Conto de Falhas escrita por Arii Vitória


Capítulo 1
O rei das festas


Notas iniciais do capítulo

Essa estória será narrada por dois personagens.
Acho que já falei todo o resto nas notas da estória, mas quem gostar desse primeiro capítulo tá super-bem-vindo pra deixar um comentário, okay? beijões!



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Victor (Vitão) Carter

Minha maior inspiração de vida é Oliver Carter.

Oliver Carter não é um presidente revolucionário, nem um milionário que doou sua fortuna para caridade, e também não é nenhum cantor dos Beatles.

 Oliver é meu tio. Ele é irmão do meu pai, e ajudou minha mãe a me criar desde que ele morreu. Mas não é por isso que ele é minha maior inspiração.

Meu tio têm meia dúzia de namoradas, já viajou para quinze países diferentes, têm uma filha mais-ou-menos da minha idade, e têm uma banda. Mas também não é por nenhum destes motivos que o considero tanto.

O principal fator para que Oliver seja minha principal inspiração de vida, é que ele é o escritor do livro 'Regras para uma vida (não tão) infeliz', que é um livro de comédia que zomba dos livros de autoajuda, enquanto no fim das contas, também é um. 

A regra número dois do livro é "Não tenha medo de ser um fracassado corajoso", e é exatamente por causa dessa maldita regra que estou nessa situação agora: na cama com um garoto um pouco antes do que pode ser meu primeiro sexo gay.

Mas é claro que toda essa confusão não começa aqui, e sim, há sete dias atrás, em uma segunda-feira, com minha mãe me acordando aos gritos porque sua jarra prateada que meu tio trouxe da Alemanha – o que significa que, com certeza, valia mais de cem reais- foi quebrada na festa em que eu havia dado na noite passada.

 

Segunda-feira, vinte e três de novembro.

—Sabe qual era o valor daquela jarra, Vitão? –ela pergunta ainda gritando, mas nós dois sabemos que nem ela sabe o valor da jarra.

—Você nem a usava, mãe. A senhora odeia plantas. –argumento, mas isso só piora minha situação porque os olhos dela se arregalam, o que significa que ela está mesmo puta.

—Era decoração, Victor! Decoração! –ela está gritando tão alto que sinto meus ouvidos reclamarem. –Seu tio trouxe da...

—Alemanha, eu sei! –a interrompo. Pela expressão que faz, sei que agora minha mãe está se segurando para não buscar um cinto em seu quarto e me encher de marcas, mas ao invés disso, ela respira fundo.

—Vou ligar para o seu tio. –ela diz, com um suspiro, e sai do meu quarto batendo forte a porta. Dizer que vai ligar para o meu tio significa que estou em problemas, não que meu tio fosse fazer algo comigo, ele nunca realmente fica com raiva, mas certamente quer dizer que ouvirei mais de três horas de blá-blá-blá de Oliver no telefone.

Maldito seja o garoto chorão que quebrou a jarra! Não que eu me lembre de alguma coisa da noite passada, estava bêbado demais pra lembrar, mas assim que alcanço meu celular e vejo trinta e três mensagens com basicamente o mesmo texto Ótima festa ontem, cara. Suas festas são as melhores! sei que a noite foi boa!

Escuto minha mãe contar tudo ao meu tio Oliver no telefone, ela volta ao meu quarto minutos depois me entregando seu celular, com um sorriso satisfeito no rosto. Só consigo me levantar da cama para tentar curar minha ressaca com remédios de dor de cabeça depois de mais de três horas ouvindo Oliver falar na minha cabeça.

—Mas, afinal, como foi a festa?—ele perguntou um pouco antes de desligar.

Não lembro de nada, cara. —respondi, ele soltou uma gargalhada alta e desligou em seguida.

—Charles está na porta, Victor! E nem pense em sair com ele hoje, você está de castigo para sempre. –minha mãe avisa quando passa pela cozinha e me vê enchendo um copo de água.

—Eu achei que sua mãe fosse me bater agora, Vitão. –Charles diz assim que saio de casa e fecho a porta atrás de mim. Ele está muito arrumado para quem só vai na minha casa, então já sei que ele tem grandes planos para o dia.

—Ela acabou de dizer que estou de castigo pra sempre. –conto pra ele, antes de dar chance pra ele me convidar pra sei lá qual for o rolê.

—Você vai ter que escapar dessa, o Japa vai dar uma festa hoje! O que significa que todas as primas dele estarão lá.

—Droga! –solto, bufando. As festas do Japa são as melhores. Depois das minhas, é claro.

—E ele não tem DJ ainda... -Charles continua e aquilo é o que mais me chama atenção. Uma oportunidade de ser DJ em uma festa do Japa é o tipo de coisa que eu nunca poderia perder.

—Vou tentar dobrar minha mãe.

Charles continua citando os motivos pelos quais eu preciso estar presente na festa, então só consigo entrar pra dentro outra vez depois que ele se cansa de falar.

—Ei, mãe... -começo a dizer, apesar de não ter ideia de como terminar a frase. Agora minha mãe está deitada no sofá assistindo alguma série derivada de Grey's Anatomy, ou sei lá, porque seus olhos estão marejados.

—Não! –ela afirma sem nem olhar pra mim. –Hoje é aniversário do seu irmão, a festa surpresa dele vai ser na lanchonete do Dexter e nós dois estaremos lá ás sete em ponto.

