tamanhos, recolho uma túnica preta dentre elas, e a retiro do baú.

— Mesmo que fique um pouco grande esta túnica vai servir. - Digo, mirando o último.

No compartimento do derradeiro, depois de seu cadeado ser destrancado e sua tampa aberta, me deparo com uma vasta coleção de adagas, de vários tamanhos e formatos. E um pequeno saco de fibras, amarrado por um barbante preto.

— Isso pode ser útil. - Afirma Loki.

— As adagas?

— O saco. Tem pó de osso de besta dentro.

—  Pó de osso? - Indago e levanto o saco que cabe na palma de minha mão.

— Sim, e pelo cheiro, é de uma Besta Demoníaca de Nível 4. Provavelmente seja o objeto de maior valor que ele transportava.

— Nossa Nível 4. Mas para que serve esse pó de osso?

— É um ingrediente alquímico, dá para fazer desde equipamentos à porções e pílulas.

— Então podemos vender isso por um alto valor. Isso soluciona o problema do dinheiro por enquanto. E quanto as adagas, acho que levar uma ou duas não vai fazer mal. - Falo e, pego duas adagas do baú, depois de examinar cada uma, embora ao ignorar suas formas todas possuem praticamente o mesmo aço e corte.

— Você tem planos para o cavalo?

— Não, um cavalo é facilmente reconhecido e difícil de vender, irei deixa-lo aqui, junto com todo o resto que não preciso.

— Então eu vou comê-lo.

— Você pode comer algo tão grande?

— Sim, depois que eu absorver sua essência vital, nossa energia será completamente restaurada.

— Então tenha as honras, mas me deixe amarrá-lo primeiro, ou ele irá fugir.

— Não é necessário, meu veneno induz a paralisia assim que mordo minha presa.

— Mesmo sendo meu espírito, eu não sei o que você pode ou não fazer.

— Se for seu desejo, posso ensiná-lo em detalhes sobre as funcionalidades do meu corpo.

— Isso teria soado muito bem se tivesse vindo de um homem alto e forte. Mas de qualquer forma, estou descobrindo aos poucos, eu já sei que você se move livremente de minha votante, absorve vida e paralisa animais, está bom por enquanto.

Com todos os meus interesses reunidos, me sento e observo a égua cujos espasmos fazem sua perna mexer vez ou outra, reduzir o volume de seu corpo, enquanto é continuamente sugada por Loki, preso em seu pescoço.

Não demora muito tempo, e em poucos minutos, assim como os corvos, o cavalo convertera-se em nada mais que uma pilha fina de pó, ao passo em que sinto meu corpo acalorar-se em uma sensação boa e morna.

O espírito, rasteja por cima dos restos cinza do que há pouco foi um cavalo, e vem em minha direção, deixando um rastro por onde passa.

— Suas feridas estão curadas agora. - Afirma poucos centímetros do meu pé.

— É verdade. - Confirmo, ao levantar minha blusa e ao passar minhas mãos nas costas. - Agora só preciso de um banho, e poderemos seguir em direção à cidade mais próxima, e uma vez lá trocaremos esse pó de osso por mantimentos e uma passagem para a Ilha Das Bestas.

— Não seria mais seguro seguir diretamente para a cidade?

— Eu estou coberto de lama e sangue, banho é um prioridade, quero me livrar desse cheiro ruim.

— Se faz tanta questão assim, há um pequeno riacho a uns 20 metros naquela direção, você vai poder se lavar lá.

— Como você sabe?

— Estou escutando o barulho de água corrente já algum tempo.

— Ótimo. - Esboço contente, e sigo em passadas largas em direção indicada por Loki.

Ao término do banho no pequeno córrego de águas frias e cristalinas, pego uma das adagas e miro em direção aos fios do meu cabelo.

— O que vai fazer? - Pergunta Loki

— Vou cortar meu cabelo, ele chama muita atenção, só de olhar para ele qualquer um já sabe de quer clã eu venho. - Respondo.

— Não. – Afirma Loki, pulando em cima de mim e se enrolando em meu pescoço. - Você é meu, não vou permitir que você se macule por causa de um clã miserável de lixos. – Empodera-se de um tom possessivo e autoritário, enquanto fita-me com seus olhos de chamas douradas.

— Uau. - Exclamo surpreso. - Não sabia que você me valorizava tanto. - Faço um pequeno carinho no topo de sua cabeça, mas não obtenho nenhum som, ou gesto em resposta. - Ok, você venceu não vou cortar meu cabelo. – Digo e me dou por vencido.

Fora da água, os últimos raios de luz do dia ilumina ao longe as copas das árvores mais altas, em uma prova vívida que a escuridão não tarda, para ter domínio sobre o bosque.

Visto a túnica, que como eu já sabia, fica folgada, e sigo em direção à carroça. Uma vez, nela, pego um turbante branco de um dos baús, e escondo os fios de meu cabelo dentro. Com todos os preparativos feitos, a noite já se faz presente.

Não tendo escolha, rumo de volta para perto do córrego. Pois nas margens de seu leito descobri um pequeno abrigo no tronco de uma frondosa árvore, quando estive ali à pouco.

No caminho de volta, com uma das adagas em mãos, corto alguns galhos cujas folhas são abundantes.

Com galhos suficientes em mãos, adentro o buraco na árvore e, tampo a entrada do abrigo de forma em que pudesse parecer o mais natural possível, se visto pelo lado de fora.

Com tudo terminado muito antes da escuridão reinar absoluta sem qualquer presença de luz do dia, me aconchego no interior do buraco da melhor forma que se é possível no pequeno espaço, fecho meus olhos. Porém os abro rapidamente ao começar a escutar ecos e sussurros estridentes ecoar por entre as árvores, como se elas mesmas estivessem o produzindo. Com tantos barulhos estranhos, e sem qualquer esperança de certeza para minha sobrevivência durante a noite, começo a sentir-me agradecido por não estar sozinho, pois ao redor do meu pescoço eu sinto o corpo frio de Loki se movimentar.

— Com esse repentino frio, lamento não ter tido o discernimento de ter pego os demais trajes daquele baú, para me aquecer durante a noite. – Sussurro, e logo me calo ao sentir um forte aperto ao redor de meu pescoço.

— Há Bestas Demoníacas de Nível 3 por perto. - Avisa Loki, se remexendo. - Muitas delas. - Sussurra.

— Elas sabem que estamos aqui? Elas podem nos achar?

— Não! Felizmente não está ferido, e você lavou o cheiro de sangue do seu corpo. Devemos ficar bem, pois elas estão distraídas.

— Distraídas, o velho?

— Sim, elas estão devorando-o. – Informa Loki, e aperta novamente meu pescoço com seu corpo. - Faça silencio, um cadáver humano não satisfará estas bestas, quando terminarem de comer, vão enlouquecer, pela privação do sabor da carne humana. Se elas nos encontrarem estaremos mortos.

Não me atrevi em dar uma resposta, apenas afundo minha face dentro da túnica em busca de calor, e fecho meus olhos esperando que o sono me arrebate, antes que preocupações mais do que racionais, invadissem meus pensamentos.

Na modorna do sono, sinto um leve odor de podridão, e ouço pegadas pesadas estalar pequenos gravetos e folhas, não muito distante de mim. Porém em um último intento forço a mim mesmo à ignorância sobre isso, e e me entrego ao sono.


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