Sei que não é um assunto a se discutir pelo seu tom de voz, então vou pro quarto e também bato forte a porta.

(...)

Meu irmão odeia surpresas, todo mundo sabe disso, e mesmo assim, todo dia vinte e três de novembro estamos todos nós enchendo balões e sussurrando para que ele não escute nossa voz antes de entrar na lanchonete do Dexter.

—Eu esqueci as velas! Esqueci a porra da vela! –Emma diz, ela não é de falar palavrões, mas fala o tempo todo quando está ansiosa ou nervosa. Ela e meu irmão, Ian, namoram desde que os dois estavam no ensino médio, e ambos já têm mais de trinta anos.

—Victor pode ir comprar as velas agora! Não se preocupe, Emma. –minha mãe diz para Emma, deixando claro que ainda está com raiva de mim. –O que está esperando, filho? –ela me lança um olhar mortal, me entrega dez reais e espera enquanto eu caminho pra fora da lanchonete a procura das malditas velas.

—Ei, cara, não tem nenhuma vela com o número três? –pergunto para o atendente do supermercado (único lugar aberto naquele fim de mundo), ele responde mesmo de costas:

—Se não estiver aí é porque não têm. –e com uma resposta dessa eu nem precisava ter perguntado.

—Tem uma aqui, estava na sessão de congelados por algum motivo. –ouço a voz atrás de mim, que deve ter escutado a conversa em outro corredor.

Reconheço o rosto assim que me viro. É o garoto chorão que quebrou a jarra da minha mãe na minha festa ontem!

—Ah, Vitão... -ele murmura quando percebe que se trata de mim. Não sei como ele pode saber meu nome quando não faço ideia do dele, mas acontece bastante. –Não se lembra de mim, né? Estudamos no mesmo colégio, eu estava na sua festa ontem... -ele explica porque aparentemente eu devo estar olhando com a maior cara de tapado.

—Você é o cara que quebrou a jarra da minha mãe. Ela não vai me deixar esquecer disso tão cedo, brow! –falo pra ele, enquanto pego a vela com o número três que ele ainda está erguendo pra mim.

—Me desculpe por isso. Foi um longo dia, daqueles bem longos mesmo. –ele diz, não sei o que ele quer dizer com "longo dia", mas imagino que não tenha sido bom.

—Minha mãe disse que vou ficar de castigo pra sempre, então também serão longos dias. –retruco, dando uma olhada na vela que ele me entregou.

Ele continua me olhando com cara de desculpas.

—É brincadeira. –tenho que dizer, e observo sua expressão voltar ao normal. –Você é amigo do Logan, não é? Já vi vocês juntos. –digo, apesar de Logan também não ser exatamente um amigo meu.

—Quase isso. –ele responde, sem mais detalhes.

—Certo. –digo, e me viro para ir ao caixa pagar pelas duas velas. Um três e um dois.

—Mas obrigada... -o garoto volta a falar, então me viro para vê-lo novamente. –Por ter deixado eu quebrar a jarra, você não deve se lembrar, mas eu disse... -ele não continua a frase, então forço meu cerebro a lembrar daquele momento da noite anterior.

—Você disse que seus sentimentos iriam embora quando quebrasse, certo? –o rapaz não responde, mas encara o chão. –Deu certo? –pergunto pra ele.

—Não é tão fácil assim. –ele responde. Não sei exatamente o que ele queria que acontecesse quando quebrasse a jarra da minha mãe, e não faço ideia do que ela simbolizava, mas não é preciso ser um gênio pra perceber que ou ele acabou de sair de um relacionamento ou alguém o magoou do jeito feio.

—Meu tio escreveu um livro idiota que diz que a melhor maneira de esquecer algo ou alguém é "provando outro sorvete". –cito as palavras do livro, e me sinto um idiota assim que as digo.

—Acho que eu não entendi. –ele responde.

—É, eu também não entendo muito bem o que ele fala. Mas acho que quer dizer bola pra frente, sabe?! –me sinto ainda mais idiota quando tento explicar.

—Isso também não é tão fácil.

—Cara, você precisa relaxar! –exclamo, não acredito em baboseiras místicas, mas consigo sentir as más vibrações que ele transmite. -Qual o seu nome mesmo? –pergunto.

—Raddar. –ele responde, demoro um tempo pra entender que foi uma resposta honesta.

—Raddar?

—Isso!

—Gostei. Vou pagar uma cerveja pra você, Raddar! –digo pra Raddar, que franze as sobrancelhas. Ando rapidamente até os frizzers onde ficam as cervejas e os gelados, bem ao lado do caixa. Ele me segue.

—Não posso beber agora! Tenho que ir pra casa! –ele nega, observando enquanto tiro uma cerveja do frizzer.

—Não, cara. Eu não posso beber agora, Deus sabe que não posso! Mas você pode! –afirmo, o influenciando com instância, ele não diz mais nada. 

Pago pela cerveja dele, juntamente com as velas que preciso levar de volta para a lanchonete antes que minha mãe apareça por ali.

Entrego a cerveja pra ele, no mesmo instante em que ele diz:

—Obrigada? –parece meio em dúvida se deveria beber.

—Te vejo por aí. -digo e vou em frente. De volta a lanchonete. Sem ter ideia do que ter conhecido Raddar significava.


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